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Os pontos extras facilitam a aplicação de vacinas e ajudam a evitar aglomerações

A Una é o primeiro Centro Universitário de Belo Horizonte a atuar como posto extra de vacinação para Covid-19. A partir de hoje, 25 de maio, de 7h30 às 16h, serão vacinadas pessoas de 18 a 59 anos com comorbidades, deficiência permanente cadastradas no benefício de prestação continuada (BPC), gestantes e puérperas.

Podem tomar a primeira dose aqueles que preencheram o cadastro no portal da Prefeitura até o dia 16 de maio.

Outras informações sobre a vacinação contra a covid-19 em Belo Horizonte estão disponíveis no portal da PBH.
Serviço:

Onde: Centro Universitário Una – Campus Guajajaras. Rua dos Guajajaras, 175, Centro, BH.
Quando: a partir de terça-feira, dia 25/03.
Horário: segunda à sexta, de 7h30 às 16h.

Para saver como chegar, clique aqui.

Mais detalhes, acesse o link.

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Por Bianca Morais 

Com a pandemia da Covid-19, o isolamento social foi a principal medida de prevenção e combate ao vírus, em contrapartida virou uma ameaça à vida de muitas mulheres vítimas de violência doméstica. De acordo com dados de uma pesquisa divulgada pelo Datasenado, o número de casos de violência doméstica dobrou desde o início da quarentena. O  Brasil registrou, em 2020, 105.821 denúncias de agressão à mulher, e esse número está longe de representar a realidade, visto que muitas nem chegaram a denunciar, por falta de oportunidade e por medo do companheiro descobrir.

Especialmente durante o ano passado, quando  as restrições para sair de casa foram imediatas, diversas empresas, organizações e governos municipais, estaduais e federais divulgaram diferentes formas de denunciar esse tipo de violência. Além dos telefones 100 e 180 para denúncias, foram disponibilizados canais no Whatsapp, no Telegram, um aplicativo nomeado “Direitos Humanos Brasil” e o site da ouvidoria do ministério. Esse tipo de suporte foi dado, principalmente, como uma forma de driblar os agressores e permitir que as vítimas pudessem pedir socorro.

Os casos de violência doméstica vão muito além dos problema de um casal entre quatro paredes, é uma questão de saúde pública. O acolhimento das vítimas e assistência jurídica, principalmente para mulheres em situação de vulnerabilidade, é uma questão social. O Centro Universitário Una, como instituição de ensino se vê no dever de prestar um serviço sobre o assunto e, por isso, conta com o projeto Pelo Direito das Mulheres, oferecido pelo campus Cristiano Machado, através do Núcleo de Práticas Jurídicas, em comum acordo de cooperação técnica com a Casa de Referência da Mulher Tina Martins.

O projeto

O Projeto Pelo Direito das Mulheres nasceu em março deste ano, mesmo mês em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres. Sob a coordenação do professor Cesar Leandro de Almeida Rabelo e com o apoio da coordenadora de cursos Priscilla dos Santos Gomes, o programa tem o objetivo de dar suporte às vítimas em situação de vulnerabilidade social e vítimas de violência doméstica.

Através do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ), também do campus Cristiano Machado, firmou-se um acordo de cooperação técnica entre o projeto com a Casa de Referência da Mulher Tina Martins, um espaço de orientação para mulheres. O lugar foi ocupado pelas integrantes do Movimento Olga Benário e atualmente é considerada um dos principais locais de acolhimento para essas vítimas de violência da capital.

A Casa tem a proposta de atuar em diferentes eixos de apoio, na formação política, por meio de oficinas, palestras, rodas de conversas e outras atividades que possam permitir o acesso dessas mulheres à informação, a ressignificação de conceitos e troca de experiências, além de ser um espaço de fortalecimento. Quando a Casa não é a melhor solução elas são encaminhadas à Rede Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Mulher em Minas Gerais. O local também oferece acolhimento psicológico, jurídico e de serviço social, e abrigo em situações emergenciais.

Pelo Direito das Mulheres, partiu do interesse em proporcionar aos alunos do curso de direito da faculdade Una a oportunidade de colocar seus conhecimentos teóricos em prática e, ao mesmo tempo, auxiliar a comunidade dentro de uma causa social. 

Cesar Leandro de Almeida Rabelo, professor e coordenador do projeto explica que a princípio a proposta do programa é dar todo tipo de suporte para o restabelecimento da dignidade das mulheres em situação de vulnerabilidade ou vítimas de violência doméstica. 

“Idealizamos diversas possibilidades, por exemplo, o Pitch Social onde poderão ser elaboradas cartilhas contendo temáticas de impacto social, ideais criativos e de potencial execução em busca da conscientização e enfrentamento da violência contra a mulher. A realização de palestras com a apresentação de temas pelos estudantes e professores que auxiliem no desenvolvimento de competências e habilidades dos ouvintes. Realização de minicursos (curta duração) com metodologias mais participativas, proporcionando uma experiência multidisciplinar e o atendimento jurídico em procedimentos judiciais, com o ajuizamento e acompanhamento em procedimentos judiciais diversos”, explica ele.

Inicialmente, o projeto conta apenas com os alunos do curso de Direito, porém a ideia de abrangê-lo para outras áreas e campus está sendo idealizada. Assim como outros programas de extensão que já vimos ao longo das matérias sobre os 60 anos da Una, o Pelo Direito das Mulheres tem esse objetivo de fazer o contato dos estudantes com a vivência de mercado. Esse projeto, no entanto, abrange um assunto muito delicado, por isso, esses estudantes compreendem além do mercadológico, a importância de promover o acolhimento e auxiliar na valorização das mulheres que se encontram nestas situações. Isso faz com que eles compreendam o impacto social do programa fora do contexto da sala de aula e sua relevância para o desenvolvimento de toda sociedade.

