Copa das Confederções

Para receber a Copa do Mundo 2014, Belo Horizonte terá reforços em todo esquema de segurança, contando com mais câmeras de vigilância, equipamentos de proteção e armas não-letais para os policiais. Além de usar todo contingente policial da capital, haverá reforço com efetivo vindo do interior, e apoio da Guarda Municipal – destacada para atuar no trânsito.

O presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB e membro da Comissão de Segurança Pública na Assembléia Legislativa de MG (ALMG), deputado Sargento Rodrigues, afirma que não deve haver preocupações quanto à segurança durante a Copa. A opinião é compartilhada pelo sociólogo e ex-secretário de Defesa Social de MG, Luis Flávio Sapori, ao dizer que “a PM de Minas está mais preparada do que a de outros estados”.

Sapori e Rodrigues também partilham de um mesmo pressuposto: para eles, além do treinamento especial para o evento, a inteligência deve agir para antecipar os atos de vandalismo que possam ocorrer. Sobre a experiência nos protestos de 2013, o deputado revela que “algumas forças policiais chegaram a ir até sem os equipamentos necessários”.

Quanto às prisões preventivas de pessoas que estão respondendo a processos em decorrência das manifestações de 2013, Rodrigues é enfático. “As prisões preventivas vão acontecer. Inclusive elas já estão sendo trabalhadas por parte da polícia judiciária, com o serviço de inteligência das policias Civil e Militar identificando as possíveis pessoas”, atesta.

Sapori é contundente ao analisar as medidas que vem sendo tomadas para conter manifestações, como o possível uso da Força Nacional e do Exército, além dos investimentos em equipamentos de segurança e armas não-letais. “Não digo que estamos em uma guerra, pois não temos condições iguais de força entre os dois lados. A verdade é que a polícia tem hábitos muito ruins e uma espécie de pré-disposição para a violência”, declara.

Como uma contrapartida à opinião de Sapori, o deputado relembra a ocasião em que acompanhou o 5º Grande Ato em BH, quando cerca de 20 policiais ficaram feridos. Ficando ao lado da PM durante todo o ato, o sargento se gaba de não falar como um espectador distante. “Se eu quero participar de uma manifestação livre e democrática, eu tenho que me separar de grupos como o Black Bloc”, sugere.

Na mesma manifestação, pelo menos 17 pessoas deram entrada em hospitais por decorrência do protesto. Foi também a ocasião em que Douglas Henrique Oliveira Souza, 21, morreu no Hospital João XXIII – onde foi levado de helicóptero pelos bombeiros, depois de pular de uma pista do viaduto para outra quando tentava fugir do conflito entre policiais e um grupo de manifestantes. Ciente destas vítimas, o deputado admitiu que “muitas pessoas costumam morrer exatamente em face desses grupos menores que vão às manifestações com objetivo de praticar crimes”.

Tanto Sapori quanto Rodrigues acreditam que neste ano mais manifestações acontecerão, para eles a tática intitulada Black Bloc pode voltar a protagonizar os atos, por outro lado, defendem que a polícia está melhor preparada. “A população está claramente insatisfeita, não encontra mais canais legítimos para mostrar esta indignação. Os partidos políticos perderam a credibilidade, os movimentos sociais já não dão conta de arregimentar esta insatisfação, porque eles estão de certa forma tutelados pelo modelo vigente politico. Então está conjuntura acaba legitimando práticas anarquistas e sustentando práticas como as dos Black Blocks”, conclui o sociólogo.

Texto por Alex Bessas e João Vitor

 Foto por João Alves

No protesto da última quarta-feira, 26, convocado pelo COPAC (Comitê dos Atingidos pela Copa), estavam presentes dezenas de movimentos sociais, estudantis, centrais, sindicatos e manifestantes independentes, que juntos percorreram as ruas da capital empunhando distintas bandeiras. A passeata, que saiu da praça Sete, teve fôlego para percorrer mais de 10 km, sem a ocorrência de nenhum conflito. Os confrontos começaram quando um grupo arrancou as grades de contenção do perímetro estabelecido pela FIFA e defendido pela polícia mineira. A PM – contrariando as orientações fixadas no acordo feito entre o governador Antonio Anastasia e o COPAC – investiu indiscriminadamente contra os manifestantes, sem distingui-los dos dissidentes radicais, fazendo uso de bombas de gás e balas de borracha. O contingente da Força Nacional também foi usado, ficando no cordão de isolamento, atrás da PM.

