zChamadas

Belo Horizonte é a terceira cidade que mais tem recebido estrangeiros durante a Copa. Pouca sinalização de placas e pessoas mal preparadas para atender os visitantes em outro idioma fazem parte deste cotidiano. Não é apenas os hoteleiros que precisam de uma boa preparação nesse período mas os taxistas também.

O taxista João Batista, que exerce a profissão há 17 anos, faz uma grave denúncia ao falar sobre a preparação dos profissionais para receberem os turistas durante  o mundial. Segundo ele, a demanda de drogas, prostituição e bandidagem subiu muito neste período. Esse aumento não foi acompanhado, segundo ele, por um crescimento no número de corridas, ponto estas que estão sendo feitas, em sua maioria, por parte de translado. João alega que a única preparação que teve  veio por meio de uma orientação que recebeu por parte das Policias juntamente com a BH Trans no qual proíbe, que eles (taxistas) levem qualquer estrangeiro na Delegacia. Em caso de comparecimento eles seriam detidos com seus carros, enquanto o gringo seria liberado e eles continuariam na delegacia até todos os fatos serem apurados. Outro problema que, de acordo com João, os taxistas estariam enfrentando seria a diferença entre os câmbios. Ao realizarem a conversão de moedas, os taxistas não estariam conseguindo vender pelo preço real.

A partir da denúncia recebida, procuramos o Centro de Apoio aos Taxistas. José Estevão, presidente do Centro, nos passou algumas informações sobre a frota de táxis de Belo Horizonte. Esta que sofreu um aumento de 40% no número de corridas no período que vem recebendo a Copa do Mundo. De acordo com ele, a falta de informação para os estrangeiros ocorre devido às poucas placas de sinalização na cidade e que a provável dificuldade que os taxistas possam enfrentar ao lidar com os turistas dentro do carro é por parte do idioma. Para que essa dificuldade de comunicação não acontecesse, foram ofertados vários cursos de turismo e idiomas antes da Copa, mas para que a realização destes cursos causassem efeitos, dependia apenas da boa vontade de cada taxista participar do projeto.

Rogério Siqueira, que é taxista há 6 anos, disse que o número de corridas realmente não aumentou como o esperado pois os estrangeiros já possuem responsáveis que fazem seu descolamento ou então fazem isso por conta própria, principalmente os que estão hospedados da região do centro. Ele confirma que realmente houve um oferecimento de cursos de idiomas, no qual presenciou aulas de espanhol já que fazia curso de inglês por conta própria e disse que isso o tem ajudado bastante ao se comunicar com os estrangeiros que fazem viagem com ele.

A BH Trans não quis se pronunciar sobre o assunto, alegando que apenas a Polícia Militar poderia responder. Esta também não se pronunciou sobre as acusações.

 Texto e Foto: Bárbara Carvalhaes

Em Belo Horizonte as manifestações este ano tiveram uma baixa adesão em comparação com o mesmo período em 2013. Para entender essa mudança de comportamento o jornal Contramão conversou com o sociólogo Yurij Castelfranchi e o colunista Pedro Munhoz, que fizeram uma análise sobre os protestos em Belo Horizonte e seus possíveis desdobramentos.

 Em 2013 as manifestações mobilizaram um grande número de pessoas às ruas, neste ano em BH o número reduziu consideravelmente, você observou com surpresa essa redução do número pessoas?

Nenhuma surpresa era exatamente o esperado. Como sociólogo, desde os fatos das manifestações de setembro e sua repressão, não tinha dúvida de que as manifestações atuais tivessem essas características, embora como cidadão que participa das manifestações torci e tentei contribuir para um alcance e participação maior.

A polícia especificamente em BH age de forma intimidadora, você vê como uma violação a constituição ou é somente uma ação preventiva à minoria que vai a esses movimentos a fim de depredar o patrimônio público\privado?

Infelizmente, a polícia agiu de forma bastante irregular, e foram denunciados diversos abusos que não podem ser justificados de forma alguma a partir do comportamento ilegal de alguns manifestantes. Se até a polícia viola a lei, não tem esperança para a política e a democracia.

 A violência da polícia contribuiu para o aumento das manifestações?

No ano passado sim, foi um dos vários gatilhos que contribuíram para a avalanche.  Neste ano não, porque a grande maioria dos manifestantes do ano passado já não encontrava nas pautas atuais e na forma atual motivação para a ação.

Qual foi o maior legado dos protestos de 2013?

A necessidade inadiável e imprescindível de reformar a politica, a justiça, a polícia.  De repensar a máquina de decidir que chamamos de democracia.

 Houve uma transformação nos protestos, de certa forma há um engajamento por parte da sociedade, o que esperar dessa transformação?

