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Evento é considerado a maior manifestação popular de massa de caráter social de Minas Gerais e uma das mais antigas do país

Por Gustavo Meira

Acontece no próximo domingo (09), a 24ª edição da Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de Belo Horizonte, com o tema ‘’Democracia: Liberdade e Direito para Todes’’.  Um evento de luta coletiva para combater a opressão, o preconceito e a invisibilidade presente dentro da própria comunidade. A concentração é a partir dàs 11h na Praça da Estação, onde haverá um palco principal para a apresentação de mais de 50 atrações. 

Multidão de pessoas reunidas na Parada do Orgulho na Praça da Estação. Foto: Cellos MG.

A artista drag Mannu Mallibu interpretada por Daniel Gerth é uma delas. Ela se apresentará pela primeira vez na Parada do Orgulho da capital, o maior palco em que já se apresentou. A inspiração da performance ao lado de duas amigas será em ‘’RuPaul’s Drag Race’’, programa que tem um significado pessoal à artista, que a influenciou diretamente em sua carreira. 

‘’Ser uma das atrações do palco principal da Parada me traz uma sensação de muita felicidade. De saber que alguma pessoa, nem que seja uma só, vai me ver e vai pensar ‘nossa, eu queria estar lá!’. Então, eu acho que a importância que tem pra mim, é de ser vista como possibilidade para alguém de algo real, que é válido, que é possível. Que ser drag queen é algo que é, que pode e que deve ser celebrado’’, diz.  

Artista Mannu Mallibu, interpretada por Daniel Gerth. Foto: redes sociais/divulgação.

A celebração contará também com cortejo de cinco trios elétricos que agitam o público durante todo o percurso com músicas que tem como destino final a Praça Raul Soares, no Barro Preto. Segundo a Prefeitura da capital, são esperadas 250 mil pessoas, 100 mil a mais do que na edição do ano passado, que aconteceu em novembro.

Além da Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ ser um movimento de resistência, luta e celebração, ela serve também para dar visibilidade às drags queens ‘’Além do Carnaval, a parada provavelmente é o lugar em que um artista drag mais vai ter público. É você estar em um lugar que majoritariamente entende e celebra a arte que você faz, a arte drag. É como uma validação’’, é o que explica Mannu Mallibu.

Alto investimento 

Esta edição da Parada contou com o investimento de R$ 300 mil do município e R$ 50 mil de emendas parlamentares vindas da Câmara Municipal. Todo o valor foi investido na estrutura do evento, que é organizado pelo Centro de Luta Pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos MG).

O Brasil continua a liderar o ranking dos países que mais matam LGBTQIAPN+. De acordo com levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB), a partir da análise de notícias publicadas nos meios de comunicação. Foram apontados 242 homicídios e 14 suicídios ao longo do ano passado, ou seja, uma morte a cada 34 horas. Este movimento é em prol dessas pessoas, que sofrem e morrem todos os anos por simplesmente serem quem elas são. Além da celebração, é a luta pelo respeito.

A diversidade é um dos pilares fundamentais de uma sociedade democrática. Cada indivíduo merece ser reconhecido e respeitado em sua individualidade, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero. A luta pela liberdade e pelos direitos da comunidade é um reflexo do desejo de criar um mundo mais inclusivo e justo para todos.

 

Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de 2022, na Av. Amazonas, BH. Foto: Cellos MG.

 

 

Por Júlia Garcia

Você já teve dúvida ao realizar uma compra? Encontrou dificuldades para trocar um produto? É comum surgir interrogações ao consumir uma mercadoria ou serviço. Hoje, o Jornal Contramão convida Luna Gouveia, formada em Direito, para responder algumas questões sobre seu direito enquanto consumidor.

Luna, quando o cliente descobre que o desconto de um produto na verdade não é um desconto, o que deve fazer?

Quando se tratar de propaganda enganosa, cabe ao consumidor fazer uma denúncia junto ao PROCON ou Conar. Já uma dica para observar se realmente está tendo o desconto em compras online, é ir até os bu

Divulgação/Arquivo pessoal
Divulgação/Arquivo pessoal

scadores de preço para observar os valores cobrados nos últimos meses do produto desejado.

 

Os direitos de troca e devolução são os mesmos para compras onlines e presenciais?

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) traz diretrizes que o consumidor presencial e o consumidor online têm que seguir e são casos específicos. Porém, vemos no cotidiano as lojas oferecendo as trocas ou devoluções como um “agrado” ao cliente. A única obrigatoriedade do estabelecimento de aceitar troca ou devolução é em caso de vício ou defeito do produto, bem como não apresentar o conteúdo real como o anunciado. Para efeitos do CDC, a única exigência é que o estabelecimento deixe bem claro as diretrizes para trocas e devoluções. 

Um exemplo de diferença das modalidades de compra é o direito ao arrependimento, mesmo que não apresente vício ou defeito, porém, essa modalidade é apenas para compras feitas em outros ambientes que não seja o estabelecimento comercial, como compras online, de catálogo e por telefone, podendo devolver o produto no prazo de até 7 dias. 

 

Comprei o último produto do estoque, mas veio com defeito. O que devo fazer?

O CDC traz que caso a troca ou devolução seja de produto que não há mais em estoque/em falta, o consumidor pode exigir o cumprimento forçado da obrigação (se tiver como cumprir), a substituição por produto equivalente ou restituição integral do valor pago. Em relação ao cumprimento forçado da obrigação, o consumidor só não pode exigir quando o produto já não for mais fabricado ou não exista mais no mercado.

 

Entradas masculinas e femininas em eventos podem ser cobradas com valores diferentes?

Essa é uma prática bastante utilizada no Brasil como estratégia de marketing. Mas, juridicamente, há uma discussão sobre como essa prática é um tanto quanto discriminatória, onde fere o princípio da isonomia garantido na Constituição Federal. Mas não há nenhuma regra ou lei que proíba a cobrança diferenciada nos ingressos masculinos e femininos, mas cabe reclamação tanto com a produtora do evento quanto nos órgãos de proteção ao consumidor.

