Almanaque: Banda Matiza

Almanaque: Banda Matiza

Por Bianca Morais

Matizar: Fazer passar gradualmente de um matiz a outro: a arte de matizar as cores.

Em busca de uma palavra que remetesse a mistura, a banda que não tem um estilo fixo, nomeou-se Matiza, sinônimo de misturado.

Com formação atual de Eduardo Maia (vocal), Bruno de Maria (vocal e guitarra), Pedro Martins (baixo e vocal), Lucca Azevedo (guitarra) e Flávio Marcos, o batata (bateria e percussão), a banda define seu som como pop progressivo, um derivado do rock progressivo, o prog.

Para conhecimento geral, o Batata tem esse apelido porque a irmã dele tinha apelido de batata e antes dela o irmão dele teve apelido de batata, e antes dele a outra irmã teve apelido de batata. Todos estudaram no mesmo colégio e o apelido é de família.

Não só Batata tem nesse almanaque, mas segura mais um pouco que lá na banda Daparte aparece um Cebola. Só continuar lendo.

Agora, se assim como eu, você nunca havia ouvido falar desse gênero, e achava que prog era algo relacionado a eletrônica, deixa eu te explicar um pouco sobre.

O progressivo é um estilo de música que surge quando o artista mistura muitos estilos. Tem a ver com a ideia de pegar coisas e tentar juntar de forma a criar algo novo, independente. É como se fosse um rock alternativo, se assim ficar mais fácil para você entender. Porém, como a banda anda bem distante do rock e não tem muita guitarra distorcida. Não dá para classificá-la dentro do rock e seus subgêneros, por isso se enquadram numa pegada mais pop.

O principal compositor da banda, o Bruno, carrega consigo grande influência do MPB. Inclusive, ele tem um projeto solo de Bossa Nova. Escutem Samba da Bahia, nas plataformas de streaming. Os arranjos e melodias bases elaborados pelos outros integrantes da banda seguem influências de todos os lugares que já passaram e músicas que escutaram.

Quando você escutar Matiza, o termo progressivo irá vir a sua cabeça de primeira, porque a sonoridade deles remete a muita coisa que provavelmente você já ouviu durante sua vida, mas ao mesmo tempo consegue ser bem diferente.

É, não dá para explicar muito além disso, mas dificilmente uma banda consegue classificar e enquadrar o seu gênero dentro de um só, de primeira.

Pode ser que você diga que te lembram 5 a Seco ou Jorge Vercillo. Alguns arriscam que os vocais das músicas, principalmente do primeiro EP, que tem muito vocal com três ou quatro pessoas cantando ao mesmo tempo, relembra a música mineira de antigamente, aquele MPB do Clube da Esquina e Milton Nascimento. De mineiro também são comparados a 14bis.

Se assemelham a banda britânica Yes por conta do rock progressivo.

Agora, para finalizar essa classificação das influências, segundo o baixista Pedro, se Incubus fosse mineiro, seriam iguais a eles.

Enfim, depois que você escutar e chegar a alguma conclusão, conta para eles que irão adorar saber.

Comparações a parte, a banda é uma mistura de influências que cada integrante traz em sua bagagem. Tem Tame Impala e Avenged Sevenfold (principalmente nas guitarras e solos) vindos do Bruno e do Lucca. Tem Pink Floyd e Boogarins do Batata, tem o soul e o black music vindos do Pedro e o Dudu gosta de música nordestina.

A banda nasceu em 2017, logo após um encontro por coincidência entre os amigos Bruno e Edu (mais uma para a série: “BH é um ovo”).

O Bruno tocava em uma banda cover de Avenged Sevenfold e o Edu foi assistir. Depois do show foram conversar e ali resolveram fazer uma banda de música autoral. Sem mais delongas, foi isso.

A banda começou a ensaiar em agosto daquele ano e fizeram seu primeiro show em outubro de 2017, em uma sexta-feira 13. Data meramente ilustrativa, nenhum azar tiveram, apenas o de não conseguir tocar um repertório 100% autoral. Atire a primeira pedra uma banda que nunca tocou um cover para vender show.

Mas nem os covers deles são normais, eles colocam a parada do progressivo até nisso.

Depois do primeiro show como Matiza e tocando cover, as composições já estavam a todo vapor. Dali para frente, aos poucos foram conseguindo encaixar o autoral no repertório.

Pedro e Batata ainda não estavam na banda, nessa época seus lugares pertenciam ao Vitão no baixo e Vivi na bateria.

O Vitão precisou sair por problemas pessoais e por indicação de um amigo em comum, o Pedro entrou na banda.

