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Por Larissa Medeiros 

Chego cedo, é claro. Mesmo após passar horas me convencendo de que toda roupa que experimentava mostrava pele demais ou pele de menos. Mesmo após ter discado o número dele quatro vezes e ensaiado um discurso falso em que meu gato teria morrido tragicamente e que tudo teria que ser cancelado. Mesmo após me desviar do caminho intencionalmente na tentativa de me perder e nunca mais ser encontrada pra dar explicações.

Mesmo assim, chego cedo, exatos 30 minutos mais cedo. A mesma antecedência de quando te encontrei pela primeira vez. Me lembro de quando te vi procurando por mim com os olhos na entrada, ele faz o mesmo. Ele também está usando uma camiseta preta, mas o sorriso ao me ver parece mais confiante do que o seu foi. Ele beija minha bochecha e se senta, e ele não sabe como foi gentil. E, droga, eu queria que não fosse tão gentil.

Passo a refeição inteira procurando por um motivo. Maus modos à mesa, hobbies esquisitos, um olhar demorado para o decote de outra mulher, uma gíria irritante, a confissão de um crime. Qualquer desculpa para que eu pudesse sair pela porta e nunca mais atender uma ligação dele, mas nada disso acontece. Ele é só um cara normal, e nós conversamos sobre todos os assuntos que aparecem na mesa, todos menos um. Porque toda vez que ele menciona alguém de seu passado, eu desvio os olhos ou finjo interesse em algo trivial do lado de fora da janela. E ele percebe, e me lança aquele olhar de sempre, o olhar de pena. O que é loucura, é claro que é, ele não sabe. Ou pelo menos não deveria saber.

E agora estou com você na cabeça. Isso é tudo o que eu não queria que acontecesse, e ao mesmo tempo, tudo que eu tinha certeza de que aconteceria. Seria impossível não compará-lo a você. E não é justo, quando você era tão familiar e ele ainda nem sabe qual é a minha sobremesa preferida. Tento evitar, mas todos os cheiros e todas as formas ao redor se tornam, de algum jeito, sobre você.

Ele fala sobre irmos a outro lugar, e acredito que talvez seja mais fácil nesse outro lugar. Mas enquanto caminhamos, ele segura minha mão, me fazendo recuar. Me fazendo recuar tanto, que um sorriso corado não justifica. Não é tão assustador assim um cara querer segurar a mão da garota com quem acabou de almoçar, é? Mas ele entende. E em alguns momentos coloca a mão em minhas costas, como que para me guiar, mas eu sei que é um disfarce para conseguir me tocar sem que pareça íntimo demais.

Tomara que ele não me beije. Todas as vezes em que ele olha pra mim por mais de um segundo, torço para que não me beije, não quero sentir outra textura se não a sua. Mas ele beija, sem me dar tempo pra pensar. E pela primeira vez minha mente se esvazia. Não penso sobre o toque dele no meu cabelo, nem no momento em que ele me puxa pela cintura, muito menos no que minhas mãos enlaçando seu pescoço significam. Eu apenas sinto. E quando nos afastamos, eu só penso nos olhos dele. Não nos seus.

Quando se dá conta do meu espanto misturado com choro, ele começa a falar, mas eu o calo. Nenhuma mulher quer ouvir desculpas por ter sido beijada apaixonadamente. Certamente se alguém precisa pedir desculpas sou eu, por ter desaprendido a beijar lábios que não fossem os seus. Mas eu sorrio. Um sorriso bonito e divertido, o primeiro desses que consigo destinar a outro homem. Sorrio porque sei que o pouco que conheço dele, está disposto a amar. E o pouco de amor que você me deixou, estou disposta a oferecer. E lá do céu, sei que você piscou pra mim. E eu só tenho a agradecer.

 

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Por Bianca Morais 

Para finalizar a comemoração do Mês das Mães do Jornal Contramão, conheça hoje a trajetória de Mariana Rocha Tavares, mãe solteira que enfrentou e abriu mão de muitos sonhos para assumir a maternidade ainda na adolescência. 

Mariana tem atualmente 32 anos, diferente de muitas meninas, seu sonho nunca foi ser mãe. Durante a infância mal brincava de boneca e idealizava com o dia em que iria crescer, trabalhar, conhecer o mundo e conquistar sua independência. 

Mas, o destino muitas vezes nos surpreende, as coisas não saem como planejamos e os projetos de vida de Mariana foram interrompidos, quando aos 17 anos veio a gravidez não planejada. A garota que sonhava em ser independente, viu sua vida virar de cabeça para baixo ao dar a luz ainda na adolescência. Agora os seus planos não eram só para ela, agora ela era responsável por uma outra vida.

Fruto de um relacionamento conturbado e da transição da pílula anticoncepcional para o contraceptivo injetável, veio ao mundo Alice. Quando descobriu a gravidez recorreu ao pai, que não é mais casado com sua mãe, e a proposta oferecida foi o aborto, pois ele acredita que uma gestação naquela idade influenciaria no seu futuro.

Engravidar aos 17 anos não é uma tarefa fácil, ainda mais quando não é uma gravidez planejada. Porém, Mariana resolveu assumir a responsabilidade, ao contrário do que seu pai aconselhou, seguiu em frente com a gestação. 

Apesar do desespero inicial, foi nos braços da mãe que Mariana encontrou a força que precisava para continuar. Ela apoiou a filha e deixou claro que não soltaria sua mão e estaria sempre ao seu lado. 

Alice no colo da avó materna

Durante a espera de Alice o que a jovem mais escutava eram comentários maldosos sobre sua situação. “Você é doida, como vai fazer isso com a sua vida?”“O que vai ser do seu futuro agora?”, “Você acabou com a sua vida!”, “ De agora em diante não existe mais você, a sua vida vai se resumir a sua filha!”,  “Esquece tudo que já planejou.”. Então, para ela que desde muito nova idealizava diversas metas que incluíam autonomia, aquele parecia o fim de tudo. 

