Esportes

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Equipe de Reportagem: Alice Berdinazzi, Izabela Avelar e Kamille Lobato

Fotógrafo: Marcelo Duarte

O futebol da quebrada pode ser tão emocionante quanto os clássicos dos estádios. Foi o que comprovaram as oito equipes que participaram das semifinais da Taça das Favelas,  no Campo do Poliesportivo do Vale do Jatobá, no sábado (28). As semifinais intercalaram disputas entre os times femininos ( Minas Caixas versus Aglomerado Santa Lúcia e Cabana do Pai Tomás versus Alto Vera Cruz)  e os masculinos (Ventosa versus Mariano de Abreu e Cabana do Pai Tomás versus Vila Tiradentes).

Cheias de gás, as meninas do Complexo Minas Caixa e Aglomerado Santa Lúcia brigaram pau a pau para garantir a vaga da final. Santa Lúcia venceu o time de Venda Nova por 3 a 1, classificando-se para última fase.

As seleções masculinas esbanjaram confiança dentro das quatro linhas na segunda disputa do dia. Sem dar chances para o adversário, Ventosa marcou 4 a 1. Em sinal de respeito, os times se cumprimentaram ao término da partida e se parabenizaram  pelo desempenho ao longo do campeonato.

Na segunda semifinal feminina e o terceiro jogo do sábado, o mata-mata foi entre Alto Vera Cruz e Cabana do Pai Tomás. Jogo difícil: sem colher de chá as meninas disputaram o resultado. Vera Cruz esticou as redes e carimbou a invencibilidade durante o torneio, desclassificando a Cabana por 2 a 0. A final do feminino repete o confronto Alto Vera Cruz e Aglomerado Santa Lúcia. Naquela edição, a equipe do Alto foi vencedora, no Campo da Barragem Santa Lúcia, região Centro-sul de Belo Horizonte.

Depois de jogo, mesmo com a derrota, as meninas do time da Cabana se uniram a outros torcedores para apoiar a equipe masculina que ainda estava na disputa por vaga na final. A torcida invadiu as arquibancadas do Poliesportivo do Vale do Jatobá com foguetes, tambores e canções ensaiadas. Todo apoio à equipe masculina que poderia representar a comunidade na final.

“Ah, sai da frente, sai que o Cabana é chapa quente”  

Com apoio da torcida, Cabana do Pai Tomás enfrentou a Vila Tiradentes. No primeiro tempo, nenhuma das equipes abriu o placar. Mas, se as redes não balançaram na primeira etapa da partida, no início da segunda, não ficaram paradas. Gol relâmpago, mas que não foi considerado em função do impedimento na jogada.

A partida finalizou em 0 a 0 e a decisão foi para os pênaltis. Antes de iniciarem as cobranças, as duas equipes se reuniram – como de costume – para fazerem a oração. O Pai Nosso foi clamado com fervor. Após a prece, os garotos assumiram as posições para bater as penalidades. Entre gols de gaveta e defesas espetaculares, Cabana do Pai Tomás conquistou vaga como  finalista da Taça das Favelas com placar de 4 a 3 sobre a Vila Tiradentes.

O goleiro  da equipe vencedora, Marcos Felipe, foi elogiado pela torcida. O estudante de Jornalismo Pedro Lucas, torcedor declarado da Vila Tiradentes, afirma que a salvação do Cabana foi o goleiro, que mostrou estar preparado para enfrentar cobranças de pênaltis.  

Árbitra mais jovem da CBF é destaque na Taça das Favelas

Francielly Fernanda, de 21 anos, ocupa o espaço como a árbitra mais jovem da América Latina. Natural de Pará de Minas, a jovem atua desde os 15 anos nos jogos em sua cidade e, aos 17, chegou a Belo Horizonte para cursar  arbitragem. Já apitou nas partidas da série A do campeonato brasileiro feminino e, conta que, apesar da responsabilidade que a função exige, a experiência é incrível. Um trabalho desenvolvido com carinho e dedicação. Orgulhosa de suas conquistas, ela fica feliz em apitar as partidas da Taça das Favelas, campeonato que traz consigo visibilidade e oportunidade para novos talentos do esporte.

Equipe de Reportagem: Alice Berdinazzi, Júnior Silva e Thaís Gonçalves

Foto: Letícia Íris

A Taça das Favelas movimenta todo o bairro Vale do Jatobá. Nos bastidores, estão dezenas de colaboradores do torneio, como os vendedores. Picolé, chup chup, balas, água e cerveja, enfim vendem de tudo e mais um pouco. Os comerciantes são personagens fundamentais, enquanto a bola rola. Também há o exército da Central Única das Favelas (CUFA) na  produção. Fotógrafo, produtor, quem faz a marcação do campo, coordenador, muita gente que está a postos para fazer a competição acontecer.

