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Manifestação

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Segundo o dito popular o ano só começa depois do Carnaval. Mas para os coletivos dedicados aos movimentos sociais o ano já começou. É o caso do bloco “Pula Catraca”. De acordo com um dos colaboradores do Tarifa Zero e organizadores do bloco, Eduardo Macedo, a idéia do bloco veio da junção do lúdico  com a contestação política. “O ato de pular carnaval e catraca  como forma de mensagem cultural e política ante uma pauta que vem mobilizando milhares em todo o país”, explica.

Intitulado por “EnsaiATO: Bloco Pula Catraca Contra o aumento!”, hoje, às 18h, ocorrerá o terceiro ensaio do grupo de foliões, na Av. Brasil, nº 41. Não está prevista passeata, embora na fanpage do bloco, os organizadores peçam que foliões levem para o local tinta guache e cabos de vassoura para fazerem os cartazes. Macedo explica que, os ensaios são chamados “ensaiato” porque eles estão no meio de uma luta contra o aumento da tarifa dos tranportes coletivos na Região Metropolitana de BH (RMBH). “Não se pode perder isso de vista. Entendemos que a alegria do carnaval pode fortalecer a  luta”.

Nos dois primeiros ensaios, cerca de 250 pessoas compareceram para treinar a marchinha desse ano, Bibi Fomfom, que fala sobre a prioridade do automóvel na sociedade em que vivemos atualmente.

Ônibus

Durante o Carnaval de 2014, o movimento Tarifa Zero circulou com um ônibus gratuito na capital mineira para que os foliões pudessem se deslocar de um bairro para outro durante os 4 dias de festa. Em 2015, segundo Eduardo Macedo não será diferente. Além de servir como transporte público, a “busona” (como se referem ao ônibus) também servirá de carro alegórico para o bloco Pula Catraca.

Por: Luna Pontone

Foto: Divulgação

Todo fim de ano a história se repete. Pessoas felizes se preparando para o Natal, uma expectativa imensa para o ano que está por vir e o aumento da tarifa do transporte público. No ano de 2013, milhares de pessoas foram as ruas protestar contra o aumento das tarifas. Porém, nada mudou, os valores ficaram congelados por um tempo. Em abril de 2014, o reajuste foi aprovado e as passagem foram de R$ 2,60 para R$ 2,85.

No dia 28 de dezembro de 2014, os belorizontinos foram pegos de surpresa com o novo aumento das tarifas, que passaram de R$ 2,85 para R$ 3,10, causando revolta nas redes sociais. O estudante João Paulo Barbosa, 20, estava viajando e não sabia do aumento da tarifa, somente quando foi subir no transporte coletivo, sentiu o peso do aumento. “Estava descendo na rodoviária e como estava cheio de malas, separei o dinheiro. Quando o cobrador me informou que era R$ 3,10, levei um susto, foi pra um valor muito alto.” destacou o jovem.

Atos contra a Tarifa

Manifestações contra o aumento da tarifa foram programadas após a mudança nos preços. A primeira concentração, próxima a uma estação do BRT MOVE, teve pouco mais de 30 pessoas. A última manifestação, que ocorreu na sexta-feira, 09, cerca de 500 pessoas participaram do ato. A reunião foi no quarteirão fechado da Av. Afonso Pena, entre a Praça Sete e a rua Tamoios. Durante o protesto, os manifestantes fizeram uma passeata até uma estação do BRT na Av. Antônio Carlos.

Ainda na sexta-feira, 09, o desembargador Elias Camilo, da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), decretou a suspensão do aumento das tarifas para as linhas suplementares da capital. De acordo com ele, a decisão do aumento da passagem para os ônibus dessa linha é dever do chefe do poder executivo do município e não da BHTrans. Contudo, as linhas regulares e metropolitanas mantém o aumento realizado pela  portaria BHTRANS DPR Nº 144 de 26 de dezembro. O coletivo Tarifa Zero BH já organiza um 2º Ato Contra a Tarifa. O proposito da manifestação, de acordo com o evento marcado nas redes sociais, é tornar a suspensão definitiva e fazer com que englobe as outras linhas também. A concentração está marcada para está sexta-feira, dia 16, às 17hs na Praça Sete.