Muitas críticas, pouco suporte, mas a partir do momento em que transformou esses julgamentos em coragem e determinação, Mariana colocou no mundo uma criança tranquila e serena, que chegou e desmistificou todas aquelas histórias assustadoras de que ela não teria mais noites de sono em paz. Alice nasceu para mostrar que seria a grande companheira da mãe e não o fardo que a sociedade queria que ela carregasse. Mariana ganhou uma filha, uma parceira e uma amiga que a partir daquele momento só iria lhe trazer alegrias. 

Alice foi criada em um ambiente cercado de adultos, por isso, tinha uma maturidade maior ao que correspondia à sua idade. Mãe e filha frequentemente conversavam questões de ideais e realizações pessoais, a menina constantemente incentivava a mãe a correr atrás daqueles sonhos que havia deixado de lado após seu nascimento. 

Depois de ter a filha, a prioridade de Mariana passou a ser o trabalho, pois seria através dele que ela daria o melhor à Alice. “A minha criação foi baseada no ensinamento e na filosofia da independência financeira. Logo, trabalhei arduamente, e tive muitas alegrias e muito sucesso na minha carreira. Sempre dei o meu melhor como profissional e colhi os frutos disso. Porém, de uns três anos pra cá, assumi cargos de mais responsabilidade, tendo como papel na empresa a figura que representava a gestão, e comecei a sentir muita falta de conceitos, de processos baseados em estudos” relata.

Apesar do sucesso profissional, Mariana sentia falta de um curso superior. Ela deixou os estudos de lado, pois queria dedicar o máximo de tempo livre à filha. A jovem mãe presenciava pessoas próximas se formarem e sentia a vontade de alcançar essa realização acadêmica. 

“Em nossas conversas ela se posicionava muito a favor de eu me realizar, e me dava força nos momentos difíceis. Nesse período, entrei em um conflito interno pela necessidade de uma especialização mais técnica na minha carreira e ela dizia a cada instante que eu não precisava me preocupar, porque ela estaria aqui me esperando da aula, e quando fosse final de semana não ia sair do meu lado”, compartilha Mariana.

Alice e Mariana em um momento de descontração

Alice, mesmo sendo apenas uma criança, conseguiu passar a segurança que a mãe precisava para ingressar na faculdade. “Ela sempre ficou nessa função de me reafirmar, que eu era uma boa mãe e que tinha orgulho de mim, isso fez total diferença”, completa.

Com o apoio da pessoa mais importante da sua vida, Mariana, venceu o medo e entrou para o curso de Administração que sempre quis. A mulher que sempre trabalhou na área, encontrou a oportunidade de se aprimorar. 

O dia a dia

Além de mãe e filha, as duas são amigas inseparáveis. Diariamente, durante a aula de Alice na parte da manhã, a mãe organiza a casa e faz o almoço. À tarde, a louça fica com a filha, enquanto Mariana estuda e organiza as responsabilidades que assumiu na faculdade. Ela é líder de turma, fornece suporte ao Instagram do curso, participa da direção de grupos de estudos e à noite assiste às aulas remotas.

As duas compartilham do momento de estudos juntas, Mariana está sempre perto para auxiliar a filha em alguma matéria nova e divide com ela conteúdos que aprende na faculdade. “Da minha parte sempre compartilho as matérias de marketing, porque ela é blogueirinha”, brinca a mãe. 

Mariana fez-se dona do seu destino e aos 32 anos resolveu voltar aos estudos, mas o apoio de Alice é o que movimenta sua vida e sem a filha ela não viveria nada disso.

A pequena grande Alice

A grande menina Alice

Alice é uma pré-adolescente de 13 anos e assim como a mãe sempre comportou-se de forma muito independente. Como a maioria das meninas de sua idade, reclama diariamente da pandemia e de não poder sair de casa e ter contato com as pessoas. Tem conta no Instagram e no TikTok, conversa por Whatsapp e videochamada com as amigas. Na escola, sempre teve boas notas, e apesar de nas aulas remotas precisar de um pouco mais de foco, nunca deu muito trabalho.

A menina tem uma mãe muito jovem, mas com uma extensa bagagem, e por esse motivo, ao longo de sua história já passou por muitas dificuldades e precisou ser adulta em muitos momentos em que ainda era uma criança.

O maior exemplo de Alice, sem dúvidas, é a mãe e talvez esse seja o principal motivo de tanto amadurecimento por parte da menina, que desde muito nova assistiu sua mãe batalhar a fim de lhe dar a melhor educação, mesmo com o mundo dificultando as coisas para as mães solos. 

“Alice é muito humana, educada, carinhosa e sensível. Ela sempre se importa com os outros, sem passar por cima dela. Apesar de tudo que passou nunca se revoltou, ou se quer descontou em alguém as frustrações que eu sei que surgiram dentro dela. Ter que administrar conflitos que nem eram dela. Isso a fez uma pessoa mais madura com certeza”, diz a mãe sobre a filha.

A relação mãe e filha

Mãe e filha em momento de diversão

Mãe e filha trocam informações e descobrem constantemente experiências novas juntas. As duas dialogam bastante e Mariana busca sempre estar presente no meio da filha, até mesmo entre as amigas, a fim de saber com quem ela está se relacionando.

Para Mariana, a base da educação da filha é essa troca, ela veio de uma criação de muito amor, porém estruturada no autoritarismo materno e pouco caso do lado paterno, com isso, desde que engravidou de Alice quis dar uma base diferente da que . “Quero que ela nunca precise fazer nada às escondidas, passar por dificuldades sozinhas por medo de conversar e pedir ajuda, que ela nunca sinta que é um peso na vida de ninguém”. 

Considerando que nunca planejou ser mãe, Mariana tem se virado muito bem, muitas vezes se questiona se ter assumido a posição de mãe-amiga pode ter sido equivocada, mas logo em seguida se reafirma e acredita estar dando o melhor de si.

“Eu cometi grandes erros na criação dela, porém tenho orgulho de ter chegado até aqui e me enxergar como mãe. Tudo que faço é com muito amor, então por mais que dê algo errado, sei que ela vai se sentir sempre muito amada e principalmente respeitada como ser humano”, confessa a mãe.