Dezenas de pessoas que contribuem para oferecer oportunidades a esses jovens, muitas vezes, marginalizados pela sociedade e vítimas de violência. A CUFA se empenha na promoção da cidadania nas comunidades. Com o olhar atento, entende o esporte como meio e instrumento de inclusão social.

A central ressignifica o conceito de esporte, não apenas como forma de lazer. Entende que a prática esportiva abraça desafios das comunidades de reconstruir vidas e reaproximar amigos. As famílias, por mais que não percebam, exercem papel fundamental. Sem o apoio delas, os jovens não estariam ali.

O vendedor de balas e salgadinhos José Luiz da Silva compareceu a todos os jogos. Aos 63 anos, afirma que não está ali só pelas vendas, mas também pelo lazer. “O esporte envolve a família e por serem jovens da periferia, é uma oportunidade de se manterem longe da criminalidade”, afirma.

 

Famílias dão sustentação para os atletas em campo

Entretenimento, família, amigos e moradores do bairro compuseram o cenário poliesportivo no domingo (22). Olhares atentos dos torcedores. Cada jogador carrega um sonho. Nos bastidores de um dos maiores torneios entre as favelas do Brasil, cada família é uma torcida, que traz histórias que motivam os jovens atletas e futuros profissionais a estarem ali.

Entusiasmados, pais, avós e até mesmo o motorista de ônibus escolar que transporta os atletas não conseguem conter a emoção. Apesar do pouco movimento no Complexo Poliesportivo do Vale do Jatobá, os pais de Victor Silva, de 17 anos, foram prestigiar o garoto.  “Ele é um menino esforçado, queremos que ele se sinta bem aqui, aqui ele se diverte”, diz o pai. Victor estava ansioso para entrar em campo. Seus pais mais ainda, demonstrando gratidão ao projeto que pode abrir portas para o filho.

A história dos irmãos Nunes, atletas do Jardim Leblon, desperta a atenção pelo empenho para que possam participação da Taça. Tanto os irmãos, que jogaram no campeonato, quanto a família vieram de Confins, a 42 quilômetros da capital, para participar do jogo. Além de se esforçarem nos treinamentos, fazem viagem entre a cidade de origem e a sede do torneio. No entanto, não falta apoio da família, que veio prestigiar os meninos no domingo. O esforço pode trazer resultados, um dos irmãos  participará de processo de seleção para o Clube Atlético Mineiro em maio. A aposta é que a Taça das Favelas poderá revelar nova estrela para o futebol mineiro.

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Problemas com arbitragem geram revoltas em jogadores e torcida

Equipe de Reportagem: Danielle Gontijo, Izabela Avelar, Nathalia Galvani e Patrick Ferreira

Fotos: Marcelo Duarte

O ar ficou avermelhado no segundo final de semana da Taça das Favelas. A temperatura subiu e não só nos graus centígrados no sábado (14) da segunda rodada do torneio. As jogadoras surraram o campo de futebol e não deixaram a poeira baixar durante toda partida na busca pelo resultado para permanecer na disputa.

O embate foi acirrado entre as equipes Alto Vera Cruz e Vila Pinho que fizeram a primeira partida de sábado. As meninas do Alto Vera Cruz saíram vitoriosas da partida, que foi disputada pau a pau pelas atletas. A decisão veio de um pênalti, deixando placar de um 1 a 0 para o Alto Vera Cruz.

O público presenciou lances bonitos, mas o tempo fechou em momentos decisivos em que a arbitragem entrou em conflito com as equipes. Cobranças de faltas feitas ao juiz geraram revolta nas jogadoras e foi seguida de troca de ofensas entre a arbitragem e as equipes. “Saímos de casa cedo para correr atrás de um sonho e, no final do jogo, quem ganha é o juiz? ” questionou a atacante da Vila Pinho, Cintia Cristina. Apesar de as jogadoras terem se sentido ofendidas pelo juiz, elas não registraram queixa.

O incidente foi veementemente rechaçado pela Central Única das Favelas (Cufa), organizadora da taça. Em nota, o presidente Francislei Henrique afirma que “a Cufa manifesta seu repúdio a qualquer ato de discriminação, preconceito e injúria, praticados sobre qualquer forma ou circunstância. ” O presidente ainda afirmou que não poderia tomar medidas cabíveis em face de as jogadoras não terem feito uma ocorrência oficial.