Antes dos conflitos, o que se viu nas ruas de Belo Horizonte foi um desfile de civilidade e criatividade. Um dos exemplos foi a intervenção idealizada por Sabrina – moça que foi agredida por um policial em vídeo que circula no Youtube. Ela pintou sua própria silhueta quatro vezes no asfalto da avenida Presidente Antônio Carlos, simbolizando as quatro pessoas que caíram do viaduto José de Alencar durante outros dias de manifestação. Sindicatos e coletivos distribuíram panfletos, médicos da rede estadual de saúde e policiais civis acompanharam a marcha e um grupo de aposentados se organizou para coletar assinaturas contra o Fator Presidenciário. O designer gráfico Silas Medeiros fez e distribuiu por conta própria adesivos com dizeres ligados à luta. Até então, o que se via não era só o sorriso acrílico das máscaras de Guy Fawkes; havia, para além da indignação, entusiasmo e alegria dos que seguiam a passeata e já se esqueciam do medo de conflitos, que outrora era tão sensível.

“Não vamos subir a Abraão Caram, vamos seguir pela Presidente Antonio Carlos até a Santa Rosa”, instruía o carro de som que guiava o protesto. Dele também partia o pedido, constantemente repetido, para que a passeata seguisse pacífica e ordeira. Para evitar que manifestantes entrassem em choque com a polícia, um grupo fez uma corrente humana para isolar o acesso à avenida Abraão Caram. No entanto, apesar dos esforços, dissidentes tensionaram o ‘bloqueio’ e seguiram em direção à barreira policial. Bombas de gás lacrimogêneo foram disparadas contra a multidão, que recuou.

Ao mesmo tempo, eram registrados conflitos nas proximidades do Mineirão – onde acontecia, pela Copa das Confederações, o jogo entre Brasil e Uruguai – e no entroncamento das avenidas Presidente Antônio Carlos e Santa Rosa. Neste último, houve negociação entre os manifestantes e a equipe do GATE, possibilitando que a passeata pudesse seguir pela orla da Lagoa da Pampulha até a proximidade do Mineirinho.

Na região do viaduto José de Alencar, na avenida Presidente Antônio Carlos, houve conflito e destruição de lojas. As concessionárias da Kia Motors e Hyundai foram as primeiras a ser depredadas e, em seguida, incendiadas. Um caminhão foi arrastado e incendiado, provocando chamas incontroláveis que chegaram a derreter parte da fiação. Além deste, haviam mais dois grandes focos de incêndio que eram alimentados com madeira, material de sinalização e até cadeiras das próprias revendedoras. O helicóptero da polícia voava baixo, produzindo uma nuvem de poeira que reduziu a força do fogo. Uma loja de conveniência da Skol, instalada em um posto de combustível Ipiranga, foi saqueada, mascarados distribuíram garrafas de cerveja entre si. Pelo menos outras duas grandes concessionárias de carros importados foram depredadas: a Toyota e a Volkswagen. Funcionários encontravam-se dentro da loja da Volkswagen e um segurança chegou a disparar com arma de fogo contra o grupo que atirava pedras na fachada da loja. Mais tarde via-se outro foco de incêndio perto do mesmo posto de combustível.

Embora houvesse maciça presença policial na região, a PM levou cerca de 40 minutos para agir contra a depredação. Aparentemente, os policiais que assistiram a tudo não agiram para evitar que as barreiras que impediam os manifestantes de chegar no Mineirão ficassem desguarnecidas. Os policiais foram recebidos pelo grupo de mascarados com pedras e com as mesmas garrafas que haviam sido saqueadas. Rapidamente o Corpo de Bombeiros conteve todos os focos de incêndio e em minutos a polícia, que chegou a fazer uso da cavalaria, retomou a região. Assim que os responsáveis pela depredação recuaram, o deputado estadual, sargento Rodrigues, esteve no local e atribuiu a depredação destas propriedades ao grupo anarquista Black Bloc. No entanto, até mesmo grupos de crianças marginalizadas foram vistas comemorando os resultados da violência praticada.