Texto: Luna Pontone

Foto: Yuran Khan

Um ano após o grande movimento que levou milhares de brasileiros às ruas, as manifestações ainda são alvo dos veículos de comunicação e causam polêmica. Tendo grande parte dos brasileiros dividindo opiniões entre ser a favor ou não, manifestantes continuam indo para as ruas em época de Copa do Mundo para mostrar sua indignação pela falta de respeito que o Governo trata sua população, não dando a eles seus direitos por completo.

O professor de Sociologia da UFMG Yurij Castelfranchi, a aluna de arquitetura membro do movimento Tarifa Zero Ana Caroline Azevedo e o Historiador Lucas Souto responderam algumas perguntas mostrando seus diferentes pontos de vista diante das manifestações ocorridas no passado que se estendem até hoje.

O que você acha que pode ser considerado o estopim da população querer organizar uma manifestação por tudo e sair depredando patrimônios públicos?

 Yurij Esta pergunta são 2 perguntas, e a resposta seria muito longa, então vou dividir. Mas, na minha opinião, a pergunta é formulada de maneira errada, por duas razões: não houve manifestação por tudo (foi mais complicado do que isso) e não houve “população sair depredando” patrimônio. Vou explicar:

 – No brasil não havia manifestações grandes há muitos anos e as manifestações com repressão violenta ou com atos de depredação eram pequenas e normalmente localizadas em lugares longe da atenção da mídia (ex.: amazônia, áreas rurais, periferias e favelas), por isso o público, e também muitos jornalistas, não estavam acostumados a ver tanta violência da polícia e tantas reações da população. Por tais razões, os enfrentamentos violentos nas manifestações, e as depredações, foram descritos com tanto clamor. Mas, se formos olhar com objetividade, de um lado, a porcentagem de pessoas envolvidas em enfrentamentos violentos foi sempre extremamente pequena: em junho do ano passado, manifestações que envolveram, no total, muitas centenas de milhares de pessoas no Brasil, tiveram algumas centenas de pessoas envolvidas em enfrentamentos violentos ou crimes: uma porcentagem muito baixa, comparável com a taxa de crime, por exemplo, entre operadores de muitas áreas importantes no Brasil, como policiais ou políticos. Não foi, então a “população” que saiu depredando, mas uma fatia muito grande da população que saiu  manifestando pacificamente. Os focos de violência foram agravados de forma marcada, a meu ver, nos casos em que a repressão da polícia se deu de forma indiscriminada e confusa, como aconteceu, no ano passado, por exemplo no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Neste ano, em BH, as manifestações foram muito menores, muito pequenas. Mesmo assim, tratou-se de algumas milhares de pessoas participando, e apenas casos de enfrentamento violento com a polícia muito limitado, envolvendo muito poucas pessoas. Eu não diria que a população sai depredando, mas que uma parte (antes grande, agora pequena) da população saiu manifestando.

Sobre as pautas da manifestação, acho que o jornalismo brasileiro, diferente do europeu, estava despreparado para entender este tipo de fenômeno, e não foi entender suas pautas porque não sabia como lidar com uma movimentação que não um “chefe de partido”, uma liderança, um único porta voz. Mas com certeza não foi “por tudo” que os manifestantes manifestaram. O grande estopim das manifestações foi muito claro e único: um grito de protesto contra uma maneira de funcionamento da política (e da democracia) que é visto como inaceitável. Nossos representantes, tanto no nível local quanto federal, são eleitos democraticamente. O que as manifestações nos disseram é que isso não significa que a população aceite delegar aos representantes democraticamente eleito qualquer escolha em nome dos eleitores: estão pedindo transparência real, participação real, influência nas deliberações. Este tipo de protesto contra o funcionamento da política tomou a forma de duas principais reivindicações: contra a corrupção, de um lado, e em favor de um uso mais transparente dos recursos e ouvindo mais a voz da população. Por isso, o estopim, no ano passado, foi o aumento das passagem de ônibus, em cidades onde as prefeituras não prestavam conta de forma transparente de como eram feitas as concessões, de porque a passagem tinha que ser aumentada se as empresas já possuiam lucros extremamente grandes, etc. Em suma, os protestos pegam como “gancho”, como “lead”, muitas coisas, locais ou nacionais (ex.: em BH, Fica Ficus, o viaduto e sua reforma, as ocupações urbanas, a mobilidade, etc.), mas a mensagem é só uma: o funcionamento da máquina política está  errado, e os manifestantes não aceitam mais que os problemas sejam resolvidos “de portas fechadas”.

