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Poligrafias

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Por Jean Lescano – Poligrafias – Parceiros Contramão Hub

Careço de você. Isso aí, tô carecendo. Carecer é urgência, é te sentir bem perto e entrar em pane por minutos. É entender que não tem escapatória, que meu calmante é teu abraço. Não dá pra empurrar mais ninguém. Tem que ser da sua maneira, essa que resolve tudo – só não resolve nós dois. Mas é com você, você topa? Você quem sabe, eu nem me incomodaria se meu braço começasse a formigar durante uma tarde no sofá. Nem ligaria se você começasse o cafuné, “Tá bom assim?”, ô se tá. É que tu sabe quando ir embora, só não sabe voltar. Por isso eu vim avisar, tô carecendo de você.

Mas me chama de algo novo, não vem com essa de “amor”. Tem que ter um novo, amor não rola. Paixão? É bem menos pesado e não carrega obrigação. Por que sentimento tem que ter nome? Eu aprendi assim, desculpa. Bora criar algo novo? Esconder de outro casal. Um nome tão besta e engraçado, igualzinho você no meu abraço. Sem esse lance de medir, que tal “Frieden?” Carrega um significado gostoso de ver, tão gostoso quanto seu sorriso que se mistura ao céu azul e imenso. Mas quer saber? Sem pressa, a gente encontra algo. Quando vierem com a pergunta do que eu sinto, vou dizer, “Ainda não tem nome, mas o sorriso é lindão”.

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Por Yamí Couto – Poligrafias – Parceiros Contramão Hub

Tá pronta para ter disciplina? Ser uma boa menina como todo mundo acha que você deve ser? Você está preparada? Preparada para falar sem questionar, aceitar o que o sistema te falar, rir e perguntar na hora que qualquer outra pessoa mandar? Ah, mas que beleza! Temos mais uma pessoa para mandar. Mais uma força que vai fazer tudo sem questionar. Que vai entender que pensar é apenas mais uma forma de perder tempo de uma coisa que você nunca vai conseguir assimilar. Perfeito. Temos mesmo mais uma pessoa pronta para essa famosa vida adulta. Que sinta culpa se você tiver dificuldade em encontrar um bom emprego, pois não é boa o suficiente para poder entrar numa faculdade que sempre vai estar em greve, pois a cota da educação foi a primeira a ser cortada depois de não conseguirem cortar as cotas para político ladrão. Ah, mas é claro que não. Você é mais um peso para esse Estado, mina. Você tem que aceitar o seu papel de submissão. Pois quem rouba é quem faz o melhor por essa nação. Se hoje somos o país do carnaval é por deixarmos de lado pessoas mais cultas que nunca terão apoio da Elite, o que dirá do pessoal. Ah, menina… Eu fico mesmo feliz que você esteja preparada para experimentar a sua primeira cachaça depois dos dezoito anos, que agora você possa entrar nas festas para maiores e esquecer do seu nome. Fico feliz de verdade que você jamais se encontre e ouça o que as pessoas têm mais falado do que olhar para o lado de dentro e escutado. É assim mesmo.

Bem vinda mesmo, menina. Bem vinda a vida adulta onde você acha que vai se encontrar, mas é uma cilada para você continuar perdida.

Bem vinda a vida adulta onde você será mais uma nessa multidão de pessoas sorrindo por fora, mas por dentro estão mortalmente feridas. Bem vinda ao mundo adulto onde sempre vai ter alguém de fora dizendo o que vestir, o que comer ou qualquer outra coisa que você decida. Bem vinda ao mundo adulto, mina, onde você só chega a algum lugar se for tão sujo quanto eles e minta. Nós estaremos te recebendo de braços abertos e esperando roubar a sua mente e a sua língua até o momento que você não será mais útil para a nossa “humilde” carnificina.

Eu espero que você seja capaz de entender no meu texto a quantidade de ironia.
Caia fora enquanto há tempo.

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Por Rebeca Araújo –  Poligrafias – Parceiros Contramão HUB

Desde que tenho consciência de quem sou, desejo entregar uma bula a quem me conhece. Sim! Dessas que vêm em remédio e informam contra-indicações, sintomas e modo de uso. É que eu sou a instabilidade em pessoa, e acabo funcionando de formas variadas dependendo do organismo. Penso que com instrução, as pessoas lidariam melhor comigo -ou eu lidaria melhor com elas. De toda forma, ultimamente tenho pensado em entregar uma bula pra você também, que acha ser bom o suficiente pra jogar comigo. Entregar a você que, de tão convencido, seria capaz de jogar minha bula fora, mesmo sem capacidade alguma de lidar comigo sem ajuda.

Convenhamos: Você sabe que este texto é seu e ponto. Não é preciso endereçar.

Mas sou eu quem quer entender a que ponto chegamos. Porque, de inicio, deixei claro meus termos -ou pensei ter deixado! Disse que não sei lidar com a saudade. Esse era o pior sintoma que eu poderia apresentar e o mais difícil de lidar. Não que eu seja desesperada pela presença, só sinto que a falta é vazia e estar só, não agrega nada. Sendo assim, pra não deixar a relação tóxica, você só precisava não brincar de fazer falta. Eu odeio esse joguinho de quem corre atrás de quem, então reagi com total repulsa.