 

Explique para os nossos leitores o que fazer quando se perde a comanda em um estabelecimento. 

O CDC é regido pela boa-fé das partes, então em caso de perda da comanda, deve-se pagar apenas o que foi consumido. É obrigação do estabelecimento manter um controle de cada mesa/indivíduo que ali está consumindo, mas também é obrigação do consumidor guardar a comanda. Cobrar multas ou uma taxa fixa é uma prática abusiva, e caso ocorra, você também pode acionar o Procon de sua cidade.

 

O que fazer quando parcelo uma compra e opto pelo benefício dos 60 dias e a loja cobra juros altíssimos sem um aviso prévio?

O início de pagamento com 60 dias é uma prática do estabelecimento a fim de fidelizar aquele cliente e tornar a compra mais chamativa, não sendo uma modalidade expressa no CDC. O que o CDC traz é o direito do consumidor em ter todas as condições da sua compra explícitas, sendo obrigação do estabelecimento deixar bem claro a política de trocas, devoluções e cobrança de juros. A cobrança de juros de maneira exorbitante e abusiva é vedada pelo CDC, devendo o consumidor procurar algum órgão de proteção e fazer a devida reclamação.

 

Quando o consumidor se sente lesado em relação a uma compra, onde ele pode buscar seus direitos?

Primeiro deve ser feita uma tentativa de resolução com o próprio estabelecimento, demonstrando os motivos de estar sendo lesado, mas em caso de não haver essa resolução entre as partes, o consumidor pode ir até os órgãos de proteção, como o Procon, Conar e até mesmo Juizado Especial Cível e registrar a reclamação. Além disso, o consumidor pode se valer de ferramentas online para demonstrar sua insatisfação até mesmo para alertar outros consumidores também, usando o Google avaliações ou o reclame aqui como forma de complementação a sua reclamação junto a empresa. 

 

Luna, para finalizar, qual recado você deixa para os compradores neste Dia do Consumidor?

Procure saber seus direitos e deveres como consumidor para não cair em práticas enganosas, golpes e situações que deem dor de cabeça. Se notar que está sendo lesado, procure os órgãos de proteção e exija seus direitos. No mais, pesquise bem e faça boas compras. 

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Por Daniela Reis 

Atualmente, as mulheres correspondem 53% do eleitorado brasileiro, são cerca de 78 milhões de títulos registrados em nome delas. Porém, nem sempre foi assim, a luta feminina para garantir o direito ao voto perdurou por muito tempo. E hoje no TBT do Contramão vamos contar sobre essa conquista que aconteceu há exatos 90 anos, em 24 de fevereiro de 1932.

A demanda de mulheres pelo direito de votar e de serem eleitas ganhou corpo no início do século XX, a partir do movimento sufragista brasileiro. Mas o exercício de direitos políticos só seria estendido às mulheres em 1932, quando o novo código eleitoral do país entrou em vigor, em pleno governo provisório do ex-presidente Getúlio Vargas. Dois anos depois, em 1934, o voto feminino passa a ser previsto pela Constituição.

A conquista desse direito também foi impulsionada por várias pioneiras, como a professora Celina Guimarães Viana, que pôde, por meio de um requerimento, votar em 1927 e se tornou a primeira eleitora do país. Outro nome é o de Leolinda de Figueiredo Daltro, uma das fundadoras do Partido Republicano Feminino, criado em 1910. A zoóloga paulista Bertha Lutz, uma das criadoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, é apontada como uma das maiores líderes na luta pelos direitos políticos das mulheres.

A conquista do voto não encerrou a necessidade de continuar lutando pelo direito das mulheres na legislatura dos próprios países. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1995 apontavam uma representação média de apenas de 10% entre os membros de todos os parlamentos do mundo.

Atualmente, a média mundial de mulheres nos cargos executivos, governamentais e parlamentares, ainda não passa dos 22%. O destaque vai para Ruanda (64%), Bolívia (53%) e Cuba (49%) que são os únicos três países da lista que atingiram ou superaram a igualdade em seus parlamentos.

Hoje o Brasil ocupa a posição 140 no ranking mundial de representatividade feminina medido pela ONU e a União Interparlamentar. Aqui no Brasil, a Secretaria da Mulher analisou os dados das últimas eleições de 2020 e chegou à conclusão de que, apesar de as mulheres serem 52,5% do eleitorado, apenas 33,3% do total de candidaturas neste ano eram para prefeita, vice-prefeita ou vereadora.

Conheça 8 mulheres que influenciaram a luta pelos direitos femininos no Brasil

Nísia Floresta – A escritora nordestina Dionísia Gonçalves Pinto ficou conhecida pelo pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta. Nascida em Papari — hoje cidade Nísia Floresta — Rio Grande do Norte, em 12 de outubro de 1810, a educadora, escritora e poetisa brasileira é uma das pioneiras do feminismo no Brasil. Foi provavelmente a primeira mulher no país a publicar textos em jornais, na época em que a imprensa nacional ainda engatinhava.

Bertha Lutz – Nascida em São Paulo, em 2 de agosto de 1894, a bióloga Bertha Lutz teve participação direta pela articulação política que resultou nas leis que deram direito de voto às mulheres e igualdade de direitos políticos nos anos 20 e 30. Filha de Adolfo Lutz, renomado médico e cientista brasileiro, foi uma das organizadoras do movimento sufragista no Brasil, após ter tido contato com os movimentos feministas europeus quando estudava na universidade de Sorbonne, na França, no início do século XX. Foi a segunda mulher a ingressar no serviço público brasileiro (1918), criou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, o embrião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (1922).

