Tags Posts tagged with "preconceito"

preconceito

Por Bianca Morais

Se o amor já é difícil de descrever, amor de mãe é impossível. Amor de mãe não se explica, não se julga, não questiona. É um sentimento que nasce ainda na gestação, quando o filho é carregado no ventre, ou mesmo naquela expectativa da adoção. O amor de mãe é capaz de superar tudo,de enfrentar qualquer barreira para apoiar a cria. 

A partir do momento em que a mulher se torna uma mãe, ela cria planos para o futuro daquela criança, ela acompanha os primeiros passos, o vê entrar na escola, na faculdade, ela consegue idealizar seu futuro, imaginar situações e traçar objetivos. 

Mas, nem sempre o filho vai seguir ou corresponder aos projetos que a mãe idealizou. Alguns não vão cursar a faculdade, outros talvez não irão ter filhos, entretanto, o sentimento daquela que o criou não irá mudar, vai se adaptar às escolhas daquele jovem adulto que um dia ela carregou no colo. 

Agora, um dos maiores medos, senão o maior de uma mãe, é ver o filho sofrer. A dor e a frustração de um filho talvez seja o maior desencantamento de uma mãe. 

Hoje, em homenagem ao Dia das Mães, o Jornal Contramão traz a história de Karen de Oliveira Carvalho, 23 anos, e Marilene Oliveira Ferreira, 49. Um exemplo de amor, empatia e proteção. 

Karen é bissexual e se assumiu para a mãe. Descobrir que seu filho não é o que planejava pode ser frustrante, agora perceber que a sexualidade dele pode ser algo que vai interferir em sua segurança é desafiador.

O Brasil é um país intolerante em relação ao público LGBT’S. E nesse grupo tão marginalizado pela sociedade, é a figura materna que pode fazer a diferença. Aceitar, amar, compreender e acolher um filho pelo que ele realmente é, é muito importante para que ele tenha força para lutar todos os dias contra o preconceito. 

E foi exatamente o amor de Marilene que fez toda a diferença na vida de Karen. 

Karen é uma menina alegre, sempre foi. Para a mãe, Marilene, é uma garota de personalidade forte, estudiosa, vaidosa e que adora dançar. Karen tem uma capacidade incrível de animar qualquer ambiente e tenta fazer todas as pessoas ao seu redor se sentirem especiais e únicas.

A relação entre mãe e filha não poderia ser melhor. A mãe, sempre muito atenciosa com a garota, sabe exatamente o que ela sente, quando precisa conversar, às vezes até quando a Karen está confusa e perdida, é a mãe que lhe dá o norte.  

“É uma ótima relação, a Karen é uma filha muito carinhosa, tem um jeito de gatinho manhoso que acaba conquistando todo mundo”, conta Marilene.

Mãe e filha sempre foram muito próximas, é aquele sentimento natural que só quem tem conhece, porém apesar dessa proximidade, por anos Karen escondeu um segredo de sua mãe, não por medo, mas receio de que de alguma forma isso mudasse algo o relacionamento das duas. 

Karen, a mãe e os irmãos

Karen tem uma orientação sexual que não é considerada tradicional por boa parte da população. Ela é bissexual, se relaciona com homens ou mulheres. Sempre sofreu com o estigma de que a bissexualidade é promiscuidade. “Sou constantemente sexualizada por homens em geral. A bissexualidade muitas vezes é confundida com bagunça. Dizem que somos confusos, que é só uma fase. Que somos mais propensos a traição, a realização de fantasias, etc. Isso incomoda bastante e enche a paciência”, desabafa. 

Devido a  todo esse preconceito, Karen carregava com ela a insegurança em contar para a mãe a verdade sobre ser quem é. “Esperei até meus 22 anos e sei que não é fácil. Eu ainda estava com o receio que quase todos temos quando estamos pra sair do armário. É algo bem individual de cada um e não culpo quem não consegue, a pressão é bem grande quando ficamos sem apoio”, ressalta a estudante de Direito do Centro Universitário Una.

Além disso, ela já havia presenciado experiências ruins com amigos próximos e conhecidos e famílias preconceituosas. E mesmo que conhecesse o jeito e a personalidade da sua mãe, ainda se sentia apreensiva. Compartilhou primeiro com a irmã, que já desconfiava de suas escolhas. “Eu não me preocupava em me esconder dela porque sabia que me apoiaria de qualquer forma”, diz ela. Foi apenas quando se sentiu segura e confortável que resolveu compartilhar com outras pessoas próximas dela. 

