Desvendando BH
Lugares pouco conhecidos da capital mineira

O que acontece em nossa cidade? Essa foi à pergunta que moveu os repórteres do Contramão a registrar momentos, pessoas e espaços da capital dentro da nossa geocalização. Em nosso dia-a-dia estamos cada vez mais apressados e deixamos então de perceber detalhes do que nos cerca e que podem nos atingir direta ou indiretamente. Paisagens que se escondem aos olhos dos desatentos, como as belas flores do parque municipal ou as curvas do viaduto Santa Tereza, problemas sócias e de urbanização e crescimento desordenado também serviram de inspiração para os cliques dos fotógrafos Hemerson Moraes, Heberth Zschaber, João Vitor Fernandes, Marcelo Fraga e William Gomes e Rute de Santa.

Por Heberth Zschaber
Fotos: Hemerson Morais, Heberth Zschaber, William Cunha, João Vitor Fernandes, Marcelo Fraga e Rute de Santa

Belo Horizonte se tornou no último fim de semana a capital nacional da tatuagem, recebendo, nos dias 18, 19 e 20, a BH Tattoo Convention. Nos três dias, o evento –  que está em sua 2ª edição – contou com sorteio de brindes e tatuagens, além de um concurso que premiava os melhores trabalhos com um troféu e uma máquina de tatuagem exclusiva, desenvolvida por André Matosinhos, lendário tatuador de BH. A categoria mais esperada, “Melhor Tatuagem Feita No Evento”, ficou com Camilo Tuero.”O importante é concorrer, mostrar a todos o meu trabalho, isso é que é importante. Mas graças a Deus deu certo” completou Camilo.

Camilo Tuero, ganhador do prêmio de "Melhor tatuagem feita no evento"

Camilo Tuero é natural de Lima (Peru) e começou a tatuar aos 16 anos de idade. Aos 20, se mudou para a Argentina, onde trabalhou em vários estúdios de Buenos Aires. Especializado nos estilos realismo e oriental, é um artista reconhecido por seu talento e capacidade de incorporar novas técnicas e idéias aos seus trabalhos. Atualmente, Camilo é uma das maiores referências em tatuagens realistas na América Latina.

Mais de 5 mil pessoas passaram para ver o trabalho de 71 artistas, dos estados de Minas, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo e profissionais internacionais vindos da Suíça, Argentina, Peru, Alemanha e Japão para trocar técnicas e artes, alem de contribuir para a evolução desta arte no estado. Com o objetivo principal de disseminar a informação sobre tatuagem, o evento foi marcado pela diversidade de estilos e as novidades que envolvem este tema. Inácio da Glória é tatuador a 40 anos e foi um dos jurados do evento ” Foi um evento muito agradável, que reuniu tatuadores do Brasil e do mundo, e Belo Horizonte, através desta convenção, fica sendo um polo forte da cultura da tatuagem. O evento está na segunda edição evoluiu de maneira extraordinária, foi um evento de alto nível, merecedor desta cidade tão maravilhosa que é Belo Horizonte.”

Por: Jessica Almeida / Heberth Zschaber

Imagens/Fotos: Paulo Fractal

Show da banda Pelos

A segunda edição do projeto “Som na Sucata” agitou o palco da arena do edifício Rainha da Sucata no circuito cultural da Praça da Liberdade. As apresentações gratuitas aconteceram no ultimo fim de semana, e contou com o som de 10 bandas da capital e de outros estados.

Com o intuito de oferecer cultura e diversão gratuitas, valorizando o cenário local e abrindo espaço para os artistas se expressarem livre, aberta e adequadamente, promovendo a música autoral e facilitando o acesso do público. “É bacana BH voltar a ter este tipo de evento, que além de gratuito, favorece o cenário musical mineiro, que é muito bom.” Disse Jessica Silva, 30, publicitaria.

Festival “Som na Sucata” II

As bandas entraram no clima do evento e levaram sons de qualidade para o público. “Os shows foram bem animados, o público interagiu bastante e as bandas proporcionaram um grande espetáculo” comenta o músico Lucas Nascimento da banda Bertola e os Noctívagos, que tocou no domingo.

Fachada do Edificio Rainha da Sucata

O som na Sucata encerrou sua segunda edição cumprindo bem o que pretendia divulgar a música independente de BH e promover a cultura da cidade. “Gostei bastante do show do Pelos, não conhecia a banda. Espero que ano que vem eles toquem de novo” Comenta Pablo Bernardo, 25, estudante de publicidade.