Mietta Santiago – Maria Ernestina Carneiro Santiago Manso Pereira era o nome completo de Mietta Santiago, que foi a primeira mulher no país a exercer, plenamente, os seus direitos políticos: o de votar e o de ser votada. Estudou na Europa, e quando voltou ao Brasil percebeu que a Constituição Brasileira de 1928 não vetava o voto feminino. O artigo 70 da Constituição então vigente dizia, sem discriminação de gênero: “São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos que se alistarem na forma da lei”. Ela entrou com um Mandado de Segurança e, de forma inédita, conseguiu o direito de votar e concorrer ao cargo de deputada federal.

Celina Guimarães Viana – A professora Celina Guimarães Viana foi a primeira mulher a exercer o direito de voto no país, em 1927, na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte.  Antes de Mietta Santiago ter impetrado o mandado de segurança que jogou luz sobre a questão da Constituição não discriminar o gênero dos eleitores, o governador do Rio Grande do Norte José Augusto Bezerra de Medeiros, sancionou naquele ano uma lei que estabelecia não haver mais ‘distinção de sexo’ para o exercício eleitoral no estado. Com isso, Celina se inscreveu para votar com o auxílio de seu marido e entrou para a história como a primeira mulher a votar no Brasil.

Carlota Pereira de Queirós – Nascida em São Paulo, Carlota Pereira de Queirós foi a primeira mulher brasileira a ser eleita deputada federal. Médica, escritora e pedagoga, viveu na Europa, onde efervesciam as ideias feministas e o movimento sufragista. Na volta ao Brasil, à frente de 700 mulheres, ela organizou a assistência aos feridos da Revolução Constitucionalista. Em maio de 1933, foi a única mulher eleita deputada à Assembleia Nacional Constituinte. Nas eleições de outubro de 1934 torna-se a primeira deputada federal eleita da história do Brasil. Seu mandato foi em defesa da mulher e das crianças.

Patrícia Rehder Galvão (Pagu) – Patrícia Rehder Galvão nasceu em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo. Foi escritora, poeta, diretora de teatro, tradutora, desenhista e jornalista. Em 1935, após participar da Levante Comunista, Pagu foi detida, torturada e condenada a dois anos de prisão. Em 1938, voltou a ser presa e foi condenada a mais dois anos. Ao longo da sua vida ela seria presa, ao todo, 23 vezes por causa do caráter transgressor de sua militância. A defesa da mulher pobre e a crítica ao papel conservador feminino na sociedade permearam a vida e as obras da idealista Pagu.

Laudelina de Campos Melo – Fundadora do primeiro sindicato de trabalhadoras domésticas do Brasil, a atuação de Laudelina de Campos Melo é tida como fundamental para o reconhecimento dos direitos da categoria. Nascida em 12 de outubro de 1904, em Poços de Caldas, Minas Gerais, aos sete anos de idade já trabalhava como empregada doméstica. Em 1961, funda a Associação Profissional Beneficente das Empregadas Domésticas. A iniciativa influencia a criação de outras entidades nos estados e culmina, em 1988, com a criação do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos. Sua luta, especialmente na década de 1970, foi fundamental para a categoria conquistar o direito à Carteira de Trabalho e à Previdência Social.

Rose Marie Muraro – Rose Marie Muraro foi uma das vozes importantes do feminismo no Brasil. Nasceu praticamente cega, no Rio de Janeiro, o que lhe obrigou a ter determinação suficiente para se tornar uma das mais brilhantes intelectuais de nosso tempo. Autoras de livros que retratavam de forma contundente a condição da mulher na sociedade da época, como “A Sexualidade da Mulher Brasileira”, Rose foi uma das pioneiras do feminismo no país nas décadas de 60 e 70. Intelectual que lutava pela igualdade de direitos para as mulheres, Rose foi reconhecida em 2005 pelo governo federal como Patrona do Feminismo Brasileiro.

 

 

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Por Daniela Reis 

Você sabe dos seus direitos enquanto consumidor? Você conhece as leis que garantem uma compra segura? Já teve algum problemas com compras on-line em ou lojas físicas? 

Hoje o Jornal Contramão traz uma entrevista com a advogada, Alícia Fernandes Reis, para esclarecer sobre essas diretrizes. 

 

O cliente pode se arrepender de uma compra e devolver o produto? Qual o prazo para devolução e quais os prazos para o trâmite em compras físicas e on-line?

O Código de Defesa do Consumidor dispõe expressamente sobre o direito de arrependimento do consumidor no caso de compras realizadas on-line. Mas, o mesmo não ocorre quando as compras são realizadas na loja física. De acordo com o artigo 49 do Código do Consumidor, os clientes podem se arrepender da aquisição de um produto ou serviço no prazo de 07 (sete) dias a contar do recebimento do produto ou serviço, caso esta seja realizada pelo e-commerce. Nesses casos, o consumidor deverá entrar em contato com a loja e esta deverá arcar com todos os custos atinentes a devolução do produto ou serviço e proceder o reembolso do valor pago.

No caso de compras realizadas na loja física, o direito de arrependimento não se aplica, a não ser que a própria empresa estabeleça essa possibilidade de forma expressa. 

 

Nesse caso, o consumidor pode optar por um outro produto ou pedir o ressarcimento do valor? 

De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, se o cliente exercitar o direito de arrependimento, os valores eventualmente pagos serão devolvidos de forma imediata, devidamente atualizados. Se for do interesse do consumidor, este pode optar por um outro produto, embora a empresa tenha sempre que deixar clara a possibilidade do ressarcimento. 

 

Explique para os nossos leitores o que é venda casada. Essa prática é legal?

O Código de Defesa do Consumidor proíbe expressamente a venda casada, constituindo, inclusive, crime contra as relações  de consumo. A venda casada se caracteriza quando ao adquirir um determinado bem, o consumidor se vê obrigado a comprar um segundo produto, ou seja, não tem a faculdade de adquiri-los separadamente. 

 

Quando o consumidor chega a um estabelecimento e encontra o mesmo produto, da mesma marca e com as mesmas especificações com marcação de preços diferentes? Qual preço a loja deve manter? 