A mãe batalhadora

Mariana, mãe da Alice

Mariana é mãe, filha, gerente, namorada e amiga, todos esses papéis que ela assumiu ao longo da vida, são constantemente questionados por ela ser, acima de tudo isso, mulher. Ser mulher em uma sociedade machista é ter que se reafirmar diariamente, provar sua capacidade aos outros. Apesar da pressão que vive, Mariana tem conseguido vencer o desafio.

Há 15 anos, na época em que assumir o papel de mãe solteira, a única coisa que ela pensava era como daria uma boa vida à sua filha, acabou por adiar alguns planos, e hoje com o apoio da menina, de sua família, e motivada pela vontade de se tornar uma profissional melhor, voltou a acreditar no seu potencial. Deu início aos seus estudos, porém não para agradar a sociedade que duvida de sua competência, mas a si mesma. 

“A faculdade me mostrou que não existem limites quando se quer algo de verdade algo. Todo esforço e dedicação se para por si, demore o tempo que demorar.” 

Para as mães que têm medo de voltar aos estudos e deixarem os filhos, Mariana aconselha: “Respeitem o seu tempo. Sintam-se livres para serem melhores profissionais, melhores pessoas e não associem isso a dinheiro nunca, e nem ao que os outros falam. Ouçam o seu coração. Você é mãe, mas é um ser humano, tem suas necessidades e seus objetivos particulares. Você existe no mundo para além do outro. Você existe pra você, e isso não é egoísmo”.

O regresso aos estudos enriqueceu não apenas intelectualmente a Mariana, começar uma faculdade serviu muito além de um mero diploma e melhores oportunidades no mercado de trabalho, foi crescimento pessoal, de vencer dificuldades e ser o que ela quiser.

Nesse mês das mães, o Jornal Contramão contou histórias de diferentes exemplos delas, porém todas com um ponto em comum, são todas mulheres que enfrentam todos os dias batalhas e fardos de serem mulheres e mães. Romantizar a maternidade seria uma banalidade se pensar no fato de que essas mães precisam se desdobrar para dar o melhor ao filho, trabalhar e ainda cuidar da casa. Ser mãe é uma grande responsabilidade, são elas que vão educar e servir de exemplo para seus filhos, determinar, na maioria das vezes, quem eles vão ser quando crescer.

Em comemoração a esse mês das mães vamos celebrar, mas também refletir, como você enxerga a sua mãe? Você tem dado o devido valor e consideração a mulher que tanto lutou para você se tornar quem é hoje?

*Edição: Daniela Reis

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Crédito: Rodney Costa

Thiago Guimarães Valu

A cobertura esportiva jornalística, acompanha as mais variadas práticas e modalidades, há pelo menos, 150 anos. Nesse tempo, evidentemente, muita coisa aconteceu.

Aqui,  trataremos, justamente, daquele que é declarado, pela “grande massa”, como o esporte mais popular do mundo, o futebol. Tenho vivido a experiência da cobertura do esporte, como jornalista, nos últimos seis anos,  e cada vez mais me faço as perguntas: “Qual o limite da liberdade jornalística na cobertura de um clube de futebol?” e “Qual a relevância real”?

Atualmente, sou repórter no canal do YouTube Cruzeiro Sports, onde produzimos conteúdos de cunho jornalístico e opinativo sobre o Cruzeiro Esporte Clube. É um canal democraticamente aberto a todos, mas, logicamente, mais consumido por adeptos do clube em questão. Atingimos a importante marca de 150 mil inscritos, recentemente, e a empresa é registrada como veículo de comunicação jornalística. Todos os seus integrantes estão registrados no Ministério do Trabalho como jornalistas, mas o clube não nos reconhece,  nem considera nosso trabalho dessa forma.

O Cruzeiro Esporte Clube segue, a cada dia, mais afundado em crises financeira, política e estrutural sem precedentes, desde que denúncias de irregularidades, tiveram conhecimento público, no dia 26 de maio de 2019, no programa Fantástico, da Rede Globo, graças a grande trabalho jornalístico da repórter Gabriela Moreira. Em um primeiro momento, a tentativa, por parte dos dirigentes, foi mostrar que se tratava de algo tendencioso, já que, no discurso dos gestores do clube, tentava-se criar um ambiente de instabilidade, já que o Cruzeiro  vivia a incomodar no âmbito desportivo. O que se viu, e se vê, desde aquele dia, é o tremendo desmoronamento de uma instituição centenária, que, graças a gestões temerárias, caminha, desde então, sem rumo e luminosidade.

Quer dizer:- a imprensa, antes querida, ao tratar dos títulos e das grandes partidas, passou a ocupar o  posto de “inimigo número” um do “estado”. A verdade é que a cobertura é agradável aos assessores de imprensa dos clubes e direções, enquanto o enquadramento das notícias e informações, favorece não ao clube, mas à imagem de quem ocupa as cadeiras mais importantes das instituições futebolísticas.

Tenho credencial de jornalista validada na AMCE (Associação Mineira Dos Cronistas Esportivos), mas, no entendimento do clube,  não passo de um influencer. Por isso, as perguntas redigidas por mim, direcionadas ao técnico do clube, na coletiva aberta a toda  imprensa, seguem ordem expressa de não serem lidas. O curioso é que  me preparo para cada jogo, do qual fazemos a cobertura, como os profissional da Rede Globo, da rádio Super ou da Itatiaia,que, aliás, me enxergam e reconhecem  como colega de trabalho. Já o Clube, não.

Pergunto, então:- se o conteúdo não fosse crítico e independente como é, será que teríamos o mesmo tratamento por parte dos mandatários do Cruzeiro? Ou seja, a liberdade para coberturas dentro dos clubes de futebol, parece estar, definitivamente, atrelada aos interesses de pessoas que detêm o poder interno, e não dos torcedores.

*Edição: Professor Mauricio Guilherme Silva Jr.

Por Bianca Morais 

Dando continuidade a comemoração ao mês das mães, o Jornal Contramão traz hoje a história de Vanessa. Mostraremos os prazeres e os desafios de conciliar a rotina profissional com a maternidade durante a pandemia.