 Ana Caroline – Não existe isso de manifestação por tudo, todas as manifestações tem pautas definidas e discutidas anteriormente em assembléias, nas reuniões dos movimentos sociais. O estopim é o descaso do poder público para com a população, né? Na copa, vimos milhares de pessoas sendo retiradas de suas casas, políticas higienistas com moradores de ruas, proibição do trabalho de alguns profissionais informais, como os barraqueiros do Mineirão e os pipoqueiros, passagem cara demais em comparação com o salário médio de BH, etc. Todas as pautas muito legítimas que merecem atenção do governo.

Lucas Souto – Os motivos que levam as pessoas a se manifestarem são múltiplos. Passa por desigualdades sociais históricas, que levam a formação de movimentos por direitos das chamadas ‘minorias’, à péssima qualidade dos serviços públicos ofertados por municípios, estado e federação. Claramente nas jornadas de junho do ano passado, e do junho atual, os holofotes da Copa das Confederações e Copa do Mundo fez com que muitos movimentos sociais ganhassem juntos as ruas. As depredações, ou a chamada ‘ação direta’, faz parte da posição daqueles que adotam a tática black bloc. Quem já vivenciou uma manifestação pessoalmente sabe que a parcela dos que adotam essa tática é mínima, até mesmo por uma falta de disposição a esse tipo de enfrentamento físico. A imprensa muitas vezes tenta fazer essa vinculação direta, “manifetação/depredação”, para justificar uma ação rígida da polícia. Como muita gente nunca foi a uma manifestação, acaba indo pelos noticiários e se posicionando contra o ato de se manifestar, o que, ao meu ver, é lamentável.

Antigamente as manifestações não eram tão frequentes como hoje. E tudo ficou mais evidente, pelo menos a meu ver, depois das manifestações ocorridas em Junho/Julho do ano passado. Você acha que a voz do povo perdeu força nas manifestações deste ano?

 Yurij  –  Sim, claro. A onda de junho foi muito grande e surpreendente, e está ligada tanto a problemas internos da política brasileira, quanto ao fenômeno global dos protestos “em rede”. Este ano as movimentações agregaram muito menos pessoas, e perderam sua força. Isso devido à vários fatores. Em primeiro lugar, as eleições que estão chegando: de um lado, pessoas que foram juntas nas manifestações no ano passado, agora não querem se juntar, pois agora apoiam partidos diferentes. As pessoas que estão com medo de que o Governo Dilma possa perder, e dar lugar a um governo mais autoritário ou mais corrupto, não querem agora protestar, preocupadas. As pessoas que, ao contrário, são adversárias do atual governo e querem outros grupos no poder, não querem agora correr o risco de enfraquecer políticos locais que podem ser importantes na corrida eleitoral contra o Governo Federal, e não querem juntar-se a movimentos considerados de esquerda. Além disso, o movimento do ano passado não conseguiu agregar de forma estável as pessoas, e as manifestações durante a copa do mundo são consideradas problemáticas, ou injustas, por muitas pessoas.

Ana Caroline – Não, apesar da campanha midiática pra criminalizar as manifestações, como você mesma resumiu na primeira pergunta como “quebrar tudo” e isso não é verdade, de maneira alguma, os movimentos sociais que já existiam antes ou que surgiram a partir de junho de 2013, ficaram fortalecidos. A gente teve tempo pra estudar, agregar gente, se preparar e tornar as reivindicações mais concretas. Isso não é perder voz, mas ir às ruas de forma pautas específicas.