Nos termos do artigo 5º do Código de Defesa do Consumidor, em havendo disparidade entre valores, atinentes ao mesmo produto, o consumidor terá direito de adquiri-lo pelo menor preço. 

 

Quando a mercadoria vem com defeito, qual o prazo de troca? 

Se o  produto possui um defeito que pode ser constatado facilmente (por exemplo: rasgos, riscos, rachaduras), os prazos são:  30 dias para produtos não duráveis (ex: produtos alimentícios) e  90 dias para produtos duráveis (ex: celular). 

Se o produto tiver um vício oculto, ou seja, apresentou defeito apenas após um tempo de uso, os prazos acima mencionados apenas se iniciam quando o defeito é detectado pelo consumidor. 

 

É muito comum as lojas, principalmente de eletroeletrônicos, venderem garantia estendida. Essa prática é legal? E quando a loja acrescenta essa garantia sem autorização do consumidor, como ele deve proceder? 

A garantia contratual, mais conhecida como garantia estendida é uma prática legal e regulamentada. A garantia estendida é aquela acordada entre consumidor e fornecedor, podendo ser onerosa ou gratuita, sendo de livre negociação.  Por ser uma garantia que muitas vezes é oferecida de forma onerosa, esta apenas pode se dar se houver expressa manifestação de vontade do consumidor. Caso esta garantia seja acrescentada sem a anuência do consumidor, caberá a este reivindicar o valor cobrado junto ao estabelecimento comercial e em não sendo exitoso, cabe ao consumidor a reclamação junto ao PROCON ou até mesmo o auxílio de um advogado para o ajuizamento da ação cabível. 

 

Preço diferente com pagamento à vista e com cartão, é certo? Muitas lojas usam dessa prática para incentivar a compra à vista e em dinheiro,  isso pode?

A Lei nº 13.455/2017 autoriza expressamente a comercialização de produtos com preços diferenciados para pagamentos em dinheiro ou cartão (crédito ou débito), desde que o fornecedor informe esta diferenciação de forma clara e expressa em seu estabelecimento. Logo, antes do consumidor realizar a compra deve estar ciente dos preços diferenciados a depender da forma de pagamento. 

 

Para finalizar, quando o consumidor se sente lesado em relação a uma compra, onde ele pode buscar seus direitos? 

Todo cliente que se sentir prejudicado ao contratar um serviço ou adquirir um produto, deve buscar um acordo amigável com a empresa.

Caso o contato com a empresa não seja exitoso, o consumidor possui outras duas alternativas: A primeira é ir ao PROCON. O PROCON é um órgão público que atua primordialmente na proteção e defesa dos direitos dos consumidores, sendo, pois, um órgão extrajudicial considerado como um meio alternativo para a solução de impasses e conflitos decorrentes das relações de consumo.

A segunda opção é contratar um advogado para intervir e orientar a como proceder nesta situação pelas vias judiciais. 

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Por Bianca Morais 

Nesse mês de junho, um acordo firmado entre o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, TJMG, e o Centro Universitário Una, deu início ao projeto de extensão Arbitragem Acadêmica. Em execução desde 2020, o programa foi idealizado pelos professores do curso de Direito, Camila Pereira Linhares e Daniel Secches S. Leite, através de um projeto piloto do Núcleo de Práticas Jurídicas, o NUSC. 

O principal objetivo dessa parceria é contribuir para a desjudicialização de conflitos, principalmente na área do Direito do Consumidor, contratos, posses e propriedades. Os alunos da Una, com o suporte dos professores irão decidir questões fora da esfera judicial e ainda receberam uma vasta experiência com isso. 

O nome do projeto, Arbitragem Acadêmica, está diretamente ligado a uma área inovadora presente não apenas dentro do direito, mas em qualquer espaço que necessite de uma solução de conflitos, consistindo no incentivo à pacificação social. O método da arbitragem, segue as diretrizes estabelecidas pela Lei 9.307/96 e permite trâmites mais simplificados e menos formais para agilizar uma disputa. É realizado de forma extrajudicial e privada, fora do poder judiciário. Nele, um ou mais árbitros, imparciais e escolhidos pelas partes, emitem decisões com a força judicial e essa deve ser cumprida assim como uma sentença comum, caso contrário é encaminhada ao judiciário. 

O que é arbitragem 

Dentro do Direito, a arbitragem sempre foi vista como um processo oneroso, utilizado muitas vezes por grandes empresas, para resolver conflitos onde ambas as partes entram em comum acordo, da melhor maneira possível e de forma mais rápida. Um árbitro, normalmente, é um profissional especializado na técnica da arbitragem e no tema da causa na qual ele irá intervir, cobrando valores, geralmente altos, pelo seus serviços prestados.  Quando se entra no foro judicial, o processo, em geral, é demorado, por isso, muitas vezes quem tem condições, prefere contratar uma pessoa ou entidade privada para solucionar o seu problema, sem a participação do judiciário.

O Arbitragem Acadêmica, aparece então como o pioneiro na área em questão de gratuidade, inicialmente a oferta do modelo será oferecida às partes dos advogados, caso concordem, os processos serão direcionados a Una, onde os alunos e professores, como colegiado, seguirão na condução do processo e julgamento.

A arbitragem dentro da Una

Há 10 anos, o Centro Universitário Una, inseriu em sua grade curricular a cadeira obrigatória de conciliação, mediação e arbitragem, sendo a pioneira no estado. Ou seja, antes mesmo de existir um código de processos no Brasil que proporcionaria o avanço dos métodos adequados para solução de conflito, a Una já trabalhava arbitragem com seus alunos.

Se tratando do assunto, a instituição está há tanto tempo inserida nesse meio, que a primeira competição nacional de arbitragem que aconteceu no país, dirigida pela Câmara de Mediação e Arbitragem Empresarial – Brasil, CAMARB, foi realizada no campus Aimorés, com apoio institucional da Una.

