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Os vendedores de rua estão presentes em nosso cotidiano. Diariamente, os vemos e ouvimos anunciando itens que nos interessam ou não, mas estamos sempre apressados e focados em nossa existência que não prestamos atenção nesses “personagens” que nos circundam e podem revelar boas histórias de vida.  Há 29 anos, João Alves da Rocha (69) tem sua banca de frutas e doces no mesmo ponto, na Rua Gonsalves Dias em frente ao antigo prédio do IPSEMG, uma banca de estrutura simples, asseada, tratada com esmero.

O comerciante diz que a rua é “um presente de Jesus”. Ao longo do tempo Alves conquistou clientes fiéis e amigos. “Eu tenho uma família, alguns desgarraram de mim, mas de vez em quando chegam aqui com a família.”, afirma. Residente do bairro Santa Teresa, João Alves está no segundo casamento, é cristão, pai de 10 filhos a maioria casados, trabalha sozinho, de segunda a sexta, das 7h às 17h.  Para chegar à Praça da Liberdade, ele usa duas conduções, o metrô e um ônibus. Todas às segundas ele vai até o CEASA comprar as frutas e faz todo o percurso utilizando o transporte público.

 Os alimentos são armazenados com cuidado no estacionamento onde guarda o carrinho “é um lugar bem asseado, não tem rato, barata é bem ventilado e detetizado.” ressalta o comerciante. Sobre a violência João Alves conta que “uma pessoa foi pagar uma compra de cinco reais com uma nota de dez reais, a nota sumiu no ar, o cara saiu pulando entre os carros, eu fiquei com dó da dona perdoei o valor da compra e dei a ela cinco reais”.

Para se divertir João gosta de ir ao clube aos finais de semana com o neto. “Vou ao clube da copasa com meu netinho, ficamos lá o dia inteirinho”, conta. O comerciante se considera muito feliz, tem casa própria, e com o dinheiro que ganha com sua banca paga faculdade de uma de suas filhas e vê o trabalho como uma terapia e tem vontade de chegar aos 100 anos.

Há poucos metros do senhor João, conhecemos também outro trabalhador diário, Rogério José dos Santos. Vendedor de pipoca e guloseimas na porta do Centro Universitário Una da Rua da Bahia, diz que antes teve apenas dois empregos e herdou do pai o carrinho em 1949 aos 15 anos. Desde, então, não tem outra atuação profissional que não seja ser pipoqueiro. “Estou, há 20 anos trabalhando aqui, e a maioria dos meus clientes são alunos, ex-alunos e a família deles que por tradição compram em minha mão desde a infância”, afirma. O único filho de Santos não tem interesse em seguir os caminhos do pai, mas parece não se incomodar com isso. Em suas horas vagas gosta de viajar, principalmente para “Roça”, como diz.

A vida de ambos é bem diferente e ao mesmo tempo parecida, pois além de exercerem a mesma profissão, são distintos em comportamento. Seu João é falante, gosta de demostrar o que senti e o que pensa. Já seu Rogerio é pacato um pouco tímido e objetivo. Mas a maneira como vivem o cotidiano em meio ao transtorno do movimento urbano chama a atenção por simplesmente concordarem em ser felizes.

 Por: Aline Viana e Gabriel Amorin

 Foto: João Alves

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A reflexão acerca do papel transformador da educação marcou a posse do novo reitor do Centro Universitário UNA, Átila Simões, na tarde de ontem. Em cerimônia afetiva que reuniu no salão principal do Museu Inimá de Paula, os diretores dos cursos de graduação da instituição, os professores, os alunos e demais autoridades e convidados, o novo reitor assumiu o compromisso de dar continuidade ao trabalho do seu antecessor, o Pe. Geraldo Magela, morto 29 de setembro de 2010, que foi lembrado com saudade pelos presentes.

O presidente da Ânima Educação, Daniel Castanho, abriu a sequência de homenagens. “O Átila já vinha conduzindo a reitoria juntamente com o Pe. Magela e foi um grande aprendiz dos seus ensinamentos”, declarou. Castanho garantiu que a indicação do vice-reitor para assumir a vacância do cargo foi legitimada por toda a comunidade acadêmica. Ao proferir um discurso emocionado, a professora Helivane Santos, representante do corpo docente, comoveu a todos. “Eu não queria fazer um discurso muito extenso, nem dizer palavras que eu não sinto de verdade”, explicou.