Por volta das 21 horas – depois de conter o grupo de manifestantes dissidentes no entroncamento das avenidas Presidente Antônio Carlos e Abraão Caram -, o “Caveirão”, como é conhecido o carro blindado usado pela PMMG, desceu a avenida Presidente Antônio Carlos (em direção ao Centro) e um oficial alertou através de um megafone: “Atenção pessoas de bem, voltem para suas casas. Temos muitos bandidos na rua ainda, eles se infiltraram entre os manifestantes. A polícia quer restaurar a ordem e a segurança. Não andem nas vias, nas ruas, andem nos passeios. Não caminhem nas ruas. Obrigado.”. Só então houve confronto entre policiais e manifestantes que protestavam pacificamente na praça Sete desde o meio-dia.

Nas ruas, cerca de 150 pessoas foram presas, de acordo com o Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da UFMG – Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP), conforme noticiou o grupo de mídia alternativa, BH nas Ruas. A equipe do CONTRAMÃO conseguiu apurar a ocorrência de pelo menos 17 feridos que deram entrada em hospitais por decorrência das manifestações. Entre esses casos, há duas pessoas que foram alvejadas por balas de borracha na altura dos olhos – um deles perdeu a visão. No mesmo dia em que se viu a expressão do pânico na capital mineira, o jovem manifestante Douglas Henrique Oliveira Souza, de 21 anos, morreu no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS) – para onde foi levado de helicóptero pelo Corpo de Bombeiros, depois de tentar pular de uma pista do viaduto para outra quando tentava fugir do conflito entre policiais e o grupo de manifestantes dissidentes.

Por Alex Bessas

Foto por João Alves

Manifestantes voltaram às ruas em diversos pontos de Belo Horizonte na tarde de hoje, 19. A concentração aconteceu na Praça Sete, mas não havia um destino certo para seguir a partir dali. A presença de grupos distintos, sem liderança definida, dificultou a tomada de decisões. Alguns membros pretendiam seguir para a Praça da Estação, outros queriam se dirigir até a Prefeitura. Uma certa desorganização foi percebida hoje, sem, no entanto, retirar a validade das manifestações.

 Um grande grupo saiu da Praça Sete e seguiu pela avenida Afonso Pena em direção à Praça da Assembléia. Parou em frente à Prefeitura Municipal e se dirigiu à avenida João Pinheiro, sentido Praça da Liberdade. Neste percurso, o grupo se dividiu duas vezes: na primeira,um pequeno aglomerado de manifestantes ficou na frente da Prefeitura, enquanto a massa seguia em direção à Praça da Liberdade. Neste trajeto, voltaram a se dividir em dois blocos quando passaram pelo Detran, se reencontrando na altura da Rua da Bahia com a Gonçalves Dias, por onde seguiram até a praça da Assembléia.

Por várias vezes o grupo se dispersou, não obedecendo a pedidos de outros manifestantes que davam instruções para seguir por outro caminho. As reivindicações eram também diversas. Várias bandeiras distintas foram erguidas: legalização da maconha, maior assistência governamental em saúde e educação, repúdio às despesas ligadas a Copa das Confederações e Copa do Mundo, defesa da população de rua, preço da passagem.

Não havia policiais fardados próximos à praça Sete. Eles se juntaram ao grupo na subida da avenida João Pinheiro, onde viaturas do tático móvel acompanharam a passeata. O ato foi pacífico. No entanto, ocorreram pequenas confusões pontuais, causadas por dissidentes, que eram expulsos pelos próprios manifestantes. Um grupo que soltou bombas foi reprimido e algumas pessoas foram entregues aos policiais militares. A cada ato de violência a massa de presentes bradava palavras de ordem como: “Sem violência”, “Sem vandalismo”, “Não me representa”, “Vacilão”. O grupo também evitou que um indivíduo subisse as paredes da Prefeitura.