Vanessa Cristina Lopes Santos, tem 46 anos e é professora do curso de Engenharia Elétrica da Una Cristiano Machado e do Uni-BH. Além de exercer o papel como profissional da educação, também atua em um outra área muito importante, a maternidade. Vanessa é mãe de três crianças, Fernando, o mais velho, e as gêmeas Isabela e Letícia.

Para a professora, ser mãe sempre foi mais que um sonho, foi uma realização como mulher. Casada há 15 anos, ela sempre teve o desejo de ter no mínimo dois filhos. “Na realidade, sempre enxerguei a maternidade como um empréstimo em confiança. É uma missão que Deus nos confia”. E Deus confiou e muito nela, dando-lhe três filhos, pois sabia que ela seria capaz.

 

Começa uma história de amor

Vanessa e o marido fizeram Engenharia na mesma faculdade, porém não se conheceram nessa época. O encontro aconteceu apenas no mestrado, anos depois. Podemos dizer que foi obra do destino, pois logo se apaixonaram e estão juntos até hoje. 

Depois de casados, os dois planejavam o futuro. Queriam dois filhos, para eles o número ideal para ter uma vida tranquila e confortável. Fernando, 11 anos,  é primogênito. Um menino muito calmo e que sonhava com a companhia de um irmão. Para os pais, o cenário perfeito, pois sempre idealizaram um ambiente de partilha, uma criança sendo companheira da outra.

Na época em que descobriu a segunda gravidez e contou ao filho, Fernando já sabia que viriam dois, isso sem ao menos a mãe ter feito o ultrassom. “O mais interessante é que quando soubemos da gravidez, fomos perguntar ao Fê se ele iria ter irmão ou irmã, qual seria o presente que  o Papai do Céu mandou. Para surpresa de todos, ele  nos disse que ganharia dois irmãos e contou na escola, para a família e a todos que ele conhecia. Nós achamos aquela situação engraçada”.

Fernando foi preciso em sua intuição! A mãe realmente estava grávida de dois bebês, só que esperava dois irmãos, porém na realidade eram duas meninas: Isabela e Letícia, atualmente com 7 anos . 

“No dia da ultrassonografia, quando o médico disse que tinha uma surpresa, eu e meu marido nos surpreendemos mais ainda com a sensibilidade do Fernando. Este acontecimento aumentou demais nossa fé e nos uniu muito como família, acreditamos que a sensibilidade dele foi uma forma de Deus nos mostrar o quanto ele estava depositando confiança em nossa fammília”.

O cotidiano antes da pandemia

Passeios em família eram constantes

Antes do isolamento, a família vivia a mesma rotina diariamente. Na parte da manhã, as crianças tinham uma cuidadora, à tarde iam para a escola e à noite ficavam com o pai, pois Vanessa tinha que se dividir em seus empregos, em uma empresa privada e nas faculdades.

“Eu saía para trabalhar cedo,  no horário do almoço levava as crianças para a escola e voltava ao trabalho. Chegava em casa por volta das 23h, a essa altura meus filhos já estavam dormindo. No outro dia, eu saía às 6h30 e eles ainda não tinham se levantado.Assim, nossos encontros eram no horário do almoço e no caminho da escola”, relembra.

Era aos finais de semana que Vanessa de fato conseguia aproveitar e passar um tempo maior com os filhos, e ela fazia questão de aproveitar cada minuto. Ia com os garotos passear em praças, clubes, andar de bicicleta, enfim, tirava o atraso da semana.

Mudança radical

Com o início da quarentena, Vanessa passou a trabalhar em home office, as crianças passaram a ter aula online, foi quando a rotina mudou completamente. Se antes a mãe pouco via os filhos, agora ela acompanhava de perto cada momento.

“Atualmente,  o tempo todo estou a conciliar e encaixar tarefas. Os horários se sobrepõem e a rotina é uma palavra quase em desuso em casa. Me tornei uma mãe mais dedicada em tempo, mas também percebo que às vezes tomo muito controle da situação. Assim, tento deixar as crianças desenvolverem sua autonomia, mas me freio muito”, explica.

Dentro de casa, 24 horas com os filhos, Vanessa consegue acompanhar de perto a alfabetização deles, estar perto nessa fase de construção de conhecimento dos filhos, por ser professora, é capaz de ser mais compreensível e intervir de forma mais assertiva no que diz respeito à rotina escolar.

O ensino remoto dos filhos

No início foi necessário um período de adaptação para toda família, diferenciar os dias das semana dos fins de semana, explicar à eles que mesmo em casa, não era tempo de férias,  foi uma missão desafiadora.

“Passamos por um período de conscientização das responsabilidades e de entendimento da situação. Para ajudar na compreensão das crianças, fomos explicando, juntamente com os professores, que estávamos passando por uma situação crítica e enfrentando uma doença desconhecida e severa. Assim, eles conseguiram se adaptar ao confinamento e se protegerem”. 

As gêmeas estão em fase de alfabetização e em nenhum cenário Vanessa previa viver esse momento tão próxima delas. A mãe consegue muitas vezes assistir  parte das aulas com as pequenas e ajudá-las. Sem contar, que apesar de trabalhar durante as aulas delas, a mãe precisa se transformar em duas, é um olho no trabalho e outro dividido entre as meninas.

“Coloco elas em cômodos diferentes, porque são gêmeas e se ficam juntas vira palhaçada, brincadeira atrás de brincadeira. Fico em um cômodo intermediário, onde eu consigo ver as duas”.

Se já dá trabalho dar conta de uma criança em aula online, imagine duas meninas sendo alfabetizadas. A mãe relata que há  dias tranquilos e outros bem agitados. “Tem dia que o lápis quebra a ponta, aí pega o lápis da outra e se torna motivo de briga”. Vanessa, ao invés de perder a cabeça, enxerga ali a oportunidade de ensinar as duas a partilhar. “Eu consigo ver onde elas estão tendo uma dificuldade, intervir, uma coisa que eu não veria se eu não estivesse participando”.

Diferente das mais novas, o filho mais velho é bem independente e sossegado, porém não gosta muito de estudar e como grande parte dos pré-adolescentes prefere jogar bola e passa um bom tempo no Tik Tok. Para cumprir as tarefas escolares, a mãe precisa ficar no pé, porém vê com bons olhos a chance que tem de estar dentro de casa, acompanhar de perto e poder mostrá-los as consequências das escolhas que ele faz. 

