Alimentando a esperança na Praça da Liberdade

Alimentando a esperança na Praça da Liberdade

Uma cena que, a principio, parece-nos corriqueira e sem muita relevância, revelou nesta tarde um personagem inusitado, na Praça da Liberdade. Carlos Rodrigues da Silva, 28, alimentava muitos pombos na Praça. Os pombos formaram um grande circulo em sua volta, todos à espera de um pouco de alimento que Silva oferecia com as mãos ou jogando no chão, sem nenhuma preocupação além desta, até que o alimento acabasse.

Morador do bairro Morro do Papagaio que fica próximo à região da Savassi, Silva vai à Praça duas vezes por dia para alimentar os pombos: “Venho pela manhã ás 7hs e fico até 12h, depois almoço e volto ás 14h”, diz gostar muitos de animais, e que quando criança já teve cachorro, pombo e passarinho: “aos cinco anos eu tinha um passarinho amarelo ele era lindo e fazia um som lindo, eu alimentava ele bem. Tenho um vizinho que criava pombo, então comecei a criar, ia ao mercado comprava pombo novinho, fui acostumando em casa, mas fiquei doente parei de criar e vendi tudo”.

Silva relata que já teve outros animais como galinha, mas não tinha dinheiro para sustentá-las: “catava couve para as galinhas e meu vizinho ficava brincando comigo: você vai pegar essa couve pra fazer na sua casa, as couves todas murchas”.

Carlos Silva não tem emprego fixo, nem é aposentado, se diz “autônomo” e realiza “bicos” para sobreviver, gasta a maioria do que ganha com a comida que compra para os pombos, revela que hoje ao fazer um serviço de carregar latas de concreto para um vizinho ganhou R$ 2,00 (dois reais) e gastou com milho e canjica para os “bichos”, que é como ele os chama. “No Faustão e Gugu vai uma galera de bicho que pra receber comida, eles tem de fazer algo primeiro, depois ganham a recompensa, alimento os pombos e não cobro nada, graças a Deus, eu gosto deles, da natureza”.

Silva diz que não existe uma identificação pessoal dele com os pombos, que se aproximam apenas porque ele joga o alimento no chão: “eles se aproximam para receber as coisas boas que eu tenho a oferecer, eles não me reconhecem, não tem o cérebro igual o nosso, é instinto, os bichos aprendem, nós vamos ensinado e eles aprendendo”.

Ao ser perguntado sobre autorização para alimentar os animais, Carlos respondeu que às vezes alguém vinha falar com ele que não podia dar comida para os pombos, mas ele não liga: “rico acha ruim que eu alimente os pombos, me orientam a não alimentar, é o coração duro das pessoas”.imagem-016

É sempre interessante perceber como uma cena simples aos olhos desinformados de alguém pode ser uma atitude de vida de outrem. Entre outras essa é uma das cenas que compõem o “espaço” Praça da Liberdade que além de abrigar beleza física, arquitetônica e ambiental, abriga almas surpreendentes.

Por: Danielle Pinheiro

Repórter: Iara Fonseca

Fotos: Débora Gomes

NO COMMENTS

Leave a Reply