“Acredito que o impacto do projeto nos alunos favorece não apenas o aprendizado como o desenvolvimento de suas habilidades pessoais, sociais e profissionais. A lida com a realidade social não pode ficar reservada às notícias divulgadas na mídia ou após a conclusão do curso. Com isso conseguiremos não apenas desenvolver bons profissionais, como também excelentes cidadãos”, comenta Cesar.

Mulheres em situação de violência doméstica possuem traumas e feridas que são muito difíceis de serem revividas, e este com certeza é a maior dificuldade dos atendimentos, tanto para elas quanto para os alunos. Muitas vezes para compreender e prestar o melhor auxílio é preciso abordar temas ou situações que causem desconforto emocional. O Pelo Direito das Mulheres proporciona um maior amparo social dentro de um espaço pedagógico, dialógico e jurídico, fazendo com que sejam estimulados mecanismos de superação e fortalecimento da dignidade.

Os atendimentos do projeto são realizados, em um primeiro momento, pela Casa Tina Martins e esta faz o encaminhamento para o NPJ da UNA Cristiano Machado, com a concordância da vítima. Nesse momento de pandemia, para manter a segurança dos alunos e das atendidas, eles estão sendo realizados de forma remota, por conferências, WhatsApp ou telefone, porém um plano de ação juntamente com a Casa Tina Martins de realizar plantões de atendimento da própria casa onde as mulheres poderão se sentir mais confortáveis para relatar seus problemas, já está sendo pensado.

Os auxílios podem ser solicitados diretamente na Casa de Referência da Mulher Tina Martins ([email protected] e/ou 31 32642252) ou através do formulário eletrônico. Com o retorno das atividades presenciais o atendimento poderá ser solicitado na UNA Cristiano Machado ([email protected]).

Camila Regina de Oliveira, foi uma das primeiras mulheres atendidas pelo projeto. Foi através da assessora da vereadora Duda Salabert que Camila chegou até a ajuda que precisava. 

“Ela um dia postou um número de whatsaap dizendo que atenderia pessoas que sofriam violência, discriminação e outras situações semelhantes a essas. Eu estava completamente desamparada e sem recursos porque já tinha tentado vários sem sucesso. Entrei em contato através do número indicado pela vereadora Duda através do Instagram e dentro de poucos dias fui atendida e encaminhada para casa Tina Martins e conjuntamente atendida pelo Dr.Cesar. Consegui minha medida protetiva e fui orientada dos meus direitos, mudei meu olhar diante das circunstâncias que eram tão difíceis”, conta ela.

Através da Casa Tina Martins, ela foi encaminhada para a Una onde vem recebendo diferentes tipos de assessoria e orientações jurídicas sobre o assunto. No projeto, pela primeira vez ela passou a ter conhecimento de seus direitos, “fui acuada por muitos anos e as ameaças me faziam acreditar que não existia justiça para o meu caso, o projeto me fez acreditar que as mulheres têm direitos e que podemos sim ser amparadas pela lei”, desabafa. Camila é apenas uma das várias mulheres que têm recebido ajuda através do projeto e garante que é fundamental procurar seus direitos, ninguém precisa sofrer sozinha. 

Mais uma vez a faculdade Una, mostra através de um de seus projetos a importância em criar e desenvolver ações que gerem impacto pessoal e social, proporcionar uma mudança de perspectiva e realidade para fazer conexões que possam promover o desenvolvimento de valores, potencialidades e profissional. Transformando o mundo pela educação.

Em briga de marido e mulher se mete a colher sim, inclusive, a violência não se resume só a agressão mas quem se omite também pode ser responsabilizado. Mulheres, a um primeiro sinal de ameaça, denuncie, da classe baixa até a mais alta, todas estão sujeitas a sofrer nas mãos dos parceiros.

“O amor não causa dor, não causa medo, não deixa traumas ou dívidas” mensagem da campanha do governo federal em parceria com o Conselho Nacional de Justiça.

Mais sobre Camila 

Camila, como explicamos, é uma das atendidas pelo Projeto Pelo Direito das Mulheres. Durante anos ela esteve em um relacionamento abusivo, onde era vítima de violência doméstica, no entanto, sempre que procurava ajuda em delegacias e outros órgãos públicos nunca se sentiu acolhida como quando conheceu a Casa Tina Martins e o projeto Pelo Direito das Mulheres, apenas através deles que ela percebeu seus direitos.

Hoje, Camila é uma nova mulher, mais segura de si e por isso resolveu contar sua história ao Jornal Contramão para que todas as outras mulheres que passam por uma situação semelhante a dela, entendam que há esperança. Ela sofreu durante 15 anos e é o exemplo vivo de que ninguém merece viver com medo.

Aos 16 anos, Camila engravidou de seu namorado. Pressionada pela família, a jovem casou-se com o rapaz, nove anos mais velho, e desde o início do relacionamento já era vítima de violência psicológica.“Eu não sabia cozinhar direito, e ele tinha uma mãe que era cozinheira e queria que eu preparasse pratos como ela, lavasse roupas como ela”, desabafa. 

O marido era um homem completamente machista e o relacionamento do casal foi construído dessa forma.“Sempre dizia que eu não sabia fazer nada, me tratava muito mal. Era assim, se eu fizesse uma comida e ele não gostasse, ia dormir no sofá, na casa da mãe dele, brigava, gritava. Eu não podia estar presente quando ele estivesse entre amigos”.

Quando completou seus 20 anos, Camila percebeu que não era aquilo não era normal, que aquela relação não era saudável. Ela era obrigada a ter relações sexuais. “Querendo, não querendo, bem ou não, de resguardo. Tanto que eu tive um filho com 16 e outro com 18”, conta.

A jovem se viu em um relacionamento abusivo com um homem que sugava suas energias e decidiu que queria o divórcio. Separada dele, a mulher se envolveu com outra pessoa e durante todo esse novo relacionamento o ex não deu nenhum momento de paz. Ele ameaçava matar seu novo namorado e a família dele. “Um dia ele foi passar o final de semana com meus filhos e sumiu com eles, falou que só me devolveria se eu voltasse com ele”.