Por: João Vitor Fernades e Hebert Zschaber

Fotos: Heberth Zschaber

Considerado um dos pontos turísticos mais conhecidos na cidade, o Mercado Central comemorou nessa quarta-feira, 7 de setembro, seus 82 anos em meio a muita festa. Um grupo de mais de 100 cavaleiros saíram da cidade de Igaratinga, numa viagem que durou 4 dias, para homenagear os cavaleiros que antigamente se utilizavam desse processo para levar e distribuir produtos aos comerciantes do mercado. O comércio encerrou suas atividades às 13 h, quando se deu início a uma grande festa com direito a bolo gigante, confeitado com frutas. Seguiu-se uma maratona de shows, entre eles, o da banda mineira Tianastácia.

Artesanato Mercado Central
Artesanato Mercado Central

História

Fundado em 1929, o mercado se resumia a uma área aberta com barraquinhas simples, onde eram vendidos produtos alimentícios fresquinhos (bem parecido com o que é o Ceasa hoje), e outros gêneros. Anos depois o terreno foi vendido pela prefeitura, quando então um grupo de comerciantes fundou uma cooperativa e comprou a área, enquanto os irmãos Osvaldo, Vicente e Milton de Araújo, fundadores do Banco Mercantil do Brasil, investiram na construção de um galpão coberto. Dessa forma, começou um novo tempo para o mercado, que conta atualmente com 22 mil metros quadrados de área e cerca de 400 lojas.

Sementes Mercado Central
Sementes Mercado Central

Local de cultura e muitos “causos”

A localização no centro de BH permitiu que o Mercado Central virasse ponto de encontro para muitos mineiros que procuram um espaço de lazer e clima agradável. As cores e sabores do espaço encantam várias gerações com a sua diversidade cultural e inúmeras possibilidades de lazer. É possível ver desde a infinidade de frutas, flores, temperos, queijos e comidas típicas passando pelo artesanato mineiro e os vários barzinhos que garantem o reconhecimento de BH como a capital mundial dos bares. O local é palco de vários personagens, como comerciantes e frequentadores antigos com suas agradáveis histórias, os “causos” como são conhecidos que se passaram nesse lugar. O Mercado é um retrato de Belo Horizonte e um delicioso programa pra toda família.

Confira a galeria de fotos em: https://www.flickr.com/photos/67445204@N07/sets/72157627531859573/

Fotos e Texto: Natália Alvarenga

A capital mineira sedia de 22 de agosto a 4 de setembro a terceira edição da Belo Horizonte Restaurant Week. Neste ano, o evento conta com a participação de 51 restaurantes que oferecem aos apreciadores da boa comida e ambiente aconchegante, pratos exclusivos a preços promocionais.

Os cardápios especiais com entrada, prato principal e sobremesa serão oferecidos a R$29,90 no almoço e a R$39,90, no jantar. As bebidas, serviço e couvert não são inclusos dentro do valor promocional. “A ida durante o festival me proporciona conhecer mais do cardápio da casa e me fez ter mais vontade de voltar lá”, afirma a publicitária Carol Miyuki, 26 anos.

O evento, em sua última edição, chegou a registrar um aumento de até 60% no movimento dos restaurantes credenciados e contou com a participação de cerca de 35 mil pessoas. A estimativa para este ano é que cerca de 60 mil clientes participem da promoção nos próximos dias. O festival tem como objetivo divulgar os estabelecimentos. De acordo com o gerente da Fabricca Spagueteria, José Carlos de Oliveira, informa que o crescimento durante os dias de festival é notável. O evento traz o público pra rua, com um preço acessível e com isso a casa ganha visibilidade. Estamos com várias reservas até o final de semana, avalia.

A ampliação dessa edição leva em consideração a entrada de restaurantes de peso como Benvindo, Flores, Rokkon e Provincia di Salerno, além de novos restaurantes e outros que já são considerados tradicionais da capital como Fabrica, Cantina Piacenza, que entram no festival através de convite. “Estamos contentes de já fazer parte desse evento que entro para o calendário gastronômico nacional”, ressalta o sócio proprietário do restaurante Bangkok, Geovani Doria, que entrou na lista de convidados com apenas 5 meses de funcionamento.

É aconselhável fazer reserva, pois as filas em algumas casas costumam ser grandes, dependendo do dia e do horário.

Prato Principal Almoço Restaurante Benvindo
Prato Principal Almoço Restaurante Benvindo Foto: Arquivo Belo Horizonte Restaurante Week

O festival

O projeto Restaurant Week surgiu, há 19 anos, em Nova Iorque, com a proposta de oferecer aos consumidores a oportunidade de comer bem nos restaurantes mais elegantes da cidade, durante o período do evento.

A idéia deu certo e espalhou-se por mais de 100 cidades do mundo, chegando ao Brasil, em 2007, quando São Paulo teve uma boa resposta do público em sua primeira edição. Hoje, a capital paulista conta com duas edições anuais.