Átila Simões também foi homenageado pelo corpo discente, ali representado por membros da UNA DM Jovem, por colaboradores, que entregaram placa, pelos reitores da Unimonte e da Uni-BH, e pelo secretário de estado de ciência tecnologia e ensino superior. Os diretores e coordenadores que compareceram à cerimônia estavam felizes com a indicação de Átila. Para Celso Garcia, diretor do Instituto Politécnico “a capacidade que o Átila tem de enxergar o futuro é algo impressionante”. A diretora do Instituto de Saúde dos campi de Contagem e Betim, Rebeca Rosa, declarou que “o que a gente espera é continuidade de crescimento e qualidade acadêmica, que é o que o Átila já vem trazendo para a Una desde que assumiu como vice-reitor”. Natália Alves, coordenadora de extensão, lembrou as características pessoais de Átila: “o Átila é uma pessoa que eu admiro muito, pela inteligência, pela lucidez, pelo brilhantismo e também pelo humanismo. Ele é um grande incentivador das iniciativas de extensão, sempre atento à formação humana do aluno”.

“Sinto que o corpo docente está cada vez mais forte, bem preparado, comprometido com a casa e valorizado pelos alunos. Queremos trabalhar para que professores e alunos se encontrem em bons momentos de aprendizagem, para que os alunos aproveitem o tempo em que estão na UNA para ampliar seus horizontes, descobrir coisas novas, mudar suas cabeças e crescer”, declarou Átila Simões. Sem se esquecer do passado, o reitor lembrou dos anos que passou na companhia do Pe. Geraldo Magela: “em 2008, eu assumi a vice-reitoria e passei a trabalhar diretamente com ele, o que foi fantástico. Fizemos muita coisa em conjunto, suas palavras eram sempre muito sábias e assertivas. Eu aprendi muito com essa convivência”.

A trajetória do novo reitor na Ânima Educação se confunde com o processo de reestruturação da UNA, iniciado em 2003. Formado em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo, Átila Simões assumiu a vice-reitoria da instituição em 2008. Natural de Campinas-SP, mudou-se para Belo Horizonte, constituiu família e obteve o título de mestre pela Una. “Eu vivi Belo Horizonte com gosto, eu vivi a UNA com gosto, a instituição me fez feliz e eu espero fazer de professores, alunos e funcionários pessoas igualmente felizes”, contou.

Por: Fernanda Fonseca

Foto: Juliana Costa

“O que foi que aconteceu de errado na evolução da imprensa brasileira que fez com que textos autorais, como aqueles de Joel Silveira, deixassem de ser bem aceitos em boa parte das produções jornalísticas da atualidade?”. Essa é a pertinente pergunta que Geneton Moraes Neto deixa aos pensadores do jornalismo. Aliás, “pensador do jornalismo” é um  título que o pernambucano rejeita, porque prefere fazer jornalismo a ficar postulando sobre sua natureza. Tal crítica está explicitada no documentário Garrafas ao Mar, que será apresentado hoje, às 19h30, no Teatro João Ceschiatti do Palácio das Artes, no projeto Sempre um Papo.

O filme traz uma série de entrevistas de Geneton com Joel Silveira, tido por muitos como o maior jornalista brasileiro. Entre as várias histórias, há o caso de uma reportagem sobre Getúlio Vargas, resultado de um encontro que durou menos de cinco minutos. O então presidente do Brasil recebeu Joel Silveira, acreditando que ele queria um emprego, mas quando soube que o objetivo do encontro era uma entrevista, levantou sisudo sem falar uma palavra. Mas isso não impediu o repórter de fazer um grande texto que pode ser lido no livro Tempo de Contar. “É um exemplo de como, se você não for um burocrata, você pode ser um bom jornalista”, declara Geneton. Na ocasião, além da exibição do documentário, debaterá sobre a crise do texto jornalístico.

Crítico do texto robô, despersonalizado, Geneton defende que “chegou a hora de ressuscitar o jornalismo minimamente autoral”. Esta é, para ele, a alternativa para que sobrevivam os jornais que devem, sem dúvida, se reinventar. Geneton faz ainda uma defesa aberta a reforma do jornalismo, a abertura dos veículos para os textos autorais, e decreta: “Fazer jornalismo é produzir memórias”.