Um desafio e um perigo: caso esta necessidade, este grito das ruas não seja levado a sério, o risco é a degenera da vida política, o surgimento de uma antipolítica e de formas radicais de populismo fundamentalista, como já aconteceu, por exemplo, na Itália. Os partidos políticos têm que voltar a pensar mais em programas e ideais, e menos em alianças e marketing.

Qual foi o maior legado dos protestos de 2013?

 As manifestações de junho de 2013 serviram como uma primeira experiência de ação política nas ruas para toda uma geração de brasileiros. Nesse sentido, por mais difusas e contraditórias que fossem as pautas levantadas por manifestantes de diferentes interesses, pode-se dizer que o saldo, de uma forma geral, foi positivo. As ruas se transformaram em uma ampla arena de trocas (e de enfrentamentos), onde pessoas desde sempre mais ou menos alheias às reivindicações dos movimentos sociais se confrontaram com aspirações e demandas antigas de vastos setores da sociedade que, na verdade, nunca tinham saído das ruas. Além disso, parece ter aflorado em parte dos brasileiros o hábito de trazer a política para mais perto de seu cotidiano. Isso é perceptível: pessoas que se enxergavam como alheias ao processo político ou enxergavam a política como um ente essencialmente maligno, corruto e distante, sentem-se agora mais aptas para discutir o assunto. Os protestos ajudaram a gerar nos mais jovens a consciência de que eles mesmos são e devem ser agentes políticos.

Por outro lado, as manifestações acabaram abrindo espaço para discussões urgentíssimas, como a relativa à desmilitarização das polícias e o direito à fruição dos espaços públicos. Os protestos acabaram por levar a realidade da violência policial para a classe média e isso leva uma discussão antes restrita às pessoas e entidades que militam pelos Direitos Humanos para um público mais amplo.

Houve uma transformação nos protestos, de certa forma há um engajamento por parte da sociedade, o que esperar dessa transformação?

 A presença de pessoas nas ruas diminuiu consideravelmente em 2014. Em parte isso se deve à postura da grande imprensa, que insiste em pintar os protestos como se fossem o tempo todo um cenário de guerra. Ajudou-se a criar essa imagem de que quem vai às ruas é sempre violento e isso, naturalmente, amedrontou as pessoas. Não se enfatizou que boa parte dos confrontos, na verdade, começaram com a atuação desmedida das forças policiais, o que levou muita gente a concordar com ações policiais absurdas, como as que vimos recentemente em Belo Horizonte e São Paulo.

Pedro Munhoz

Qual foi o maior legado dos protestos de 2013?

 As manifestações de junho de 2013 serviram como uma primeira experiência de ação política nas ruas para toda uma geração de brasileiros. Nesse sentido, por mais difusas e contraditórias que fossem as pautas levantadas por manifestantes de diferentes interesses, pode-se dizer que o saldo, de uma forma geral, foi positivo. As ruas se transformaram em uma ampla arena de trocas (e de enfrentamentos), onde pessoas desde sempre mais ou menos alheias às reivindicações dos movimentos sociais se confrontaram com aspirações e demandas antigas de vastos setores da sociedade que, na verdade, nunca tinham saído das ruas. Além disso, parece ter aflorado em parte dos brasileiros o hábito de trazer a política para mais perto de seu cotidiano. Isso é perceptível: pessoas que se enxergavam como alheias ao processo político ou enxergavam a política como um ente essencialmente maligno, corruto e distante, sentem-se agora mais aptas para discutir o assunto. Os protestos ajudaram a gerar nos mais jovens a consciência de que eles mesmos são e devem ser agentes políticos.

Por outro lado, as manifestações acabaram abrindo espaço para discussões urgentíssimas, como a relativa à desmilitarização das polícias e o direito à fruição dos espaços públicos. Os protestos acabaram por levar a realidade da violência policial para a classe média e isso leva uma discussão antes restrita às pessoas e entidades que militam pelos Direitos Humanos para um público mais amplo.

 Houve uma transformação nos protestos, de certa forma há um engajamento por parte da sociedade, o que esperar dessa transformação?

A presença de pessoas nas ruas diminuiu consideravelmente em 2014. Em parte isso se deve à postura da grande imprensa, que insiste em pintar os protestos como se fossem o tempo todo um cenário de guerra. Ajudou-se a criar essa imagem de que quem vai às ruas é sempre violento e isso, naturalmente, amedrontou as pessoas. Não se enfatizou que boa parte dos confrontos, na verdade, começaram com a atuação desmedida das forças policiais, o que levou muita gente a concordar com ações policiais absurdas, como as que vimos recentemente em Belo Horizonte e São Paulo.