Diante das ameaças, Camila, cedeu e voltou para o pai de seus filhos. De início ele se mostrou uma pessoa diferente, mudaram de cidade e viveram um tempo com tranquilidade, nesse período foram pais de outra criança. 

O casal era evangélico e o homem foi promovido a pastor na igreja onde frequentavam, e foi quando a situação voltou a ficar ruim. “Eu não podia usar sequer uma roupa que eu gostava, não podia usar maquiagem, nada”. 

Camila cansou dessa situação, já não aceitava mais calada, passou a bater de frente com o marido e fazer o que lhe fazia bem. Começou a trabalhar, estudar, tirar carteira, e isso claro, o incomodou. “Ele surtou, ele não dormia. Passava a noite no banheiro mexendo no meu celular, procurando conversas com outros homens. Em cima do meu guarda roupa tinha facão, machadinha. Às vezes eu acordava e ele estava olhando para mim com um travesseiro na mão”. 

Até então as agressões eram apenas verbais. Na época, Camila trabalhava em um consultório odontológico e o marido cismava que ela estava tendo um caso com seu patrão, por essa razão, um dia foi até o local e a agrediu fisicamente. 

“Minha sorte era que era uma galeria e o pessoal o conteve. Esse dia que ele me bateu lá eu fiz corpo de delito e ele foi tirado de casa. Só que ele tem um irmão policial aposentado muito bem relacionado e eles usaram todos os meios possíveis para me intimidar”.

Camila chegou a fazer o boletim de ocorrência, porém ele desapareceu. Por muito tempo, ela teve vergonha em buscar ajuda, mas depois de ser agredida em seu próprio trabalho ela mudou. “ Eu perdi o medo, eu fui com tudo, já era meu limite, porque eu pensei assim, se ele veio fazer isso comigo no meu trabalho, quando chegar lá em casa ele vai fazer o que comigo?”.

Os dois se separaram, o filho mais velho quis ficar com o pai e os dois mais novos ficaram com ela. Um mês depois o pai foi buscar os filhos para passar o final de semana e como da outra vez em que haviam se separado, falou que só a deixaria vê-los novamente se voltasse com ele. Camila desta vez não cedeu e ele pegou os filhos e levou para a cidade onde seus irmãos moravam. Além do policial aposentado, o outro era vereador e muito influente no lugar e deixaram claro que ela não procurasse as crianças. 

“Às vezes eu tentava algum movimento de ligar para ter contato com os meus filhos, sempre que fazia isso quando eu saia do meu trabalho tinha um irmão dele que estava no carro, na porta do meu serviço e ficava apontando para mim fazendo gestos sabe, que ia me matar. Ligavam no meu trabalho, me ameaçava, foi horrível. A irmã dele me ameaçou na rua”.

Sem os filhos, Camila passou a ler e estudar seus direitos, procurou a Delegacia da Mulher, os recursos humanos e segundo ela, em todos os órgãos que procurava ajuda ela era mal atendida. Sempre que ia à defensoria pública, eles diziam que ela precisava de uma medida protetiva que ela não tinha.

“Eu dormi na delegacia das mulheres muitas vezes com medo, porque ele vivia me seguindo e com risco de perder meu trabalho pois estava sempre chegando atrasada no trabalho, mas nunca tinha sucesso, porque quando chega alguém de viatura lá que foi agredido fisicamente, essas pessoas têm prioridade, e isso é o tempo todo. Então se você está lá inteira, não está faltando nenhum pedaço, não está fisicamente agredida e machucada eles não atendem, então fiquei muito assim, muito tempo tentando”.

Por muito tempo Camila procurou por ajuda,  porém isso começou a interferir em sua vida. Como não conseguiu o suporte acabou entrando em uma forte depressão e precisou procurar outro tipo de auxílio que não a jurídico, o psicológico. Deu início a um tratamento com um psicólogo, onde percebeu que podia se abrir para outros relacionamentos e quando isso aconteceu, descobriu como uma relação saudável é leve e feliz

“No começo foi difícil, eu não conseguia lidar com relacionamento, eu não me sentia boa o suficiente para um relacionamento, porque a outra parte tinha a vida muito bem resolvida e eu era problema todo dia. Ele recebia ameaças no celular dele, recado que ele mandava, e eu tava sempre chorando, sem poder ver ele porque eu tava na delegacia, sempre algo do tipo. Minha vida não era nem não resolvida, era totalmente sem estar resolvida. Mas ele nunca soltou minha mão, desde o momento em que ele se comprometeu a estar comigo ele está até hoje e me dando força para lutar”.

Depois de ter conseguido o divórcio, Camila seguiu sua vida em se novo relacionamento, que lhe deu mais uma filha . Quando descobriu o nascimento da bebê, a irmã do ex-marido a procurou para que ela voltasse a ter contato com os filhos.

“Essa irmã dele ofereceu para eu poder voltar a ter contato, porque, na verdade , quem cuidava era ela e a mãe dela, e os meninos cresceram e viraram adolescentes problemáticos, aí elas não quiseram mais. Porque antes eles eram criancinhas tranquilas e agora não eram mais. Eles sempre me culpavam como se eu tivesse abandonado meus filhos, diziam que estava errada, se eu tivesse ficado com o pai deles eles não eram assim. Então a culpa dele ter me tomado os meus filhos era minha de não ter aceitado ficar com ele”.

Toda sua família, a do pai de seus filhos e as pessoas ao seu redor a julgavam, eles a condenavam por ter abandonado seus filhos, a colocavam como errada por não ter ficado com o pai deles.

Foram muitos de culpa. Para Camila a errada era ela, sendo que na realidade ela era a maior vítima. Essa situação só mudou graças à ajuda de projetos como a Casa Tina Martins e o Pelos Direitos das Mulheres.