“Sinto que está sendo um período muito difícil para o mundo inteiro, mas me trouxe chances únicas e indispensáveis”, revela.

Em relação ao método de ensino remoto dos filhos, a mãe avalia que apesar de a distância, são aulas muito boas. “Os professores acompanham as atividades, exploram o conteúdo, conversam com as crianças, mantêm os intervalos para levantar e descansar a vista da tela. As aulas que me deixam de cabelo em pé são as de educação física. A casa vira de pernas para o ar”.

A profissional

No horário em que ministra suas aulas, Vanessa conta com o apoio do marido. É ele quem consegue manter as crianças em silêncio, aproveita o momento para dar banho e lanche. A professora tem uma placa de “mamãe em aula”, que deixa na porta e se fecha no quarto de estudos. Nessa hora eles sabem que a mãe está no trabalho, por isso, não interferem muito. Mas foi preciso orientá-los sobre a seriedade do silêncio durante esse período em que ela está com seus alunos. 

“Na hora dos intervalos,  eu abro a porta e todos entram como um furacão. Mãe eu quero pizza, mãe eu quero isso, mãe eu quero aquilo. Aí eu respondo que  daqui uma horinha ou duas a mamãe está fazendo tudo que vocês querem”.

Se surpreende quem pensa que o dia de Vanessa acaba depois de dar sua última aula. Ali, a noite na verdade está apenas no começo. Depois de colocarem as crianças na cama, ela e o marido separam as atividades das meninas e já preparam tudo para o dia seguinte.

“Como são crianças, nem sempre eles conseguem acompanhar e fazer tudo, sempre tem um para casa que passa despercebido. A gente tem que aproveitar para colocar tudo em ordem no sábado ou no domingo. Também é nos finais de semana que fazemos as leituras, treinamos as sílabas, as letras, a pontuação, a acentuação, e prepararmos as tarefas que segunda-feira”.

Diversão em casa

As aulas das crianças terminam por volta do meio-dia, e é a partir daí que inicia-se o momento de brincar. Os três filhos sempre se divertiram muito entre si. Em meio a pandemia e o isolamento social, Vanessa encontrou uma forma de driblar a falta de rotina com outros amigos e trouxe  novo membro para a família: o Flash, um cãozinho. “Flash é um cachorrinho lindo e sapeca, a hora de levá-lo para passear é um dos melhores momentos do dia, é uma algazarra”.

Flash, o amiguinho especial

Outro momento que a família também tira para descontrair é quando Vanessa tem provas para corrigir, ela reúne todos na mesa e é “hora da escola”, cada um faz sua tarefa e aproveitam para passar o tempo juntos. “Logicamente que uma coisinha ou outra sai da linha né. Se é uma tarefa que dava para fazer de manhã, ela gasta de manhã e  à tarde, mas aqui com saúde, fé, boa vontade, às vezes a polêmica a gente contorna”.

Os desafios da pandemia em família

Na rotina da mãe e professora existem dias mais difíceis, em que as tarefas não são concluídas e o cronograma não é cumprido, mas mesmo assim ela  garante que não se deixa abalar e que sua fé a faz acreditar sempre que tudo na vida é um aprendizado. Paciência, confiança e fé são suas palavras de ordem. 

“Daqui um tempo vamos poder parar, olhar para trás e espero que possamos agradecer por ter saúde, por ter o desafio vencido e ter crescido como ser humano, como família e estarmos mais fortes e mais preparados. Acredito que a pandemia me mudou como pessoa em muitos aspectos, principalmente em reconhecer os meus  limites e dos outros, entender que todos estamos sujeitos a problemas e ninguém está livre de mazelas. Assim, a fé aumenta e a gente aprende a confiar mais, confiar na vida, na proteção de Deus”.

Vanessa é uma mãe muito dedicada e grata a família que tem. No momento em que uma doença assola o mundo, ela enxergou a chance de ouro de se aproximar de seus filhos. Em meio a correria do dia a dia ela tenta dar atenção a cada um individualmente e educá-los da melhor forma possível. Ao estar diariamente presente, ela percebe as necessidades de cada um e entende a hora certa de interferir.

“Às vezes no momento em que você não pode intervir numa determinada situação, no momento exato do acontecimento, outra acontece e te dá a oportunidade de fazer uma abordagem mais madura. Nós somos muitos transparentes aqui em casa e fica mais fácil a percepção de como está cada um. Como eu via muito pouco meus filhos, apenas quando íamos para a aula, eu conversava muito com eles e explicava como é importante sermos sinceros e contarmos uns com os outros”, finaliza.

 

*Edição: Daniela Reis

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Os pontos extras facilitam a aplicação de vacinas e ajudam a evitar aglomerações

A Una é o primeiro Centro Universitário de Belo Horizonte a atuar como posto extra de vacinação para Covid-19. A partir de hoje, 25 de maio, de 7h30 às 16h, serão vacinadas pessoas de 18 a 59 anos com comorbidades, deficiência permanente cadastradas no benefício de prestação continuada (BPC), gestantes e puérperas.

Podem tomar a primeira dose aqueles que preencheram o cadastro no portal da Prefeitura até o dia 16 de maio.

Outras informações sobre a vacinação contra a covid-19 em Belo Horizonte estão disponíveis no portal da PBH.
Serviço:

Onde: Centro Universitário Una – Campus Guajajaras. Rua dos Guajajaras, 175, Centro, BH.
Quando: a partir de terça-feira, dia 25/03.
Horário: segunda à sexta, de 7h30 às 16h.

Para saver como chegar, clique aqui.

Mais detalhes, acesse o link.

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Por Bianca Morais 

Com a pandemia da Covid-19, o isolamento social foi a principal medida de prevenção e combate ao vírus, em contrapartida virou uma ameaça à vida de muitas mulheres vítimas de violência doméstica. De acordo com dados de uma pesquisa divulgada pelo Datasenado, o número de casos de violência doméstica dobrou desde o início da quarentena. O  Brasil registrou, em 2020, 105.821 denúncias de agressão à mulher, e esse número está longe de representar a realidade, visto que muitas nem chegaram a denunciar, por falta de oportunidade e por medo do companheiro descobrir.