Como você vê a ação da polícia durante as manifestações de 2014?

No primeiro dia de protestos, no dia da abertura da Copa, um imenso contingente policial foi deslocado para a Praça da Liberdade para proteger o Relógio da Copa. A imagem era chocante: centenas de policiais protegendo aquilo que, para muitos, era um símbolo da FIFA. O comando da PM parece ter se descuidado de deslocar seus efetivos para as proximidades e isso resultou em danos ao patrimônio público e privado. Depois, desconhecendo o caminho do meio e se negando a fazer qualquer esforço minimamente razoável para permitir as manifestações e o patrimônio, a polícia foi a outro extremo. Ao invés de cercar o relógio da Copa ou qualquer outro único bem, cercou os manifestantes e os impediu de sair de um espaço restrito por horas. A tática é conhecida como Caldeirão de Hamburgo, por ter sido utilizada para conter manifestantes na Alemanha da década de 80. Cercaram os manifestantes com pesadíssimo aparato policial armado e os impediram de sair dali, frustrando ao menos dois direitos constitucionais: o direito de ir e vir e o direito à de manifestar-se em espaços públicos. Embora muita gente aprove, temos que ter em mente que é ilegal e que a polícia precisa se esmerar para cumprir suas funções institucionais sem atropelar as liberdades constitucionais de ninguém. Junte-se a isso várias denúncias de prisões irregulares, provas forjadas e violência injustificada e teremos a certeza de que a PMMG, assim como as demais polícias militares brasileiras, são completamente despreparadas para uma democracia.

Você considera a ação inconstitucional?

 Sim, pelos motivos que listei acima.

A liminar foi derrubada, no seu entendimento há chances de uma reviravolta?

Embora eu tenha a convicção de que a razão está do lado dos movimentos sociais que impetraram o Mandado de Segurança para impedir a adoção da tática pela polícia, sou pessimista. É possível que se consiga a revogação da decisão que cassou a liminar, mas temos visto tantos e tão recorrentes atropelos dos direitos constitucionais tanto pela polícia quanto pelo judiciário, que começo a crer que quem deveria resguardar as leis a estão ignorando por mera conveniência política. Ou por costume, não sei. Veja-se o caso de Rafael Vieira, condenado pela justiça carioca por portar água sanitária e pinho sol, para citar um caso.

Entrevista Gabriel Amorim e Luna Pontone

Foto: João Alves

O que você quer ser quando você crescer?
– “Ah, quero ser jogador de futebol”

Esse ainda é o sonho de milhares de crianças em todo o Brasil e, cada vez mais, esse desejo de ser tornar um jogador profissional  têm aumentado e com a Copa do Mundo no Brasil, não podia ser diferente. Algumas crianças chegam a se caracterizar como os craques que estão na seleção brasileira, este é o caso de Ranniee Martinnelly de Souza de 7 anos.

Caçula de três irmãos, as comparações entre Ranniee e o craque da seleção brasileira, David Luiz, 27, não passam despercebidas, principalmente depois que ele foi entrevistado por uma emissora da TV mineira durante a Exibição da Taça em abril. Ranniee que sempre usou o cabelo daquela forma – cheio de cachos – diz ser torcedor do Atlético Mineiro, mas que ainda prefere a seleção. “Gosto mais ou menos do Galo, minha grande paixão realmente é a seleção brasileira”, declarou Ranniee.

De acordo Márcia Ferreira de Souza, 44, mãe de Ranniee, ele chama atenção pelo seus cabelos loiros cacheados, parecido com o titular da seleção brasileira, David Luiz. O pequeno possui o sonho de ser jogador de futebol desde muito novo, confirma a mãe do mini craque. Ao falar sobre o filho, Márcia é cheia de palavras. “Ele é um ótimo filho, mas quando se junta com o irmão de 14 anos, sai de perto, é uma bagunça sem fim”.

Na noite da chegada dos craques em Belo Horizonte, Márcia decidiu fazer uma surpresa para Ranniee, levando o filho até o aeroporto de Confins, no intuito de conhecer David Luiz, mas não obteve sucesso como muitos outros fãs que estavam no local.

Por: Juliana Costa e Luna Pontone

Foto: João Alves

Nesta segunda-feira, 23, antes do Brasil entrar em campo contra Camarões, a Associação Olímpica (British Olympic Association, BOA) e a Paraolímpica Britânica (British Paralympic Association BPA) realizou em Belo Horizonte uma coletiva de imprensa para anunciar a escolha da cidade mineira como sede de suas delegações para as Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016.