Como o centro universitário já carregava essa abertura para a arbitragem como forma de solução de conflitos, juntamente com o desejo de colocar no mercado profissionais que dominassem a técnica, dois professores com larga experiência em resolução de questões judiciais, sendo eles, Camila Linhares, com mais de 15 anos na área, e o professor Daniel Secches, com 17 anos como assessor no Tribunal de Justiça, juntaram seus propósitos e entregaram a Una o programa que criaram ao longo de uma década, para que a instituição fosse a primeira do Brasil a ter oportunidade de gerir a arbitragem.

Professores Camila Linhares e Daniel Secches

A seleção dos alunos ocorreu por meio de um processo seletivo, através de um edital, no ano de 2020, em que se ofereceu aos escolhidos capacitação em relação a arbitragem, e consequentemente, eles teriam que se responsabilizar e assumir o compromisso de seguirem na execução do projeto. No total, 90 alunos foram selecionados para participar.

Thales Wendell Gomes da Silva Dias, tem 22 anos, está no 9º Período de Direito e foi um dos alunos elegidos para participar do programa. Segundo o jovem, desde que a iniciativa foi apresentada pelos professores ele teve interesse. “O projeto trazia consigo uma grande oportunidade de “elevar” o status dos alunos no âmbito profissional, pois a proposta de atuarmos como árbitros em processos reais até então era algo difícil de se cogitar, visto que ainda não concluímos a graduação”, comenta Thales.

Embora ainda não tenham atuado no primeiro caso, as expectativas do estudante são as melhores possíveis, até porque desde o ano passado, ele e os colegas já estão imersos nesse universo da arbitragem com reuniões semanais sobre o tema, o que enriqueceu em grande escala seus conhecimentos dos métodos adequados como um todo. “Com o advento do convênio firmado juntamente ao TJMG, nossa atuação como árbitros está mais próxima do que nunca e essa sem sombra de dúvidas é a nossa “cereja do bolo”, completa ele.

O programa piloto foi desenvolvido junto à 33ª Vara Cível e à 5ª Unidade Jurisdicional do Juizado Especial Cível da Comarca de Belo Horizonte, cada unidade irá selecionar quinze processos relacionados a pequenas causas, como direito do consumidor, posse, propriedade e revisão de contratos, entre outras de natureza civil, todas de baixa complexidade para facilitar o aprendizado do aluno. O projeto tem a meta de que os casos selecionados sejam julgados em, no máximo, seis meses.

Segundo os idealizadores, o programa inédito e revolucionário, surgiu como uma alternativa para reduzir a taxa de congestionamento de processos e unir o acadêmico com o judiciário. Simplicidade e flexibilidade procedimental, essas são as palavras que Camila Pereira Linhares, coordenadora do Núcleo Una Solução de Conflitos e co-fundadora do programa, utiliza para defini-lo.

“Esse projeto é uma oportunidade ímpar para os alunos que terão acessibilidade à arbitragem de forma efetiva e que poderão atuar como árbitros, contribuindo para a solução de um conflito. Para a instituição, ser a pioneira em aplicar a prática da arbitragem pelo cenário nacional, sem sombra de dúvidas, deixará um legado na transformação de solução de litígio no âmbito da academia em parceria com o poder judiciário, através da metodologia de um método privado”, ressalta a co-fundadora

O NUSC – Núcleo Una Solução de Conflitos

O Núcleo Una Solução de Conflitos, NUSC, completou, no mês de maio, seus três anos de atuação, que de forma interdisciplinar, trabalha juntos aos cursos de direito, psicologia e serviços sociais para proporcionar tratamentos adequados a diversas causas. Através de workshops, lives e projetos de extensão, o NUSC oferece a sociedade acadêmica e externa a importância da compreensão e resolução de pleitos dos mais diferentes temas. 

O Núcleo atua em duas frentes: a primeira direcionada a pessoas da comunidade que têm o interesse em obter atendimento na área cível e que optem por uma solução consensual. Seja em um divórcio amigável, definições sobre a guarda compartilhada e dissolução de pequenas empresas. Para esses casos serão aplicadas as técnicas de mediação e conciliação.

Para receber o atendimento, os interessados devem passar por uma triagem no Escritório do Serviço de Assistência Jurídica, sendo, na sequência, encaminhados ao Núcleo.

A segunda frente é o trabalho com menores infratores e seus familiares, em que são aplicadas as técnicas da Justiça Restaurativa, por meio de um convênio com o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG) e o Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG). Nesse caso, o encaminhamento dos jovens ao NUSC será realizado por meio da Vara de Atos Infracionais da Infância e Juventude.

“Considerando que o NUSC é o núcleo que trabalha com os conflitos de forma adequada e a arbitragem é um método adequado, só tinha um lugar dentro da Una para que o programa Arbitragem Acadêmica nascesse e ganhasse forma, diante da legitimidade e respeitabilidade do histórico, da tradição e da experiência técnica que se tem dentro núcleo, só tinha como o projeto ser gerado dentro dele, o Arbitragem Acadêmica é um produto do NUSC”, completa a coordenadora do núcleo Camila.

 

Edição: Daniela Reis

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Por Bianca Morais 

Com a pandemia da Covid-19, o isolamento social foi a principal medida de prevenção e combate ao vírus, em contrapartida virou uma ameaça à vida de muitas mulheres vítimas de violência doméstica. De acordo com dados de uma pesquisa divulgada pelo Datasenado, o número de casos de violência doméstica dobrou desde o início da quarentena. O  Brasil registrou, em 2020, 105.821 denúncias de agressão à mulher, e esse número está longe de representar a realidade, visto que muitas nem chegaram a denunciar, por falta de oportunidade e por medo do companheiro descobrir.

Especialmente durante o ano passado, quando  as restrições para sair de casa foram imediatas, diversas empresas, organizações e governos municipais, estaduais e federais divulgaram diferentes formas de denunciar esse tipo de violência. Além dos telefones 100 e 180 para denúncias, foram disponibilizados canais no Whatsapp, no Telegram, um aplicativo nomeado “Direitos Humanos Brasil” e o site da ouvidoria do ministério. Esse tipo de suporte foi dado, principalmente, como uma forma de driblar os agressores e permitir que as vítimas pudessem pedir socorro.