No entanto, ressaltou que “como há relatos de pessoas distintas sobre o fato e sobre a atitude verbal desrespeitosa do juiz a uma das jogadoras, não devemos e não iremos desconsiderar as manifestações de indignação que chegaram até a organização do evento. ” A Cufa solicitou à Federação Mineira de Futebol que o árbitro seja afastado dos quadros da Taça das Favelas.

O clima retomou à normalidade nas partidas da tarde de sábado. As goleadas da vez ficaram por conta do time masculino Vila Corumbiara que venceu por 5 a 0 a Favela do Índio. Placar elásticos como esse se repetiu ao longo do torneio até o momento. Entre as partidas de sábado, as meninas do Minas Caixa balançaram as redes cinco vezes enquanto o Jardim Leblon só conseguiu êxito na finalização uma vez, ficando o placar de 5 a 1. A equipe do Minas Caixa segue invicta.

“Se vocês saírem daqui sabendo que fizeram o melhor está ótimo para mim”, afirmou o Técnico Fabio Anacleto do time Ventosa. A motivação resultou na vitória por 1 a 0 sobre o Paulo VI. Porém, a partida foi suspensa por problemas técnicos. A organização do evento analisa a possibilidade de realização de outra disputa entre as equipes.

 

 

 

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Da redação.

Fotos: Moises Martins
Equipe de reportagem: Elouise Marcelino, Fabiana Meireles, Janine Christie Sant’Ana e Lorrany Moreira 

Que as mulheres vêm conquistando espaços que, até então, eram dominados pelos homens, todos já sabem. Mas a novidade aqui é que elas foram as primeiras a balançar as redes no templo sagrado do futebol, no início da segunda edição da Taça das Favelas, em Minas Gerais, no último sábado. As seleções femininas Minas Caixa e Aglomerado da Serra fizeram a abertura dos jogos, que reúnem 32 equipes nas modalidades masculina e feminina, durante os finais de semana do mês de abril.

Nos minutos iniciais da partida de abertura, o primeiro gol do campeonato foi de Nayara Rosa de 19 anos, do Minas Caixa. A atleta entra para a história desta edição do campeonato por inaugurar o placar da competição e por ser responsável por alavancar seu time rumo à vitória de 2X1 contra seu adversário. A partida foi acompanhada com entusiasmo por moradores, jogadores e olheiros, no pequeno campo de futebol, no bairro Vale do Jatobá, na região do Barreiro. 

Um pouco mais tarde, com as equipes masculinas no gramado, a empolgação e esforço dos atletas mantiveram o interesse e o apelo emocional do público. Uma goleada protagonizada por uma trinca de jogadores e, também, a informação de um possível gol contra, estimulou o time a buscar a vitória. Ao final, Vila Tiradentes tremeu as redes cinco vezes. 

O dia que começou tranquilo, no decorrer dos apitos, bandeiradas, faltas e muitos passes de bola, logo foi tomado pela força dos cantos e gritos de guerra. E, embora exista uma máxima que diz que futebol e religião não se discutem, antes de cada partida, uma roda de orações entre os jogadores reforçou, no primeiro dia do torneio, um costume já consagrado entre os clubes da região. Ao final do dia, um clima de festa predominou entre times, torcedores e moradores da bairro. A Taça das Favelas é realizada pela Central Única das Favelas e, além da competição, é também vitrine para novos talentos e lazer para os apaixonados por futebol. 

 

Por Hellen Santos

Nesta terça-feira, 19, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil desmentiu a notícia do aumento das passagens dos ônibus que vem abalando a população. Após reunião com empresários das empresas de ônibus da capital, o prefeito informou que enquanto “não se abrir a caixa preta da BHTrans” não haverá aumento das passagens.

Kalil comunicou que os empresários não gostaram da resposta negativa e alertou para que os envolvidos procurassem seus direitos e contatos. Na cidade, mais de 30 milhões de pessoas utilizam diariamente o serviço de transporte público e segundo o prefeito, enquanto não houver auditoria, não terá aumento de tarifa nenhuma.

Por falta de acordo entre as partes, é possível que as empresas de transporte público venham a entrar de greve geral. Os empresários alegam que tal atitude afetará o pagamento dos funcionários e o repasse dos custos com o Diesel. Além disso, conforme depoimento de Joel Jorge Paschaolin presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) os novos ônibus com ar condicionado vêm aumentando os custos operacionais.