Para o chefe de missão da Associação Olímpica Britânica, Mark England, o sucesso em Londres 2012 só foi possível pelos treinos de alta qualidade, que segundo ele, foi encontrado em Belo Horizonte. “A Associação Britânica Olímpica viaja há dois anos pela a América do Sul a procura de algum centro esportivo adequado para sediar os atletas olímpicos britânicos”. O acordo com a BPA foi assinado na manhã desta terça-feira, 24, no mesmo formato do compromisso já firmado pela BOA em 16 de outubro de 2013, quando foi assinado um Protocolo de Intenções com o Governo do Estado e a PBH.

As instalações que serão utilizadas pelas equipes britânicas serão o Centro Esportivo da Universidade Federal de Minas Gerais e do Minas Tênis Clube, que nesta manhã recebeu a visita do ilustre príncipe britânico Harry.

O secretário da PBH, Camillo Fraga destacou com felicidade a escolha de BH como sede pela equipe britânica. “A cidade de Belo Horizonte possui ótimos centros de treinamento é um orgulho saber que atletas do país que sediou as últimas Olimpíadas treinem em nossa cidade. Londres escolheu Belo Horizonte”, finalizou.

Os atletas britânicos já começaram seus treinos em Minas Gerais este ano, com a presença de atletas olímpicos do remo e canoagem em Nova Lima. O treinamento dos atletas paraolímpicos terá início em maio de 2015. A expectativa é receber cerca de 350 atletas olímpicos e 165 paraolímpicos.

Por João Alves e Bárbara Carvalhaes
Foto: João Alves

Um ano após o grande movimento que levou milhares de brasileiros às ruas, as manifestações ainda são alvo dos veículos de comunicação e causam polêmica. Tendo grande parte dos brasileiros dividindo opiniões entre ser a favor ou não, manifestantes continuam indo para as ruas em época de Copa do Mundo para mostrar sua indignação pela falta de respeito que o Governo trata sua população, não dando a eles seus direitos por completo.

O professor de Sociologia da UFMG Yurij Castelfranchi, a aluna de arquitetura membro do movimento Tarifa Zero Ana Caroline Azevedo e o Historiador Lucas Souto responderam algumas perguntas mostrando seus diferentes pontos de vista diante das manifestações ocorridas no passado que se estendem até hoje.

O que você acha que pode ser considerado o estopim da população querer organizar uma manifestação por tudo e sair depredando patrimônios públicos?

 Yurij Esta pergunta são 2 perguntas, e a resposta seria muito longa, então vou dividir. Mas, na minha opinião, a pergunta é formulada de maneira errada, por duas razões: não houve manifestação por tudo (foi mais complicado do que isso) e não houve “população sair depredando” patrimônio. Vou explicar:

 – No brasil não havia manifestações grandes há muitos anos e as manifestações com repressão violenta ou com atos de depredação eram pequenas e normalmente localizadas em lugares longe da atenção da mídia (ex.: amazônia, áreas rurais, periferias e favelas), por isso o público, e também muitos jornalistas, não estavam acostumados a ver tanta violência da polícia e tantas reações da população. Por tais razões, os enfrentamentos violentos nas manifestações, e as depredações, foram descritos com tanto clamor. Mas, se formos olhar com objetividade, de um lado, a porcentagem de pessoas envolvidas em enfrentamentos violentos foi sempre extremamente pequena: em junho do ano passado, manifestações que envolveram, no total, muitas centenas de milhares de pessoas no Brasil, tiveram algumas centenas de pessoas envolvidas em enfrentamentos violentos ou crimes: uma porcentagem muito baixa, comparável com a taxa de crime, por exemplo, entre operadores de muitas áreas importantes no Brasil, como policiais ou políticos. Não foi, então a “população” que saiu depredando, mas uma fatia muito grande da população que saiu  manifestando pacificamente. Os focos de violência foram agravados de forma marcada, a meu ver, nos casos em que a repressão da polícia se deu de forma indiscriminada e confusa, como aconteceu, no ano passado, por exemplo no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Neste ano, em BH, as manifestações foram muito menores, muito pequenas. Mesmo assim, tratou-se de algumas milhares de pessoas participando, e apenas casos de enfrentamento violento com a polícia muito limitado, envolvendo muito poucas pessoas. Eu não diria que a população sai depredando, mas que uma parte (antes grande, agora pequena) da população saiu manifestando.

