O machismo no Brasil revelado em dados e acontecimentos recentes

O machismo no Brasil revelado em dados e acontecimentos recentes

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Foto retirada do site HuffPost Brasil

Me deixa ver como viver é bom. Não é a vida como está, e sim as coisas como são. Você não quis tentar me ajudar, então, a culpa é de quem? A culpa é de quem?” – Meninos e meninas (1989)

Partimos da premissa de uma sociedade abertamente machista. Em algumas ocasiões ele velado vem em forma de comentários que a princípio soam como uma preocupação até chegarmos ao “Mas”. E isso se aplica a diferentes casos, seja agressão física ou psicológica, assédio, assassinato e até mesmo o estupro. Não é muito raro escutarmos ou lermos comentários como: “O que estava fazendo na rua até uma hora dessas?”, “Como assim ela ficou todo esse tempo e não tomou uma atitude?”, e a partir disso é que notamos que as mulheres na sociedade são vistas como as únicas culpadas pela violência que lhes é infligida.

Mas para entendermos essa cultura machista precisamos ir por partes. Afinal, as agressões são inúmeras e vêm em diferentes escalas e em diferentes tons.

“Não sei o que é direito, só vejo preconceito e a sua roupa nova é só uma roupa nova. Você não tem ideias pra acompanhar a moda tratando as meninas como se fossem lixo…” – A dança (1985)

FICHA TÉCNICA Agência: Saatchi & Saatchi Singapore Diretor Executivo de Criação: Andy Greenaway Diretores de Criação: Richard Copping, Andrew Petch Diretores de Arte: Ronojoy Ghosh, Ng Pei Pei Gerente de Produção: Terry Ong Executivos de Conta: Sandra Teh, Anuja Weeranarayana Copywriters: Simon Jenkins, Andrew Petch Fotógrafo: Teo Studios Maquiagem: Kendrick Wong
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Fotógrafo: Teo Studios
  • O homicídio

Um estudo feito pelo sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz sobre violência contra a mulher, realizado pela Faculdade Latino-Americana entre 2010 e 2015, colocou o Brasil entre os cinco países mais violentos do mundo. Aqui 13 mulheres são mortas por dia, crime que é cometido por seus parceiros ou ex-parceiros e a maioria dentro de casa. No mapa criado, o maior número de assassinatos está nas regiões norte e nordeste.

Mas a que atribuímos essa violência gratuita? Para Marina Gazire, professora do Instituto de Comunicação e Arte – UNA, o crescimento dessa violência não é uniforme. Ela vai mudar de acordo com o estado da federação e a cor da pele da vítima, tornando a busca por uma única resposta extremamente errôneo. Entre as mulheres negras e pardas, por exemplo, a taxa cresceu, enquanto entre as brancas houve queda no índice.

Ela ainda cita um trecho de um levantamento publicado no Jornal Valor Econômico em novembro do ano passado: “Se em um primeiro momento, em 2007, registrou-se uma queda expressiva nas taxas, de 4,2 para 3,9 por 100 mil mulheres, rapidamente a violência homicida recuperou sua escalada, ultrapassando a taxa de 2006. Mas, apesar das taxas continuarem aumentando, observamos que a partir de 2010 arrefece o ímpeto desse crescimento”.

“Ou então espécie rara, só a você pertence, ou então espécie rara que você não respeita. Ou então espécie rara que é só um objeto pra usar e jogar fora depois de ter prazer…” – A dança (1985)

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  • O estupro

Uma mulher é estuprada a cada três horas no Brasil, o que nos dá oito vítimas por dia. Os números alarmantes divulgados pelo Superior Tribunal de Justiça nos preocupa, mas podem ser superiores, já que a maior parte das mulheres que sofrem esse tipo de violência têm vergonha de denunciar.

A causa disso como ressalta Gazire está no fato de que a sociedade tende a culpar a mulher por tudo e que isso faz parte da cultura em que estamos inseridos. Ela cita o caso de estupro coletivo que aconteceu esse ano no Rio de Janeiro, onde a vítima, além da violência sofrida, foi filmada e viu sua vida ser revirada do avesso: “O caso foi inicialmente conduzido por um delegado que culpava vítima. Ele chegou a afirmar, depois de ver o vídeo com este ato horrendo, onde a cara de cada um desses estupradores aparece, que “não tinha como saber se era estupro ou não”. – Aqui

Assim, como o caso do Rio, uma jovem de 16 anos foi atraída, drogada, violentada e morta. A barbárie aconteceu na Argentina e chocou o mundo dada tamanha violência. O que mais chocou foi que o crime aconteceu após uma semana da grande manifestação feita por mulheres contra a violência na cidade de Rosário, como narra fonte do G1. Os agressores chegaram a dar banho, vestir a vítima e leva-la ao hospital alegando que ela havia sofrido overdose.