No momento de pagar a conta, o freguês será convidado a incluir R$ 1 a mais por pessoa, pois ao final da Restaurant Week, a quantia arrecadada será destinada ao Hospital da Baleia.

Saiba mais em: www.restaurantweek.com.br.

Por Natália Alvarenga

Fotos Natália Alvarenga e  Jéssica Barroso

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Ideologicamente trabalhado no mesmo conceito do lema da bandeira do estado de Minas Gerais, “Libertas quae sera tamem”, o movimento pela anistia terá um memorial sediado em Belo Horizonte. O Memorial da Anistia será um espaço interativo que contará um período obscuro da história do Brasil.

O memorial está sendo construído com verbas do Ministério da Justiça e vai funcionar na antiga sede do curso de Psicologia, que funcionava na Faculdade de Ciências Humanas da UFMG (Fafich), na rua Carangola, 288. O prédio era chamado de “coleginho”.

A proposta é de que seja um ambiente onde explore a percepção e os sentidos das pessoas, de modo que haja vídeos, fotos, áudios e documentos. Essa é uma tendência de inovação de lugares que guardam a informação de um determinado assunto, algo parecido com o Museu da Língua Portuguesa na Estação da Luz em São Paulo.

Previsto para ser inaugurado em 2012, o memorial tem por objetivo preencher lacunas e resgatar o discurso de parcela da população brasileira, que era contra o regime militar e ficou reprimida durante 21 anos, no intervalo de 1964 a 1985. O material para a composição do memorial constituído por documentos, depoimentos e fotos virá do Arquivo Nacional e de doações de familiares de presos políticos e dos próprios envolvidos.

Para o Brasil, falar desse momento ainda é um desafio. Entidades no mundo que trabalham na defesa aos Direitos Humanos, como a ONU, cobram transparência e investigações de abusos praticados durante a Ditadura Militar. Inserido num contexto de bipolarização política no mundo, outros países da América Latina também sofreram com golpes de governo e a imposição dos governos anti-democráticos.

Na Argentina e no Chile, um dos países em que a ditadura foi mais intensa, a luta contra o autoritarismo e abusos cometidos pelos ditadores é algo existente até os dias de hoje. Por meio de investigações e julgamentos muitos militares estão sendo condenados à prisão, mesmo depois de se ter passado muito tempo. Além de terem memoriais dedicados à preservação da história do período ditatorial.

O Jornal Contramão entrevistou seis pessoas que pertencem à Associação dos Amigos do Memorial da Anistia, entidade que organiza o projeto que pretende resgatar as lutas políticas e sociais do período do regime militar no Brasil (1964-1985), bem como reunir depoimentos, documentos e outros materiais de pessoas que foram presas, torturadas, perseguidas e assassinadas no período. Os entrevistados são Maria Christina Rodrigues, Valéria Ciríaco Carvalho, Carlos Alberto de Freitas, Maria Clara Abrantes Pêgo, Jorge Antônio Pimenta Filho e Alberto Carlos Dias Duarte.

Entrevista:

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Reunião Associação dos Amigos do Memorial da Anistia, Alberto Duarte, Maria Christina Rodrigues, Valéria Ciríaco, Jorge Antônio Pimenta Filho, Maria Clara Abrantes e Carlos Alberto de Freitas

Contramão: Como nasceu a idéia de um memorial dedicado a anistia?

Maria Christina: O memorial vem de uma proposta não só brasileira, mas também mundial no sentido de estar resguardando, guardando e procurando transmitir para as gerações futuras a história. Porque normalmente num período de ditadura você tem a visão da história oficial, a história do poderoso, a do vencedor. Então é necessário que pós-ditadura, depois no processo de redemocratização o outro lado também relate sua versão e os fatos que aconteceram.

Contramão:A Anistia é um recorte do período da ditadura, que por sua vez foi um tempo crítico da história do Brasil. O tema do memorial está ligado à contestação das idéias de um governo ditatorial. Naquela época poucos ousavam discutir sobre a situação, um temor ainda presente na atualidade. Qual foi o respaldo para se reconstituir a memória desse momento que ainda não está livre da censura?

Maria Christina: Há hoje um fortalecimento da democratização no mundo, que está experimentando uma onda de luta contra qualquer tipo de regime intransigente. Na América Latina, nós temos visto há alguns anos que os governos ditatoriais a cada dia estão caindo como caem cartas de baralho. Então essa sustentação, essa veia democrática e dinâmica é a vontade da busca do aprofundamento de ideários políticos justos e livres da intolerância.