A manifestação realizada hoje não foi organizada pela Comitê Popular de Atingidos pela Copa (COPAC). Via-se cartazes assinados pelo Movimento Câmara Transparênte BH e a Polícia Civil também montou uma tenda para apoiar os manifestantes, mas o movimento não tinha à frente nenhuma organização.

O perfil da COPAC será a responsável por criar eventos, conforme decidido na assembléia popular, que contou com a presença de cerca de 500 pessoas no Viaduto Santa Tereza, na terça-feira, 18. O objetivo é que o coletivo seja referência para os convidados. Até agora estão agendados dois atos, um amanhã, às 17 horas, e outro no sábado, às 10 horas. Em ambos a concentração será na Praça Sete. Além destas manifestações, outra assembléia popular foi marcada para domingo, às 15 horas, debaixo do Viaduto Santa Tereza. A COPAC, em seu perfil no Facebook, emitiu nota a respeito das decisões tomadas na assembléia realizada na terça-feira.

Por Alex Bessas e Fernanda Fonseca

Foto por Alex Bessas

Nesta segunda feira, 17, vi um dos momentos mais marcantes para mim na manifestação que levou 30 mil pessoas às ruas. Lembro que vi os olhos do Hemerson Morais, que fazia a cobertura fotográfica da manifestação comigo, ficarem vermelhos e vi sua boca tremer. Ele estava chocado, estava emocionado, estava chorando, no momento em que uma chuva de papel picado saudava os manifestantes no centro da cidade. Ele dizia para mim “esperei anos por isso, João”, enquanto espremia os dedos contra os seus olhos, emocionado ao ver o povo nas ruas.

Às 7:30 da manhã, o clima tenso já era visível em BH. As pessoas pareciam receosas. Creio eu que elas já sabiam do protesto que iria acontecer logo mais à tarde. Ao chegar à Praça Sete, ponto de encontro dos manifestantes, percebi que aquilo seria bem diferente da outra  manifestação que ocorreu no último sábado, 15. Tudo parecia maior, a quantidade de manifestantes, a determinação deles, o grito, tudo.

Fui ao encontro do meu colega de trabalho para que começássemos a nossa cobertura fotográfica. No começo foi um pouco difícil, pois ainda não havia uma organização por parte deles e muitos estavam entusiasmados. Tive a ideia de entrar em um dos prédios comerciais do centro e tentar tirar algumas fotos da sacada. Ao chegar à sacada, fiquei ainda mais impressionado com a quantidade de pessoas na manifestação. Mineiro é conhecido por comer quieto e ali estava a prova que não é bem assim. Milhares de pessoas se reuniam em volta da praça e elas só queriam uma coisa: serem ouvidas.

A passeata começou e eu ainda estava no prédio. Foi um corre-corre, pois não poderia perder nenhum momento. Depois de alguns quarteirões, consegui chegar na frente deles. Hemerson, avistou uma árvore na avenida Afonso Pena e sugeriu que eu subisse nela, afinal uma foto do alto seria bem melhor para registrar a amplitude da manifestação.

A partir daí, foi como se eu estivesse em um camarote e não era carnaval. As pessoas trocaram as alegorias por cartazes e gritavam bem alto os gritos de protesto. Ali não havia repressão ou censura, ali era a voz do povo. Depois de um tempo, desci , levando alguns belos arranhões, e segui o rumo da passeata.

As pessoas pararam em frente à Praça da Rodoviária e ali a concentração dos manifestantes só aumentava. Pequenos papéis começaram a cair dos prédios altos da redondeza e as pessoas começaram a ovacionar cada vez mais alto.

Chegando ao Viaduto da Lagoinha, me separei de meu companheiro de trabalho e segui em rumo diferente. A sensação de liberdade tomava conta de mim e de todos. Eu andava livremente em um dos maiores viadutos de BH, que todos os dias ficam abarrotados de carro e ônibus, mas ali só existíamos nós. Continuei com a cobertura fotográfica, cada hora era algo diferente. Se não era um cartaz, era um grito de protesto ou uma tribo diferente.