Especialmente durante o ano passado, quando  as restrições para sair de casa foram imediatas, diversas empresas, organizações e governos municipais, estaduais e federais divulgaram diferentes formas de denunciar esse tipo de violência. Além dos telefones 100 e 180 para denúncias, foram disponibilizados canais no Whatsapp, no Telegram, um aplicativo nomeado “Direitos Humanos Brasil” e o site da ouvidoria do ministério. Esse tipo de suporte foi dado, principalmente, como uma forma de driblar os agressores e permitir que as vítimas pudessem pedir socorro.

Os casos de violência doméstica vão muito além dos problema de um casal entre quatro paredes, é uma questão de saúde pública. O acolhimento das vítimas e assistência jurídica, principalmente para mulheres em situação de vulnerabilidade, é uma questão social. O Centro Universitário Una, como instituição de ensino se vê no dever de prestar um serviço sobre o assunto e, por isso, conta com o projeto Pelo Direito das Mulheres, oferecido pelo campus Cristiano Machado, através do Núcleo de Práticas Jurídicas, em comum acordo de cooperação técnica com a Casa de Referência da Mulher Tina Martins.

O projeto

O Projeto Pelo Direito das Mulheres nasceu em março deste ano, mesmo mês em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres. Sob a coordenação do professor Cesar Leandro de Almeida Rabelo e com o apoio da coordenadora de cursos Priscilla dos Santos Gomes, o programa tem o objetivo de dar suporte às vítimas em situação de vulnerabilidade social e vítimas de violência doméstica.

Através do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ), também do campus Cristiano Machado, firmou-se um acordo de cooperação técnica entre o projeto com a Casa de Referência da Mulher Tina Martins, um espaço de orientação para mulheres. O lugar foi ocupado pelas integrantes do Movimento Olga Benário e atualmente é considerada um dos principais locais de acolhimento para essas vítimas de violência da capital.

A Casa tem a proposta de atuar em diferentes eixos de apoio, na formação política, por meio de oficinas, palestras, rodas de conversas e outras atividades que possam permitir o acesso dessas mulheres à informação, a ressignificação de conceitos e troca de experiências, além de ser um espaço de fortalecimento. Quando a Casa não é a melhor solução elas são encaminhadas à Rede Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Mulher em Minas Gerais. O local também oferece acolhimento psicológico, jurídico e de serviço social, e abrigo em situações emergenciais.

Pelo Direito das Mulheres, partiu do interesse em proporcionar aos alunos do curso de direito da faculdade Una a oportunidade de colocar seus conhecimentos teóricos em prática e, ao mesmo tempo, auxiliar a comunidade dentro de uma causa social. 

Cesar Leandro de Almeida Rabelo, professor e coordenador do projeto explica que a princípio a proposta do programa é dar todo tipo de suporte para o restabelecimento da dignidade das mulheres em situação de vulnerabilidade ou vítimas de violência doméstica. 

“Idealizamos diversas possibilidades, por exemplo, o Pitch Social onde poderão ser elaboradas cartilhas contendo temáticas de impacto social, ideais criativos e de potencial execução em busca da conscientização e enfrentamento da violência contra a mulher. A realização de palestras com a apresentação de temas pelos estudantes e professores que auxiliem no desenvolvimento de competências e habilidades dos ouvintes. Realização de minicursos (curta duração) com metodologias mais participativas, proporcionando uma experiência multidisciplinar e o atendimento jurídico em procedimentos judiciais, com o ajuizamento e acompanhamento em procedimentos judiciais diversos”, explica ele.

Inicialmente, o projeto conta apenas com os alunos do curso de Direito, porém a ideia de abrangê-lo para outras áreas e campus está sendo idealizada. Assim como outros programas de extensão que já vimos ao longo das matérias sobre os 60 anos da Una, o Pelo Direito das Mulheres tem esse objetivo de fazer o contato dos estudantes com a vivência de mercado. Esse projeto, no entanto, abrange um assunto muito delicado, por isso, esses estudantes compreendem além do mercadológico, a importância de promover o acolhimento e auxiliar na valorização das mulheres que se encontram nestas situações. Isso faz com que eles compreendam o impacto social do programa fora do contexto da sala de aula e sua relevância para o desenvolvimento de toda sociedade.

“Acredito que o impacto do projeto nos alunos favorece não apenas o aprendizado como o desenvolvimento de suas habilidades pessoais, sociais e profissionais. A lida com a realidade social não pode ficar reservada às notícias divulgadas na mídia ou após a conclusão do curso. Com isso conseguiremos não apenas desenvolver bons profissionais, como também excelentes cidadãos”, comenta Cesar.

Mulheres em situação de violência doméstica possuem traumas e feridas que são muito difíceis de serem revividas, e este com certeza é a maior dificuldade dos atendimentos, tanto para elas quanto para os alunos. Muitas vezes para compreender e prestar o melhor auxílio é preciso abordar temas ou situações que causem desconforto emocional. O Pelo Direito das Mulheres proporciona um maior amparo social dentro de um espaço pedagógico, dialógico e jurídico, fazendo com que sejam estimulados mecanismos de superação e fortalecimento da dignidade.

Os atendimentos do projeto são realizados, em um primeiro momento, pela Casa Tina Martins e esta faz o encaminhamento para o NPJ da UNA Cristiano Machado, com a concordância da vítima. Nesse momento de pandemia, para manter a segurança dos alunos e das atendidas, eles estão sendo realizados de forma remota, por conferências, WhatsApp ou telefone, porém um plano de ação juntamente com a Casa Tina Martins de realizar plantões de atendimento da própria casa onde as mulheres poderão se sentir mais confortáveis para relatar seus problemas, já está sendo pensado.

Os auxílios podem ser solicitados diretamente na Casa de Referência da Mulher Tina Martins ([email protected] e/ou 31 32642252) ou através do formulário eletrônico. Com o retorno das atividades presenciais o atendimento poderá ser solicitado na UNA Cristiano Machado ([email protected]).

