Roda de conversa debate o consumo do crack em BH

Roda de conversa debate o consumo do crack em BH

Com o intuito de criar uma rede de discussões sobre o consumo de crack na cidade de Belo Horizonte, a Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP/MG) promoveu uma roda de conversas entre alunos, docentes, jornalistas e especialistas para debater o tema. O evento, Incursões no Território: uso de crack e práticas de cuidado, foi realizado na tarde de quinta feira, 06, no auditório da sede da escola que fica na avenida Augusto de Lima, 2061, no Barro Preto.

O objetivo do evento é criar um diálogo sobre a vida, o uso do crack e sobre os cuidados do Sistema Único de Saúde (SUS). Além de alunos e docentes, contou com a participação de especialistas e representantes de instituições ligadas à questão que envolve a saúde pública de BH.

Dentre os presentes,  o jornalista e autor do livro Que Ascenda a Primeira Pedra – Ecos da Cracolândia de Belo Horizonte, Luiz Guilherme de Almeida, 28, foi convidado a contar sobre sua vivência e experiência que originou o seu trabalho. Especializado em grandes reportagens e matérias investigativas, ele relatou sobre o processo de criação do material que originou o livro.

“O livro partiu de uma necessidade própria e da vontade de trazer uma alternativa de narrativa. Algo diferente, uma opção diversa daquela que sempre é oferecida pelos meios de comunicação.”, explica. A ideia de abordar o tema surgiu quando Luiz de Almeida iniciou na graduação de comunicação social. Após dois anos de estudos, pesquisas e preparação, iniciou sua imersão em campo que durou outros dois anos de trabalho.

Neste período, o jornalista se empenhou em conseguir acessar os usuários de crack que vivem em situação de rua na cidade de Belo Horizonte. Alternando entre o dia, noite e madrugada, ele destacou a ajuda que teve de projetos sociais para conseguir conhecer as pessoas e desvendar as histórias particulares de cada uma delas, considerando como um  “trabalho de retalhos”.

Para ele, algumas discussões são fundamentais para o tema, “as pessoas tem que entender é que a desintoxicação do usuário é apenas um dos passos necessários para trazer de volta essa pessoa ao convívio social. Ali existe um ser humano. Vai além da questão da dependência química e falhamos em entender que seja somente isso.”.

Outro fator que o jornalista defende é o incômodo gerado pelas pessoas que consomem o crack à vista da sociedade, “a gente só fala do crack pelo fato das pessoas estarem consumindo de forma exposta. Se essas pessoas estivessem nas favelas, isso não incomodaria e não existiria o debate sobre o tema.”, finaliza.  

Medidas Públicas contra o consumo do crack

De acordo com dados publicados pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), 370 mil pessoas fazem o uso constante do crack no Brasil, isso até o ano de 2013. Em Belo Horizonte, esse número é de 5 mil, sendo a maioria de mulheres, dentre elas, crianças.

A psicóloga Ana Regina Machado, 47, representante do Núcleo de Redes de Atenção à Saúde (ESP/MG), conta que a iniciativa da roda de conversa surgiu com a publicação do livro do jornalista Luiz Guilherme de Almeida. “Temos aqui na escola um núcleo que trabalha com saúde mental. A partir disso, criamos o debate para pensar em soluções que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem utilizado para fazer uma abordagem no campo da saúde, em relação a essas pessoas que estão na rua e são usuárias de droga, utilizando do trabalho de observação realizado por Almeida.”, comentou.

O tema, de acordo com a psicóloga, é abordado com alarmismo pela sociedade e pela mídia. Ainda ressalta que o uso do crack é prejudicial mas que existem outras drogas que também trazem prejuízos e danos aos seus usuários mas que não são abordados da mesma maneira por eles.

Rita Espindola, 52, psicóloga e docente da ESP/MG, destaca a importância da realização de um evento como esse. Ela integra uma equipe de profissionais da saúde que vão às ruas da cidade de Belo Horizonte para mapear, conhecer e identificar os locais e as pessoas que fazem a utilização do crack, integrando a ferramenta conhecida por “Consultório da Rua”.

“É necessário desconstruir a imagem do crack. Existem fatores que vão além do consumo dessa droga. São fatores sociais, fatores psicológicos, biológicos e familiares que existem. O crack é muito utilizado com o álcool que, apesar de ser uma droga lícita, se misturado acaba se tornando extremamente prejudicial”, comentou Espíndola.

De acordo com a docente, o mais importante do consultório é a possibilidade de conhecer e poder ouvir as pessoas que se encontram nessa situação. “O que menos nos interessa é a droga. Na verdade, o que buscamos, é a vida que está ali, na rua, fazendo o consumo dessas substâncias. Esse sujeito é quem vai nortear o que pode ser construído para transformar sua própria realidade”.

Fotografia e Reportagem: Lucas D’Ambrosio

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