Almanaque: Banda Chico e o Mar

Almanaque: Banda Chico e o Mar

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Venha conhecer mais sobre essa banda que é destaque no cenário musical de BH

*Por Bianca Morais

A velha guarda do rock belorizontino foi representada neste almanaque pelo trio de bandas parceiras, os “frendes” que estão nessa estrada há mais de 10 anos. O estilo rock tem sumido e não que ele esteja morto, mas é cada vez mais raro você ver aqueles meninos de 17 ou 18 anos, amigos de colégio, formarem uma banda de rock. Em meados de 2014 e 2015 houve um boom desse fenômeno, mas hoje a frequência é muito menor. Os jovens de hoje se influenciam por outros tipos de música. Por isso, quando apareceu a Chico e o Mar, a Devise vibrou.

Quem é Chico e o Mar e porque eles cativaram as bandas de rock de BH, eu vou contar agora.

O nome da banda Chico e o Mar não nasceu do Rio São Francisco que deságua no Oceano Atlântico. Na verdade, nasceu de um brainstorming de ideias vindas de uma noite qualquer na cobertura do apartamento do vocalista Daniel Moreira, onde estava ele, o Caio Gomes, baterista, o primo Paulino e o Jairo da banda Young Lights.

*Escutem Young Lights nas plataformas de streaming. A banda, além de parceira dos caras da Devise, também apadrinhou a banda Chico e o mar e serve de muita inspiração para os garotos.*

A banda precisava de um nome e de uma coisa eles tinham certeza, queriam algo brasileiro e leve. O avô do Dan se chama Chico e o vocalista sempre quis colocar o nome dele em algum projeto. Pois bem, a noite terminou e no dia seguinte o Jairo mandou uma mensagem pela manhã para o Dan escrito “Chico e o Mar”, e foi isso. A banda agora tinha um nome para se apresentar.

Você quer algo mais brasileiro que o nome Chico e mais leve do que a palavra mar?

Ao longo do tempo, o nome começou a tomar outras proporções. No início, era algo que foi criado na pressa para suprir a demanda da banda de ter um nome, mas com a entrada dos outros integrantes foram atribuindo novos significados. Quanto mais o grupo de cinco garotos se conhecia e trocava experiências, mais o nome ganhava sentido diferente na cabeça de cada um. O mar é algo infinito, que nos faz navegar por oceanos desconhecidos e descobrir novas coisas. O nome é amplo e permite descobrir novos caminhos a cada dia.

A Chico e o Mar é uma banda independente que vem buscando sempre fazer as coisas com sua cara e encontrar o espaço dela no cenário. Nunca gostaram de tocar covers. Eles têm uma ideia muito forte de que você tem que ir a um show deles, escutar as músicas e depois de três ou quatro shows você já vai saber cantar todas suas músicas e gostar do trabalho deles. E eles estão errados? Claro que não. É muito comum bandas com medo de se arriscar no cenário musical e, por isso, acabarem colocando covers no repertório para agradar ao público. A Chico não quer isso. Eles não querem que vocês gostem deles por músicas de terceiros e o tempo que gastariam treinando música de outras pessoas, eles preferem gastar trabalhando nas próprias músicas.

Destemidos, eles sempre estão em busca de mostrar que BH não é somente o circuito do rock com banda cover. Eles querem ser a resistência, um grito de “tem música boa em BH”.

Com dois anos de banda, eles tem se sentido mais à vontade para percorrer diferentes cenários musicais. Se você escutar a primeira música “Vida” e a última “Afogado”, vai ver que eles deixaram de ser aquela banda que tocava somente romance e passaram a abordar novos temas como amizade, coisas que gostam de fazer juntos, um dia legal, trocas e relações familiares.

É muito gostoso escutar Chico e o Mar, principalmente se você é um jovem de 16 a 24 anos, porque você consegue se enxergar nas experiências. Ao longo do tempo, a nossa narrativa de vida muda, conforme vamos vivendo e ganhando experiência. Tem períodos que você passa por um término de namoro e outros que você está feliz com a vida.