Camila Regina de Oliveira, foi uma das primeiras mulheres atendidas pelo projeto. Foi através da assessora da vereadora Duda Salabert que Camila chegou até a ajuda que precisava. 

“Ela um dia postou um número de whatsaap dizendo que atenderia pessoas que sofriam violência, discriminação e outras situações semelhantes a essas. Eu estava completamente desamparada e sem recursos porque já tinha tentado vários sem sucesso. Entrei em contato através do número indicado pela vereadora Duda através do Instagram e dentro de poucos dias fui atendida e encaminhada para casa Tina Martins e conjuntamente atendida pelo Dr.Cesar. Consegui minha medida protetiva e fui orientada dos meus direitos, mudei meu olhar diante das circunstâncias que eram tão difíceis”, conta ela.

Através da Casa Tina Martins, ela foi encaminhada para a Una onde vem recebendo diferentes tipos de assessoria e orientações jurídicas sobre o assunto. No projeto, pela primeira vez ela passou a ter conhecimento de seus direitos, “fui acuada por muitos anos e as ameaças me faziam acreditar que não existia justiça para o meu caso, o projeto me fez acreditar que as mulheres têm direitos e que podemos sim ser amparadas pela lei”, desabafa. Camila é apenas uma das várias mulheres que têm recebido ajuda através do projeto e garante que é fundamental procurar seus direitos, ninguém precisa sofrer sozinha. 

Mais uma vez a faculdade Una, mostra através de um de seus projetos a importância em criar e desenvolver ações que gerem impacto pessoal e social, proporcionar uma mudança de perspectiva e realidade para fazer conexões que possam promover o desenvolvimento de valores, potencialidades e profissional. Transformando o mundo pela educação.

Em briga de marido e mulher se mete a colher sim, inclusive, a violência não se resume só a agressão mas quem se omite também pode ser responsabilizado. Mulheres, a um primeiro sinal de ameaça, denuncie, da classe baixa até a mais alta, todas estão sujeitas a sofrer nas mãos dos parceiros.

“O amor não causa dor, não causa medo, não deixa traumas ou dívidas” mensagem da campanha do governo federal em parceria com o Conselho Nacional de Justiça.

Mais sobre Camila 

Camila, como explicamos, é uma das atendidas pelo Projeto Pelo Direito das Mulheres. Durante anos ela esteve em um relacionamento abusivo, onde era vítima de violência doméstica, no entanto, sempre que procurava ajuda em delegacias e outros órgãos públicos nunca se sentiu acolhida como quando conheceu a Casa Tina Martins e o projeto Pelo Direito das Mulheres, apenas através deles que ela percebeu seus direitos.

Hoje, Camila é uma nova mulher, mais segura de si e por isso resolveu contar sua história ao Jornal Contramão para que todas as outras mulheres que passam por uma situação semelhante a dela, entendam que há esperança. Ela sofreu durante 15 anos e é o exemplo vivo de que ninguém merece viver com medo.

Aos 16 anos, Camila engravidou de seu namorado. Pressionada pela família, a jovem casou-se com o rapaz, nove anos mais velho, e desde o início do relacionamento já era vítima de violência psicológica.“Eu não sabia cozinhar direito, e ele tinha uma mãe que era cozinheira e queria que eu preparasse pratos como ela, lavasse roupas como ela”, desabafa. 

O marido era um homem completamente machista e o relacionamento do casal foi construído dessa forma.“Sempre dizia que eu não sabia fazer nada, me tratava muito mal. Era assim, se eu fizesse uma comida e ele não gostasse, ia dormir no sofá, na casa da mãe dele, brigava, gritava. Eu não podia estar presente quando ele estivesse entre amigos”.

Quando completou seus 20 anos, Camila percebeu que não era aquilo não era normal, que aquela relação não era saudável. Ela era obrigada a ter relações sexuais. “Querendo, não querendo, bem ou não, de resguardo. Tanto que eu tive um filho com 16 e outro com 18”, conta.

A jovem se viu em um relacionamento abusivo com um homem que sugava suas energias e decidiu que queria o divórcio. Separada dele, a mulher se envolveu com outra pessoa e durante todo esse novo relacionamento o ex não deu nenhum momento de paz. Ele ameaçava matar seu novo namorado e a família dele. “Um dia ele foi passar o final de semana com meus filhos e sumiu com eles, falou que só me devolveria se eu voltasse com ele”.

Diante das ameaças, Camila, cedeu e voltou para o pai de seus filhos. De início ele se mostrou uma pessoa diferente, mudaram de cidade e viveram um tempo com tranquilidade, nesse período foram pais de outra criança. 

O casal era evangélico e o homem foi promovido a pastor na igreja onde frequentavam, e foi quando a situação voltou a ficar ruim. “Eu não podia usar sequer uma roupa que eu gostava, não podia usar maquiagem, nada”. 

Camila cansou dessa situação, já não aceitava mais calada, passou a bater de frente com o marido e fazer o que lhe fazia bem. Começou a trabalhar, estudar, tirar carteira, e isso claro, o incomodou. “Ele surtou, ele não dormia. Passava a noite no banheiro mexendo no meu celular, procurando conversas com outros homens. Em cima do meu guarda roupa tinha facão, machadinha. Às vezes eu acordava e ele estava olhando para mim com um travesseiro na mão”. 

Até então as agressões eram apenas verbais. Na época, Camila trabalhava em um consultório odontológico e o marido cismava que ela estava tendo um caso com seu patrão, por essa razão, um dia foi até o local e a agrediu fisicamente. 

“Minha sorte era que era uma galeria e o pessoal o conteve. Esse dia que ele me bateu lá eu fiz corpo de delito e ele foi tirado de casa. Só que ele tem um irmão policial aposentado muito bem relacionado e eles usaram todos os meios possíveis para me intimidar”.

Camila chegou a fazer o boletim de ocorrência, porém ele desapareceu. Por muito tempo, ela teve vergonha em buscar ajuda, mas depois de ser agredida em seu próprio trabalho ela mudou. “ Eu perdi o medo, eu fui com tudo, já era meu limite, porque eu pensei assim, se ele veio fazer isso comigo no meu trabalho, quando chegar lá em casa ele vai fazer o que comigo?”.