Dentro da casa, Camila passou a receber os mais diversos tipos de ajuda, desde orientações sobre seu caso até psicológica e foi direcionada ao projeto Pelo Direito das Mulheres, onde com ajuda do coordenador Cesar e os alunos, passou a entender melhor seus direitos e ganhou o suporte necessário para conseguir sua medida protetiva.

“A partir do momento que aquele homem recebeu na casa dele a medida protetiva, eu tive paz, acabaram as ameaças, ele não vem mais aqui, acabou”, relata.

Foram longos anos de luta até conseguir sua liberdade. O ex-marido de Camila destruiu sua vida, sua saúde mental e a separou dos filhos. Durante muito tempo aquela mãe teve picos emocionais, não conversava, só queria ficar sozinha com a culpa que carregava de não estar ao lado dos filhos os vendo crescer.

“Ele tinha tanto tempo de me ameaçar com a família dele, de me cercar, de vim no portão da minha casa mesmo eu já sendo casada, de mandar mensagem pelo celular dos meus filhos me ameaçando, que como eu nunca tinha conseguido ajuda eu achava que ele tava certo, que eu era errada. Se eu tivesse certa a polícia me atenderia. Ninguém nunca me atendeu. Voltava atrás e falava, você tá bem, isso não é relevante, você falou que tinha um corpo de delito mas ele não existe. Como se eu tivesse mentindo, isso acabava comigo eu pensava assim, eu nasci para ser isso mesmo, a mulher nasceu para ser ofendida mesmo, insultada, humilhada, porque não tem recurso pra ela”.

Hoje, Camila é outra mulher que encontrou um parceiro que a faz feliz, a respeita, aceita seus filhos, e o mais importante, Camila conseguiu justiça. Camila é uma mulher forte, que faz questão de contar sua história para inspirar outras mulheres, para mostrar a elas que existe saída, foram anos de luta mas ela conseguiu vencer e todas podem conseguir.

Camila é exemplo de sobrevivência, o Projeto Pelos Direitos da Mulher está aberto a ajudá-las, a qualquer sinal de violência física, psicológica, moral, sexual, econômica e social DENUNCIE!

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Nada melhor que um drink de primeira para dar start no final de semana, não é mesmo? Então se liga nessa delícia desenvolvida pela técnico do laboratório e estudante de Gastronomia do Centro Universitário Una, Wessery Zago.

DRINK: DIVINA ROSKA RUSSA MINEIRA
by Wessery Zago

INGREDIENTES
12 seriguelas inteiras bem maduras
2 colheres de sopa rasas de açúcar demerara
2 conchas de gelo escamado
120/180 ml de Cachaça Divina D’Minas
20 ml de licor siciliano
30 ml de espuma de gengibre
Capim-santo

MODO DE PREPARO
Na coqueteleira, coloque as seriguelas.
Adicione o açúcar demerara.
Com um socador, amasse bastante a fruta juntamente com o açúcar até que restem poucos pedaços
inteiros.
Mexa com uma colher o conteúdo da coqueteleira para que as seriguelas de baixo fiquem em cima.
Volte a amassá-las até quando restarem poucos pedaços grandes.
Coloque o gelo escamado.
Acrescente o licor siciliano e a Cachaça Divina D’Minas
Tampe a coqueteleira e chacoalhe-a por 10 segundos ou até quando não sentir a presença de grandes
pedaços de gelo.
Sirva em uma taça ou copo de drink, como desejar.
Decore com capim-santo.

ESPUMA DE GENGIBRE

INGREDIENTES
200 ml de preparado de chantilly
60 ml de xarope de gengibre
04 colheres de chá de gengibre ralado
1/2 colher de chá de raspa de limão.

MODO DE PREPARO
No mixer ou batedeira adicione o preparado de chantilly
Acrescente o xarope de gengibre e bata até a textura desejada
Coloque o gengibre ralado, a raspa de limão e bata até incorporar.
(a receita rende de 8 a 10 drinks)

Tim-tim!

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Créditos: Luís Alfredo - Revista O Cruzeiro

Por Dani Reis

Você já ouviu falar sobre o holocausto brasileiro? Ele aconteceu aqui em Minas Gerais, precisamente na cidade de Barbacena, entre os anos de 1930 e 1980. O mesmo intitulou um livro, lançado em 2013 e que já vendeu mais de 250 mil exemplares. Esses episódios que aconteceram em terras mineiras, precisamente dentro do Hospital Colônia de Barbacena, também foram pautas para documentários e objetos de muitas pesquisas relacionadas ao tratamento de pessoas com transtornos mentais.

Calcula-se que cerca de 60 mil brasileiros morreram, ou foram mortos sob tortura, choques intensos e banhos gelados. O nome holocausto se deu, pois a instituição de saúde poderia ser comparada aos campos de concentração e extermínio. Os pacientes eram enviados para o hospital à força, mas suspeita-se que cerca de 70% não possuía sequer algum tipo de doença mental. O local abrigava crianças abandonadas pelos pais, portadores de deficiências físicas, mulheres adulteras e até criminosos.

A imagem que ilustra nosso TBT de hoje é do fotógrafo Luis Alfredo, da Revista O Cruzeiro. Ele foi o primeiro a divulgar as atrocidades que aconteciam dentro do hospital. Eram diferentes tipos de tortura, os pacientes passavam frio, fome, nem vestimentas eram fornecidas, os mesmos circulavam pelas dependências, praticamente nus.

O Hospital Colônia foi fechado no final dos anos 80. Dentre os que sobreviveram durante e depois, adicionando os que fugiram, soma-se um total de 200 pessoas.

Em memória daqueles que foram exterminados na Colônia Barbacena, no mesmo local, foi aberto o Museu da Loucura em 1996. As barbáries cometidas por detrás das paredes do local foram crimes institucionalizados, tendo o Estado como o responsável. Contudo, nunca houve uma reparação formal, nem mesmo com os que sobreviveram, apenas um fechar de olhos permanente, um desviar de atenção para a nossa história. O trem da loucura tinha lugar certo para parar, mas as cicatrizes dessa viagem mal assombrada vão além da pele, estão esculpidas na alma.