Como tudo começou

Daniel Moreira tinha um projeto solo, mas ele não queria ser solo, queria os amigos perto dele. Foi então que lá em 2015 uma amiga em comum apresentou o Dan vocalista para o Caio baterista, já na intenção de que dali iria surgir um cunho musical. Acontece que além da música, nasceu uma amizade muito íntima e os dois começaram a construir juntos o sonho de uma banda.

Da primeira formação até hoje, muitas coisas mudaram. Com o primeiro baixista, o Bode, a Chico apresentava um som bem diferente, algo mais dark, que dizia muito a respeito do que passavam na época, adolescentes vivendo um contexto caótico (quem nunca passou por problemas na juventude, não é mesmo?). Mas esse som mais pesadão não deu certo e o Bode resolveu meter o pé.

Caio e Dan não desistiram do seu objetivo e pelo caminho encontraram o Calil, onde nasceu a segunda versão da Chico. O Calil era um tunisiano, não falava português, muito classudo no seu modo de tocar. Caio e Dan eram músicos que queriam se expressar pela música, colocar suas coisas no mundo e todo aquele perfil técnico do baixista não se encaixava a eles. O ritmo não inseria, mas era o que tinha para o momento.

Nesse meio os irmãos Guilherme Vittoraci e Gustavo Vittoraci entraram na banda trazendo consigo uma sintonia muito forte. O Caio tocou em igreja durante muito tempo de sua vida, o Guilherme e o Gustavo também. Tocar todos os finais de semana para um determinado público trouxe para eles muita segurança e capacidade de improvisação. Por isso, no primeiro ensaio deles rolou aquele clássico jam que durou uns 10 minutos e no final um olhou para o outro e falou “NU, que doido!”.

A Chico começava a crescer, mas ainda faltava um elemento, já que o Calil resolveu seguir seu caminho, pois viu que ali já não cabia mais.

Coincidências engraçadas, BH é um ovo. Lembra daquele encontro de rua que fez o Leo e o Rapha da Ous terem a ideia de voltarem com a banda? Então, aparentemente encontros ao acaso são muito mais comuns no mundo da música do que parece. Porque foi em uma ida à academia para cancelar sua inscrição que o Dan encontrou o Gabriel Frade.

Pois bem, quem é Gabriel Frade? O Frade é músico profissional há um tempão, já tocou em um milhão de bandas e foi desses rolês que ele conheceu o Dan. E ele também já estudou com o Guilherme lá em 2015. Ou seja, ovo.

No encontro na academia, o Dan contou para o Frade que estava procurando um baixista e o chamou para um ensaio. Frade enxergava no Dan uma determinação e vontade de crescer rápido e, por isso, foi todo nervoso para esse ensaio. Se preparou como se fosse uma entrevista de emprego, com medo. Mas deu certo. E até hoje ele está aí.

A chegada do Frade trouxe à banda um conhecimento de mercado. Eles já tinham músicas, ensaios, mas a chegada dele foi como sair da imaturidade e procurar se profissionalizar.

Os meninos não se conheceram no colégio, mas a vida os uniu e os fez compartilhar de uma amizade muito forte que qualquer um que acompanha a banda um pouco consegue perceber. As capas dos singles sempre são eles tumultuados, juntos, um em cima do outro. No Instagram, as fotos demonstram o carinho que têm um pelo outro, abraço, beijo no rosto, arrumar o cabelo, abotoar o botão da camisa, coisas simples de convivência que criaram e demonstram muito o que a Chico e o Mar é: jovens garotos com um sonho em comum e uma amizade linda.

As composições

As músicas da banda na maioria são composições que o Dan trouxe com ele da sua carreira solo e então os cinco repaginaram para a versão Chico e o Mar. Antes era uma versão mais Dan, mais grunge e a Chico colocou aquela pegada divertida, alto astral, leve, brasileira, dançante. Eles são o que eles próprios chamam de Indie Pop dançante.