Lucas Souto – Não. Manifestações de rua sempre aconteceram no Brasil, mas normalmente muito vinculados a movimentos sociais, o que tornava seu volume de participantes pequeno. Aqui em Belo Horizonte mesmo é só observar o “Grito dos Excluídos”, que ocorre anualmente em todo sete de setembro. O que foi visto em junho de 2013 foi algo que surpreendeu a todos pelo volume. Pessoas que até então não estavam junto aos movimentos sociais, acabaram somando as manifestações chamadas pelos movimentos sociais – como na origem de tudo, o Movimento Passe-Livre de São Paulo. Essa presença massiva, que tem muito a ver com as crescentes revoltas populares no exterior, pegou todos de surpresa. Aquela massa era múltipla. Tinham instituições ligadas a partidos; tinham pessoas que tiveram um espasmo cívico; etc. Mas o decorrer do ano trouxe uma nova postura de muitas instituições que, ligadas ao governo, resolveram não apoiar os atos contra a Copa da FIFA. Muitas pessoas já começaram a vislumbrar as eleições e resolveram não ir as ruas. Muita gente ficou com medo do terror implantado pelas promessas de forte aparato repressivo e decidiu ficar em casa. Muita gente realmente estava perdida naquelas marchas e decidiu voltar a sua posição de origem, ignorando aquilo que as levou as ruas em 2013. Creio que quem está indo as ruas agora são aqueles mesmos grupos sociais que já iam  antes das jornadas da Copa das Confederações. E suas causas são legítimas e muito importantes.

 O que você acha da repressão por parte dos militares ao tentar abafar a situação?

 Yurij  As estratégias de repressão mudaram em vários aspectos, neste ano, as forças de polícia chegaram mais organizadas e preparadas, mas há diferenças grandes em cidades e com diferentes tipo de manifestantes. Em alguns casos, houve erros ou abusos graves das forças de polícia, já denunciados às autoridades.

 Ana Caroline A repressão policial é descabida, desproporcional. Uma das pautas é a desmilitarização da polícia e o fim do modus operandi que sobrou da Ditadura Militar no país. Não podemos aceitar esse estado de exceção imposto durante a copa em que manifestantes são perseguidos e torturados, protestos são cercados e impedidos de acontecer, e a nossa liberdade de expressão e manifestação completamente cerceada.

Lucas Souto – Acho desproporcional e, muitas vezes, ilegal. Já nas jornadas de 2013 assistimos uma série de pessoas gravemente feridas por estilhaços de bombas de gás, balas de borracha acima da linha da cintura e espancamentos físicos. Não só entre os manifestantes, mas também membros da imprensa. A truculência da repressão mostra um despreparo enorme para lidar com o público. Despreparo que vemos no cotidiano, com desrespeitos em abordagens e blitz, e que ganha ar de sadismo quando vemos as notícias de espancamento de ativistas. Aqui em Belo Horizonte mesmo, nesse momento tão importante e de manifestações já esperadas, a Polícia Militar está ser Ouvidor de Polícia, principal cargo para denúncias de abusos na instituição. Ou seja, as questões são muito bem orquestradas para que a repressão seja feita de uma maneira agressiva e ostensiva, que gere temor nas pessoas de se irem as ruas protestar. Táticas que, para mim, não condizem com um estado democrático.

 As manifestações são realmente uma boa alternativa para a população ir em busca de seus direitos?

 Yurij – Manifestações não podem ser uma alternativa, a meu ver: ou seja, é impossível fazer política ou pedir direito só manifestando. As manifestações não são uma alternativa, mas um sintoma de algo que não está funcionando, e que os políticos deveriam escutar com atenção. E são um importantíssimo meio, complementar, para aprender a fazer política. E um importante instrumento de cobrança e de luta. Eu vejo nessas manifestações um momento muito importante para a democracia no Brasil, especialmente pela presença, nelas, de pessoas que raramente participaram de manifestações no centro da cidade (moradores de periferia, jovens que não faziam política, etc.).