Os casos de violência doméstica vão muito além dos problema de um casal entre quatro paredes, é uma questão de saúde pública. O acolhimento das vítimas e assistência jurídica, principalmente para mulheres em situação de vulnerabilidade, é uma questão social. O Centro Universitário Una, como instituição de ensino se vê no dever de prestar um serviço sobre o assunto e, por isso, conta com o projeto Pelo Direito das Mulheres, oferecido pelo campus Cristiano Machado, através do Núcleo de Práticas Jurídicas, em comum acordo de cooperação técnica com a Casa de Referência da Mulher Tina Martins.

O projeto

O Projeto Pelo Direito das Mulheres nasceu em março deste ano, mesmo mês em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres. Sob a coordenação do professor Cesar Leandro de Almeida Rabelo e com o apoio da coordenadora de cursos Priscilla dos Santos Gomes, o programa tem o objetivo de dar suporte às vítimas em situação de vulnerabilidade social e vítimas de violência doméstica.

Através do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ), também do campus Cristiano Machado, firmou-se um acordo de cooperação técnica entre o projeto com a Casa de Referência da Mulher Tina Martins, um espaço de orientação para mulheres. O lugar foi ocupado pelas integrantes do Movimento Olga Benário e atualmente é considerada um dos principais locais de acolhimento para essas vítimas de violência da capital.

A Casa tem a proposta de atuar em diferentes eixos de apoio, na formação política, por meio de oficinas, palestras, rodas de conversas e outras atividades que possam permitir o acesso dessas mulheres à informação, a ressignificação de conceitos e troca de experiências, além de ser um espaço de fortalecimento. Quando a Casa não é a melhor solução elas são encaminhadas à Rede Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Mulher em Minas Gerais. O local também oferece acolhimento psicológico, jurídico e de serviço social, e abrigo em situações emergenciais.

Pelo Direito das Mulheres, partiu do interesse em proporcionar aos alunos do curso de direito da faculdade Una a oportunidade de colocar seus conhecimentos teóricos em prática e, ao mesmo tempo, auxiliar a comunidade dentro de uma causa social. 

Cesar Leandro de Almeida Rabelo, professor e coordenador do projeto explica que a princípio a proposta do programa é dar todo tipo de suporte para o restabelecimento da dignidade das mulheres em situação de vulnerabilidade ou vítimas de violência doméstica. 

“Idealizamos diversas possibilidades, por exemplo, o Pitch Social onde poderão ser elaboradas cartilhas contendo temáticas de impacto social, ideais criativos e de potencial execução em busca da conscientização e enfrentamento da violência contra a mulher. A realização de palestras com a apresentação de temas pelos estudantes e professores que auxiliem no desenvolvimento de competências e habilidades dos ouvintes. Realização de minicursos (curta duração) com metodologias mais participativas, proporcionando uma experiência multidisciplinar e o atendimento jurídico em procedimentos judiciais, com o ajuizamento e acompanhamento em procedimentos judiciais diversos”, explica ele.

Inicialmente, o projeto conta apenas com os alunos do curso de Direito, porém a ideia de abrangê-lo para outras áreas e campus está sendo idealizada. Assim como outros programas de extensão que já vimos ao longo das matérias sobre os 60 anos da Una, o Pelo Direito das Mulheres tem esse objetivo de fazer o contato dos estudantes com a vivência de mercado. Esse projeto, no entanto, abrange um assunto muito delicado, por isso, esses estudantes compreendem além do mercadológico, a importância de promover o acolhimento e auxiliar na valorização das mulheres que se encontram nestas situações. Isso faz com que eles compreendam o impacto social do programa fora do contexto da sala de aula e sua relevância para o desenvolvimento de toda sociedade.

“Acredito que o impacto do projeto nos alunos favorece não apenas o aprendizado como o desenvolvimento de suas habilidades pessoais, sociais e profissionais. A lida com a realidade social não pode ficar reservada às notícias divulgadas na mídia ou após a conclusão do curso. Com isso conseguiremos não apenas desenvolver bons profissionais, como também excelentes cidadãos”, comenta Cesar.

Mulheres em situação de violência doméstica possuem traumas e feridas que são muito difíceis de serem revividas, e este com certeza é a maior dificuldade dos atendimentos, tanto para elas quanto para os alunos. Muitas vezes para compreender e prestar o melhor auxílio é preciso abordar temas ou situações que causem desconforto emocional. O Pelo Direito das Mulheres proporciona um maior amparo social dentro de um espaço pedagógico, dialógico e jurídico, fazendo com que sejam estimulados mecanismos de superação e fortalecimento da dignidade.

Os atendimentos do projeto são realizados, em um primeiro momento, pela Casa Tina Martins e esta faz o encaminhamento para o NPJ da UNA Cristiano Machado, com a concordância da vítima. Nesse momento de pandemia, para manter a segurança dos alunos e das atendidas, eles estão sendo realizados de forma remota, por conferências, WhatsApp ou telefone, porém um plano de ação juntamente com a Casa Tina Martins de realizar plantões de atendimento da própria casa onde as mulheres poderão se sentir mais confortáveis para relatar seus problemas, já está sendo pensado.

Os auxílios podem ser solicitados diretamente na Casa de Referência da Mulher Tina Martins ([email protected] e/ou 31 32642252) ou através do formulário eletrônico. Com o retorno das atividades presenciais o atendimento poderá ser solicitado na UNA Cristiano Machado ([email protected]).

Camila Regina de Oliveira, foi uma das primeiras mulheres atendidas pelo projeto. Foi através da assessora da vereadora Duda Salabert que Camila chegou até a ajuda que precisava. 

