Ar de Antônio

Ar de Antônio

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Por Giovanna Silveira – Metrica Livre – Parceira Contramão HUB

Quando conheci Antônio ele passou por mim correndo. Olhou de meia lua, mas não procurou se familiarizar. Eu não o conhecia, mal sabia seu nome; mas era uma daquelas pessoas que bastam uma vez de olhar, e você vai se lembrar toda vez que a vir.

Engraçado como as pessoas tem um “ar” próprio… carregados de CO2 como vidas carbônicas severinas que são, cada qual levam consigo um fôlego único, no jeito de andar ou em como erguem as sobrancelhas ao falar. Antônio tinha o seu, mas gostava do ar alheio.

Gostava de um jeito de se pôr a observar. Bem calado e bem atento… ver os lábios do falante se moverem, os braços dançando ao redor do corpo, os olhos inquietos completando os discursos; era disso que gostava.

Ah, e Antônio tinha um sorriso fácil, quase de graça por assim dizer. Me pergunto se alguma vez já esteve triste ao ponto de mascarar o canto da boca, mas desde que me lembro, seu rosto sempre teve um traçado côncavo a disposição. Não tem sido fácil lembrar de tudo, e do todo… especialmente quando se quer seguir uma direção contrária da história, aquela que nunca terminou, mas parou a 3/4 da metade.

Me ponho a crer na imprevisibilidade das pessoas, na constância e na brevidade delas. Assim, fica mais conveniente salvar ao toque da memória, aqueles que não foram somente terminações soltar de um córtex cerebral, mas foram aquelas sinapses para nos despertar do acaso.

Seu nome não é realmente Antônio, tampouco é semelhante. Não é referência interna de uma brincadeira juvenil ou alusão bibliográfica. Antônio é como aquele que me refiro, ausente de sentido mas presente de sua essência volátil.

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