Dan e Gui tem uma capacidade de composição rápida. É algo muito orgânico, depois que sai das mãos deles, o Caio pensa em um riff e uma melodia e em seguida vai para o Frade e para o Gui contribuírem.

A história por trás da música Vida:

Vida é uma canção que representa muito a ideia de como as letras que o Dan trouxe da carreira solo foram transformadas pela banda em conjunto. Ela nasceu de um romance que ele viveu, um relacionamento que ia e voltava (claro que você está passando ou já passou por isso, certo?).

“Claro que não vou te deixar

Para de pensar assim

Deixa o coração guiar

Segue o que ele mandar”

No final ela foi embora, o relacionamento acabou e o Dan estava solteiro, mas não sozinho, porque a vida o trouxe o Caio, o Gui, o Gu e o Frade. Juntos eles mudaram a melodia daquela canção e adicionaram um detalhe ao final.

“Mas não é você quem vai me fazer feliz

Não é você quem vai me deixar aqui”

Foi importante contar que depois de tudo positivo que a música trouxe, o romance acabou. Estamos acostumados a não querer que as coisas vão embora, mas uma hora acaba acontecendo.  A música então serve como abraço, um consolo para esses corações partidos.

Mas não só de tristeza e melancolia vive a Chico e o Mar. Sereno, a segunda música, já tem algo mais dançante, flertando com o pop.

A banda não se prende a estereótipos. Sempre se expressam da forma que querem e autenticidade é uma palavra boa para definir. E por falar em autenticidade, a banda já foi campeã de uma Sessão Autêntica, evento que acontece na casa Autêntica. Falaremos dela mais para frente.

Festa é uma pegada mais orgânica e lenta, com inspirações no Clube da Esquina. Carnaval é uma música mais animada. Já o último lançamento, Afogado, quebra todas as expectativas, ritmo lo-fi, baixa produção. O Gui fez o beat do celular e o Dan gravou em um fone de 10 reais. Mesmo assim, a música bomba nas plataformas de streaming.

A relação com os fãs

Se você está procurando uma banda para ser fã, a Chico e o Mar é uma ótima opção. Eles vão te tratar como amigos, trocar ideia com você e te chamar para beber junto antes dos shows. Como eles denominam o rolê, “Chico e o bar”. E se depois do show você ainda estiver animado, pode encontrá-los pela Savassi para beber mais e se divertir.

A banda é construída em um conceito de amizade e, por isso, eles tentam quebrar a ideia de ídolo e tentam se aproximar dos fãs pela interação. “Chico e o zap” é o grupo de Whatsapp onde eles realizam uma troca mais íntima com quem curte o som deles. Esse público apresenta um retorno muito positivo ajudando a banda com divulgação, seja comparecendo em shows, divulgando clipes novos ou filtro do Instagram.

A ideia de Economia Colaborativa:

A Chico e o Mar é uma banda jovem, cheia de energia e vontade de produzir o novo. Porém, jovens e estudantes no começo da carreira, passam pela famosa dificuldade de todas as bandas independentes: a grana.

Acontece que a geração Z de mentes jovens e revolucionárias como a Chico e o Mar aprendeu como administrar essa situação a seu favor. Com a noção de economia colaborativa, a banda aprendeu a abraçar quem está por perto, fazendo trocas com as pessoas que estão no cenário da arte.

Belo Horizonte sempre foi um lugar de muito fluxo de produção. Principalmente em um momento que existem olhos voltados para a capital mineira, a ideia de pessoas produzindo em conjunto, crescendo e ganhando visibilidade é algo muito importante.

Ao invés de pensar no melhor fotógrafo da cidade, a banda vai em busca de pessoas que eles acreditam que são boas e possam trabalhar de forma colarativa com eles. Todos ganham. A banda tem crescido para fora da capital mineira, por isso, o trabalho de quem os ajuda também.

 

*Esse produto resultado do Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Una da Jornalista Bianca Morais.

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