 

*Revisão: Bianca Morais

Por Tales Ciel

Ainda me lembro de quando vi a minha primeira parada gay. Vi pela janela do carro; vi, porque participar eu jamais iria. Lembro-me de pensar “ainda bem que não sou eu”, para muitas das ações incabíveis que estavam fazendo – dois homens que se gostam beijando? O sacrilégio! Mal sabia o pequeno eu o que essa frase iria fazer. Às vezes ainda penso no que poderia ter sido se não tivesse sido doutrinado assim, se não tivesse negado tanto, se não teria começado a perceber mais cedo e me poupado de ter que ir no ritmo que a pandemia me permite, mas sei que não vale à pena ficar pensando nisso. Antes tarde do que nunca, é o que dizem.

Para muitas juventudes LGBTQ+, a percepção de que algo está “errado”, incomodando, começa bem cedo. Para outros ela vem mais devagar, aos pouquinhos. Se é algo do destino ou do subconsciente não tem como dizer e pode ser que seja um pouco dos dois, porque tem pessoas que precisam de mais tempo que outras para entender algo que deveria ser apenas mais uma faceta de existir. Mas o medo, ele nos para, faz com que enxerguemos esses pequenos fatos e condições como errôneos e ruins, com que esses seres humanos que são diferentes – pois é apenas isso que somos, diferentes do “padrão” – se odiarem tanto por dentro, até não acreditarem que merecem viver. Que podem ter uma vida normal, um emprego, uma pessoa para amar. Faz um garotinho olhando duas pessoas que se amam pela janela do carro agradecer por não ser como eles.

E é um absurdo pensar que condicionamos o nosso direito de existir nos padrões que um grupo alheio de pessoas seguem. Que temos que justificar com evidências e provas, um slide de 100 e mais páginas e um estudo de 60 anos o porquê merecemos viver. É uma noção retrógada, nociva e cruel, que muitos não param para perceber. Especialmente num tempo em que os números e fatos que deveriam estar sendo levados em consideração é, talvez, o primeiro lugar que o Brasil ocupa mundialmente no assassinato de pessoas transgêneros ou a relação de uma morte por homofobia a cada 16 horas. Tanto que quando invertemos as cartas, há muitas mais evidências de que nenhum dos que nos subjugam podem provar porquê não podemos, porquê somos “errados”.

Em quase todas as espécies de animais no planeta há a presença de todos as cores do arco-íris, por exemplo existem casais de leões, pinguins, elefantes e muito mais, homoafetivos. Até mesmo nas plantas, com árvores que trocam entre serem do sexo feminino e masculino sem motivação ou interferência externa, apenas o fazem. Sexualidade, gênero e identidade são coisas que fazem parte da mãe natureza e, por extensão, fazem parte da natureza humana. Talvez o problema não seja quem somos, talvez não seja quem amamos, como no chamamos ou queremos vestir. Talvez, o problema não sejamos nós, não seja o menino gay que agradece por não ser o que, na verdade, é. Talvez, o problema seja o medo que aprendemos a ter.

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Crédito: Isabel Baldoni/ PBH

Por Bianca Morais

18 de maio é comemorado no Brasil o Dia da Luta Antimanicomial. A data é uma homenagem à constante batalha pelos direitos das pessoas com sofrimento mental. No decorrer dos anos, todos aqueles indivíduos com doenças mentais eram excluídos da sociedade e internados em hospitais psiquiátricos, os manicômios, onde eram isolados da convivência social e submetidos a diversos tratamentos desumanos. 

Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Acontece que, por muito tempo, os pacientes com transtornos mentais tiveram seus direitos a viver em sociedade privados por um conselho médico que acreditava em intervenções grotescas como tratamento.

Hoje em dia muito se escuta falar em questões de saúde mental. Ao longo da pandemia o isolamento social tem sido uma das medidas de proteção à disseminação do vírus, e muitos sentem na pele que a privação da liberdade e do contato humano é bastante prejudicial à mente. Se já é ruim para alguém viver isolado em casa, imagine para as pessoas presas em hospícios, sem conforto e respeito.

O mês de maio é de conscientização e aprendizagem sobre uma luta que está longe de acabar. O Jornal Contramão trás hoje uma reportagem especial que conta a história desse movimento que, apesar de anos de batalha, ainda está distante de terminar.

 

O precursor do movimento

Franco Basaglia, foi um italiano, nascido na cidade de Veneza em 1924. Seu nome ficou conhecido em todo o mundo como o psiquiatra precursor da reforma do sistema de saúde mental. Quando se fala em reforma psiquiátrica é entendido a mudança feita em um sistema autoritário de saúde.

O psiquiatra trabalhou, durante a década de 1960, como diretor do Hospital Psiquiátrico de Gorizia, local onde testemunhou o que há de pior no tratamento a pacientes, eram abusos, violências e negligências. Em determinado momento, o médico com toda sua experiência na área percebeu que a internação e o isolamento daqueles pacientes servia apenas para piorar a condição dos enfermos e não de ajudá-los, por isso, o médico junto a equipe do hospital, fizeram mudanças práticas e teóricas nas intervenções dadas aos doentes, prática que ficou conhecida como “negação a psiquiatria”.

Com suas ideias, Basaglia revolucionou um sistema que por anos torturava doentes com transtornos mentais, substituiu sofrimento por humanização, converteu os corpos usados como objetos de intervenção médica e os transformou em parte da sociedade.

O médico italiano promoveu uma rede de atendimentos solidária, inclusiva e libertária, propôs atendimentos terapêuticos em centros de convivência, aproximou os pacientes das famílias e da comunidade. Sua pequena revolução começou ali e mais tarde, em 1968, Basaglia publicou o livro “A instituição negada” onde revelou detalhes de seu método. 

Em 1973, após reformular o tratamento psiquiátrico em Gorizia, ele seguiu para o Hospital Psiquiátrico de Trieste, que posteriormente virou modelo para reformulação do sistema psiquiátrico do Brasil e do mundo.