Outro caso que chocou a sociedade foi o do promotor de Justiça Theodoro Alexandre, do Rio Grande do Sul, que humilhou uma menina de 14 anos que fora violentada pelo próprio pai. A adolescente foi a julgamento por pedir o direito do aborto, a gravidez consequência dos constantes abusos. A frase usada pelo magistrado infligiram na vítima outra forma de agressão, a psicológica: “Pra abrir as pernas e dar o rabo pra um cara tu tem maturidade, tu é autossuficiente, e pra assumir uma criança tu não tem?”.  – Aqui

O STJ afirma que a palavra da vítima funciona na justiça. Mas, infelizmente vemos que as mulheres ainda sofrem do estigma e preconceito da sociedade. A humilhação que começa no momento do crime não diminui, ela só aumenta durante o processo da busca por justiça. E isso fica claro com os dois casos já citados e não é incomum ver mulheres que relatam em depoimentos que foram criticadas e ofendidas desde o minuto em que decidem realizar a queixa.

Como aconteceu com a vítima de estupro coletivo em São Gonçalo no início deste mês. Os policiais militares a colocaram na viatura junto a dois de seus agressores. O caso será investigado e os policiais responsáveis, assim como o comissário da Polícia Civil, podem ser punidos por violação dos direitos humanos.  – Aqui

“Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher. Minha mãe e minha filha, minha irmã, minha menina. Mas sou minha, só minha e não de quem quiser. Sou Deus, tua Deusa, meu amor…” – 1º de Julho (1994)

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  • Agressões físicas e psicológicas

Uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc trouxe dados alarmantes, cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil a cada dois minutos. Apesar do número ser menor do que há 10 anos, ainda temos um quadro preocupante com relação a como a mulher é vista na sociedade. A queda é atribuída a criação da Lei Maria da Penha, sancionada há exatos 10 anos, como se pode ler em matéria realizada pelo Estadão em 2011. Mas, na prática ela funciona?

Gazire atenta que a lei precisa passar por reformulações, nesse momento existem mais de 60 projetos que tentam altera-la. E boa parte das propostas pedem mais rigor na aplicação da lei e por mais assistência às vítimas. “Boa parte das propostas de alteração, que pedem mais rigor na aplicação da lei e também pede mais assistência às vítimas, são feitas por comissões ligadas aos direitos das mulheres. O grande problema é que há uma pressa, e creio um interesse por bancadas opostas de acelerar o processo de tramitação de algumas dessas propostas, que não conseguem, muitas vezes ganhar fôlego e são arquivadas”, finaliza.

“Gostaria de não saber destes crimes atrozes é todo dia agora e o que vamos fazer? Quero voar pra bem longe mas hoje não dá. Não sei o que pensar e nem o que dizer. Só nos sobrou do amor a falta que ficou…” – Os Anjos (1993)

Foto retirada do site HuffPost Brasil
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  • A solução

Em tempos há uma discussão em aberto sobre como prevenir a violência contra mulher. É preciso educar, conscientizar e discutir sobre gênero. Para isso temos grupos ativos que denominamos como feministas. Mas o que é o feminismo e qual o papel dele na sociedade? Gazire nos explica que ele é fundamental: “Ele evidencia as desigualdades de poder o tempo todo, ele luta por políticas de igualdade por isso. Graças a Deusa, que ele está na ‘moda’ como dizem uns chatos por aí. Acho ótimo porque antes isso era um tema associado à poucas mulheres, e mulheres mais velhas.”.

A crescente conscientização pode ser atribuída ao fato de que hoje os casos são relatos e expostos. E em tempos de internet a notícia chega mais rápido e em maior número, “Agora vejo uma moçada, jovem, falando disso sem parar, e não importa se é só nas redes sociais. Estão falando sobre isso! Na minha juventude ninguém falava sobre feminismo. Acho que as mulheres não estão se calando mais, e isso é lindo.”, enfatiza Gazire.

Segundo o Portal Brasil o número de denúncias aumentou, como foi relatado em pesquisa publicada pelo veículo. O balanço feito pelo ligue 180, que atende vítimas de agressão, foram feitas 179 denúncias por minuto, o que nos leva a 32 mil ligações. Mas, ainda há um enorme caminho pela frente. E o que nos resta é lutar para que os direitos sejam atendidos, assim como a sociedade passar a ver a mulher como ela realmente é, ou seja, parte integrante e vivente da mesma sociedade e assim como qualquer outra pessoas lhes é dado o direito de ir e vir.

Reportagem Ana Paula Tinoco e Lucas Corrêa

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