A cor no universo de concreto

A cor no universo de concreto

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Foi um casamento perfeito entre minha vontade adolescente de deixar minha marca nas ruas sem ter problemas e ainda poder ganhar uma grana. ” – Nilo Zack

Era manhã de sábado quando a Avenida 23 de maio, em São Paulo recebia a terceira ação do Programa de zeladoria da Prefeitura Municipal da Capital, “São Paulo Cidade Linda”. O dia, 14 de janeiro, foi o marco de uma discussão acalorada sobre o que é arte e o que é vandalismo. Em meio a troca de farpas de leitores de alguns veículos de comunicação podia-se perceber o preconceito que cerca aqueles que amam e principalmente os que vivem dessa arte.

No site do G1 os comentários se dividiam em um misto de preconceito e apoio aos artistas: “A periferia também é cidade, por que querem rabiscar só a zona central? Provocação? Engraçado que a 23 de maio é uma via arborizada e com muita arquitetura diversa, não é cinza como os delinquentes alegam: cinza é a periferia. Por que os pichadores não picham seus bairros? ”, disse um dos leitores.

Em contrapartida havia entre os muitos apoiadores da decisão do atual prefeito Doria aqueles que defendessem os artistas: “Se você acha o cinza mais bonito do que o colorido, de duas uma. Ou você tem grave depressão ou é um psicopata por estar levando isso para o lado político. ”, disse outro internauta.

Na contramão da Prefeitura de São Paulo, o atual prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, implantou na capital mineira o projeto “Profeta Gentileza” que incentiva não somente artistas mineiros como artistas de todo o Brasil. A iniciativa de Kalil se espelha no “Telas Urbanas”, que busca incentivar e apoiar artistas de rua que querem expor suas artes pelos espaços públicos e privados da capital.

Em conversa com o artista Nilo Zack sobre o antigo e atual projeto da Prefeitura de Belo Horizonte “Telas Urbanas” e “Profeta Gentileza”, Nilo se mostra categórico e aberto a novos incentivos: “Acredito que como no Projeto Telas Urbanas é muito importante disponibilizar espaços e incentivar de forma financeira a produção da arte de rua em BH, que até os dias atuais vem sendo construída de forma independente”.

Nilo, que começou no Pixo, vê como algo positivo o que aconteceu com a Avenida 23 de maio: “Estamos no olho do furacão de mudanças urbanas, porém toda essa repercussão acaba sendo benéfica para que leva o graffiti à sério”. E alerta que daqui há 40 anos essa criminalização por parte da sociedade pode vir a mudar: “Vejo o pixo, com um grande potencial artístico, porém poucos de seus agentes o veem assim. Daqui uns 40 anos talvez iremos aos museus ver pixos, como os que haviam em Roma Antiga”,

Sendo uma profissão respeitada e reconhecida em diversos lugares do mundo, a exemplo de um bairro em Miami que se transformou em um museu de Street Art e abriga obras dos brasileiros Os Gêmeos e Nunca. Para Nilo o preconceito pode ser combatido por ações que visem o esclarecimento da população: “ Ações como estas são um bom começo. Apesar que já houveram outras ações com resultados sociais mais satisfatórios como o Juventude e Polícia da PPMG em parceria com o Afroreggae em 2005. O projeto Profeta Gentileza me parece bom, entretanto têm também que pensar em ações educacionais que atendam jovens que ainda não definiram suas escolhas artísticas/sociais”.

Nilo, que é natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, graduado em Cinema de Animação e Artes Digitais pela UFMG, teve seu primeiro contato com as intervenções artísticas urbanas aos 13 e, aos 16 ingressou em um projeto social que ensinava Graffiti. Hoje aos 30 anos, ele tem planos de implantar no bairro em que reside, Taquaril, um museu a céu aberto. Contando com o apoio da maioria dos moradores residentes e comerciantes da região, ele agora busca formas de viabilizar verbas para investir no projeto.

Outros trabalhos de Nilo Zack

Por Ana Paula Tinoco

 

 

 

1 COMMENT

  1. Eu quero um oportunidade de estar nesse projeto.
    Mas sou apenas grafiteiro e tenho dificuldade na parte de inscrição para tais escrições.

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