“Ela um dia postou um número de whatsaap dizendo que atenderia pessoas que sofriam violência, discriminação e outras situações semelhantes a essas. Eu estava completamente desamparada e sem recursos porque já tinha tentado vários sem sucesso. Entrei em contato através do número indicado pela vereadora Duda através do Instagram e dentro de poucos dias fui atendida e encaminhada para casa Tina Martins e conjuntamente atendida pelo Dr.Cesar. Consegui minha medida protetiva e fui orientada dos meus direitos, mudei meu olhar diante das circunstâncias que eram tão difíceis”, conta ela.

Através da Casa Tina Martins, ela foi encaminhada para a Una onde vem recebendo diferentes tipos de assessoria e orientações jurídicas sobre o assunto. No projeto, pela primeira vez ela passou a ter conhecimento de seus direitos, “fui acuada por muitos anos e as ameaças me faziam acreditar que não existia justiça para o meu caso, o projeto me fez acreditar que as mulheres têm direitos e que podemos sim ser amparadas pela lei”, desabafa. Camila é apenas uma das várias mulheres que têm recebido ajuda através do projeto e garante que é fundamental procurar seus direitos, ninguém precisa sofrer sozinha. 

Mais uma vez a faculdade Una, mostra através de um de seus projetos a importância em criar e desenvolver ações que gerem impacto pessoal e social, proporcionar uma mudança de perspectiva e realidade para fazer conexões que possam promover o desenvolvimento de valores, potencialidades e profissional. Transformando o mundo pela educação.

Em briga de marido e mulher se mete a colher sim, inclusive, a violência não se resume só a agressão mas quem se omite também pode ser responsabilizado. Mulheres, a um primeiro sinal de ameaça, denuncie, da classe baixa até a mais alta, todas estão sujeitas a sofrer nas mãos dos parceiros.

“O amor não causa dor, não causa medo, não deixa traumas ou dívidas” mensagem da campanha do governo federal em parceria com o Conselho Nacional de Justiça.

Mais sobre Camila 

Camila, como explicamos, é uma das atendidas pelo Projeto Pelo Direito das Mulheres. Durante anos ela esteve em um relacionamento abusivo, onde era vítima de violência doméstica, no entanto, sempre que procurava ajuda em delegacias e outros órgãos públicos nunca se sentiu acolhida como quando conheceu a Casa Tina Martins e o projeto Pelo Direito das Mulheres, apenas através deles que ela percebeu seus direitos.

Hoje, Camila é uma nova mulher, mais segura de si e por isso resolveu contar sua história ao Jornal Contramão para que todas as outras mulheres que passam por uma situação semelhante a dela, entendam que há esperança. Ela sofreu durante 15 anos e é o exemplo vivo de que ninguém merece viver com medo.

Aos 16 anos, Camila engravidou de seu namorado. Pressionada pela família, a jovem casou-se com o rapaz, nove anos mais velho, e desde o início do relacionamento já era vítima de violência psicológica.“Eu não sabia cozinhar direito, e ele tinha uma mãe que era cozinheira e queria que eu preparasse pratos como ela, lavasse roupas como ela”, desabafa. 

O marido era um homem completamente machista e o relacionamento do casal foi construído dessa forma.“Sempre dizia que eu não sabia fazer nada, me tratava muito mal. Era assim, se eu fizesse uma comida e ele não gostasse, ia dormir no sofá, na casa da mãe dele, brigava, gritava. Eu não podia estar presente quando ele estivesse entre amigos”.

Quando completou seus 20 anos, Camila percebeu que não era aquilo não era normal, que aquela relação não era saudável. Ela era obrigada a ter relações sexuais. “Querendo, não querendo, bem ou não, de resguardo. Tanto que eu tive um filho com 16 e outro com 18”, conta.

A jovem se viu em um relacionamento abusivo com um homem que sugava suas energias e decidiu que queria o divórcio. Separada dele, a mulher se envolveu com outra pessoa e durante todo esse novo relacionamento o ex não deu nenhum momento de paz. Ele ameaçava matar seu novo namorado e a família dele. “Um dia ele foi passar o final de semana com meus filhos e sumiu com eles, falou que só me devolveria se eu voltasse com ele”.

Diante das ameaças, Camila, cedeu e voltou para o pai de seus filhos. De início ele se mostrou uma pessoa diferente, mudaram de cidade e viveram um tempo com tranquilidade, nesse período foram pais de outra criança. 

O casal era evangélico e o homem foi promovido a pastor na igreja onde frequentavam, e foi quando a situação voltou a ficar ruim. “Eu não podia usar sequer uma roupa que eu gostava, não podia usar maquiagem, nada”. 

Camila cansou dessa situação, já não aceitava mais calada, passou a bater de frente com o marido e fazer o que lhe fazia bem. Começou a trabalhar, estudar, tirar carteira, e isso claro, o incomodou. “Ele surtou, ele não dormia. Passava a noite no banheiro mexendo no meu celular, procurando conversas com outros homens. Em cima do meu guarda roupa tinha facão, machadinha. Às vezes eu acordava e ele estava olhando para mim com um travesseiro na mão”. 

Até então as agressões eram apenas verbais. Na época, Camila trabalhava em um consultório odontológico e o marido cismava que ela estava tendo um caso com seu patrão, por essa razão, um dia foi até o local e a agrediu fisicamente. 

“Minha sorte era que era uma galeria e o pessoal o conteve. Esse dia que ele me bateu lá eu fiz corpo de delito e ele foi tirado de casa. Só que ele tem um irmão policial aposentado muito bem relacionado e eles usaram todos os meios possíveis para me intimidar”.

Camila chegou a fazer o boletim de ocorrência, porém ele desapareceu. Por muito tempo, ela teve vergonha em buscar ajuda, mas depois de ser agredida em seu próprio trabalho ela mudou. “ Eu perdi o medo, eu fui com tudo, já era meu limite, porque eu pensei assim, se ele veio fazer isso comigo no meu trabalho, quando chegar lá em casa ele vai fazer o que comigo?”.