No dia 15 deste mês Kalil fez um comentário sobre a notícia do reajuste na tarifa dos ônibus pela sua conta em uma rede social. “Aumento de 10,5% na tarifa? Calma gente. Belo Horizonte tem prefeito”.

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Por Yuran Khan

 Naomi Kawase é uma cineasta japonesa, nascida em 1969, que cresceu como filha adotiva e desde cedo se questionava sobre a sua própria existência. Ao se deparar com as inúmeras possibilidades de memorizar e eternizar, que o mundo cinematográfico poderia proporcionar, Naomi decidiu então perpetuar as suas questões numa filmografia que conta com obras como: Shara (2003), O Segredo das Águas (2014), Sabor da Vida (2015), Floresta dos Lamentos (2007) e outros. O drama preexiste nos filmes de Kawase. As questões sobre a vida, a morte, a sociedade e o indivíduo, os planos “puros” e longos, os vários silêncios, e outros vários elementos, conduzem o espectador a refletir sobre temas existenciais.

SABOR DA VIDA (2015)

O filme gira em torno de três personagens principais: um chefe de um estabelecimento comercial, estilo lanchonete, que tem como atração principal o Dorayaki (mini panquecas com pasta de feijão); Tokue, uma senhora de idade, abandonada numa residência para leprosos; e uma adolescente, estudante, que frequenta a lanchonete.

Naomi Kawase dá uma percepção da importância da vida, da liberdade e de como a sociedade pode influenciar na felicidade individual. Uma vez que somos seres compostos de vários elementos físicos e psíquicos (neste caso visuais e narrativos, nos filmes de Kawase), a individualidade como um conceito sempre foi questionada pela diretora.

Aos 73 anos, Tukue, recém curada da hanseníase (doença que, com o tempo, atrofia alguns membros e partes do corpo), consegue convencer o chefe do estabelecimento a trabalhar com ela, pela metade do salário que ele oferecia. E a lanchonete logo se torna um sucesso, com a ajuda dela, que faz as melhores pastas de feijão da cidade. Apesar do sucesso, o chefe logo se vê “encurralado”, assim que os cliente ficam a saber do passado da cozinheira, e logo a lanchonete volta a ter uma queda de rendimento.

Kawase tenta mostrar o tempo todo a dificuldade e o preconceito que a cozinheira passa, apesar da eficiência ao servir a sociedade. Muito mais que uma cozinheira que veio para levantar a produtividade da lanchonete com sua saborosa pasta de feijão, Tokue serve como uma espécie de mãe, conselheira e “anjo da guarda” do chefe. O filme é marcado por frases impactantes como: “Acredito que tudo neste mundo tem uma história pra contar”; “Até mesmo o brilho do sol e o vento podem ter histórias que você pode ouvir”; “Tentamos viver nossas vidas de forma irresponsável, mas, às vezes, somos esmagados pela ignorância do mundo.”

Os aspectos visuais e a montagem trazem uma grande contribuição para a proposta da diretora, tais como a combinação de planos longos com movimentos sutis, e a montagem majoritariamente imperceptível. Apesar de imperceptível, os planos montados são muito bem selecionados.

 

FLORESTA DOS LAMENTOS (2007)

Shigeki sofre de uma demência senil e vive num pequeno e tranquilo asilo ao lado de uma vasta floresta. Apegado à memória de sua esposa morta, Mako escreve longas cartas a ela, como testemunho silencioso de seu eterno amor. Próximo do 33º aniversário da morte de Mako, Shigeki viaja, com uma jovem moça, Machiko, que cuida dele.

A relação dos dois é selada pelo luto. Enquanto Shigeki tenta conviver com a perda da sua mulher, Machiko convive com a memória do seu filho falecido. Assim, ele vê nela uma nova companheira (com nome quase idêntico à esposa falecida) e ela vê nele alguém para cuidar como um filho.

O filme é tomado por vários silêncios, e planos quase vazios em elementos visuais, mas carregados de tensão. Naomi Kawase traz mais uma vez a sua percepção da vida e da morte, da presença e da ausência, da importância da natureza, da leveza, do caos. Floresta dos Lamentos é também tomado de falas que justificam o próprio filme, como: “Não há regras formais” (Esta se repete várias vezes ao longo do filme); “A água do rio que passa jamais retorna a sua origem”.

Os movimentos da câmera e a trilha suave nos levam a testemunhar a relação desses personagens e a convivência deles com a ausência. Um filme humano e “terapêutico”, em que Naomi elabora o luto junto com os personagens. Os dois filmes revelam e caracterizam a filmografia autoral da Naomi Kawase, sempre muito humana e sentimental.