Contramão:Belo Horizonte e o conjunto do estado de Minas Gerais tiveram uma participação importante na luta contra a repressão política. Como o senhor vê a importância de grupos de oposição na cidade e a sua atuação? Como o memorial vai abordar Belo Horizonte na história da anistia?

Jorge: A história da luta democrática no Brasil e da esquerda não deixa de passar primeiro por Belo Horizonte. Muitos partidos e organizações políticas começaram aqui na cidade, como por exemplo, alguns grupos ligados a seguimentos que se deslocaram do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB), ou mesmo setores sociais que se deslocaram da igreja e construíram a ação popular.

Maria Christina: Não podemos esquecer a questão das greves e da luta da mineração de Morro Velho, não podemos esquecer historicamente a situação de Raposos, a fábrica de tecido Marzagânia e os movimentos sindicais naquela região, que foram profundos. Tudo isso vai também ser resgatado. Quando se fala muito na formação de um partido operário como o PT, nós não podemos achar que a história começou no ABC, a história das organizações sindicais e das sublevações antecede a isso. Na década de 60 nós tivemos os movimentos na Cidade Industrial e o massacre de Ipatinga. Então Minas Gerais tem uma história que precede a década de 70 dentro dos movimentos sindicais, operários e sociais.

Contramão:Como o memorial vai trabalhar? Como foi feito o recolhimento de documentos?

Carlos Alberto: O recolhimento está sendo e será feito através do arquivo público nacional, através de todos os documentos daquelas pessoas que foram anistiadas e também de documentos públicos que estão no arquivo de Belo Horizonte, além de doações de anistiados e familiares de pessoas implicadas. São 70 mil documentos oriundos da comissão nacional da anistia.

Contramão:A Ditadura Militar está permeada por lacunas, uma vez que a censura e a propaganda do governo propiciaram a alienação da população. Uma parcela do povo não sabia o que estava acontecendo no país, a outra tinha medo de falar, criando assim um quadro de esquecimento e falta de reflexão. Visto isso quais foram as dificuldades enfrentadas na criação do memorial? Como foi montar esse quebra-cabeça?

Maria Christina: Todo memorial é dinâmico. Então o recolhimento do material é constante e contínuo. A idéia inicial foi a de selecionar, guardar e reservar em um só local todos os processos brasileiros que passaram pelo Ministério da Justiça via comissão de anistia. Toda a população brasileira que quiser fazer uma consulta sobre o que aconteceu com Lamarca, por exemplo, deverá consultar o arquivo dele no Memorial da Anistia em Belo Horizonte. Todo arquivo da luta pela redemocratização no Brasil vai estar aqui. Assim todas as informações contidas nos processos da anistia que eram pessoais e foram tornados públicos farão parte desse memorial. Na medida em que é recomposta a história a partir da captação de depoimentos de quem viveu, será possível contar a versão real do que foi a Ditadura no Brasil.

Os uruguaios também perseguidos

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Carmen Aroztegui

A uruguaia Carmen Aroztegui mudou-se para Porto Alegre em função da perseguição política sofrida por sua família em plena Ditadura Militar no Uruguai, em 1973. Hoje é professora na Escola de Arquitetura na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela recorda que “no Uruguai sempre houve uma intenção que a ditadura tivesse uma legitimação. A ditadura começa assim, você reprime você expulsa pessoas de esquerda do trabalho e não os permitem sobreviverem”.

Para Aroztegui, “a palavra anistia está recoberta de uma idéia de que existiram dois bandos. O que aconteceu é que existia uma política de estado de repressão, não era uma guerra, onde existiam os nazis e os aliados. Existia um exército e uma política de estado que detinha mecanismos institucionais de repressão e de abusos aos Direitos Humanos de forma sistemática. Isso na verdade é que foi anistiado”.

A censura draconiana

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Alberto Duarte, um dos idealizadores do Memorial da Anistia

Alberto Carlos Dias Duarte, membro da Associação dos Amigos do Memorial da Anistia, foi um militante nas diversas lutas pelos Direitos Humanos durante a Ditadura Militar brasileira. Para ele, “pobre é um país sem história. Nós temos que resgatá-la, mesmo porque o golpe da ditadura foi em 1964, já se passaram muitos anos. Nós estamos hoje batalhando pelo aperfeiçoamento da democracia”.

AlbertoDuarte explica a importância do Memorial da Anistia:

Duarte lembra que durante a ditadura militar havia censura: “Eu mesmo fui diretor de dois jornais alternativos, o Jornal Movimento e o Jornal Em Tempo. A censura era drástica, draconiana nesse país. Então com esse memorial, nossa pretensão é divulgar o máximo, permitindo o acesso de todos aos documentos”.

Por : Felipe Bueno

Fotos: Felipe Bueno