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Por Melina Cattoni e Ana Luísa Arrunátegui
Fotografia: Ana Luísa Arrunátegui

 

No ano que se comemora 80 anos de tombamento cultural, a histórica cidade de Ouro Preto recebeu a 13ª edição da Mostra de Cinema. O evento que dedica e apresenta a sétima arte como patrimônio, escolheu para sede a charmosa cidade que já foi cenário de muitas produções cinematográficas. A proposta da Mostra junto à cidade faz todos os envolvidos pensarem sobre a história do cinema e do audiovisual de maneira especial. Questionamentos importantes sobre preservação e patrimônio são colocados em diálogo durante o período.

A 13ª Cine OP aproveita da conscientização da cidade e encerra o evento com a certeza que diversas temáticas foram discutidas com todos os públicos. A Universo Produção se despede e segue em frente com a 12ª edição da CineBH.

 

Por Melina Cattoni e Ana Luísa Arrunátegui
Fotografia: Ana Luísa Arrunátegui

 

Cerca de 80% do Cinema Mudo produzido se perdeu. Ao se discutir sobre patrimônio e preservação, história e memória são questões envolvidas, principalmente na indústria cinematográfica, uma vez que todo projeto ou produção gera um produto. A 13ª Mostra de Cinema de Ouro Preto discute sobre o tema em Seminário | Fronteiras do Patrimônio Audiovisual: Formação, Produção e Patrimônio no Âmbito Universitário.

Com o seminário a proposta da CineOP é debater e expor estudos de caso universitários, apresentar novas ideias e caminhos que a universidade trabalha para manter o acervo e a cultura do cinema permanente. Foi ressaltado também que produções cinematográficas são uma projeção a partir de películas, mas que existem diversos materiais que compõem este universo, como o roteiro, por exemplo, que ao preservá-lo, ali, pode-se ver as primeiras ideias de uma produção.

O primeiro questionamento ao conversar sobre a temática é por que preservar e, principalmente, o que se deve preservar. Não se sabe o motivo, mas pode-se citar desde a importância que detêm aquela obra ao simples ato de guardar para a posteridade. Já o que se deve preservar é mais complexo, cada instituição pesquisa e escolhe as obras de acordo com o seu perfil. Outra questão também discutida nas salas de aula e na CineOP é o avanço das tecnologias de produção das obras, uma vez que o digital será substituído e não se sabe a próxima evolução. Por isso, ao sair daquela discussão conscientiza-se que mais que formar novos preservadores é prepará-los para o desconhecido.

Por Ana Luísa Arrunátegui e Melina Cattoni
Fotografia: Jackson Romanelli | Universo Produção

 

Uma das temáticas da 13ª Mostra de Cinema de Ouro Preto é a Preservação do Audiovisual. Para ilustrar o tema, além da exibição do longa documental Dawson City – Tempo Congelado, de Bill Morris, a CineOP promoveu uma Coletiva com o diretor para discutir sobre o que torna uma obra ou documento patrimônio.

A obra consiste na reconstituição da história da Corrida do Ouro no Ártico Canadense, por meio de mais de 530 rolos de película produzidos entre as décadas de 1910 e 1920, mas que só foram encontrados, soterrados e congelados, em uma escavação na cidade, em torno dos anos de 1950.

Em nenhum momento do filme Morris fala diretamente sobre a importância e a necessidade da preservação, porém basta olhar para o destino final desses filmes – que, em parte, foram jogados no rio, destruídos em incêndios, viraram combustível de fogueira ou serviram para dar volume e reduzir a quantidade de água necessária para transformar uma piscina em um ringue de hóquei – e sua importância para a desmistificação desse trecho da História. Fica mais do que óbvio que a preservação é necessária e vai muito além dos filmes de Hollywood.

Chegamos então na grande questão: O que deve ser ou não ser preservado? Por qual motivo se deve guardar ou não os Stories que se posto no Instagram? Que fim se deve dar para as gravações de quando criança?

