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cronica jornalistica

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Por: Thainá Andressa Hoehne

Quem nunca sentiu extrema revolta diante do anúncio de um fenômeno completamente raro e incrível no céu, para, na hora “H”, nada existir além de nuvens pairando, cobrindo toda a expectativa?

Inesperadamente, quando a gente não se dá conta do que está por vir, somos pegos de surpresa, como na chuva de meteoros que inundou o céu em dezembro de 2019.

“Observadores poderão ver de 50 a 150 meteoros por hora, dependendo do local”, dizia a manchete. Com razão, não me preocupei em me programar para o show, já a imaginar que, mesmo se esperasse a hora exata, não seria capaz de ver algo, fazendo a notícia cair, rapidamente, em esquecimento.

Contudo, numa madrugada qualquer, sem motivo algum, me levanto entre as duas e três da madrugada e decido tomar um ar. Foi o que fiz. O “ar que fui tomar”, aliás, foi todo embora quando me peguei a observar vários pontos luminosos caindo do céu. No momento, nem me dei conta de que acabara de presenciar algo que já havia sido noticiado. Ao me recordar da notícia, só pensava que, se tivesse planejado, não daria tão certo. Vejo meteoros, logo existo.

Chuva de meteoros não é como nos filmes. Para quem já viu estrela cadente, basta imaginar várias delas caindo ao mesmo tempo. Nada absurdo, mas totalmente surpreendente. Um encanto sutil, que gruda na cabeça, como o flagrante de um momento único, que dificilmente se repete. Aqueles momentos que gostamos de viver, sem sombra de tédio.

Por falar em tédio, estamos, agora, imersos numa pandemia. A humanidade está amedrontada com o novo coronavírus, e, com certeza, o Brasil nunca esteve tão entediado, sem futebol, sem festa e sem buteco. Álcool? De preferência, em gel, e 70%! Ou para espantar o tédio de ficar em casa, afinal, devemos respeitar o isolamento social.

Acontece que, numa dessas, decidi ir a um monte, para assistir ao pôr do sol. Uma montanha bem alta, que serviu como opção para sair um pouco de casa, já que, mesmo antes da pandemia, eu ia até lá para me isolar. Ao cair da noite, as estrelas começaram a se mover, numa imensa fila, que parecia infinita. Quando as primeiras estrelas sumiam na escuridão, outras tantas apareciam, enfileiradas e brilhantes.

Boquiaberta, olhava para o céu, a imaginar soluções para a incógnita em minha cabeça, que iam de óvnis a um exército alienígena. Decidi procurar informações sobre o que poderia ser aquilo. Mal esperava que se tratava de, nada mais, nada menos, do que Starlink. Conversa de doido? Não! Era só eu, novamente, caindo de paraquedas num desses eventos que ocorrem no céu, sem mesmo saber do que se tratava.

Paralelamente à grave situação que o mundo enfrenta, um projeto do bilionário Elon Musk cruzou o céu do Brasil, como um trenzinho de estrelas, enganando muita gente, inclusive eu, que me sentia como uma senhorinha do interior a observar, pela primeira vez, a passagem de um avião.

Eram mais de sessenta satélites, cuja visibilidade é relativamente rara, já que a Starlink só pode ser vista, a olho nu, durante as três ou quatro semanas seguintes de seu lançamento. Futuramente, se tudo der certo, o projeto pode chegar a quarenta e dois mil satélites lançados, que circundarão a órbita terrestre  formarão um sistema global que poderá fornecer internet de alta velocidade, inclusive, a áreas rurais ou remotas.

Confesso que, após a descoberta do plano de Elon Musk, fiquei dividida. Por um lado, a humanidade se afunda em notícias ruins, assolada pelo número assustador de mortes pela covid-19, que parece não ter solução. Ao mesmo tempo, admiro a incrível capacidade humana de investir na ampliação do acesso à internet.