Sobre as pautas da manifestação, acho que o jornalismo brasileiro, diferente do europeu, estava despreparado para entender este tipo de fenômeno, e não foi entender suas pautas porque não sabia como lidar com uma movimentação que não um “chefe de partido”, uma liderança, um único porta voz. Mas com certeza não foi “por tudo” que os manifestantes manifestaram. O grande estopim das manifestações foi muito claro e único: um grito de protesto contra uma maneira de funcionamento da política (e da democracia) que é visto como inaceitável. Nossos representantes, tanto no nível local quanto federal, são eleitos democraticamente. O que as manifestações nos disseram é que isso não significa que a população aceite delegar aos representantes democraticamente eleito qualquer escolha em nome dos eleitores: estão pedindo transparência real, participação real, influência nas deliberações. Este tipo de protesto contra o funcionamento da política tomou a forma de duas principais reivindicações: contra a corrupção, de um lado, e em favor de um uso mais transparente dos recursos e ouvindo mais a voz da população. Por isso, o estopim, no ano passado, foi o aumento das passagem de ônibus, em cidades onde as prefeituras não prestavam conta de forma transparente de como eram feitas as concessões, de porque a passagem tinha que ser aumentada se as empresas já possuiam lucros extremamente grandes, etc. Em suma, os protestos pegam como “gancho”, como “lead”, muitas coisas, locais ou nacionais (ex.: em BH, Fica Ficus, o viaduto e sua reforma, as ocupações urbanas, a mobilidade, etc.), mas a mensagem é só uma: o funcionamento da máquina política está  errado, e os manifestantes não aceitam mais que os problemas sejam resolvidos “de portas fechadas”.

 Ana Caroline – Não existe isso de manifestação por tudo, todas as manifestações tem pautas definidas e discutidas anteriormente em assembléias, nas reuniões dos movimentos sociais. O estopim é o descaso do poder público para com a população, né? Na copa, vimos milhares de pessoas sendo retiradas de suas casas, políticas higienistas com moradores de ruas, proibição do trabalho de alguns profissionais informais, como os barraqueiros do Mineirão e os pipoqueiros, passagem cara demais em comparação com o salário médio de BH, etc. Todas as pautas muito legítimas que merecem atenção do governo.

Lucas Souto – Os motivos que levam as pessoas a se manifestarem são múltiplos. Passa por desigualdades sociais históricas, que levam a formação de movimentos por direitos das chamadas ‘minorias’, à péssima qualidade dos serviços públicos ofertados por municípios, estado e federação. Claramente nas jornadas de junho do ano passado, e do junho atual, os holofotes da Copa das Confederações e Copa do Mundo fez com que muitos movimentos sociais ganhassem juntos as ruas. As depredações, ou a chamada ‘ação direta’, faz parte da posição daqueles que adotam a tática black bloc. Quem já vivenciou uma manifestação pessoalmente sabe que a parcela dos que adotam essa tática é mínima, até mesmo por uma falta de disposição a esse tipo de enfrentamento físico. A imprensa muitas vezes tenta fazer essa vinculação direta, “manifetação/depredação”, para justificar uma ação rígida da polícia. Como muita gente nunca foi a uma manifestação, acaba indo pelos noticiários e se posicionando contra o ato de se manifestar, o que, ao meu ver, é lamentável.

Antigamente as manifestações não eram tão frequentes como hoje. E tudo ficou mais evidente, pelo menos a meu ver, depois das manifestações ocorridas em Junho/Julho do ano passado. Você acha que a voz do povo perdeu força nas manifestações deste ano?

 Yurij  –  Sim, claro. A onda de junho foi muito grande e surpreendente, e está ligada tanto a problemas internos da política brasileira, quanto ao fenômeno global dos protestos “em rede”. Este ano as movimentações agregaram muito menos pessoas, e perderam sua força. Isso devido à vários fatores. Em primeiro lugar, as eleições que estão chegando: de um lado, pessoas que foram juntas nas manifestações no ano passado, agora não querem se juntar, pois agora apoiam partidos diferentes. As pessoas que estão com medo de que o Governo Dilma possa perder, e dar lugar a um governo mais autoritário ou mais corrupto, não querem agora protestar, preocupadas. As pessoas que, ao contrário, são adversárias do atual governo e querem outros grupos no poder, não querem agora correr o risco de enfraquecer políticos locais que podem ser importantes na corrida eleitoral contra o Governo Federal, e não querem juntar-se a movimentos considerados de esquerda. Além disso, o movimento do ano passado não conseguiu agregar de forma estável as pessoas, e as manifestações durante a copa do mundo são consideradas problemáticas, ou injustas, por muitas pessoas.

Ana Caroline – Não, apesar da campanha midiática pra criminalizar as manifestações, como você mesma resumiu na primeira pergunta como “quebrar tudo” e isso não é verdade, de maneira alguma, os movimentos sociais que já existiam antes ou que surgiram a partir de junho de 2013, ficaram fortalecidos. A gente teve tempo pra estudar, agregar gente, se preparar e tornar as reivindicações mais concretas. Isso não é perder voz, mas ir às ruas de forma pautas específicas.