Por Alex Bessas

Foto por João Alves

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Hoje especial sobre o clássico entre Atlético e Cruzeiro, partida válida pela decisão do mineiro. O jogo tem tudo para ser a melhor partida entra as duas equipes nos últimos.

O time celeste defende a condição de única equipe invicta da temporada no futebol brasileiro, já o alvinegro defende sua invencibilidade no Independência, estádio onde ainda não foi batido desde a reinauguração.

Ouça essa discussão cheia de bom humor e rivalidade na 9ª edição do Projeto E!

Apresentação: Ana Carolina Vitorino

Comentários: Hemerson Morais, João Vitor Fernandes e Marcelo Fraga

Edição: Hemerson Morais

Foto: Henrique Laion

Música: Galo e Cruzeiro –  Vander Lee

Na tarde desta sexta, 10, na Praça da Liberdade houve uma manifestação da Polícia Civil juntamente com Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Estado de Minas (SINDPOL/MG), para reivindicar: Lei orgânica da policia civil; desfiliação da central sindical de profissionais; e filiação a união geral dos trabalhadores; mobilização nacional pela manutenção da aposentadoria por atividade de risco. Anunciaram também a possível greve geral por prazo indeterminado em razão do não atendimento das revindicações da categoria.

Em entrevista com o diretor secretário geral do SINDPOL e investigador de polícia, Claúdio de Souza Pereira, 48,  explicou que o protesto de hoje iniciou depois que “o governo do estado prometeu enviar um projeto de lei orgânica, da policia civil de Minas Gerais para a Assembleia Legislativa, no dia 20 de abril, e até ontem não enviou, prometeu enviar hoje, talvez nos próximos dias, nas próximas semanas, só que a categoria cansou de esperar, e quer uma reação da entidade sindical, a promover a serenidade do envio desse projeto de lei orgânica para a assembleia legislativa”.

Ele afirma também ao ser questionado se o movimento engloba todas as policias, que o mesmo foi desencadeado pelo sindicato dos servidores da Policia Civil, então  o alcance  imediato  é apenas da categoria policial civil, mas obviamente quando você fecha uma delegacia, ou quando você reduz a capacidade de atendimento de uma unidade de policia judiciária, vai acarretar uma fila de viaturas policiais militares na porta, que vão estar paradas, aguardando atendimento e obviamente vai causando um prejuízo a prática da polícia preventiva nas comunidades, afeta os trabalhos do fórum Lafaiet, devido a apresentação de presos , afeta a questão da segurança pública que ficaria escassa. Pois os serviços prestados como, investigação criminal medicina legal e Detran, suspenderiam seus atendimentos, acarretando transtornos a população em geral. Uma outra revindicação da categoria é a redução do tempo de serviço para promoção de 10 para 5 anos.

Segundo o G1,o governo informou que a Polícia Civil já realizou concurso público para delegados e que 400 tomam posse ainda nesta semana. No próximo dia 18, serão abertas as inscrições para 1.497 vagas na área administrativa, para médico legista e para perito. Na Parte da manhã também ouve protesto na MG-10, em frente à Cidade Administrativa, sede do governo de Minas Gerais. De acordo com a Polícia Militar Rodoviária, os manifestantes fecharam a pista no sentido Confins, e o trânsito ficou congestionado. A corporação não informou qual foi a extensão do engarrafamento.

No inicio da noite o SINDPOL informou por telefone que vai acontecer uma nova assembleia dia 24 para discutir novamente as reividicaçoes feitas se serão aceitas caso contrario cumprirão com o indicativo de greve proposto.

 

Por Aline Viana e Juliana Costa

Foto por Juliana Costa

O ônibus parou bem em frente a casa, que era limpa e cheirava a lavanda. Quem nos recebe é a mãe de Maria Cristina Barretto, uma senhora morena, receptiva e com certa dificuldade para caminhar. “Fiquem à vontade. A Cristina foi levar a Daiane à escola”, informa. Na sala de paredes claras havia uma grande mesa de vidro onde colocamos o material da produção: câmera, iPad, bolsas, gravador, caderno e caneta. O lugar era aconchegante. Ao fundo uma escada leva aos quartos que mais tarde seriam apresentados por Rosana, a direita uma porta leva a cozinha, de onde vem café e biscoitos.

