#CRÔNICA: Caros Amigos

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Foto Reproduão

Todos os chamavam de Sô Zé, depois de alguns dias apenas Zé ou Zé do Suco, era um senhor que estava mais para rapaz, era o único com disposição para ir do primeiro ao último andar, parecia estar sempre perseguindo sua borboleta amarela, menos na hora do futebol na TV, assistia com atenção e ao mesmo tempo parecia não se importar, mas na hora de me contar sobre a partida, qualquer jogo se transformava em uma emocionante final de campeonato. Zé tinha um hábito diferente, uma gaveta destinada apenas para sucos, que poderiam ser preparados a qualquer momento, às vezes mais de cincos sucos por dia.

Zé carregava em seu peito seu amuleto, na primeira esbarrada em alguém, já ia todo orgulhoso, e como um pavão, mostrava seu amuleto que vinha sempre acompanhado da história de como o conseguiu. Em todos os corredores, só se ouvia falar em política, até que Zé aparecia, e não havia sequer uma pessoa que não se espantava ou se encantava com seu amuleto, sua história e sua gaveta de sucos. Em alguns dias ele parecia ser uma atração turística, desde médicos a policiais, de estudantes a professores, sempre apareciam novos grupos, querendo ver o amuleto e ouvir sua história. Mais interessante que sua história, era o próprio Zé, seu carisma era reconfortante, era satisfatório saber que ele continuava ali, com seu amuleto, conversando qualquer fiado quando ninguém mais parecia querer falar.

Era primeiro de maio, Zé estava distribuindo simpatia, desejando feliz dia do trabalhador a todos, principalmente na hora do querido almoço, nesses dias mais queridos ainda. Estava bem mais feliz que em outros dias, foram mais sucos que o habitual, até esqueceu-se de falar do seu amuleto, só me falava que finalmente ia embora em breve. No inicio da noite desse mesmo dia, Zé fechou as janelas e começou a reclamar da frente fria, que a maioria não sentia.

Mas foi pela madrugada que a situação piorou, Zé parecia estar de calundu, mas na verdade uma parte de seu amuleto desprendeu-se, talvez isso explicasse o frio exagerado. Só tive tempo de ver Zé saindo às pressas, não sei em que direção, acho que sabia, mas preferia continuar sem saber. Só tive noticias dele no outro dia, até que mais tarde ele reapareceu, mas não era mais o Zé do Suco. Ficava quase que todo o tempo em silêncio, sua gaveta ficava intacta e o papo antes trocado parecia improvável.

Alguns eternos dias se passaram, e Zé parecia a cada instante mais distante de todos. Até que recebi a mesma notícia que tanto o empolgou, eu iria embora. O mesmo entusiasmo que o atingiu, chegou até mim, mas não tinha graça. Fui até Zé, para dar o meu adeus e o agradecer pela companhia dos difíceis dias, mas não o encontrei. Não sei ao certo, parece que seu amuleto continuou se desprendendo, e ele foi novamente às pressas para outro lugar. Nunca mais o vi, até tentei, mas não consegui. Zé do Suco não é desses que carrega um telefone no bolso. De qualquer forma, me fiz necessário em dizer, mesmo que nunca ouça, adeus e obrigado Sô Zé!

Por João Victor Castro

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