Caminhamos e os manifestantes prosseguiam entoando diversas frases ao som de uma turma que tocava tambores e apitos. Os manifestantes não pareciam nem um pouco cansados, ao contrario de mim. Eu estava correndo entre uma ladeira e outra para conseguir fotos mais panorâmicas. A solução foi subir em um viaduto em frente ao IAPI e fotografar aquela multidão que cada vez ia chegando mais perto e gritando “desce, pedreira”, fazendo referência ao aglomerado ali perto.

Ao longo do percurso, pequenas paradas para que as pessoas que vinham por ultimo não ficassem muito para trás. E aconteceu tudo que não podia acontecer com um fotógrafo: minha bateria acabou. Tentei conversar com alguns outros fotógrafos para que eles pudessem emprestar uma bateria, mas é claro que todos só tinham uma. Resolvi continuar acompanhado, mas agora registrava tudo na minha cabeça.

Ao chegar ao bairro Nova Cachoeirinha, os manifestantes se encontraram com o cordão da PM, que impedia a passagem deles.  Os moradores da redondeza saíram de suas casas e foram para rua ver o grande movimento. Algumas soltaram fogos de artifícios e levantaram cartazes a favor do protesto. Durante este período, transitei  por todos os lados da manifestação. Fui no meio, aos lados e na linha de frente. Ali percebi que tinha ficado de fora do grupo da imprensa que fazia a cobertura atrás do cordão policial. Tentei argumentar com um dos policiais para que eu pudesse atravessar e me juntar aos outros fotógrafos, mas não obtive sucesso.

O clima ali na frente começou a esquentar. Na verdade, as pessoas que estavam na frente se destacavam muito dos outros manifestantes, gritando que iriam avançar e que “protesto sem sangue não é protesto”. Os líderes e organizadores tentavam acalmar os ânimos desses manifestantes gritando “sem violência” e logo depois sendo ouvido o grito em coro.

A polícia cedeu e a passeata continuou rumo ao Mineirão.  Nesta hora, o sol começava a se por e eu começava a deduzir que aquilo ira render até à noite. O cansaço bateu e as minhas pernas começaram a pesar. Encontrei com um professor da faculdade que sugeriu que eu voltasse com ele de táxi. Logo pensei: “obrigado, Deus!”.

Deixei a manifestação de corpo, mas em mente parecia que eu ainda estava lá. O assunto dentro do táxi era a manifestação. O assunto nos ônibus parados no corredor era a manifestação. O assunto no Brasil inteiro era as manifestações.

Ao chegar na redação do jornal, recebi a noticia que a policia havia entrado em confronto com os manifestantes e que o clima estava pesado. Sinceramente não acreditei de primeira, mas quando me lembrei do aquele pequeno grupo que gritava “protesto sem sangue não é protesto”, me toquei que manifestantes sem foco talvez pudessem levar todo um ato pacifico  a se tornar um show de horrores.

 

Por João Alves

Foto: João Alves

O “deitado eternamente em berço esplêndido” da capital mineira e do país acordou. Na tarde para noite de ontem, 17,  uma multidão considerável foi novamente para a Praça Sete e fechou o cruzamento mais importante do centro de Belo Horizonte. A maioria era de jovens com máscaras, cartazes nas mãos e muita raça e vontade de mudança. Mais cedo, a partir das 13h,  já havia ocorrido o primeiro protesto da capital com mais de 20 mil pessoas. Não satisfeitos, os manifestantes voltaram ao ponto principal e reavivaram a voz do movimento.

Por volta das 19 horas o protesto retomou voz e vez, quando os participantes gritaram frases de protestos, mostrando descontentamento com o atual cenário político e econômico do país. A Polícia Militar que havia rechaçado os manifestantes mais cedo, agora  acompanhava todo o movimento a mais ou menos 100 metros de distancia. O quarteirão das avenidas Afonso Pena e Amazonas foi cercado e fechado pela cavalaria e pela frota de carros da PMMG. O protesto se manteve pacífico em todo o trajeto.

