Especiais

Em busca de resposta para as perspectivas para o audiovisual brasileiro em 2015, cineastas e produtores de diversas regiões do país participaram  na segunda, 26, do debate  com Rodrigo Camargo, coordenador do departamento de fomento da ANCINE – Agência Nacional do Cinema -, ligada ao Ministério da Cultura. A discussão teve como mediador o critico de cinema Pedro Brecher.

10958764_1031027836915324_840070953_o

Rodrigo Camargo destacou algumas realizações nos últimos anos da Agência  e citou os quatro principais eixos de ação para o FSA (Fundo Setorial de Audiovisual): o desenvolvimento, a produção, a exibição e difusão e a capacitação.  Rodrigo aproveitou o espaço para divulgar editais que estão com inscrições abertas. São editais para produção e desenvolvimento de projetos audiovisuais. “Esses editais  contemplam não só projetos de cinema, mas, como o desenvolvimento de séries de tv, series para vídeos por demanda e formato de programa de televisão também”, destacou.

Rodrigo falou também de editais contínuos, que ficam abertos durante o ano todo e que são destinados a produções independentes, complementação de recursos e verba para lançamento de filmes: “ a perspectiva é de produzir trezentos longas metragens , 400 obras seriadas dando um total de duas mil horas de programação, o equivalente a toda a exibição de tv paga no ano de 2012”.

Os realizadores presentes lamentaram a ausência do presidente da ANCINE Manoel Rangel, anunciado na programação do evento, pois, buscavam uma discussão sobre  a política nacional para o audiovisual. Durante o debate,  apresentaram problemas  que encontram como o alto grau burocrático para aprovação de seus projetos, e o baixo incentivo para exibição de filmes independentes. Algumas questões não puderam ser respondidas por Rodrigo. “O que a gente vê é um distanciamento da ANCINE  para essa conversa com o setor de audiovisual no Brasil, e  quando o presidente não vem e manda um representante ele é só um representante,  e aqui é um local de interlocução”, lamentou Karen Abreu, vice-presidente do Congresso Brasileiro de Cinema e membro do Fórum Mineiro de Audiovisual.

10957780_1031027790248662_1471141956_o

 

O Presidente do Congresso Brasileiro de Cinema, Frederico Cardoso,  levantou questões negativas presentes no próprio relatório anual da ANCINE. Entre elas, o baixo número de espectadores nas exibições de filmes brasileiros no cinema. E aproveitou para tentar mobilizar os cineastas, “quero convocar os realizadores a se unir e pensarem juntos em politicas publicas efetivas para o setor”.

Texto e reportagem: Felipe Chagas
Fotos/imagens: Yuran Khan

O mês de dezembro iniciou-se ontem, é com isso começam os preparativos para o Natal, uma das datas mais festivas do ano. Como é cultural, na maioria dos lares, o dia 25 desse mês é marcado pelas trocas de presentes e a confraternização familiar. Porém, muitas pessoas não têm recursos para isso, ou até mesmo um lar para comemorar, pensando nisso algumas instituições desenvolvem projetos que visam devolver para essa população um pouco da magia do natalina, com entregas de presentes para as crianças carentes e comemorações com pessoas em situação de rua que muitas vezes não tem esse momento com a família.

Um exemplo é a ação “Papai Noel dos Correios”, em que carteiros comovidos com as “famosas cartinhas de natal”, assumiam o papel do bom velhinho e se uniram para presentear os mais necessitados. O projeto seleciona escolas públicas de todos os estados brasileiros, e lá as crianças escrevem contando um pouco da sua história e o que gostariam de ganhar no Natal. Essas cartas ficam expostas na agência central dos Correios, assim as pessoas interessadas podem ir ao local, ler as cartinhas e apadrinhar essas crianças.

