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Rap

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Por Gabriel de Souza

Profeta, conhecido pelo seu nome e pela sua arte disruptiva, é um cantor da cena do rap underground de Belo Horizonte, que começou a sua jornada cantando no coral da Igreja e logo percebeu a música como uma ferramenta de expressão de seus pensamentos e de sua narrativa no mundo.

O jovem apresenta sua estética através das artes plásticas e musical, o desenho foi visto por ele como uma forma de se aproximar de outras crianças na sua infância. De uma forma que foge do convencional ele também se apropria de elementos do mainstream nos seus ritmos e letras.

Na música “Broken Toy Boy”, Profeta faz referência a masculinidade tóxica do mundo masculino contemporâneo e a supervalorização da beleza estética reforçada pelas redes sociais e aplicativos de pegação, como também um próprio fenômeno percebido dentro da comunidade  LGBTQIA+.

Falando em apropriação, a música traz um trecho em inglês cantado pela artista Lourandes. A música também dilata as vivências e indignações vividas pelo artista, como racismo, o capacitismo e a homofobia, junto a um audiovisual que usa técnicas de edição, com as estéticas de vertentes do glitch.

Já na música “Ato II. Oração”, Profeta traz um “song love” como uma carta descrevendo o amor por um alguém e as formas de lidar com essa emoção, entrelaçado com outras tramas de sua vida, e volta para o sentimento original da letra que é o amor.

O clipe possui trechos em VHS mostrando a infância do artista aliado a um ritmo melancólico e nostálgico, aliado ao audiovisual que faz uma auto expressão exibindo o  passar do tempo e o amadurecimento do artista, produzindo assim, uma obra de  auto reflexão com o tema para quem assiste.

A obra é produzida com a participação de Maria Flor de Maio @marioflor.maio e Andy na Arte, e figurino com mix e master por Porreta. A direção e roteiro por Isis Grazielle, fotografia por Gustavo Koncht, o designer gráfico com João Guilherme e edição e montagem com @gusta_aguiarc.

 

* A matéria foi produzida pelo Icon Releass, projeto do aluno de Publicidade e Propaganda da Una, Gabriel de Souza.

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Por Bruna Valentim e Henrique Faria

Quando MV Bill entrou no Sesc Palladium na tarde do último domingo foi possível observar cabeças girando para acompanhar cada passo do rapper de 1,95 metro de altura. Bill chegou sério de jeans, all star, camiseta preta e óculos escuros, dando um ar de rap star que consegue sustentar muito bem.

Quando se reuniu para uma intimista roda de conversa para celebrar o Dia da Favela ao lado de figuras como Eliane Dias, Dexter e Manoel Soares… Bill transmite uma serenidade e um sentimento de admiração pelos colegas e amigos presentes. Mv Bill é um homem de poucas palavras, mas transmite segurança em todas elas. Falou com propriedade sobre os problemas acerca das comunidades brasileiras, sua infância, suas influências e agradeceu mais de uma vez ao povo presente. No fim do bate papo o rapper atendeu o público antes de se retirar para se preparar para o show do início da noite.

O evento que cobrava o valor simbólico de R$2 (dois reais) por pessoa contou com atrações locais, Tamara Franklin, Face 3 Dee Jay, Nos da Sul, Dexter e fechando a noite Bill e sua irmã e parceira de palco, Kamila CDD. O rapper é  uma figura potente no palco, o que em nada lembra a figura centrada e fala mansa de horas mais cedo. O rapper fala diretamente com o público e já começou o show chamando todos para o mais perto possível do palco. Sempre que podia cedia aos pedidos de foto da plateia e dava um firme aperto de mão, como se estivesse reencontrando velhos amigos. Seu show foi longo e Bill pareceu aproveitar cada segundo, deixando clara sua admiração ao registrar imagens da multidão presente e publicar em tempo real em suas redes sociais. Ao fim da apresentação Bill demonstrou amor aos mineiros e prometeu voltar parecendo tão feliz quanto os fãs que cantaram em coro todas as suas canções embaladas de emoção.

Depois do show tivemos acesso com exclusividade ao camarim do cantor ao entrarmos no camarim a sensação era de estar na sala da casa do rapper. Bill estava rodeado por amigos, sua família e fez questão de nos apresentar um por um, fez brincadeiras e em poucos instantes parecia que fazíamos parte da família.

Ao falar sobre sua música “Preto em Movimento” em que o MV diz “Não sou o movimento negro, sou o preto em movimento”, o rapper explica que não é uma forma de diminuir o movimento e exalta sua importância falando que se não fossem seus ancestrais ele não teria forças para fazer o que faz hoje. E diz que é mais importante o negro estar em movimento – não apenas fazer parte do movimento negro: “…Eu participei de muitas reuniões em que eram um grupo pequeno de negros mais intelectualizados, que tinham mais informações e que a gente acabava criando uma elite negra que não distribuía sua informação com outros pretos”, crítica, completando que acha mais importante que ele seja um preto que se movimenta e movimente o que tem ao seu redor, do que apenas fazer parte de do movimento negro.

Ao comentar sobre a atuação da polícia com o negro, Bill diz que após o fortalecimento dos movimentos e dos negros pelo acesso à internet, a polícia ficou mais violenta, ao contrário de terem receio de realizarem abordagens abusivas, as autoridades estão cada vez mais aproveitando de seu poder e cita o caso de Costa Barros, bairro da cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde cinco jovens moradores da região, foram confundidos com traficantes que haviam realizado um roubo nas redondezas, foram alvejados por 111 tiros de fuzil e revólveres. “Em qualquer lugar dos Estados Unidos, isso seria considerado um crime racial, no Brasil não tem crime racial, aquilo foi um crime corriqueiro… quatro policiais brancos, cinco garotos pretos, 111 tiros e um dos policiais ainda tentou alterar a cena do crime”, esclarece.

“A sociedade não se comove, a favela não se comove com essas perdas“, desabafa. Essas situações não são noticiadas pela mídia, e assim, os negros do país continuam sendo assassinados todos os dias por quem deveria lhes proteger. Com a polícia ficando cada dia mais violenta, é notável que a falta de representatividade negra na política é atribuída ao fato do genocídio negro ser um problema tão latente no Brasil, visto que mesmo com as informações sendo repassadas​ mais facilmente, menos medidas estão sendo tomadas pelos governantes, tanto nacionais como municipais. Ao ser questionado sobre uma possível candidatura, Bill diz que por causa dessa defasagem os brasileiros querem alguém que tenha alguma alternativa imediatista e diz saber que não é tão simples assim. Ele acredita que ainda não é a hora, mas que fica muito feliz em saber que há pessoas que confiam nele para um cargo político, que se veem sendo bem representadas por suas ideias “Neste momento não penso nisso, eu fico feliz quando as pessoas dizem ‘caraca Bill, eu votaria em você’, mesmo eu não tendo me candidatado a nada, não sendo filiado a nada, ainda sim as pessoas falam ‘eu votaria em você’. Isso pra mim é um acréscimo a minha credibilidade, uma coisa que me deixa feliz,mas não envaidecido, mas muito feliz”, finaliza.