Franco Basaglia foi o pioneiro na defesa aos direitos humanos e conquista da cidadania dos que carregam transtornos mentais. Pela primeira vez na história começava a se levantar uma bandeira de manicômios como instituições produtoras de exclusão social.

 

A história da reforma do sistema psiquiátrico brasileiro

No Brasil, a luta antimanicomial teve início no final dos anos 70, o país vivia o período da ditadura militar com um governo autoritário. Na época, muitos movimentos cresceram, entre eles, o Movimento Antimanicomial que estava ligado à Reforma Sanitária Brasileira, que resultou na criação do SUS.

Motivados pela revolta com o sistema nacional de assistência psiquiátrica que praticava tortura, fraudes e corrupções, profissionais da saúde reivindicaram melhores condições de trabalho, aumento salarial, faziam criticas as internações nos hospícios e ao uso de eletrochoque nos pacientes e demandavam melhorias na assistência a população e a humanização dos serviços. 

O manifesto desses trabalhadores ficou conhecido como Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) o qual deu início a uma greve que durou oito meses no ano de 1978. Houve grande repercussão na mídia e a partir dali iniciaram grandes discussões políticas acerca do campo da saúde mental, o que sucedeu em diversos congressos e manifestações. 

O movimento cresceu e passou a contar com a participação da associação de usuários, familiares, instituições acadêmicas, e outros segmentos da sociedade. Para além de denunciar os maus tratos dentro dos hospitais psiquiátricos, eles queriam a construção de uma rede de serviços e estratégias, queriam garantir a inserção daqueles doentes na sociedade, buscavam tratamento justo e correto.

Ao longo desse processo, destacou-se a vinda ao Brasil de Franco Basaglia, ele que tanto revolucionou o sistema psiquiátrico da Itália e do mundo, participou do I Congresso Brasileiro de Psicanálise de grupos e instituições no Rio de Janeiro. O MTSM tinha grandes referências do médico em seus ideais, desse modo, sua vinda resultou em um fortalecimento do movimento e várias reflexões. 

Foi em 18 de maio de 1987, em um encontro com grupos a favor das políticas antimanicomiais, que veio a proposta da reforma do sistema psiquiátrico brasileiro. Entre os tópicos abordados, dizia uma maior participação das famílias no tratamento dos enfermos, a conscientização da população que os transtornos mentais não são uma ameaça e que essas pessoas não precisam ser isoladas do convívio público. 

O maior apelo da reforma era a proibição da construção de hospitais psiquiátricos e a substituição deles por atendimentos psicológicos, alternativas menos invasivas. Substituir a forma progressiva por serviços comunitários. Todas essas pessoas estavam unidas por um único lema: uma sociedade sem manicômios.

Nesse encontro foi redigido o Manifesto de Bauru, que denunciou os abusos feitos nos hospícios. Então em 1889, deu-se abertura a tramitação de uma das grandes conquistas do movimento antimanicomial, a lei n°10.216, que apenas foi promulgada em 2001 e garantiu os direitos dos pacientes com transtornos mentais a receberem intervenções menos invasivas e dando prioridade a tratamentos de reinserção na família, no trabalho e na comunidade.

A partir dessa lei, que começou a ser reivindicada nos anos 70 e demorou anos para ser finalmente publicada, diversas portarias passaram a ser criadas para a regulamentação e execução de serviços que garantem a atenção às pessoas com sofrimento mental.

 

As melhorias após a reforma

Com a Lei n°10.216, também conhecida como Lei Paulo Delgado, houve um redirecionamento do modelo assistencial em saúde mental. Nesse novo sistema tiveram maiores investimentos em Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), Centros de Convivência e Cultura, as Unidades de Acolhimento (UAs) leitos de atenção integral (em hospitais gerais, nos CAPS), Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) e os Centros de Referência em Saúde Mental (Cersam), alternativas para o modelo manicomial. Tiveram, além disso, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que substitui a internação em asilos.

Os CAPS, são oferecidos de forma gratuita em unidades regionais. Neles são oferecidos tratamentos intensivos e atendimentos diários com o propósito de reinserir o paciente. Caso haja necessidade de internação, é o CAPS que direciona o enfermo para os leitos de saúde mental em hospitais que oferecem a internação a curto prazo.

Com a lei, o internamento apenas pode ser feito caso o enfermo represente alto risco e através da autorização dos doentes ou de sua família. O procedimento ocorre por meio de um laudo médico que deve ser encaminhado ao Ministério Público, informando a internação e depois sobre a alta.

Pautado em liberdade, respeito, dignidade e autonomia do paciente com sofrimento mental, a nova política mudou e muito a atenção dada a essa parcela da sociedade por muitos anos tão discriminada, isso graças ao resultado da incansável luta pelos direitos desse grupo.

 

O retrocesso na luta

A reforma psiquiátrica deu voz ao enfermo e à sua família, inclusive força para lutar contra os abusos do sistema. A batalha ainda está longe do fim, o Brasil ainda tem muitos hospitais psiquiátricos e leitos sem previsão de serem fechados, no entanto, o verdadeiro retrocesso começou no final do governo de Dilma Rousseff.

Entenda

O retrocesso dessa luta tão sofrida teve início ainda no governo Dilma, quando se credenciaram as chamadas “comunidades terapêuticas”, entre elas estavam instituições religiosas, asilares, manicomiais, ambas com uma concepção arcaica em relação aos transtornos mentais e uma visão moralista e religiosa.

Em 2016, no governo Temer, o regresso continuou com a diminuição dos recursos direcionados aos Centros de Atenção Psicossocial, e aumento do financiamento das comunidades terapêuticas, de manicômios psiquiátricos tradicionais e a redução dos espaços de participação social.