Os pedidos são os mais variados, vão de vídeo game a folhas de papel e lápis para colorir. A funcionária dos Correios, Luciana Renata, 38, conta que uma das grandes dificuldades é o fato de alguns serem apadrinhados e outros não, já que muitas vezes os presentes que eles pedem são muito caros, “Os próprios carteiros e funcionários da agência pegam essas cartas e doam os presentes a essas crianças, para tentar assim que todos sejam presenteados no final da campanha, afinal, esses presentes são entregues nas escolas e não tem como entregar para alguns e outros não”, disse.

Outra campanha é a realizada pelo Albergue Municipal tia Branca, que atende pessoas em situação de rua, e promove ações em que os usuários do local têm oportunidade de confraternizar entre eles, com gincanas, oficinas de criação de enfeites de natal e uma festa, que acontece no dia 23, em que eles comemoram juntos a festividade. “A grande maioria das pessoas que frequentam o albergue, não tem família e nessa festa eles encontram a oportunidade de festejar e não passar a data sem nenhuma comemoração”, afirma Vanessa Fernandes, coordenadora do albergue.

As Cartinhas dos correios podem ser retiradas na agência central que fica na Avenida Afonso Pena 1270, no Centro da Capital. A entrega dos presentes é feita no mesmo local, a distribuição é realizada nas escolas até o dia 15 de dezembro.
O Albergue Tia Branca fica na Rua Conselheiro Rocha 351, Floresta, e promove durante todo o mês oficinas e campanhas voltadas para a comemoração.
A festa de confraternização acontece no dia 23, e quem quiser contribuir pode
entrar em contato com a coordenação através do telefone (31) 32771639.

Texto: Felipe Chagas

Fotos: Umberto Nunes/ arquivo do albergue

0 1165

A IV Bienal do Livro passou pela capital mineira e deixou lembranças. De 14 a 23 de novembro o evento ocorreu no Expominas, região oeste de Belo Horizonte. Durante os dias da exposição várias atrações estiveram presente, como Gregório Duvivier, do Porta dos Fundos e a escritora Thalita Rebouças. Na última quinta-feira, foi a vez de Felipe Neto, do canal “Não Faz Sentido” e da produtora “Parafernalha”. O vlogger participou do “Conexão Jovem” na Bienal e falou da sua vida como youtuber e empreendedor.

Felipe Rodrigues Vieira Neto, ou apenas Felipe Neto, foi um dos primeiros vloggers do YouTube Brasil. Ele e o PC Siqueira, do “Mas Poxa vida”, deram inicio aos famoso canais que viraram uma febre. Entretanto, o jovem enfatizou que o objetivo não era manter o foco na produção de vídeos. “Eu percebi que alguma coisa ia acontecer, o YouTube estava virando onde jovens entravam para assistir conteúdo e a TV não”, explicou Neto. O crescimento na produção foi gerando novas ideias de investimento para Felipe, que foi desenvolvendo sua empreitada.

Tendo dado inicio no seu atual ramo profissional em 2010, o jovem afirmou que nunca pretendeu deixar as coisas só no “Não Faz Sentido”. Ao longo do bate papo, o empresário disse que sempre quis abrir um negócio. Desde que o primeiro vídeo ganhou visibilidade, teve a ideia de transformar em algo maior, mas destaca que é um processo de aprendizagem, tentativa e erro. “Na minha vida inteira eu fiz coisas que deram errado até eu dar certo. Eu fali três empresas antes de começar o “Não Faz Sentido”, disse Neto. “Eu tomei golpe de quadrilha, perdi dinheiro que eu tinha no banco. Eu era designer gráfico e perdi meus clientes todos em 2008 por causa da crise financeira”, acrescentou.