Por mais que não pareça importante, sem a preservação de gravações pessoais e de arquivos familiares, filmes excelentes como Pacific, de Marcelo Pedroso, e La Casa de Los Lúpulos, de Paula Hopf, seriam impossíveis. Hoje em dia, uma filmagem que foi feita há uma semana em uma avenida movimentada da sua cidade não representa nada. Mas, agora imagine se você tivesse uma filmagem dessa mesma avenida, porém feita cem anos atrás?

Ao ser questionado se, mesmo depois de tudo que Bill produziu e trabalhou, ele tinha chegado pelo menos próximo de uma resposta, ele comenta que a primeira barreira é a dificuldade da preservação do digital em relação ao filme e, que a pergunta não é o que deve ser preservado, mas sim, o que é possível ser preservado.

Estima-se que entre 75 e 80% de todo o cinema mudo que já foi produzido, também já foi perdido. E se engana quem acha que isso se deve somente ao descuido ou a falta de espaço físico para o armazenamento apropriado dessas películas. Grandes nomes como George Méliès, considerado um dos pais do cinema, queimou propositalmente grande parte de seu acervo, simplesmente por não ter o que fazer com aquilo e por não acreditar que seu trabalho era bom o suficiente para ser guardado.

Por Melina Cattoni e Ana Luísa Arrunátegui
Fotografia: Ana Luísa Arrunátegui

 

A tendência de exaltar a cultura do exterior também se aplica ao Cinema. Por algum tempo o Brasil tentou basear sua produção em estúdios, formato esse utilizado nos países como Estados Unidos, Índia e Japão. Nessa época, os críticos da sétima arte defendiam a produção de um cinema mais industrial, mas a partir dos anos 1960 o cenário se modifica, ao descobrir formas de imprimir a identidade verdadeiramente brasileira nas telas.

Esta transformação da linha de pensamento do Cinema Novo Brasileiro proporcionou produções que trabalhassem com as histórias nacionais – incluindo mitos e folclores – e complexidades políticas nunca antes trabalhadas dentro das dinâmicas brasileiras. O movimento tropicalista reforçou a ideia ao inserir essas dinâmicas nas músicas e expressões artísticas da época. A 13ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto abre espaço para discussão com o Seminário | Vanguarda Tropical: O Cinema e as Outras Artes.

A conversa apontou a Tropicália como um período de experimentação política e estética e, que a partir disso a linguagem das vanguardas despontaram nas produções cinematográficas, como o longa-metragem Sem Essa, Aranha, de Rogério Sganzerla. Em suma, o movimento tropicalista foi de extrema importância para início da circulação de produtos com a identidade nacional nos Cinemas e Outras Artes.

Por Melina Cattoni e Ana Luísa Arrunátegui
Fotografia: Ana Luísa Assis Arrunátegui

 

Apresentações audiovisuais e entrega de Troféu emocionaram a todos que estavam presentes no Cine-Teatro Vila Rica. Melodias ao som da Sociedade Musical Senhor Bom Jesus das Flores deram boas-vindas ao público enquanto se preparavam para Abertura da 13ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto. O evento reafirmou a temática tropical com a escolha da trilha sonora, com músicas de Caetano Veloso e Gilberto Gil, e performances artísticas durante a cerimônia. Idylla Silmarovi e Marcelo Veronez protagonizaram o show de arte e cultura, com a participação dos alunos da Escola Estadual Dom Velloso.

Ao longo da abertura, a homenageada Maria Gladys recebeu o Troféu Vila Rica em tributo aos quase sessenta anos de carreira. Em seu discurso, afirma que vem de uma geração de diversas figuras incríveis e inteligentes, e completa: “quando olho para o meu currículo e para os trabalhos que eu fiz, percebo que sou uma atriz muito brasileira”. O evento arrepiou o público e encerrou com a exibição do curta documental, Maria Gladys, uma Atriz Brasileira, de Norma Bengell e do longa Sem Essa, Aranha de Rogério Sganzerla.

Este foi um resumo da primeira noite em Ouro Preto. Fique ligado na Mostra e veja a tropicália retornar à vida na 13ª Cine OP.