Ana Caroline –  Ir às ruas reivindicar direitos é uma forma importante de mostrar que nós estamos aqui, cientes dos nossos direitos e que nós vamos lutar por cada um deles. Além disso, é também uma forma de retomar a cidade, entregue aos automóveis, ao consumo e a publicidade.

 Lucas Souto – Bem além de ser ou não uma alternativa, o ato de manifestar é um direito amparado na Constituição. As manifestações de rua são cotidianamente vistas em outros países. Santiago, no Chile, está passando por uma série de manifestações de rua essa semana por conta da luta estundantil pela educação superior pública e de qualidade. Há poucos dias milhares de espanhóis foram as ruas pedindo pela república quando o rei local abdicou. O ato de manifestar é justo e traz um enorme aprendizado de direitos e deveres para quem o faz. Com isso, acho importante que elas aconteçam e que se tornem um hábito dos brasileiros.

A força como a policia está agindo para conter os manifestantes – você acredita que esse pode ser um bom caminho a ser seguido pelo PMs, visando as duas manifestações pacificas ocorridas nas últimas semanas?

 Yurij  – A tática do cercamento dos manifestantes possui, a meu ver, efeitos muito negativos, embora possa resolver alguns problemas táticos imediatos. Mas não sou especialista em segurança pública e não posso opinar.

 Ana Caroline –  Não, de jeito nenhum. O que eles estão fazendo é impedir as manifestações de acontecerem, e isso é uma suspensão do nosso direito garantido em constituição de protestar.

 Lucas Souto – Não. A tática do “caldeirão de Hamburgo” (Hamburger Kessel) adotada pela polícia na manifestação da Praça Sete é alvo de críticas internacionais há anos. No Brasil ainda fere o artigo 5º da Constituição Federal em diversos pontos. Não se pode criminalizar as manifestações, como o ato de ir a rua em si já fosse passível de que a polícia impeça o direito de ir e vir das pessoas. Se as forças policiais são incapazes de distinguir quem comete um crime, como depredação, de alguém que está apenas caminhando diante de uma manifestação, ela é incompetente. Logo, a tática inconstitucional de impedir as pessoas de deslocarem pelo território da sua cidade e país, visando atender os interesses de um governo e instituição internacional (FIFA), não são nem um pouco positivas.

Texto: Bárbara Carvalhaes
Fotos: João Alves e Lívia Tostes

Era Dia dos Namorados e o caminho para casa incluía a Praça da Liberdade como rota. Dessa vez, havia algo no ar e não era o “enamoramento” dos vários casais que já tem o costume de estar na praça com ares de romantismo europeu. Dezenas de policiais circulavam por todas vias no entorno, várias viaturas chegavam fechando as ruas, cercos eram montados: uma praça de guerra era montada bem à minha vista. Me aproximei mais rápido para ver o que acontecia.

Um saxofonista, que pensava em faturar uns trocados na data, mudou de música quando a polícia tomou a praça. Não tenho ideia se era sua intenção, mas a marcha fúnebre que saiu tocando combinou com o clima que se instaurou naquela momento. Muitos casais dispersaram antes ainda de entender o que estava acontecendo; talvez até mesmo Cupido esteja mais precavido nos dias de hoje. Pouco tempo depois depois da chegada da polícia, vi as bandeiras vermelhas subindo a Avenida João Pinheiro. Mesmo imbuído da minha função (apurar todo o desenrolar da manifestação) e embora estivesse calmo, não pude evitar um arrepio de temor diante do cenário que se desenhava.

A polícia se posicionou em toda praça, com efetivo suficiente para fechar todas as ruas em volta e ainda sobrava gente para ficar em frente ao relógio da Copa – sim, falo do relógio que a Coca-Cola instalou por lá para fazer a contagem regressiva da temporada de futebol (se esse fosse um relato gonzo, eu escreveria “temporada de medo e delírio” no lugar). Ao contrário da força policial, os manifestantes não estavam em número tão expressivo. O grupo se aproximava enquanto a última porta do Xodó era fechada. O barulho não entrou bem em meus ouvidos.