A partir do crescimento do primeiro canal, Felipe falou ter pensado criar algo que não dependesse dele. Assim que teve visibilidade, criou outro canal, também de humor, mas que não era baseado na figura dele. Nesse novo espaço outros artistas também teriam um lugar para expor seus trabalhos e, juntos, crescerem e aperfeiçoarem seus produtos. Com isso, deu-se início ao “Parafernalha”, um canal que, em pouco tempo, ficou duas vezes maior que o “Não Faz Sentido” e, por meio dele, outros youtubers tiveram um local onde é possível aperfeiçoar o formato de seus vídeos, e compreender melhor o fenômeno YouTube e, assim, se profissionalizarem.

Durante a conversa, Neto falou sobre um curso que está fazendo na faculdade de Harvard, nos Estados Unidos. Com o crescimento da “Parafernalha” e a criação da “Paramaker”, o empresário precisou estudar mais o mercado e se capacitar para continuar desenvolvendo sua empresa. “Para eu tocar a empresa, preciso ter o embasamento teórico e prático, o prático eu estou aprendendo no dia a dia, mas me faltava o embasamento teórico mais forte, por que eu não fiz faculdade”, contou Neto. “Então decidi fazer o curso em Harvard para ter mais condições de conduzir a minha empresa na rapidez em que ela está crescendo e não cometer bobagens e acabar prejudicando o meu negócio”, acrescentou.

Quanto ao seu inicio no YouTube, Neto ressalta que é trabalhoso. Ao fazer um vídeo e colocar na internet você fica suscetível às críticas. Para o vlogger a melhor forma de lidar com ela é focar no seu público alvo e procurar, nos comentários positivos ou não, aquilo que poder ser construtivo para seu trabalho. “O que for de xingamento, ofensa, não muda nada. Então eu foco só nas pessoas que gostam do meu trabalho, e as que não gostam eu filtro, se a pessoa está me falando uma dica legal, eu uso, senão ignoro. E eu acho que é dessa maneira que você tem que sobreviver nesse meio, cara, por que é um meio muito novo”, explicou.

Felipe Neto comentou ainda sobre o fim do “Não Faz Sentido”. Disse que desde sempre soube que um dia o canal acabaria. “Eu não podia apostar no mesmo formato pro resto da minha vida”, contou. A necessidade de adaptar o trabalho que fazia sempre fez parte dos planos de Neto. Mesmo sendo chamado de louco e de megalomaníaco por apostar em um coisa que seria criado do zero (Parafernalha) ao invés de algo que já estava dando certo (Não Faz Sentido). “Daqui a pouco eu sou casado, como cinco filhos, falando: “Previdência não faz sentido, aposentadoria”, entendeu? Então não ia fazer sentido nenhum (risos)”, brincou o empresário.

Texto e Foto: Umberto Nunes.

Entrevista: Italo Lopes.

O humorista, ator e escritor, Gregório Duvivier, 28, esteve na Bienal do Livro no sábado, 15, para um bate-papo com fãs. Em conjunto com a cantora Adriana Calcanhotto, 49, ele recitou poemas e falou de sua preferência por autores e livros. E entre um pedaço de pizza e um copo de refrigerante cedeu uma entrevista ao Contramão.

_”Vocês não importam de eu comer não né? Não comi nada o dia inteiro”.

Falou de suas influências literárias, sua fase como colunista e as polêmicas que esses textos trouxeram para sua carreira.

051116_010  (Gregório recita trechos do seu poema Ligue os pontos)

Literatura:

“É muito difícil falar livros da vida toda. Eu gosto muito de estrangeiros, do Philip Roth, um dos livros dele, O animal agonizante, é lindo. De literatura brasileira eu sou apaixonado com o João Ubaldo Ribeiro, o Viva o Povo brasileiro é magnífico. Rubens Figueiredo com Barco a Seco, Machado de Assis que é genial com Dom Casmurro,  do Campos de Carvalho tem a “Vaca de nariz sutil, gosto muito de todos esses.

Acho que tem muita coisa nova e boa de literatura hoje em dia. Antônio Prata e Fabricio Corsaletti eu sou apaixonado. Na poesia tem Alice Sant’Anna e Bruna Beber, e muitos outros bons.