Lucas Souto – Não. Manifestações de rua sempre aconteceram no Brasil, mas normalmente muito vinculados a movimentos sociais, o que tornava seu volume de participantes pequeno. Aqui em Belo Horizonte mesmo é só observar o “Grito dos Excluídos”, que ocorre anualmente em todo sete de setembro. O que foi visto em junho de 2013 foi algo que surpreendeu a todos pelo volume. Pessoas que até então não estavam junto aos movimentos sociais, acabaram somando as manifestações chamadas pelos movimentos sociais – como na origem de tudo, o Movimento Passe-Livre de São Paulo. Essa presença massiva, que tem muito a ver com as crescentes revoltas populares no exterior, pegou todos de surpresa. Aquela massa era múltipla. Tinham instituições ligadas a partidos; tinham pessoas que tiveram um espasmo cívico; etc. Mas o decorrer do ano trouxe uma nova postura de muitas instituições que, ligadas ao governo, resolveram não apoiar os atos contra a Copa da FIFA. Muitas pessoas já começaram a vislumbrar as eleições e resolveram não ir as ruas. Muita gente ficou com medo do terror implantado pelas promessas de forte aparato repressivo e decidiu ficar em casa. Muita gente realmente estava perdida naquelas marchas e decidiu voltar a sua posição de origem, ignorando aquilo que as levou as ruas em 2013. Creio que quem está indo as ruas agora são aqueles mesmos grupos sociais que já iam  antes das jornadas da Copa das Confederações. E suas causas são legítimas e muito importantes.

 O que você acha da repressão por parte dos militares ao tentar abafar a situação?

 Yurij  As estratégias de repressão mudaram em vários aspectos, neste ano, as forças de polícia chegaram mais organizadas e preparadas, mas há diferenças grandes em cidades e com diferentes tipo de manifestantes. Em alguns casos, houve erros ou abusos graves das forças de polícia, já denunciados às autoridades.

 Ana Caroline A repressão policial é descabida, desproporcional. Uma das pautas é a desmilitarização da polícia e o fim do modus operandi que sobrou da Ditadura Militar no país. Não podemos aceitar esse estado de exceção imposto durante a copa em que manifestantes são perseguidos e torturados, protestos são cercados e impedidos de acontecer, e a nossa liberdade de expressão e manifestação completamente cerceada.

Lucas Souto – Acho desproporcional e, muitas vezes, ilegal. Já nas jornadas de 2013 assistimos uma série de pessoas gravemente feridas por estilhaços de bombas de gás, balas de borracha acima da linha da cintura e espancamentos físicos. Não só entre os manifestantes, mas também membros da imprensa. A truculência da repressão mostra um despreparo enorme para lidar com o público. Despreparo que vemos no cotidiano, com desrespeitos em abordagens e blitz, e que ganha ar de sadismo quando vemos as notícias de espancamento de ativistas. Aqui em Belo Horizonte mesmo, nesse momento tão importante e de manifestações já esperadas, a Polícia Militar está ser Ouvidor de Polícia, principal cargo para denúncias de abusos na instituição. Ou seja, as questões são muito bem orquestradas para que a repressão seja feita de uma maneira agressiva e ostensiva, que gere temor nas pessoas de se irem as ruas protestar. Táticas que, para mim, não condizem com um estado democrático.

 As manifestações são realmente uma boa alternativa para a população ir em busca de seus direitos?

 Yurij – Manifestações não podem ser uma alternativa, a meu ver: ou seja, é impossível fazer política ou pedir direito só manifestando. As manifestações não são uma alternativa, mas um sintoma de algo que não está funcionando, e que os políticos deveriam escutar com atenção. E são um importantíssimo meio, complementar, para aprender a fazer política. E um importante instrumento de cobrança e de luta. Eu vejo nessas manifestações um momento muito importante para a democracia no Brasil, especialmente pela presença, nelas, de pessoas que raramente participaram de manifestações no centro da cidade (moradores de periferia, jovens que não faziam política, etc.).

Ana Caroline –  Ir às ruas reivindicar direitos é uma forma importante de mostrar que nós estamos aqui, cientes dos nossos direitos e que nós vamos lutar por cada um deles. Além disso, é também uma forma de retomar a cidade, entregue aos automóveis, ao consumo e a publicidade.

 Lucas Souto – Bem além de ser ou não uma alternativa, o ato de manifestar é um direito amparado na Constituição. As manifestações de rua são cotidianamente vistas em outros países. Santiago, no Chile, está passando por uma série de manifestações de rua essa semana por conta da luta estundantil pela educação superior pública e de qualidade. Há poucos dias milhares de espanhóis foram as ruas pedindo pela república quando o rei local abdicou. O ato de manifestar é justo e traz um enorme aprendizado de direitos e deveres para quem o faz. Com isso, acho importante que elas aconteçam e que se tornem um hábito dos brasileiros.