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Eram exatamente 16h, quando uma linha invisível delimitou o posicionamento de manifestantes e policiais na praça; frente a frente, ambos os lados esperavam por algum movimento, alguma ação, uma faísca. A faixa invisível só não era respeitada pela imprensa, que sempre se embrenhava entre os dois grupos para ter bons registros. A linha de frente do grupo que protestava era formada por alguns mascarados, um pessoal com estilo punk e cabelos espetados, jovens e senhoras – destaco senhoras, por que não vi nenhum senhor por lá, pelo menos não à frente. Os policiais estavam imóveis, bravamente posicionados (atrás de escudos e bem armados) defronte ao fatídico relógio. Ninguém tocaria nele desta vez, nenhuma pedra o arranharia, diferente do que aconteceu nas Jornadas de Junho no ano passado. Havia forte aparato policial para garantir sua segurança desta vez.

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Contra a barreira policial os manifestantes puxaram gritos, como “olha que idiota, tá defendendo o relógio da Copa!”. Os agentes permaneciam imóveis. Até que, em certo momento, um pequeno aglomerado de manifestantes começou a queimar a bandeira do Brasil, mas o vento atrapalhou, apagando a intenção deles. Foi nesse momento em que ouvi os primeiros disparos, juntamente com o corre-corre, o gás lacrimogêneo e as pedras. Consegui ver que um manifestante havia se machucada e outro voltava para socorre-lo, mantendo as mãos sempre para cima. Ao redor: bombas de gás versus pedras. Difícil escrever “enfrentamento” para definir isso.

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Enquanto agentes policiais marchavam, uma senhora desabafou aos berros: “a população está ferida, mas o relógio está intacto! Parabéns, vocês conseguiram!”. Uma outra debochou: “a gente só queria dar um abraço no relógio, mas vocês não deixaram”. Com a praça esvaziada, mantendo formação, escudos à frente, a polícia passou a cercar outras vias.

Eram 16h20 quando um grupo de policiais saiu da praça, passou pelo prédio da biblioteca pública para enfim bloquear a Rua da Bahia. De mãos dadas com a namorada sigo para o programa romântico da tarde: vou atrás deste destacamento. Lágrimas correm pelo meu rosto e não é choro sensível pela data comercial, é o efeito do gás que já me cega. Ela assume a câmera até que eu me recupere.

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Os policiais cercaram a Rua da Bahia, mantendo duas filas de agentes. Estamos logo atrás dessa sólida formação. Afora os policiais, somos três: dois estudantes de Jornalismo – no meio de confusão de sentimentos – e um repórter de O Tempo. Enquanto acompanhamos e registramos a ação, dois policiais saíram de suas posições oficiais e se aproximaram de nós. Eu carregava uma mochila e não tinha credencial de imprensa, além disso, fotografava do celular; Guilherme Ávila, o jornalista do O Tempo, tinha credencial, uma GoPro na cabeça, câmera profissional na mão e nada de mochila. Não sei se eu usava um manto de invisibilidade ou se um repórter de jornalão, naquele momento, era mais visado para a abordagem policial, mas o caso é que os agentes me ignoraram e foram direto até Ávila. Só depois de ver a credencial, pedir seu documento de identidade, fazer vistoria corporal e fotografá-lo é que os PMs se lembraram que eu estava lá e pediram para ver o que havia na mochila sem se importar muito com o conteúdo.

Depois da revista, fizemos trajeto contrário ao ato e seguimos pela Rua da Bahia até a proximidade do Minas Tênis Clube, trocando informações com a redação. Sabíamos que com a mochila passaríamos por revistas constantemente e precisávamos nos desfazer dela. Em todo o trajeto havia circulação de policiais. Um professor universitário aparece afobado querendo saber o que estava acontecendo, o som dos tiros o assustaram. Quando explicamos ouvimos uma resposta que me fez cogitar que ele pudesse ser a própria Joana Havelange: “acho que agora não tem mais que protestar, afinal, já gastou muito dinheiro, o que tinha que ser roubado já foi roubado. Agora é nas urnas”.