Pedi insistentemente que ignorasse minhas instáveis variações de humor e você pareceu concordar, entender e respeitar. Inclusive, aprendi a aceitar pacientemente sua bipolaridade teatral, prometendo relevar todas as besteiras que saíssem da sua boca, sem raciocínio, mas foi insuficiente. Você continuou agindo como se eu fosse novidade e, a cada crise, você fugiu como se não houvesse tratamento específico.

Tô confusa agora, principalmente pelos inúmeros questionamentos da sua parte. Quando cobro demais, ou sinto sua impulsividade agressiva demais, quando me importo demais e analiso demais. Não havia concordância nisso? Se você tivesse uma bula como guia, as consequências entre nós não surtiram tanto efeito. Provavelmente teríamos salvação, se você tivesse entendido minha função. Mas seu ego é tão imponente, que nem percebe o prazo de validade terminando. A minha paciência que tá acabando. Então, não aja de forma desesperada quando o prazo vencer e eu não puder ser usada mais por você.

Tudo é uma questão de interesse mesmo. Minha finalidade foi atrativa pros seus medos. Eu era tão frágil no início e você parecia tão forte e evoluído, que até pra mim, a bula pareceu descartável. Foi aí que você se tornou capaz de fingir. E logo pra cima de mim, que tenho um super poder de constatação de promessas vazias no histórico.

Que sou um problema nível tarja preta, eu sei. Só que você parecia o cara certo pra mudar minha composição. Não que eu fosse me tornar outra pessoa, ou que agiria de forma massiva a partir de então. Mas eu pretendia me tornar alguém mais leve, alguém que mais pessoas gostariam de ter no armário sabe? Só pelo simples fato de você lidar comigo, ao que parecia, tão bem.

Errei feio ao não ter te dado uma bula. É isso que tô adiando encarar.

O mais triste é perceber que pra você, a falta dela não significa nada. Você tá tão preocupado em ser bom o tempo todo, que me faz parecer ruim por exigir o mínimo. Nada está bom. Nós não estamos bem. Você não entendeu meu modo de ser e tá desperdiçando o tempo tentando. Não vai funcionar.

Era pra sermos companheiros. Era pra quando um precisar, o outro ser capaz de amenizar a dor que tentasse chegar. Entretanto, somos um e um, competindo por quem está mais certo, em quem há mais marcas, quem é mais difícil de lidar. Hoje, sua alergia a mim é tão forte, que não sou capaz mais de remediar.

No fim, talvez você não me conheça tão bem quanto eu conheço você. No fim, se o ultimo fio de esperança continuar, talvez sua bula chegue pelos correios semana que vem.

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Por Valentina Razzah – Polígrafias – Parceiros Contramão HUB

Não venha jogar pra mim as dúvidas que são suas. Os empecilhos que você cria dia após dia. As justificativas que você arruma pra se eximir da responsabilidade.

Não me venha com seus “Por que logo eu? Por que desse jeito? Nem nos conhecemos, como vamos saber se é ou não é?”, quando conhecer e ter identidade com alguém são coisas que já começam relativas por si só, e nem sempre o tempo se encarrega de fazer o trabalho.

Sabe por que esperar não vai nos dar uma resposta? Porque a verdade é que a gente só sabe se é ou se não é se arriscar e viver. Não tem como saber previamente, por causa de características que a pessoa tem ou do que quer que seja. Estamos falando de seres humanos e não de enciclopédias. De incertezas da vida e não de logaritmo.

Isso tudo é só uma desculpa pra falta de coragem.

Porque se a pessoa mexe com você e te tira do lugar você fica vulnerável. Tudo em você logo grita que não vai dar certo, vem na forma de intuição, indício ou chame como quiser. Vem na forma de se apegar até naquela unha encravada pra justificar que é melhor fugir mesmo, “é claro que não vai dar certo, olha esse signo inconstante, olha esse texto que ela postou, não sei se é o momento”.

Vem na forma dos discursos de tal outra pessoa dá mais certo, tal situação é mais “segura”, é melhor esperar, é melhor se esquivar, é melhor… Só pra fugir mesmo.

Mas nada disso é razão. É tudo menos razão. Não tem como racionalizar o amor, porque o amor não tem razão alguma. Toda pretensa racionalidade é só covardia mesmo. Não dá pra prever e criar essa lógica. Isso é que é ilógico, aliás, tentar criar lógica pro que tem sua lógica própria.

As pessoas e a vida não são essa matemática certa e ninguém tem bola de cristal. Aqui, nenhum vidente tem razão. Amor é só se atirar na coragem mesmo, acreditar que a gente merece, acreditar que é possível. Amor precisa de uma boa dose de fé, é verdade, e é difícil demais quando você já perdeu toda a fé que tinha. Mas como vamos fazer, se não dá pra ser de outro jeito?

Amor não é planta de construção civil. Amor é jogar a porra toda pro alto e viver. Amor não é esperar pra ver o que acontece, comendo pelas beiradas, na ilusão da segurança. Amor é deixar a chuva encharcar sua alma toda, e deixar o sol te invadir depois, onde você nem esperava. É deixar seus demônios verem a luz de novo. Amor é respirar fundo, não é fazer conta. Amor é levitar, não é planilha do Excel.

Então, só vive. Vem, vive isso comigo, agora, enquanto tá queimando mesmo, enquanto estamos no olho do furacão. Sem represar porra nenhuma, sem fingir pra nós mesmos que não tá acontecendo. Sem me pedir meus motivos, sem ter que justificar respostas. Amor não tem explicação, caralho!