Uma menina de parecer tímido aparece em pouco tempo. Ela se esconde atrás da porta da cozinha, não quer falar. Fica assim até descobrir a câmera fotográfica. As poses não param, conversa, brinca, sobe escada, desce, joga Angry Birds na edição especial do filme Rio. Só não se lembra o nome dos novos amigos que já até convidou para a comemoração de seu aniversário, na próxima sexta, dia 10.

Não demora até que Maria Cristina Barretto (com dois T como costuma frisar) chegue. Se desculpa pelo atraso e em pouco tempo dá-se início à entrevista. Impossível não notar a estreita semelhança que guardam mãe e filhas. A maternidade foi para ela fator de renascimento e realização.

A decisão

Meu nome é Maria Cristina Barretto, sou enfermeira há 18 anos e sou divorciada. Sempre quis ter filhos, em março de 2007 pensava em como poderia ser mãe sem ter um parceiro. Em maio tive o diagnóstico de que não poderia ter filhos. O médico levou 40 minutos para contar o resultado dos exames, quando notei a dificuldade dele disse: “você está querendo dizer que não posso ter filhos? Não tem problemas, eu sempre quis foi adotar”. O médico ficou aliviado.

Bárbara, uma amiga e colega de trabalho, foi quem me contou que uma mulher solteira poderia adotar. Sempre pensei que fosse preciso ser um casal. Eu sabia que ela tinha um filho e sabia que ela não tinha um companheiro. Um dia tive coragem de perguntar e soube que eu também poderia ser mãe.

Certa vez, sabendo de meu desejo, uma amiga chegou a dizer que eu não tinha o direito de ter uma produção independente, que não poderia privar as crianças da presença de um pai. Isso me fez pensar, porque perdi meu pai muito cedo e sempre senti sua falta. Mas a adoção ressuscitou minha família, me aproximou de minha mãe. Todos se aproximaram mais. Foi uma transformação, para melhor.

Preparação, caminhos, expectativa

A primeira coisa que eu fiz foi me preparar financeiramente. Eu tinha três empregos, mas resolvi ficar apenas em um, por que precisava de tempo para me dedicar. Tem que ter a consciência de que as crianças vão precisar de profissionais como psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos. Você não pode ser pego de surpresa nesse sentido. Trabalho a noite para me dedicar as meninas o dia todo. Durante a noite elas ficam com minha mãe e minha irmã.

Fui na Vara da Infância e da Juventude para saber as informações com detalhes. O processo é muito rigoroso. Você passa por entrevistas longas com psicólogos e assistentes sociais, eles vasculham a sua vida, você tem que apresentar atestado de bons antecedentes e vários documentos. Durante o processo, tive que mudar meu nome em razão do aparecimento de muitos homônimos, entre eles devedores e estelionatários. Quis resolver essa questão para não atrasar o processo de adoção. Coloquei o nome da minha mãe. Desde pequena eu queria ter o sobrenome da minha mãe – Barretto – e nunca pensei que fosse conseguir. Acabei realizando esse sonho.

As minhas filhas têm outros dois irmãos. Eu queria adotar os quatro, mas não depende apenas do seu querer. Eles avaliam outras questões, como a possibilidade de dar a melhor assistência às crianças que adotar. A Rosana tem me cobrado isso recentemente. Fiquei um pouco chocada, fomos para a psicóloga e ela disse: “mas você quis”. Eu sempre quis. Quando pensei na família, pensei nos quatro. Parece muito duro, mas é real. Realmente, eu não teria condições de dar a todos a assistência que eu ofereço às duas. Esse entendimento é necessário. Também é preciso compreender que as meninas sempre terão suas lembranças. É preciso considerar essa vida passada. E eu sempre falei a verdade, inclusive sobre os irmãos.

Como é ser mãe

A experiência de ser mãe é fantástica. Um amigo me disse uma frase muito bonita: “quem adota, realmente fez a opção de ser mãe”. Adotar é se envolver, é estar junto, é se dedicar, é torcer, querer sempre o melhor.  A minha família renasceu, eu renasci como pessoa. Melhorei como ser humano e como profissional. Sou enfermeira e morria de medo de cuidar de criança, não sabia o que falar. Hoje é diferente, eu já sei como me aproximar delas, isso não me intimida mais. A criança também te aproxima das outras pessoas e essas se aproximam de você por causa das crianças: ‘olha o cabelo dela’ e daí aparecem outros assuntos.

