Especialista afirma que a fé pode ajudar no tratamento da depressão

Especialista afirma que a fé pode ajudar no tratamento da depressão

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Não são raras as histórias de pessoas que garantem a cura pela fé, por meio de orações e grupos com filiação religiosa. Com o poder da fé, uma pessoa em estado de depressão pode buscar ajudar em igrejas. O psicólogo Glauco Batista, 35, diz que a fé pode ajudar e muito no tratamento das pessoas diagnosticadas com depressão. “Hoje as pessoas procuram algo que reconheça sua própria existência. As religiões que têm mais procura hoje, são as que trazem essa experiência vivida como única, singular. Creio que esse seja o principal motivo da busca pelas igrejas”, afirma o especialista.

O especialista utiliza critério profissional baseado na psicologia. “Eu não aconselho aos meus pacientes a ajuda espiritual, mas esse não é um assunto proibido no tratamento, muito pelo contrário. A ideia ao escutar o paciente falar sobre sua espiritualidade e religiosidade ou ausência dela é ajudá-lo a refletir sobre sua relação com essa experiência religiosa e definir qual o lugar que isso ocupa na sua subjetividade, qual o uso que ele faz disso na sua vida”, explica.

Apesar de conhecer muitas histórias e pesquisas dizendo que a fé ajudou de alguma forma no tratamento, o psicólogo afirma que é importante lembrar que ter fé e acreditar em algo mais profundo, e não precisa necessariamente estar ligada a alguma religião, mas sim a uma crença, em algo, ou alguém. “Estamos num período de uma certa ‘perda da subjetividade’. Hoje é preciso provar o tempo todo a própria existência, não basta só existir, alguém tem que ‘curtir’, ‘comentar’ a experiência que deve ser sempre compartilhada”, ressalta .

O relato da cura através da fé

Em abril de 2015, Felippe Jardim Campos, de 22 anos, viu sua vida se transformar após a perda de seu emprego, que era sua principal fonte de renda. Felippe estava muito desanimado, sentia um aperto no peito, pois via a vida dos seus amigos irem para frente e sentia sua vida intacta. “Eu não aguentava mais a rotina e essa situação foi se agravando, gerando uma dor muito grande. Meus amigos começaram a se afastar de mim e eu não sabia o que fazer, foi então que eu conheci a depressão”, diz. Mesmo tentando se satisfazer com outras coisas, o quadro da doença foi se agravando e Felippe passou a se odiar, pois se sentia culpado por estar naquela situação.

“Eu não tinha vontade de viver, acordar e ver a luz do dia para mim era insuportável, eu não enxergava o sol como um brilho de esperança, mas sim de existência. Perdi muito peso e até cogitei a possibilidade de tirar a vida”, lembra. Felippe ficou doente por seis meses e apenas no terceiro mês com o apoio de familiares procurou ajuda espiritual na igreja evangélica Batista Peniel, onde teve total suporte através de aconselhamento e orações. “Eu enxergo a igreja como um hospital, foi lá que eu fui curado”, relata. Durante o primeiro mês de tratamento, a situação não havia mudado, ´porém Felippe não se odiava mais, e nem odiava a situação. Para ele o apoio da família foi fundamental no período de tratamento. Outra maneira de superar a solidão encontrada por Felippe foi assistir à pregações no YouTube da missionária Bianca Atoledo, que o incentivou a ser forte e seguir em frente. Ele conta que enxerga a depressão de uma forma diferente da qual enxergava antes. “Hoje estou curado, Deus me deu um emprego muito melhor do que eu havia perdido”, conta.

Vinícius Ferraracio, líder de jovens da igreja onde Felippe passou pelo tratamento, conta que o objetivo do grupo é levar a palavra de Deus, fortalecendo a fé ajudando assim os jovens a superarem conflitos de identidade. “Colhemos alguns testemunhos de pessoas que experimentaram mudança de vida, melhora em seus relacionamentos, transformação em suas famílias, cura de suas emoções até mesmo físicas, e tudo por causa do agir de Deus”, afirma.

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Felippe Jardim. Foto: Arquivo pessoal

A importância do apoio familiar

A depressão já é considerada por especialistas como o mal do século. Além da profunda tristeza, a depressão ainda pode acarretar em baixa autoestima, pessimismo, perda de interesse em atividades, baixa produtividade e isolamento social. Situação pela qual a estudante Beatriz Cassia, de 21 anos, sofreu logo após a separação dos pais e falecimento da avó paterna. “Sempre me mostrei perante a sociedade ser forte, fria e sempre muito feliz, mas o sentimento de culpa por achar que a separação dos meus pais era culpa minha, e logo após o falecimento de minha avó, fizeram com que eu me entregasse totalmente”, diz.

Beatriz parou de fazer suas atividades diárias e se trancava dentro da própria casa. Esse comportamento logo chamou a atenção da mãe Maria Tereza, 45, que a levou ao psicólogo que, então, a encaminhou a um psiquiatra. Beatriz frequenta a igreja católica São José Operário e ela garante que teve um anjo da guarda que sempre rezou e a ajudou a superar essa fase de sua vida. “Graças à minha mãe eu consegui ver que através da minha fé e das orações, eu conseguiria me curar da depressão”, confessa. Beatriz fez uso de medicamento por dois anos e hoje vai ao médico a cada 15 dias e passa por uma terapia ocupacional. “Fiquei três anos nessa luta com a depressão, às vezes parece que ela quer tomar conta de tudo novamente, mais hoje em dia eu consigo controlar qualquer sentimento ruim e desanimo que apareça”, afirma.

Texto: Janaína Tavares e Aline Lima

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