“Ela contou na mesa do almoço “Mãe, eu sou viada! Gosto de garotos e garotas!” Todo mundo riu bastante e foi algo bem natural”, contou Marilene.

Se Karen pudesse prever o futuro e a reação da mãe após assumir sua sexualidade, com certeza, jamais sofrido para se libertar. “Pra mim, é algo natural, não faz diferença a sexualidade da minha filha. Tenho consciência que existe muito preconceito em relação à orientação sexual dela e sei que ela é boa em se defender”, relata a mãe.

Para Marilene, seu amor de mãe sempre vai falar mais alto e está acima de tudo. De acordo com ela, o que importa é ver sua filha bem, feliz. E quanto a opinião dos outros, eles que procurem o que fazer. “Não dou liberdade para ninguém falar da minha filha. Se algum dia alguém ousar em perguntar, eu mando cuidar da própria vida” completa.

Marilene é mãe, e para ela apoiar e amar o filho é dever de todas. Segundo ela, as barreiras de qualquer discriminação devem ser vencidas com o amor e não com a ignorância. Marilene estudou para entender a sexualidade da filha e o porquê dela ter demorado a ter coragem de se assumir. 

“A falta de apoio desestrutura os LGBT’s, e pode levar a insegurança, situação de rua, consumo de drogas, problemas psicológicos e a prostituição por falta de alternativas. Eu acho que pais que não apoiam seus filhos só contribuem para perpetuar o sofrimento deles, sua casa tem que ser o seu porto seguro, se a família não apóia, fica triste e complicado. O acolhimento evita a vulnerabilidade dos filhos”, explica. 

* Karen Carvalho participa do Projeto de Extensão Una-se contra a LGBTFOBIA.

 

**Edição: Daniela Reis

1 2310

Por Rúbia Cely

Não é novidade. Quando falamos de obesidade fica claro que não estamos falando de posturas saudáveis. Dado da Organização Mundial da Saúde de 2012, revela que por ano, 2,8 milhões de pessoas morreram por conta da obesidade e das doenças acarretadas por ela.

Para a surpresa de muitos, existe uma data para lembrar dos gordos. Sem um vestígio histórico que justifique o dia, o que cabe a nós é a especulação do porquê dia 10 de setembro recebe esse marco.

Apesar da insatisfação de alguns internautas em redes sociais como twitter e também blogs, o dia traz uma importante reflexão sobre os riscos de se estar gordo e também levanta a bandeira do “orgulho” dessa minoria que acaba sofrendo por estar fora dos padrões.

Algumas perguntas aguçam a nossa curiosidade, as pessoas – que já estão acima do peso – odeiam ser gordas ou apenas não gostam de ser desrespeitadas? E a inclusão, ajuda ou constrange?

Em um grupo de Whatsapp composto por pessoas à partir do sobrepeso, ou que já estiveram na situação, fizemos algumas perguntas abordando a obesidade e suas consequências. Veja o resultado:

Contramão: O que é ser gordo para vocês?

Fonte 1: “A situação de ser gorda é horrível, eu não acho roupa que me serve, na igreja, as cadeiras de plástico quebram e assim sucessivamente. É em todo lugar, se você vai sentar, já analisa o lugar e olha quem está perto. Ser gorda para mim é horrível. E já fui magra, mas nunca discriminei ninguém, nunca pensei que chegaria nessa situação, para mim é constrangedor, eu não me sinto bem de forma alguma. Admiro quem se aceita, mas eu não me aceito. ”

Fonte 2: “Vamos aos banheiros públicos, temos que usar o de deficientes pelo fato dos “normais” não serem capazes de servir nossas necessidades, nem como nos higienizar direito, mas não somos deficientes. ”

Contramão: Qual vocês acham que seriam a solução para esses constrangimentos e dificuldades?

Fonte 2:  “Por exemplo o ônibus, esse negócio de assento para obeso não está com nada, hoje no Brasil nós somos uma sociedade obesa, não deveriam ter dois ou quatro assentos para obesos, deveriam ser ao menos metade deles, sem falar que mudança no tamanho do assento que é bom nada né? ”

Fonte 1: “Tinha que ter bancos maiores, roletas maiores, que façam duas, isso é inclusão!  Ou se não é possível, acesso liberado sem catraca. Aff entra ano e sai ano ninguém toma providência! ”.

Contramão: Quanto aos recursos e mobilidade pública, quais considerações têm a respeito do que é oferecido?