Tem alguns livros que me fizeram gostar muito de ler, e acho que tem que começar por eles, não dá pra começar pelos clássicos. Gênio do Crime, lembra? Eu adorava, eu li ele com oito ou nove anos e fiquei apaixonado. Um tipo bom de livro pra cativar o leitor é Matilda do Roald Dah, adorava, li mil vezes, também é da literatura estrangeira. No Brasil tem ótimos livros juvenis, Adriana Falcão tem uns muito bons, “Luna Clara e Apolo 11” é um livro lindo.

Recentemente acabei de ler um livro da Chimamanda Ngozi, é uma autora nigeriana da Companhia das Letras, o livro fala sobre identidade nigeriana africana, o que é ser africano hoje em dia. É um romance maravilhoso.”

Identificação com a escrita

“Minha paixão pela escrita veio na faculdade mesmo, eu gostava de ler, mas escrever mesmo, só na faculdade. O professor que me motivou foi o Paulo Henriques Britto.”

A nova fase do colunista retrata bem um profissional que é multifacetado, do palco para a internet, de lá para o cinema e dele para as páginas do jornal.  E em todas as mídias trabalhadas por Duvivier ele sempre trouxe a temática do humor. Na entrevista foi questionado se agora nos textos há um limite no humor para que seu espaço no jornal não seja interpretado como brincadeira, e foi bem enfático ao responder.

“Eu gosto na verdade disso, de a pessoa ficar pensando se é uma brincadeira ou não. Eu acho que isso é bom, esse tipo de provocação. É bom porque todo mundo quando lê uma coisa tem que duvidar um pouco, as pessoas têm que parar de acreditar em tudo que lê. Então acho bom brincar com isso ‘será que esse cara está falando sério, ‘será que ele não está’, eu adoro esse lugar entre o humor e o jornalismo. Então como o jornal é um lugar de seriedade, quando você escreve, as pessoas acham que você está falando sério.”

Há diferença entre o público da internet e do jornal?

“Não! Eu não vejo muito assim, eu acho que é o mesmo público. O público que me lê na Folha é o mesmo que me acompanha. As pessoas volta e meia perguntam, ‘como vou escrever para um público adolescente?’. Aí fazem umas coisas bobas pra adolescentes, eles gostam de qualidade, como qualquer pessoa. Se você faz uma coisa boa o adolescente vai gostar, de verdade. Esse foco no adolescente eu acho ruim, por exemplo, quer focar na internet e fazer uma coisa bombar? Isso não existe, se for bom vai fazer sucesso na internet ou no cinema. Acho que o Porta dos Fundos, por exemplo, poderia acontecer no cinema ou na televisão. O que mais viraliza no mundo é a qualidade.”

Polêmica durante as eleições:

Durante o período eleitoral Gregório escreveu alguns textos que incomodou algumas pessoas adeptas a partidos políticos de direita. O motivo foi o humorista ter declarado apoio à candidatura da petista Dilma Rousseff, em alguns textos. Dá pra citar como exemplo a crônica “Chupa, Dado”, em que ele revida as críticas recebidas pelo ator Dado Dolabella, 34, e explica os motivos de ter declarado seu voto no PT.

A nova publicação também teve um grande número de visualizações e críticas, e o autor explicou à nossa equipe como interpretou e lidou com esse momento.

“Escrever pra jornal é outro tipo de relação com o leitor, porque as pessoas já leem jornal com pedras nas mãos. Já veem querendo te julgar e odiar. Na primeira crônica já tinha gente me xingando. Nas minhas crônicas gosto de expor a minha opinião, que é no geral mais de esquerda. E as pessoas tem ódio da esquerda no Brasil, a gente tem uma direita muita raivosa e medrosa no Brasil. Dizendo que tudo vai virar uma ditadura ou vai virar Cuba. Basta dar uma opinião um pouquinho mais forte que você vai ser xingado. Triste né?”