A força como a policia está agindo para conter os manifestantes – você acredita que esse pode ser um bom caminho a ser seguido pelo PMs, visando as duas manifestações pacificas ocorridas nas últimas semanas?

 Yurij  – A tática do cercamento dos manifestantes possui, a meu ver, efeitos muito negativos, embora possa resolver alguns problemas táticos imediatos. Mas não sou especialista em segurança pública e não posso opinar.

 Ana Caroline –  Não, de jeito nenhum. O que eles estão fazendo é impedir as manifestações de acontecerem, e isso é uma suspensão do nosso direito garantido em constituição de protestar.

 Lucas Souto – Não. A tática do “caldeirão de Hamburgo” (Hamburger Kessel) adotada pela polícia na manifestação da Praça Sete é alvo de críticas internacionais há anos. No Brasil ainda fere o artigo 5º da Constituição Federal em diversos pontos. Não se pode criminalizar as manifestações, como o ato de ir a rua em si já fosse passível de que a polícia impeça o direito de ir e vir das pessoas. Se as forças policiais são incapazes de distinguir quem comete um crime, como depredação, de alguém que está apenas caminhando diante de uma manifestação, ela é incompetente. Logo, a tática inconstitucional de impedir as pessoas de deslocarem pelo território da sua cidade e país, visando atender os interesses de um governo e instituição internacional (FIFA), não são nem um pouco positivas.

Texto: Bárbara Carvalhaes
Fotos: João Alves e Lívia Tostes

O Music Bank in Brazil foi ao ar, hoje, na Coreia ás 11h da manhã, mas ocorrerá uma reprise ás 18h50, através do canal do YouTube da emissora responsável pelo programas, KBS World,  e uma reprise ocorre às 5 da manhã de amanhã. No dia sete de junho o Brasil foi palco do maior festival de música pop coreana do mundo, a cidade agraciada com esse evento foi o Rio de Janeiro. No total foram sete atrações sul coreanas, B.A.P., MBLAQ, Ailee, M.I.B, INFINITE, CNBLUE e SHINee.

Na sexta-feira, 06, o HSBC Arena recebeu a coletiva de imprensa com os ídolos que já se encontravam no estado, foram selecionados dois membros de cada grupo para conversar com os jornalistas: M.I.B (KangNam e 5Zic), CNBLUE (MinHyuk e JongHyun), SHINee (Key e JongHyun), INFINITE (DongWoo e SungGyu) e a cantora Ailee. A escolhida para realizar a intermediação, entre os ídolos e a imprensa, foi a ancora da principal emissora coreana, KBS, Jeong JiWon.

Como foi a coletiva?

A coletiva estava marcada para as 14h, mas por causa do trânsito o evento foi adiado para às 15h. A Dream Maker responsável pela produção do evento recolheu as perguntas, por e-mail, uma semana antes com as mídias credenciadas. Antes dos artistas entrarem fomos avisados que não poderíamos fazer novas perguntas nem realizar por nós mesmos as que tínhamos enviados para aprovação. A Dream Maker havia selecionado algumas perguntas entre as recebidas e a ancora JiWon realizou as perguntas em coreano para artistas presentes, antes de responderem a pergunta passavam a vez para a tradutora Jenny Cho, que lia em português para os presentes na sala e só então os ídolos respondiam e traduziam as respostas.

Durante a coletiva as mídias poderiam tirar fotos e filmar, porém sem saírem do lugar. Ao final da coletiva os artistas se reuniam com o grupo completo para as fotos, nesse momento foi permitida a imprensa se mover.

O INFINITE é conhecido por suas coreografias, os fãs gostariam de saber: como vocês conseguem aprender novas coreografias?

DongWoo: Tem que jogar fora todos os pensamentos ruins como: “Ah! Eu danço mal”. A coreografia expressa bastante o amor, então tendo o amor no coração vocês vão conseguir aprender muito.

O M.I.B. já está aqui há uma semana, qual o lugar que vocês mais gostaram de visitar?

5Zic: Nós fomos em várias praias e em vários shoppings, mas o que mais gostamos foram das belas mulheres brasileiras.

Todos os presentes no local reagiram com um coro de “Own”, quando ele respondeu “eu te amo” em português.

O Show

Uma semana antes do show inúmeros fãs montaram um acampamento ao longo dos muros da HSBC Arena. No dia do show, as filas para cada setor eram imensas e a desorganização era vista desde cedo, quando os portões finalmente se abriram os fãs da pista premier se espremiam para tentar formar uma fila com três pessoas lado a lado, mas não deu muito certo, o que causou transtorno para muitas pessoas e machucou outras.