Eu adoro ser mãe. Não acho que o amor é menor. Não vejo diferença. Eu não gosto de falar que elas são adotadas para não fazer sensacionalismo, mas existem situações em que é preciso falar, por exemplo, em consultas médicas, quando perguntam sobre a gestação.

Elas vieram para casa no dia 14 de abril de 2010. O primeiro ano foi cheio de sensações novas. Na primeira noite que elas passaram comigo, a Rosana, com quatro anos na ocasião, estava doente. Passei a noite inteira com ela no meu ombro. Agradeci a Deus por ela poder estar acolhida naquele momento.

Nos primeiros meses, a Daiane não conseguia me chamar de mãe. Ela me chamou de mãe pela primeira vez em outubro, seis meses após a adoção. Expliquei a ela que nós sabíamos que eu era sua mãe do coração, mas que não precisávamos usar o adjetivo adotiva. Ela teve dificuldade no começo, mas depois de um tempo isso se tornou natural. A Rosana já me chamava de mãe desde a época da adaptação no abrigo.

Sou voluntária na Vara de Infância e da Juventude e ministro cursos de habilitação para a adoção. Tive que participar durante o meu processo e passei a promovê-lo. A psicóloga da Vara me disse que após meus depoimentos, os interessados passam a desejar crianças mais velhas, de três, quatro anos. Isso é muito bom. Incentivo, pois sei que existem crianças que precisam de colo, de carinho, independente da idade. Demanda tempo, mas com amor se consegue. As pessoas acham que eu sou corajosa, mas eu nunca pensei nisso. Era apenas algo que eu queria, um objetivo. Na minha vida foi sempre assim: eu desejava, planejava, lutava e conseguia.

Não conheci outras crianças antes delas. Elas já estavam me esperando. Eu não queria separar as crianças. Já coloquei na ficha que eu queria irmãs. Elas eram as duas únicas duas irmãs do abrigo. Foi amor a primeira vista. Já me perguntaram se eu fiquei com medo, porque ainda não tinha sido destituído o poder familiar dos pais biológicos, mas eu realmente entrei com muita fé.

A licença maternidade foi uma delícia, apesar de ter sido só de um mês. O tempo é menor quando as crianças são maiores de um ano. Eu consegui estender esse tempo, pois como servidora pública pude usufruir da licença para acompanhar filho menor. Achei isso o máximo. Foi muito interessante. Introduzi os alimentos aos poucos, como faz com bebê, pois elas não conheciam todos os alimentos, ensinei a tomar banho. Trabalhei a individualidade delas. Criança que é institucionalizada perde um pouco disso. Tem que comer no mesmo horário, tomar banho no mesmo horário. A todo tempo eu ressalto as diferenças, o individual de cada uma.

Logo elas foram para a escola. De repente, tinha um monte de “para casa” pra fazer. Tive que ascender minha criatividade para ensinar. Existe preconceito na escola, do professor. Muitas vezes não é intencional, mas eles diferenciam a criança adotada, a criança que chega do abrigo. Às vezes, a melhor escola não é a melhor para essas crianças. É como se a melhor escola tivesse que ter os melhores alunos, não pode ter uma criança com déficit cognitivo. A Daiane chegou insegura, a Rosana com atitudes inadequadas. Elas foram estigmatizadas na escola e eu preferi tirar. Coloquei em uma escola boa, porém menor, onde há um tratamento personalizado, sem levantar a questão de ser adotada. Na segunda escola, a Daiane falou que era adotada porque ela quis. Ela resolveu sozinha. E diz que irá adotar. Não gosto de fazer campanha, causar um alvoroço por conta disso. Sou muito reservada. Tive dificuldade em, por exemplo, comunicar a minha chefia que estava adotando duas crianças. Algumas pessoas no meu local de trabalho ficam incomodadas e curiosas com a minha adoção, mas também admiradas com o meu desprendimento.

A adoção é um processo de autoconhecimento e exige um cuidado maior. Considero esse período a minha gestação.

Por Alex Bessas e Fernanda Fonseca

Fotos por Fernanda Fonseca