Em contrapartida, muitas pessoas não terão a oportunidade de olhar para o céu e presenciar algo tão benéfico à humanidade, já que estão vivendo um caos, que, em parte, pode ter sido gerado por nossa dificuldade em encontrar soluções que possam salvar vidas – ou, quem sabe, pela falta de investimentos bilionários em pesquisas da saúde.

Experimento a sensação de estar presente entre a calamidade e o brilho da nova era tecnológica. É como estar entre a vida e a morte.

 

*A crônica foi produzida sob a supervisão do professor Maurício Guilherme Silva Jr.

*Por Mariana Aroni

Como vim parar aqui? Que lugar é esse? E esse chão quente?!

– Ronc! – assustei. Que barulho é esse? – Roooonc! – Opa, algo tremeu aqui dentro. – Roonc!

Isso… está dentro da minha b-barriga?! Não sei o que é, mas dá uma vontade imensa de comer alguma coisa. Ah, deve ser essa tal fome de que mamãe tanto falava.

Andar, andar, andar… De não sei onde para não sei onde. Agora, essa tal fome está piorando! Ah, lixo! Espero que tenha alguma coisa para comer. Hummm… Cheirinho bom! Será que é pizza?!

– Sai daqui, cachorro imundo! Fica mexendo e bagunçando o lixo todo. Rasga tudo e deixa espalhado aqui. Sai! – a mulher bateu palmas de forma furiosa, e tentou me chutar.

Ela me assustou de tal forma que saí correndo, uma vez mais, para sei lá onde.

Não consigo entender: o que tem de errado comigo? Chamam-me de imundo. Eu nem sei o que é isso.

Continuo andando, a barriga continua roncando. Vixi, agora também quero água. Vou ter que parar, minhas pernas não aguentam mais. Acho que estou ficando tonto. Ah, uma sombra. Que maravilha!

Hum, que preguicinha gostosa! Acho que tirei um cochilo. Por alguns minutos, consegui me desligar dessa loucura toda, de pessoas para todo lado, asfalto quente, gente querendo me machucar.

Sai! Sai! SAAAAAAAI DAAAQUI! – Que loucura! Tive nem tempo de terminar de pensar. Antes mesmo de terminar a frase mental, já estava virando a esquina. Não estava mexendo no lixo, nem latindo. Estava, apenas, deitado na calçada. Qual era o motivo de aquele homem ficar tão bravo?

Ah, não!

– Roooooooonc! – A fome deve estar pior agora! Preciso de algo urgente para comer. Meu corpo nem se mexe direito. Onde estou? Que besteira! Nem sei por que me pergunto isso ainda. Nunca sei onde estou. Sinto saudade da mamãe e dos meus irmãozinhos. Não lembro de muita coisa.

Mamãe estava dormindo com a gente, quando ouvi um barulho muito forte e acordei. Ela começou a chorar, mas não se mexia, e saía um líquido vermelho de sua cabeça. Não sei o que é. De repente, outro barulho muito forte. E foi aí que vi uns moleques, com um pedaço de madeira na mão, correndo e rindo. Acho que mamãe estava muito mal. Ela chorava baixinho, e estava estranha. Eu tentava falar com ela, mas ela não respondia. Meus irmãozinhos estavam com medo, assim como eu. O Toby corria para debaixo de um pneu, Alissa tentava falar com mamãe, assim como eu. Martie saiu correndo atrás dos moleques, gritando e xingando eles. Não sei onde ele está agora.

TOC. TAC. BUUUM. Ah, não. Cachorrinho infeliz, quis dar um de valente e se deu mal Acho que os moleques o machucaram também. Mas, o que nós fizemos? Mamãe, mamãe! – Alissa, agora, chorava. Acho que mamãe… Ah, meu deus! Mamãe morreu!

Corri para ver Martie. Ele também não estava bem, deu-me uma última olhada e pediu para eu cuidar dos outros. Em seguida, os olhos dele se fecharam. Ele não era apenas meu irmão; era meu melhor amigo.