Entrando no local havia uma longa mesa em que distribuíram a primeira edição em português da revista coreana K WAVE. Passando pelos seguranças os fãs subiam uma rampa em que eram filmados e transmitidos para dois telões dentro da Arena. Muitos fãs queria entregar presentes para seus ídolos, mas ficaram confusos de onde e como fazerem isso, os menos desesperados conseguiram observar uma pilha de presentes logo no hall de entrada da cada de shows, tudo o que tinham a fazer era pedir a um staff da Mix JunkBox para pegar o presente e colocar na pilha de determinado artista.

Muitas das situações que haviam combinado antes não foram seguidas naquele momento, havia quatro empresas trabalhando na organização do Music Bank Brasil e muitos dos staffs presentes eram coreanos e não arriscavam nem responder em inglês.

Mas quando o show começou todos se esqueceram dos transtornos ocorridos. O grupo que abriu o festival foram os caras do B.A.P., de repente parecia que a arena era composta só de Babys (nome dado ao fandom do grupo), todos sabiam cantar as músicas, o grito de guerra e o nome de cada integrante. Em seguida foi à vez da Ailee, pra quem não conhecia o trabalho dela ficou fã no mesmo instante em que a “princesa do k-pop”, como muitos fãs gritaram, ficaram seduzidos com as curvas do corpo dela e com os agudos originais. O terceiro grupo da noite foi o M.I.B., os garotos que já estavam no Brasil há uma semana, realizando passeios pelo Rio de Janeiro, foram muito bem recebidos pela plateia e repetiram várias vezes as frases, “Bonita, eu te amo!”, “Brasil, eu te amo!”.

Houve pequenos shows de intervalo, como o da dupla Toheart, WooHyun do INFINITE e o Key do SHINee. A dupla sorteou na hora uma garota para subir ao palco e ser a “Dream Girl” da noite. Todos os artistas subiram ao palco para canta a música “Vou deixar” da banda mineira, Skank. A cantora Ailee mostrou que se esforçou para aprender português ao realizar um desempenho de Aquarela do Brasil do compositor mineiro Ary Barroso. Taemin, Jonghyun e Sungkyu cantaram ‘Garota de Ipanema’.

O festival seguiu com a apresentação do grupo MBLAQ que mostrou a todos que tem uma bela harmonia de grupo, com coreografias bem trabalhadas. Os meninos do INFINITE chegaram arrancando gritos de toda a plateia, de repente o local mais uma vez só parecia ter rum fandom dessa vez eram todos “Inspitis”, com seus rebolados e movimentos agitados os sete membros seduziam a plateia, DongWoo, um dos rappers do grupo tirou a camisa social ficando só se calça e camiseta, arrancando mais gritos dos fãs.

A apresentação a seguir ficou por conta da banda CNBLUE, com mais agitação que antes, todos pareciam ser Boicers, quando o vocalista YongHwa pediu para que acompanhassem seus gritos o público se agitou, mas não conseguiram acompanhar o seu ultimo agudo, arrancando palmas e gritos. A banda tirou todos do chão com a música I’m a Loner, logo que finalizaram foi a vez do grupo mais esperado da noite e logo a pergunta que vinha sendo feita há dias seria respondida, “Por onde anda Onew?”, o líder do grupo, “será que ele estava lá?”. Quando o grupo apareceu no topo da escada só havia quatro membros e não cinco, as Shawols ficaram esperançosas até o último minuto, mas não. Onew não pode participar do Music Bank Brasil.

Somente depois do show que a empresa da boyband, SMEntreteniment, divulgou que o líder do grupo passou por uma cirurgia nas cordas vocais no último dia 3 de junho e por isso teve que permanecer em repouso. Depois do show viam-se rostos desanimados, desolados, quando questionadas sobre o motivo a resposta era simples, “depressão pós Onew não estar presente”.

Do lado de fora da arena o que mais se ouvia eram fãs falando “ele sorriu para mim”, “teve esse momento que o WooHyun me olhou”, “Ah! Eu ganhei um tchauzinho do MyungSoo”. “o Key fez coração pra mim”, “o MinHyuk não parava de me olhar”. Todos ali estavam com um sorriso de satisfação no rosto, apesar dos grupos terem apresentadas três músicas cada, todos puderam presenciar por um momento, aquilo que costumam ver através de seus computadores. Os vocais, as danças e o charme. Pode se dizer que ninguém saiu decepcionado do show, mas eu estaria mentindo, esquecendo das Shawols, que esperaram até o último minuto pelos cinco garotos e só quatro puderam comparecer.

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Texto e fotos: Juliana Costa