Fonte 2: Então, nós pagamos impostos do mesmo jeito que um magro está pagando. E se estamos assim ou queremos estar assim, temos que ser respeitados. Não temos que passar por constrangimentos por que os governantes dessa cidade, estado e país acham que todos têm que ter aquele corpinho pequenininho.

Contramão: Para finalizar, o que vocês acham sobre ter uma data para os gordos?

Fonte 2: “Tem para os magros? ”.

Fonte 1: “Ué Fonte 2, para os magros tem, o dia do magro é todo dia. Eles entram e saem da onde e para onde eles querem, onde chegam são bem-vindos. Não precisamos só de um dia, precisamos de todos os dias. ”

Obs.: As fontes não quiseram ser identificadas. De 44 membros do grupo,  quatro se posicionaram, mas  apenas duas quiseram manifestar suas opiniões de maneira aberta.

Trazendo representatividade, pedido de respeito ou tolerância ou não, o dia acaba abrindo brechas para chacota nas redes sociais, inclusive por parte de social influencers e comediantes como Danilo Gentili ao se posicionar em suas redes sociais em 2013.

Quando se pensa em uma pessoa gorda, logo associa-se a uma pessoa sem saúde, o que não é bem verdade. Alguns estudos comprovam que é sim possível ser gordo e saudável. Por mais que as pessoas, a partir do sobrepeso, tenham uma tendência maior a ter colesterol, pressão, glicose altas dentre outras comorbidades, mas cada caso deve ser analisado à parte.

Segunda a nutricionista Kamilla Freitas o ser gordo é algo que tem que ser analisado. “Primeiro, o que seria ser gordo? Por que a sociedade impõe um nível de magreza que muitas vezes as pessoas não conseguem alcançar e acabam se enxergando gordas, mas quando as avaliamos, elas possuem o índice de massa corporal (IMC) normal, circunferências e gordura corporal dentro dos parâmetros, sendo assim, estas, pelo ponto de vista nutricional não apresentam risco de vida”. Mas, também frisa a importância da não romantização da obesidade, pois se trata de uma doença grave e atualmente um dos maiores problemas de saúde pública no país.

 

 

Muito se tem falado nos últimos dias sobre o ataque a dois homens que se abraçavam na Savassi, ligando essa agressão a skinheads. Grupo este que é caracterizado por integrantes de cabeças raspadas e tatuagens, e que também se tornou conhecido por atacar minorias. Porém há várias vertentes deste grupo, e algumas delas, inclusive, praticam o repúdio ao preconceito.

História

O movimento skinhead surgiu na Inglaterra na década de 60. Nasceu como um ato de protesto de uma parcela de jovens da classe operária inglesa, ao se verem diante da crise econômica e social que o país enfrentava após a introdução de novas tecnologias e, consequentemente, uma onda de desemprego. Devido à crise, uma minoria étnica trabalhava por salários muito baixos e nada compatíveis com os tetos sindicais que os britânicos recebiam. Portanto, os skinheads originalmente surgiram por conta desta crise, não tendo nenhuma influência política ou racial. Porém, ao final dos anos 70 a história muda. A partir de então, a raça e a política passaram a ser fatores de primeira importância ao grupo, gerando divisões entre os próprios skinheads.O grupo extremista, politicamente, pode ser tanto de extrema-direita quanto de extrema-esquerda. Os grupos geralmente são identificados pela sua moda, que costumam incluir botas, suspensórios, o culto ao futebol e a cerveja.

No Brasil

As influências das primeiras informações a respeito dos skinheads britânicos tiveram efeito a partir de 1977 através de discos, revistas especializadas, jornais, entre outros meios de comunicação. A influência dos skinheads estrangeiros foi fundamental para o desenvolvimento do movimento no Brasil. Um exemplo disso é que esses jovens brasileiros adquiriam, quase que por obrigação, o livro inglês Skinhead escrito por Nick Knight, este livro era considerado a cartilha dos “carecas” brasileiros.

Os primeiros skinheads brasileiros surgiram nos bairros da Zona Leste de São Paulo e nas cidades industriais que formam o ABC paulista – Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, por volta de 1982. Hoje estes grupos são encontrados por todo o país, inclusive em Belo Horizonte.

 

Esta é a primeira de uma série de reportagens especiais sobre este tema. Acompanhe a série durante essa semana.

 

Por Marcelo Fraga e Rafaela Acar
Imagem: divulgação do filme “A outra história Americana”