Atualmente, no governo Bolsonaro a situação não melhorou, essas presidenciais tem reincorporado os manicômios às políticas nacionais de saúde. É como se todos eles, Dilma, Temer e Bolsonaro estivessem jogando anos de luta de profissionais da saúde no lixo. Isolamento e religião não são a cura para a loucura. Compreender doenças como depressão, transtornos bipolares e vícios em drogas e álcool, é dar a oportunidade e conforto aos doentes.

A luta antimanicomial é também uma luta democrática, onde não se encaixam padrões retrógrados. Em dezembro de 2020, o ministério da saúde sinalizou cortes em programas de saúde mental, numa reunião com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e as Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), foi proposto revogar cerca de 100 portarias editadas entre 1991 e 2014. A tentativa não foi efetivada, mas levantou o protesto de muitos sobre a importância de defender a Política Nacional de Saúde Mental.

“Cuidar é promover vida. Prender é promover morte”. Esse é um dos gritos da luta que precisou se reacender nos últimos anos. 18 de maio é data para relembrar a luta travada há anos, para o avanço de serviços de saúde abertos para além dos muros de hospícios.

 

Especialista

Caroline Lança – Psicóloga

 

Caroline Lança, 27 anos, é psicóloga, além de seu consultório particular ela atua no Centro de Atenção Psicossocial, o CAPS 2, na cidade de Ibirité, Minas Gerais. O CAPS, como vimos anteriormente, é o substituto dos hospitais psiquiátricos. Caroline recebe diariamente pessoas com sofrimento mental e que estão com alguma urgência ou emergência psiquiátrica, como um paciente em crise psicótica, de ansiedade, pânico, ou até mesmo um surto psicótico, que é aquele onde o paciente tem uma primeira aparição de um transtorno mental. No CAPS, a profissional da saúde também recebe pacientes que sofreram tentativa de autoextermínio ou que estão com ideação suicida.

“O CAPS é de portas abertas, ou seja qualquer pessoa pode procurar pelo serviço, o ideal é que seja do município em que reside. Em Belo Horizonte temos o Centro de Referência em Saúde Mental, os CERSAMS, que também recebem esse público”,  conta ela.

Na capital, as internações quando necessárias ou são feitas em algum CAPS que funcionam 24 horas e tem leito de internação ou no hospital Raul Soares que é hoje uma referência no estado e é o único hospital público psiquiátrico que ainda existe. O Galba Veloso foi fechado no ano passado.

Em entrevista ao Jornal Contramão, a psicóloga compartilha seu conhecimento na delicada área dos tratamento das pessoas com transtornos mentais.

 

Quem são os pacientes com sofrimento mental? Quais são as principais doenças que os afligem e qual o comportamento deles?

Difícil citar as doenças, o sofrimento mental abrange variados transtornos. Recebemos tratamento para paciente com quadro de esquizofrenia, bipolaridade, ansiedade, depressão, dependência química… O sofrimento mental não tem perfil e pode atingir qualquer pessoa.

 

Na sua opinião, quais são os mais importantes avanços na luta antimanicomial?

Os avanços alcançados pela luta antimanicomial foram o fechamento dos manicômios, a elaboração do tratamento humanizado para os pacientes, a criação de uma rede de tratamento gratuita pelo SUS, composto por dispositivos no território do sujeito, com profissionais capacitados, medicação e internações curtas.

Atualmente, a tentativa é tratar o paciente dentro de sua singularidade. O tratamento é discutido e elaborado em equipe, com a família quando possível, e com a participação do próprio paciente.

 

E o que você acha que ainda falta ser alcançado?

Falta muita coisa ainda e a gente luta por melhores condições. Acho que falta interesse dos nossos governantes, olhar para essas pessoas ainda como pessoas. A saúde ela não é prioridade, nós já sabemos disso. Vivemos um momento, uma pandemia e ela nunca foi prioridade e muito menos a saúde mental, então falta material nos CAPS, nas oficinas, as vezes falta medicação gratuita, falta lugar, um serviço mais organizado, um serviço com uma estrutura física melhor. 

 

O que geralmente é oferecido pelas redes de atenção à saúde mental?

Os CAPS oferecem atendimento psicológico, psiquiátrico, orientação com serviço social, atendimento aos familiares, oficinas, medicação oral e injetável.

Refeições, transporte, internação de curto prazo.

Visita domiciliar quando necessário. 

No CAPS AD (álcool e outras drogas) há um tratamento voltado para a dependência química.

Centro de convivência:

Espaço onde o paciente da saúde mental pode passar o dia e participar de oficinas com artesãos e artistas contratados da prefeitura. 

Muitos pacientes fazem da arte uma fonte de renda (mosaico, trabalhos em argila, costura…)

 

Na atenção básica – posto de saúde:

Atendimento psicológico e psiquiátrico. Medicação oral e injetável. Orientação com serviço social e aos familiares. 

Visita domiciliar aos pacientes.

Também há grupos de cessação de tabagismo no posto de saúde. 

 

Hospital psiquiátrico:

Internações, oficinas, atendimento psicológico e psiquiátrico, atendimento à família. Administração de medicações. 

As internações aqui são mais direcionadas para pacientes que residem em municípios que ainda não apresentam os serviços substitutivos (CAPS, CAPS AD e CAPS I infantil).

 

Por que você acha que esses recentes governos acreditam que uma volta dos manicômios seja algo positivo?

Acredito que na política, muitos governantes não acreditam na rede como tratamento possível e eficaz. O crescimento dessas instituições se deve ao também crescimento da dependência química no país e diferente do SUS, a única abordagem possível é a abstinência.  

No SUS, trabalhamos com a abstinência, mas também na orientação da redução de danos, que consiste na substituição ou redução da droga, sem julgamentos ou tentativa de que todos respondam ao tratamento da mesma forma.

Outro ponto é o crescimento do conservadorismo no país. Sabemos que a maioria das comunidades terapêuticas são religiosas.

 

Como profissional da saúde, qual sua opinião sobre as comunidades terapêuticas?