Voltei para ver Alissa e Toby. A tristeza me invadiu de forma brutal. Não consegui nem me aproximar dos outros. Minhas pernas não funcionavam. Tinha algo salgado escorrendo por meu rosto. Eu chorei. Não de medo, mas por perder duas das criaturas que eu mais amava.

Quando voltei, Toby havia sumido. Não o encontrei mais debaixo do pneu, nem em nenhum outro lugar. Alissa continuava abraçada à mamãe, chorando.

Alissa, precisamos sair daqui. Se aqueles moleques voltarem, vão nos machucar, também. Acho que ela percebeu a urgência e a tristeza em minha voz.

Bart, por que fizeram isso com eles? Mamãe disse para ficarmos longe dos humanos ruins e nos trouxe para cá, justamente, para ficarmos seguros. O que nós fizemos de errado? Ela me disse isso em meio a lágrimas e soluços.

Eu não sei. Eles são cruéis. Mas vamos ficar bem. Venha, precisamos nos proteger. Não encontrei Toby. Já o chamei, mas não sei onde ele está. Não podemos mais ficar aqui. Tentei parecer forte. O desespero e a tristeza me inundavam de forma que não conseguia suportar.

Não conhecia o mundo direito, mas mamãe já tinha nos preparado para o que poderia acontecer. Foi ela quem nos falou sobre a violência, a fome, a tristeza, o frio e a sede.

Alissa se convenceu do que eu falava e decidiu vir comigo. Andamos pertinho um do outro, nem sei por quanto tempo. Não encontramos Toby.

Que gracinha, mãe! São filhotinhos. Posso ficar com um? Uma menininha estava brincando com a gente. Fez carinho em mim e em Alissa. Adoramos ela!

Tadinhos! Devem estar sozinhos e perdidos. Podemos levar só um, os dois não dá. Pega a fêmea, é mais fácil de cuidar, faz menos bagunça. 

Alissa ficou radiante e me chamou para também ir. A menininha a pegou no colo. Eu as segui, andando atrás dela e de sua mãe, mas a mulher me afastou e disse que não me levaria. Eu continuei andando atrás delas, até que elas entraram em um carro e foram embora. Não consegui entender o que Alissa disse.

E eu, mais uma vez, estou perdido em devaneios. O passado é o passado. Agora, preciso encontrar algo para comer. A fome só aumenta.

Onde estou?

– Ah, Bartolomeu, pare de se perguntar isso! Você está perdido na cidade. Nunca vai saber onde está e nem para onde vai. Procure comida, que é o mais importante agora! – gritei, para mim mesmo, em minha mente.

 

*A crônica foi produzida sob a supervisão do professor Maurício Guilherme Silva Jr.

 

 

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Por Melina Cattoni

A mãe, no fim de semana, estende as roupas para a próxima semana. A filha, quando está desocupada, põe as roupas no varal a pedido da mãe. A senhora, dona de casa, para passar o tempo, pendura as roupas no varal. São muitos varais para pouca roupa, imagino se pudéssemos colocar outras coisas ali.

 

Imagino uma linha contínua e invisível. Todo local que alguém vá, é sempre acompanhada por ela. Nela é pendurado todas as experiências, pessoas, locais e, principalmente, cada sentimento presente naquela composição de fatos. Assim como para estender as roupas, podemos colocar essas composições à nossa maneira, com pregadores para fixá-las melhor, ou apenas colocar por cima da linha sem amarras. Ah, e claro, também podemos escolher o tamanho do espaço que ocupam.

 

O uso dos pregadores é para situações especiais, aquelas que queremos sempre por perto. Já, as colocadas por cima, são aquelas que são livres. Às vezes as esquecemos e outras vezes está presente. E em todas essas, temos a presença do vento, do sol e da chuva. Ah, o danado vento! Sempre com brisas leves ou ventanias intensas que derrubam tudo pela frente. Às vezes, é quem nos mostra o que está como passageiro ou como inquilino. E o sol e a chuva, nos mostram a resistência daquela composição. Talvez devêssemos olhar os espaços vazio em nosso varal.