Histórias de manifestantes marca o Dia Internacional da Mulher

Histórias de manifestantes marca o Dia Internacional da Mulher

Imagem: Rúbia Cely

Por Bruna Valentim

Colaboração Daniel Nolasco 

No Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 08 de março, movimentos sociais da capital mineira se reuniram nos entornos da Praça Sete para uma passeata em prol dos direitos humanos e melhorias sociais. Com camisetas com dizeres feministas, caras pintadas, cartazes e panfletos mulheres de diversas partes da cidade e do estado, de diferentes idades e classes sociais se uniram com o objetivo de celebrar o que é ser mulher.

 

A “Marcha das Mulheres”, teve início na Praça da Assembleia, no bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul da capital, e seguiu até a Praça Sete. O protesto reuniu os grupos como, o Movimento dos Atingidos por Barragem, Tranvest, Funcionárias Públicas, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Linhas do Horizonte.

 

Por volta das 15 horas, duas jovens se aproximaram da nossa equipe entregando panfletos do Movimento Popular da Mulher (MPM) e da União Brasileira de Mulheres (UBM) com dizeres onde falava sobre os problemas enfrentados por mulheres no dia a dia, mas também continha dizeres otimistas ao ressaltar as conquistas alcançadas nos últimos tempos. Entre as manifestantes estava Julie Deathreage, de 19 anos, que prefere não se classificar em uma vertente radical ou liberal, prefere acreditar em uma luta conjunta por equidade “Acho que neste momento a visão do outro sobre a minha luta pode ser muito variável, dependendo do lugar em que a pessoa se encontra socialmente e politicamente”.

A estudante conta que a veia ativista vem de berço, traço que herdou da mãe solteira e feminista. Deathreage lembra que foi aos 15 anos que começou a levantar bandeiras e participar ativamente da causa. “Desde das eleições de 2014, me vejo dentro do movimento, foi quando conheci entidades feministas e tive consciência do lugar da mulher no nosso país, que é um lugar de pouca voz, pouca representatividade, principalmente dentro da política. Em 2016 me filiei à União Brasileira de Mulheres e conheci mulheres de variados estados, classes econômicas, diferentes idades e de diferentes papéis na sociedade. Me encontrei dentro da UBM, que é uma entidade que luta pela emancipação feminina desde 1988. Encontrei voz, apoio e histórias de mulheres incríveis.” compartilha.

Ceuza Matos Marques, é ex-professora de biologia da rede pública, tem 80 anos, mas protesta ao ser chamada de senhora. Feminista ferrenha é se diz a favor de toda e qualquer minoria. Ela conta que frequentemente vai às ruas em prol do direito do trabalhador, da democracia, do direito do cidadão. É extremamente clara em relação seu posicionamento político, é defensora fervorosa do partido trabalhista, e faz e ensina bordados com dizeres em apoio a ao PT, Lula e atende a qualquer pedido dos clientes que estejam de acordo com seus ideais. Quando perguntada sobre o que a tornou feminista, ela sorri e diz que começou pensando na influência que a religião exercia sobre as mulheres enquanto era jovem “Me perguntei, o que é pecado? É usar uma roupa de banho de duas peças? É usar uma calça? Não, pecado é fazer mal aos outros é trair, é roubar, é enganar o outro. Não me denominava feminista, mas não achava que homem era melhor, eu sempre fui contra esse meio de pensamento, quando mulheres andam a cavalo de sainha sem abrir as pernas, sentadas de lado, eu montava de calça jeans. Minha filha sempre disse que eu fui revolucionária. A gente vai se descobrindo na luta, vivendo, sou pelas mulheres como sou pela liberdade religiosa, como sou pelo negro.”, explica.

Ao ver mais mulheres se aproximando, a aposentada falou com brilho nos olhos sobre a importância de eventos como aquele “A importância da manifestação é que na rua a gente ouve as pessoas, é uma forma de reagir, de resistir. A gente aprende política nesses locais, sim, nós temos o parlamento, os políticos, os vereadores, os deputados, mas é diferente, nas ruas a gente se fortalece”, Finaliza.

Enquanto conversávamos com Ceuza, um rapaz que ouvia atentamente os relatos da aposentada se aproximou. Alexandre Israel, vulgo Alex, como gosta de ser chamado, tem 35 anos, trabalha com obras de acabamento e está sempre presente no meio do movimento feminista, prática que herdou da mãe já falecida. “Há 15 anos o movimento não estava como está hoje e ela sempre se impôs, não levantava uma bandeira, mas ela me ensinou o certo no cotidiano, no dia a dia, quando dialogava com outras mulheres que eram oprimidas no lar.  Foi uma coisa para mim que veio de casa. Hoje meu ciclo de amizade é basicamente formado por mulheres e homossexuais então fui entendendo cada vez mais as minorias. Acredito que a cultura é machista, antigamente eu mesmo já fiz comentários sem perceber, então meus amigos foram me mostrando certas coisas erradas, por exemplo em uma batalha de rap disse para ofender outro competidor que ele tava rimava como uma ‘mulherzinha’ e uma amiga chegou pra mim e disse ‘isso é ruim por que? Mulher não sabe rimar? Isso tá errado’ e bateu um clique em mim, então nessas pequenas coisas do cotidiano, fui fazendo essas reflexões. Percebo também que muitas vezes homens não dão ouvido as mulheres e quando eu faço o mesmo discurso de uma mulher eles ouvem”.

A ex-prefeita de Contagem, Marília Campos, também esteve presente no protesto e fez um sincero discurso contra o assédio e a opressão em meio a aplausos das mulheres presentes, mostrando que a união faz a força. Mulheres de diferentes vertentes do feminismo, como o feminismo negro e o liberal também estiveram presente na marcha e também fizeram declarações, mas ao mesmo tempo motivadoras nos megafones. Temas como Mulheres no Poder, Violência Sexual, Feminicídio e Violência Obstétrica também estiveram em pauta durante a passeata.

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