A maioria dessas comunidades são religiosas, muitas não têm profissionais de saúde e apresentam um tratamento muito semelhante ao manicômio, que é um tratamento pelo trabalho e pela moral, então quanto mais você trabalha, mais você vai ficar bom. Nesse sistema, não existe um problema psiquiátrico mental, existe uma pessoa que está à toa precisando ocupar sua mente. 

Essas comunidades terapêuticas, assim como os manicômios, são isoladas, podem observar que são em lugares distantes, de difícil acesso, eles restringem o acesso da família ao paciente. 

Geralmente já interna estipulando um número de dias e meses que o paciente deve ficar ali, algumas determinam nove meses até mais de um ano, não tem uma discussão de caso a caso, de cada paciente, é uma generalização de todos, assim como no manicômio. Não existe espaço para singularidade, individualidade, para pessoa, existe um todo.

É um tratamento que tem que ser feito para todos de bom modo, não tem uma leitura individual de cada paciente e das suas demandas particulares. Alguns estipulam que nos três primeiros meses os pacientes não podem ter contato com os familiares apenas através de ligação, então é muito semelhante. 

Nós temos inúmeras denúncias recentes de comunidades terapêuticas que violam os direitos humanos mesmo. Nós estamos com chances das comunidades terapêuticas passarem a receber adolescentes, menores de idade, hoje uma criança ou adolescente para ficar internada, que é o último caso, ela precisa de um acompanhante o tempo todo com ela, o que no caso das comunidades terapêuticas isso provavelmente isso não vai acontecer. É extremamente complicado ser depositado dinheiro nesses lugares, para quem defende a luta antimanicomial, a reforma psiquiátrica, nós não entendemos as comunidades terapêuticas como um lugar realmente de tratamento, um lugar que podemos confiar em colocar nossos pacientes, mas infelizmente isso tem sido uma realidade.

 

Você acha que a pandemia tem causado um impacto na luta antimanicomial, pela diminuição de determinados atendimentos à saúde?

Acredito que a pandemia causa impacto na luta antimanicomial por ser um dificultador no diálogo dos profissionais e dos serviços substitutivos. Nesse momento, estaríamos nos preparando para o desfile, havíamos participado de reuniões e discutido avanços e recuos nas políticas. 

Durante os momentos mais críticos da pandemia, os atendimentos foram reduzidos nos serviços de urgência e na atenção básica, fato este que impacta na saúde mental dos indivíduos e no acesso ao tratamento, objetivos claros da luta antimanicomial. 

Vale lembrar que no ano de 2020 perdemos investimento na saúde mental, com o fim do NASF (núcleo de apoio à saúde da família), composto por equipes com psicólogo, assistente social, profissional de educação física, fisioterapeuta, nutricionista, dentre outros profissionais.

 

O que o dia 18 de maio representa para você, uma psicóloga engajada nessa luta? 

O 18 de maio representa liberdade, representa muito, fico muito emocionada. Desde que eu conheci a data durante a formação, ainda na faculdade, eu vou todo ano, infelizmente ano passado e esse ano não vai ter, no desfile. É um carnaval na cidade, é maravilhoso, a gente se concentra na Praça da Liberdade, tem trio elétrico, tem rainha de bateria. O último, em 2019, a rainha foi a Crystal, que é uma transexual mulher negra de Belo Horizonte, uma figura que muitas pessoas já conhecem, ela foi a nossa rainha de bateria. Tem blocos, cada bloco tem um tema. Os CAPS definem qual bloco eles querem entrar, e aí são CAPS de Minas inteiro que vem aqui para a Praça da Liberdade. Tem a ala infantil, a penúltima ala infantil foi Alice no País sem manicômios, foi lindo, os menininhos vestidos de Alice, chapeleiro, mágico,  gato, coelho, foi muito bonito. Nas oficinas no Caps são confeccionadas as roupas para 18 de maio. Tem o samba enredo quem faz são os próprios pacientes que frequentam os Caps. E é muito bonito e uma forma de trazer visibilidade, porque quando a gente passa com aquelas pessoas, causa um estranhamento na cidade, as pessoas ficam chocadas sem entender. Incomodados, como que o louco pode circular em sociedade. As pessoas não querem ver o louco, as pessoas se incomodam com a loucura, e o louco ele deve circular na sociedade, ele não deve ficar trancafiado, ele tem o direito como qualquer outra pessoa de circular, de socializar, de fazer o que ele quiser. É interessante ver o estranhamento, alguns perguntam: “o que é isso, o que está acontecendo”, outros fecham a cara, outros xingam, mas nós paramos o trânsito, paramos a cidade, para mesmo porque a gente desce da Praça da Liberdade até a Praça da Estação parando o trânsito, fazendo questão de parar, de causar um transtornos para que as pessoas possam ver e ouvir que nós não iremos aceitar manicômios nunca mais.

A luta antimanicomial está distante do fim, o sistema já quebrou vários de seus problemas como os hospitais psiquiátricos e internamentos forçados, porém o tabu está longe de acabar. A ideia de que essas pessoas são perigosas, violentas e representam um perigo à sociedade ainda é disseminado e é necessário acabar com ele com urgência. Existe tratamento, é indispensável quebrar os estigmas e espalhar informação correta. Conhecimento é tudo.

A reforma psiquiátrica foi uma resposta à luta manicomial. Liberdade é direito humano. Manicômios nunca devem ser a primeira opção, amor e carinho devem substituir tortura e pacientes dopados. A luta não pode parar, vamos juntos usar esse 18 de maio para levar entendimento sobre o assunto.

Em um passado nem tão distante, pessoas com transtornos mentais recebiam atendimentos desumanos e em hospitais psiquiátricos. Por eles, por todos aqueles internados com ou sem transtornos mentais, que muitas vezes eram colocados naqueles lugares apenas para serem afastados da convivência social, o que acontecia muito no período da ditadura, os presos políticos. É por eles e também os que morreram na miséria dos hospícios que esse 18 de maio não pode ser passado batido, esses não podem ser esquecidos.