Os dois se separaram, o filho mais velho quis ficar com o pai e os dois mais novos ficaram com ela. Um mês depois o pai foi buscar os filhos para passar o final de semana e como da outra vez em que haviam se separado, falou que só a deixaria vê-los novamente se voltasse com ele. Camila desta vez não cedeu e ele pegou os filhos e levou para a cidade onde seus irmãos moravam. Além do policial aposentado, o outro era vereador e muito influente no lugar e deixaram claro que ela não procurasse as crianças. 

“Às vezes eu tentava algum movimento de ligar para ter contato com os meus filhos, sempre que fazia isso quando eu saia do meu trabalho tinha um irmão dele que estava no carro, na porta do meu serviço e ficava apontando para mim fazendo gestos sabe, que ia me matar. Ligavam no meu trabalho, me ameaçava, foi horrível. A irmã dele me ameaçou na rua”.

Sem os filhos, Camila passou a ler e estudar seus direitos, procurou a Delegacia da Mulher, os recursos humanos e segundo ela, em todos os órgãos que procurava ajuda ela era mal atendida. Sempre que ia à defensoria pública, eles diziam que ela precisava de uma medida protetiva que ela não tinha.

“Eu dormi na delegacia das mulheres muitas vezes com medo, porque ele vivia me seguindo e com risco de perder meu trabalho pois estava sempre chegando atrasada no trabalho, mas nunca tinha sucesso, porque quando chega alguém de viatura lá que foi agredido fisicamente, essas pessoas têm prioridade, e isso é o tempo todo. Então se você está lá inteira, não está faltando nenhum pedaço, não está fisicamente agredida e machucada eles não atendem, então fiquei muito assim, muito tempo tentando”.

Por muito tempo Camila procurou por ajuda,  porém isso começou a interferir em sua vida. Como não conseguiu o suporte acabou entrando em uma forte depressão e precisou procurar outro tipo de auxílio que não a jurídico, o psicológico. Deu início a um tratamento com um psicólogo, onde percebeu que podia se abrir para outros relacionamentos e quando isso aconteceu, descobriu como uma relação saudável é leve e feliz

“No começo foi difícil, eu não conseguia lidar com relacionamento, eu não me sentia boa o suficiente para um relacionamento, porque a outra parte tinha a vida muito bem resolvida e eu era problema todo dia. Ele recebia ameaças no celular dele, recado que ele mandava, e eu tava sempre chorando, sem poder ver ele porque eu tava na delegacia, sempre algo do tipo. Minha vida não era nem não resolvida, era totalmente sem estar resolvida. Mas ele nunca soltou minha mão, desde o momento em que ele se comprometeu a estar comigo ele está até hoje e me dando força para lutar”.

Depois de ter conseguido o divórcio, Camila seguiu sua vida em se novo relacionamento, que lhe deu mais uma filha . Quando descobriu o nascimento da bebê, a irmã do ex-marido a procurou para que ela voltasse a ter contato com os filhos.

“Essa irmã dele ofereceu para eu poder voltar a ter contato, porque, na verdade , quem cuidava era ela e a mãe dela, e os meninos cresceram e viraram adolescentes problemáticos, aí elas não quiseram mais. Porque antes eles eram criancinhas tranquilas e agora não eram mais. Eles sempre me culpavam como se eu tivesse abandonado meus filhos, diziam que estava errada, se eu tivesse ficado com o pai deles eles não eram assim. Então a culpa dele ter me tomado os meus filhos era minha de não ter aceitado ficar com ele”.

Toda sua família, a do pai de seus filhos e as pessoas ao seu redor a julgavam, eles a condenavam por ter abandonado seus filhos, a colocavam como errada por não ter ficado com o pai deles.

Foram muitos de culpa. Para Camila a errada era ela, sendo que na realidade ela era a maior vítima. Essa situação só mudou graças à ajuda de projetos como a Casa Tina Martins e o Pelos Direitos das Mulheres.

Dentro da casa, Camila passou a receber os mais diversos tipos de ajuda, desde orientações sobre seu caso até psicológica e foi direcionada ao projeto Pelo Direito das Mulheres, onde com ajuda do coordenador Cesar e os alunos, passou a entender melhor seus direitos e ganhou o suporte necessário para conseguir sua medida protetiva.

“A partir do momento que aquele homem recebeu na casa dele a medida protetiva, eu tive paz, acabaram as ameaças, ele não vem mais aqui, acabou”, relata.

Foram longos anos de luta até conseguir sua liberdade. O ex-marido de Camila destruiu sua vida, sua saúde mental e a separou dos filhos. Durante muito tempo aquela mãe teve picos emocionais, não conversava, só queria ficar sozinha com a culpa que carregava de não estar ao lado dos filhos os vendo crescer.

“Ele tinha tanto tempo de me ameaçar com a família dele, de me cercar, de vim no portão da minha casa mesmo eu já sendo casada, de mandar mensagem pelo celular dos meus filhos me ameaçando, que como eu nunca tinha conseguido ajuda eu achava que ele tava certo, que eu era errada. Se eu tivesse certa a polícia me atenderia. Ninguém nunca me atendeu. Voltava atrás e falava, você tá bem, isso não é relevante, você falou que tinha um corpo de delito mas ele não existe. Como se eu tivesse mentindo, isso acabava comigo eu pensava assim, eu nasci para ser isso mesmo, a mulher nasceu para ser ofendida mesmo, insultada, humilhada, porque não tem recurso pra ela”.

Hoje, Camila é outra mulher que encontrou um parceiro que a faz feliz, a respeita, aceita seus filhos, e o mais importante, Camila conseguiu justiça. Camila é uma mulher forte, que faz questão de contar sua história para inspirar outras mulheres, para mostrar a elas que existe saída, foram anos de luta mas ela conseguiu vencer e todas podem conseguir.

Camila é exemplo de sobrevivência, o Projeto Pelos Direitos da Mulher está aberto a ajudá-las, a qualquer sinal de violência física, psicológica, moral, sexual, econômica e social DENUNCIE!