Gregório escritor:

“Estou escrevendo um livro, um romance. Na verdade nem tem nome ainda. É um projeto para o ano que vem.”

 

Texto e foto: Ítalo Lopes

Audio: Priscila Mendis

 

Diferente da maioria de pessoas que adoram aproveitar o domingo para descansar e relaxar, sai da rotina. Fã de Thalita Rebouças, 40, fui entrevistar a autora na Bienal do Livro aqui em Minas.

Crianças, adolescentes e adultos estavam eufóricos para a chegada de Thalita. Quando ela subiu no palco, com seu look menininha, sapato cor-de-rosa e seu braço quebrado, era possível ouvir gritos de emoção, enxergar lágrimas escorrendo e muitos aplausos.

Com 18 livros lançados, a autora diz que têm muito a agradecer a J.K Rolling, escritora do fenômeno Harry Potter. “Devemos isso a JK Rowling que, com Harry Potter, fez com que o mundo acordasse para a literatura juvenil”, explica. O desejo de escrever livros vêm desde nova. “Sempre fui exagerada sabe? Aquela pessoa fofoqueira? Sempre fui assim. Foi natural pra mim, essa coisa de escrever”.

Além disso, a escritora ressalta que gosta de escrever para o público adolescente porque acha legal o retorno que os adolescentes dão para ela. “Os adultos falam: seu livro é legal. Já os adolescentes falam: “caraca Thalita, seu livro é muito maneiro, que isso”. Saber que eu faço adolescente rir, sou a companheira das noites e das viagens, me sinto muito honrada por ter sido adotada por esse público e quero sempre escrever para ele”.

Texto e foto: Luna Pontone

No sábado, 15, o agrônomo publicitário e ilustrador Alexandre Beck veio à Bienal do Livro e conversou com o Jornal Contramão sobre o seu trabalho com Armandinho. A tirinha de sucesso traz uma criança como personagem principal e, mesmo com os limites da idade, contesta o mundo como poucos fazem. Beck falou sobre como surgiu a tirinha, qual o seu futuro e o que é esperado dessa nova geração de leitores. Após a entrevista, o desenhista participou de um bate-papo com os presentes e realizou uma sessão de autógrafos com os fãs.

Como surgiu?

“O Armandinho nasceu de um momento de urgência. Eu tinha outros personagens de uma tirinha no jornal. E me ligaram da redação e falaram, ‘a gente precisa de três tiras pra ilustrar uma matéria que vai sair amanhã’, e não dava tempo pra desenhar. Eu tinha acabado de retornar para o Jornal e não me senti a vontade em dizer não. Então peguei um bonequinho que já tinha pronto de outro trabalho e coloquei no espaço das tiras, rabisquei as pernas e falei, aqui é o pai e aqui é a mãe, mandei pro jornal e funcionou. O jornal gostou e eu também.”

A construção do personagem:

“Eu não fujo muito da linha de raciocínio do Armandinho, tenho filhos e observo muito eles. Desde 2000 faço trabalhos aproveitando os conhecimentos da agronomia, sou formado na área. Comecei a fazer trabalhos de quadrinhos educativos, voltados ao meio ambiente, e usava personagens infantis. Nas tiras que tinha no jornal meus personagens eram adultos, mas eu fazia muitas críticas. Então desde 2000 venho me exercitando pra fazer esses trabalhos tentando ver o mundo do ponto de vista da criança, pra passar informação que era voltada pra crianças. Quando surgiu o Armandinho juntei essa experiência que tinha dos quadrinhos educativos com a experiência e visão crítica das tirinhas que eu tinha no jornal e coloquei em um personagem só. Acabou sendo assim, continuo aprendendo com as crianças até hoje, reaprendendo a ver o mundo como elas.”

O objetivo:

“Meu objetivo é discutir comigo mesmo, a principio. Na página do Facebook consigo discutir com muita gente, aprendo muito com isso, mas meu objetivo foi sempre discutir comigo mesmo, eu mesmo pensar e eu mesmo refletir.”