Uma peculiaridade marcante estava no fato de que varias faixas etárias faziam parte da passeata. Um cordão humano foi feito por alguns estudantes na Avenida Afonso Pena. Logo depois, eles sentaram-se ao redor do Pirulito na Praça Sete, como forma de mostrar que não tinham a intenção de sair do local. O último protesto da noite terminou  por volta de 23:00, na porta da prefeitura, com uma certa exaltação dos ânimos, porém, logo em seguida, os manifestantes retornaram ao ponto inicial, retomando os gritos de guerra.

Por: Aline Viana

Fotos: Aline Viana

Vídeo: Ana Paula Gonzaga

O sol refletia nas janelas dos carros parados no sinal, os carros que fechavam o cruzamento. E batia também na minha pele que já começava a ficar vermelha. No momento em que o motorista se aproximou do meio fio, foi obrigado a abrir as portas para que as pessoas pudessem descer e caminhar até seu destino final. Percebi que alguns deles estavam a caminho da manifestação, esperando ansiosos pela oportunidade de gritar pelos direitos que estão sendo praticamente negados. Para os outros, restava avisar a seus chefes o atraso.

O que se ouvia eram buzinas e reclamações de motoristas, passageiros, pedestres e trabalhadores do local, que não entendiam o que estava ocorrendo poucas quadras acima, na Praça Sete. Quem estava informado tentava repassar a informação. Enquanto isso, comerciantes da região aglomeravam-se na porta de suas lojas, alguns com buzinas e perucas verde-amarelas, participando quase sem querer daquilo que marcaria a cidade de Belo Horizonte e todo Brasil na segunda feira, 17.

Aos poucos, o transito fluía e pude observar, mesmo que de longe, uma pequena parte de manifestantes gritando em meio a Avenida Afonso Pena. Nunca tinha viso nada igual, nem quando criança, nas oportunidades em que meus pais me traziam ao centro para assistir o desfile de Sete de Setembro. Confesso, me arrepiou. Aquela imagem não saia mais da minha cabeça: jovens com cartazes desconectaram-se dos 140 caracteres, desligaram-se do Facebook para fazer, de fato, uma revolução.

Até que ponto a realização de um grande evento esportivo pode contribuir para uma cidade? Até que pontos estes eventos beneficiam o cidadão, em dia com seus impostos e em hora com seus tributos? Era isso entre várias outras coisas que eles reivindicavam. E saíram pra isso, rumo ao Mineirão, cheios de toda a coragem do mundo e seguidos de toda energia positiva de quem organizava, ajudava e informava nas redes sociais a primeira das várias manifestações previstas para essa semana na cidade.

As imagens mostraram a pacificidade do movimento. Estudantes, professores e a população em geral participavam da caminhada pela Avenida Antônio Carlos. Superando barreiras, literalmente falando, eles se aproximaram do Mineirão, e foi em frente ao campus Pampulha da UFMG que aconteceram os confrontos. Foram cenas de guerra lamentáveis. Uso da força por parte da polícia e uma pequena parcela dos manifestantes que não respeitavam as ordens, transformando uma bela causa em um triste fim de tarde. Era pra acabar melhor, mas infelizmente teve gente ferida e outros presos. Neste momento, confesso que senti medo. Bombas, fogo, tudo aquilo me assustava. Não esperei que essas coisas fossem chegar até o ponto que chegaram. A geração conectada me surpreendeu.

Enquanto isso, mais protestos aconteciam no centro. A Praça Sete estava mais uma vez tomada e quem pôde, voltou da Pampulha para se juntar aos manifestantes do centro.

Na volta pra casa mais uma surpresa. Pessoas engajadas numa discussão até divertida no ônibus. Todos comentavam. Motorista, cobrador e os poucos passageiros que restaram no deserto do centro após as 23h, falavam da importância deste tipo de ação e os próximos passos para uma efetiva mudança política no Brasil.

Quem participou é suspeito pra falar. Eu ouvi, acompanhei pela internet. Me assustei em alguns momentos, mas me orgulhei muito dessa juventude frustrada. Tá certo que uma parcela é por modinha, mas é bom ver que também são influenciados por algo além de publicidade, algo que vale a pena correr atrás.

Por Ana Carolina Vitorino

Foto: Ludmila Teixeira