Os dois se separaram, o filho mais velho quis ficar com o pai e os dois mais novos ficaram com ela. Um mês depois o pai foi buscar os filhos para passar o final de semana e como da outra vez em que haviam se separado, falou que só a deixaria vê-los novamente se voltasse com ele. Camila desta vez não cedeu e ele pegou os filhos e levou para a cidade onde seus irmãos moravam. Além do policial aposentado, o outro era vereador e muito influente no lugar e deixaram claro que ela não procurasse as crianças. 

“Às vezes eu tentava algum movimento de ligar para ter contato com os meus filhos, sempre que fazia isso quando eu saia do meu trabalho tinha um irmão dele que estava no carro, na porta do meu serviço e ficava apontando para mim fazendo gestos sabe, que ia me matar. Ligavam no meu trabalho, me ameaçava, foi horrível. A irmã dele me ameaçou na rua”.

Sem os filhos, Camila passou a ler e estudar seus direitos, procurou a Delegacia da Mulher, os recursos humanos e segundo ela, em todos os órgãos que procurava ajuda ela era mal atendida. Sempre que ia à defensoria pública, eles diziam que ela precisava de uma medida protetiva que ela não tinha.

“Eu dormi na delegacia das mulheres muitas vezes com medo, porque ele vivia me seguindo e com risco de perder meu trabalho pois estava sempre chegando atrasada no trabalho, mas nunca tinha sucesso, porque quando chega alguém de viatura lá que foi agredido fisicamente, essas pessoas têm prioridade, e isso é o tempo todo. Então se você está lá inteira, não está faltando nenhum pedaço, não está fisicamente agredida e machucada eles não atendem, então fiquei muito assim, muito tempo tentando”.

Por muito tempo Camila procurou por ajuda,  porém isso começou a interferir em sua vida. Como não conseguiu o suporte acabou entrando em uma forte depressão e precisou procurar outro tipo de auxílio que não a jurídico, o psicológico. Deu início a um tratamento com um psicólogo, onde percebeu que podia se abrir para outros relacionamentos e quando isso aconteceu, descobriu como uma relação saudável é leve e feliz

“No começo foi difícil, eu não conseguia lidar com relacionamento, eu não me sentia boa o suficiente para um relacionamento, porque a outra parte tinha a vida muito bem resolvida e eu era problema todo dia. Ele recebia ameaças no celular dele, recado que ele mandava, e eu tava sempre chorando, sem poder ver ele porque eu tava na delegacia, sempre algo do tipo. Minha vida não era nem não resolvida, era totalmente sem estar resolvida. Mas ele nunca soltou minha mão, desde o momento em que ele se comprometeu a estar comigo ele está até hoje e me dando força para lutar”.

Depois de ter conseguido o divórcio, Camila seguiu sua vida em se novo relacionamento, que lhe deu mais uma filha . Quando descobriu o nascimento da bebê, a irmã do ex-marido a procurou para que ela voltasse a ter contato com os filhos.

“Essa irmã dele ofereceu para eu poder voltar a ter contato, porque, na verdade , quem cuidava era ela e a mãe dela, e os meninos cresceram e viraram adolescentes problemáticos, aí elas não quiseram mais. Porque antes eles eram criancinhas tranquilas e agora não eram mais. Eles sempre me culpavam como se eu tivesse abandonado meus filhos, diziam que estava errada, se eu tivesse ficado com o pai deles eles não eram assim. Então a culpa dele ter me tomado os meus filhos era minha de não ter aceitado ficar com ele”.

Toda sua família, a do pai de seus filhos e as pessoas ao seu redor a julgavam, eles a condenavam por ter abandonado seus filhos, a colocavam como errada por não ter ficado com o pai deles.

Foram muitos de culpa. Para Camila a errada era ela, sendo que na realidade ela era a maior vítima. Essa situação só mudou graças à ajuda de projetos como a Casa Tina Martins e o Pelos Direitos das Mulheres.

Dentro da casa, Camila passou a receber os mais diversos tipos de ajuda, desde orientações sobre seu caso até psicológica e foi direcionada ao projeto Pelo Direito das Mulheres, onde com ajuda do coordenador Cesar e os alunos, passou a entender melhor seus direitos e ganhou o suporte necessário para conseguir sua medida protetiva.

“A partir do momento que aquele homem recebeu na casa dele a medida protetiva, eu tive paz, acabaram as ameaças, ele não vem mais aqui, acabou”, relata.

Foram longos anos de luta até conseguir sua liberdade. O ex-marido de Camila destruiu sua vida, sua saúde mental e a separou dos filhos. Durante muito tempo aquela mãe teve picos emocionais, não conversava, só queria ficar sozinha com a culpa que carregava de não estar ao lado dos filhos os vendo crescer.

“Ele tinha tanto tempo de me ameaçar com a família dele, de me cercar, de vim no portão da minha casa mesmo eu já sendo casada, de mandar mensagem pelo celular dos meus filhos me ameaçando, que como eu nunca tinha conseguido ajuda eu achava que ele tava certo, que eu era errada. Se eu tivesse certa a polícia me atenderia. Ninguém nunca me atendeu. Voltava atrás e falava, você tá bem, isso não é relevante, você falou que tinha um corpo de delito mas ele não existe. Como se eu tivesse mentindo, isso acabava comigo eu pensava assim, eu nasci para ser isso mesmo, a mulher nasceu para ser ofendida mesmo, insultada, humilhada, porque não tem recurso pra ela”.

Hoje, Camila é outra mulher que encontrou um parceiro que a faz feliz, a respeita, aceita seus filhos, e o mais importante, Camila conseguiu justiça. Camila é uma mulher forte, que faz questão de contar sua história para inspirar outras mulheres, para mostrar a elas que existe saída, foram anos de luta mas ela conseguiu vencer e todas podem conseguir.

Camila é exemplo de sobrevivência, o Projeto Pelos Direitos da Mulher está aberto a ajudá-las, a qualquer sinal de violência física, psicológica, moral, sexual, econômica e social DENUNCIE!