Ao ser questionado o autor também brincou sobre a possibilidade de inverter a visão nas tirinhas e sobre mostrar por completo os pais, já que nos quadrinhos é mostrado apenas as pernas desses personagens. “É uma boa ideia. Nunca tinha pensado nisso. Quando fiz as três primeiras tiras foi por acaso, foi na pressa, precisava dos pais ali. Depois eu considerei colocar. As pessoas pedem muito pra que eu deixe elas verem se o Armandinho é parecido com o pai ou com mãe. Cheguei a considerar desenhar eles, mas o fato de não desenhar os pais me dá muita liberdade de trabalhar preconceitos. O ponto de vista dos pais as vezes coloco naquela tirinha do pai ou a mãe falando com o Armandinho. É realmente algo a ser considerável, mas acredito que não passe a mostrar os adultos. Eu acredito que as crianças merecem ser mais vistas que os adultos”.

O protagonista é usado para retratar vários questionamentos da sociedade. Um deles é o preconceito. Primeiramente para gerar uma indagação do leitor ele colocou de uma forma que “ninguém sabe a cor de pele dos pais do Armandinho, do tipo de cabelo, se eles são gordos ou magros” explicou Beck.Também é usado um outro personagem recorrente no desenho para discutir essa questão. “O sapo é vítima de preconceito na sociedade. Dizem que o Sapo faz xixi e deixa a gente cego e o sapo é um bicho inofensivo, é muita crueldade. Alguns sapos tem um veneno na pele, mas é só não colocar na boca. Se não morder o sapo está tudo bem (risos)” disse.

O que o incêndio da Boate Kiss tem a ver com o personagem?

Quando saí de Santa Catarina e fui morar no Rio Grande do Sul, uma coisa que marcou muito a minha vida foi aquele incêndio que teve em uma boate em Santa Maria. A gente já morava lá, minha esposa era professora da federal e perdeu alunos com isso, e a gente sentiu toda essa angústia da cidade, a gente estava envolvido com aquilo. E isso me deu um certo sentido de urgência. Eu estava ali com o material que é uma espécie de comunicação, e podia usar isso pra questionar e rediscutir algumas coisas. Então a partir daquele momento o meu sentido de urgência aumentou. Acho que a gente tem que discutir algumas coisas e o Armandinho acabou me ajudando nisso. E essa tirinha foi um desabafo meu e depois a minha esposa disse que também era o que ela estava sentindo. Foi a primeira tirinha que foi largamente compartilhada e essa era a angustia que muita gente estava sentindo. E ela nunca foi publicada em um jornal, só na internet e assim se espalhou. Essa foi talvez a tirinha mais doída de ser feita, e ela serviu pra abrir um pouco o coração”.

           Armandinho


E essa nova geração…

“Quando começou a tecnologia e toda essa corrida tecnológica o objetivo era termos mais tempo pra coisas mais importantes, inclusive cuidar dos filhos. Mas aí todo mundo está em uma competição, numa correria e cada vez tem menos tempo. E os pais acabam dando uma tecnologia para os filhos como se ela fosse ocupar o espaço que ele tinha que ter com os filhos, e eu acho isso uma grande perda. E isso vai ter consequências. Ler um livro com o filho à noite, fazer o filho criar esse gosto, a gente tem universos incríveis nos livros. Eu acho que precisamos resgatar isso. Ou a gente resgata nisso ou vamos entrar por um caminho que daqui um tempo vai ter consequências muito ruins.”

Novidades?

“Em relação ao meu trabalho não. A grande novidade pra mim é que eu nunca estive em uma feira desse tipo. É a primeira vez que eu vim falar de um personagem aqui em Belo Horizonte. Pra mim é tudo novidade, acho que o mais espantado e ansioso aqui sou eu.”

Texto e foto: Ítalo Lopes