De novo, o caminho de casa é o caminho da manifestação. Seguimos pela Avenida Bias Fortes. Alguns moradores estavam fora de suas casas com cara de medo. Observamos algumas pichações novas nos muros. “Vocês estão nas manifestações?”, indaga uma senhora. Explicamos que estávamos cobrindo o ato. “Tá uma bagunça, uma baderna, eu se fosse vocês passava por outro caminho”, disse ela. Expliquei que aquele também era nosso caminho para casa. “Boa sorte”.

  Texto por Alex Bessas
  Fotos: João Alves, Alex Bessas e Franciele Carvalho

Em forma de festa, o movimento Tarifa Zero (TZ) reuniu cerca de 100 pessoas na Avenida Nossa Senhora do Carmo, em frente ao Chevrolet Hall, na última sexta feira, 06. A concentração começou por volta das 17 horas, onde os manifestantes começaram a organizar a festa. Dentre as pautas levantadas, a ocupação do espaço público, o gasto abusivo da Copa do Mundo e claro, a redução da tarifa.

 Em mutirão, voluntários colaram bandeirinhas, arrumaram o som e se prepararam para a festa. Antes de fecharem a rua, alguns manifestantes fizeram um deboche em forma de entrevista usando máscaras de figuras conhecidas, como Márcio Lacerda, prefeito da cidade e Ramon Victor César, presidente da BH Trans. A locutora fazia chamadas típicas de festa junina com problemas apontados pelo TZ. “Olha o metrô do Barreiro” dizia a locutora, enquanto os manifestantes respondiam “é mentira”.

 Os manifestantes começaram o ato fechando a faixa lateral da avenida, sentido o bairro Belvedere. Logo depois, fecharam mais duas faixas do canteiro central da avenida, causando transtorno para a população. Guardas municipais instruíam os motoristas no local a fazerem o retorno.

 Segundo o organizador Eduardo Macedo, o ato em forma de festa junina é o primeiro com uma temática. Alguns manifestantes foram vestidos a caráter para o ato. Vendedores ambulantes participaram da festa, vendendo cerveja e até acessórios com as cores da seleção canarinho. Por volta das 20 horas, os manifestantes começaram a dançar quadrilha e queimaram uma catraca, que simbolizava uma fogueira da festa junina.

“As manifestações vão continuar, principalmente no período da Copa”, disse Eduardo Macedo, integrante do TZ. Recentemente, houve um aumento de 7,5% no valor da passagem metropolitana.

Texto e foto por: Cassiano Freitas e Lívia Tostes

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Desde 2011, o dia 15 de maio é conhecido como Dia Nacional de Mobilizações e Lutas Populares. E para marcar a data, o movimento Tarifa Zero organiza uma mobilização na internet contra o aumento da tarifa, que se deu no último sábado, 10 de maio. O evento intitulado 15M, está marcado para as 17h, de amanhã, na Praça Raul Soares, no centro da capital.

Mostra Cineclube Comum no Sesc Palladium debate Movimentos Populares

 Ao longo do mês de maio, o espaço exibe a Mostra Cineclube Comum: Políticas do Cinema Contemporâneo, onde vários documentários e longas, estão sendo exibidos e discutidos. Na sessão desta quinta-feira, 15, às 20h, a mostra exibe o documentário “Rumo a Madri”, de Sylvain George, que apresenta pontos de vista, cenas e momentos da luta de classes em Madri através do Movimento 15 M, o primeiro grande movimento popular do começo do século 21. Após a exibição do documentário, ocorre o bate papo com a cineasta Junia Torres.

“O movimento “Los indignados” representa um fenômeno único para os nossos tempos. Ele trouxe de volta conceitos e ideias que pareciam ter sido esquecidos. Este é um filme que retrata sua época e fala sobre os anos da crise internacional, através de vozes dos manifestantes, onde a única solução para a economia espanhola em ruínas parece ser a luta de classes.”  (Cine France)

Por: Luna Pontone

Foto: Retirada do site 37º mostra internacional de cinema de São Paulo