O primeiro contato do Batata com os meninos foi em um festa de Halloween da engenharia elétrica da UFMG. Batata, já formado, estava ajudando seus calouros a organizar a festa. Foi então que chegou uma banda com o instrumentos na mão e perguntaram:

“Quem vai montar o palco para nós?” (Caso não tenham pegado, a banda era a Matiza)

O Batata olhou para seus calouros, seus calouros olharam para ele e rolou um “ferrou”.

Porém os olhos de Batata era apenas para assustar os garotos, já que ele é engenheiro de áudio e manja tudo do assunto.

Foi lá, arrumou o palco, regulou o som durante o show, sucesso.

Ali a banda conheceu quem seria seu futuro baterista quando o Vivi precisou se mudar para São Paulo a trabalho.

Em determinado momento da trajetória, sentindo falta de mais som, chamaram o Lucca para ser o segundo guitarrista.

Desde o começo até hoje muita coisa mudou, a banda foi criando mais familiaridade com seu som e cada dia mais levando o projeto com mais seriedade. Se antes era tudo festa, hoje ainda é festa, só que também é trabalho, e muito trabalho. Se no início a grana de cachê era repartida igualmente para os membros, hoje eles que lutem porque toda grana que fazem vai diretamente para o caixa da banda que é usado para produzir, lançar música e fazer marketing digital. A seriedade com que levam a banda é algo que mudou muito ao longo do tempo.

Ainda em busca de saber qual é o público alvo da banda, trabalham com anúncios de Facebook ads e no Instagram. Procuram direcionar as músicas para os mais diferentes grupos, analisando como esse público responde aos anúncios, aos vídeos e buscando resultado para entender quem gosta do conteúdo.

Assim como a Chico e o Mar, a Matiza também conta com o apoio de uma distribuidora de música, a Distrokid. Hoje tudo é online e o Spotify e Deezer, por exemplo, são a melhor maneira de divulgar seu trabalho. Essas empresas tomaram o papel das gravadoras e o contrato que antes se fazia com elas, pode ser feito agora com as distribuidoras que colocam suas músicas na plataforma de streaming. Dentro do mundo musical, existem rumores de que em um futuro bem próximo, até mesmo essa distribuição deixará de existir e as bandas terão contrato direto com os streamings.

Atualmente, poucas são as bandas independentes que realmente almejam tocar nas rádios, porque se tornou algo muito difícil de se atingir, principalmente se você parar para escutar as músicas que são tocadas em rádio. Existe uma determinada fórmula, músicas com menos de 3 minutos, refrãos mais simples e fáceis de decorar.

A Matiza é um exemplo de banda que resolveu por não se adequar ao mercado da música comercial. Quando você escuta um som deles, entende de cara o motivo disso. Eles contam com muitos elementos específicos; tem dueto, solo de guitarra, de baixo. Mesmo sabendo que isso não deixa a música atrativa aos olhos comerciais, os meninos preferem fazer a música deles, lançar do jeito que ela é, do jeito que gostam e depois descobrirem quem vai querer ouvir.

Aconteceu isso com o último lançamento da banda, Noite em BH.

“E nós em paz, a noite em BH

Sobe-desce Bahia

De amores que eu vivi”

Inicialmente, a ideia era fazer um pop palatável, que cairia na graça do povo, quem sabe das rádios (indo contra seus princípios). Não demorou muito para a banda ver que não era o que queriam. Bruno chegou com o final instrumental da música, dois solos de guitarra, no meio dobra a guitarra, tem solo do Lucas primeiro, depois tem mais solo do Bruno, depois os dois dobram juntos.

É muita guitarra. Agora já imaginou se isso se encaixaria em um padrão comercial? Jamais. Nem um pouco preocupados com isso, bateram o martelo e soltaram do jeito que queriam.

Particularmente, que música boa. Só não ganha de Tropical Gin (a minha favorita).

Noite em BH foi composta pelo Bruno para sua namorada. A lírica é sobre um romance na cidade de Belo Horizonte. Que belorizontino nunca teve um amor que subiu e desceu Bahia? Quer banda mais mineira que isso?

Outra curiosidade é que a música veio primeiramente do projeto solo de bossa nova dele, mas ao cair na mão do Batata, Pedro, Dudu e Lucca, ganhou uma dimensão completamente diferente.

Assim como Noite em BH e Tropical Gin, a banda é cheia dessas músicas que vão te envolver e levá-lo para uma parada bem diferente de tudo que você está acostumado a ouvir. São sons experimentais, de viajar na música mesmo. Vale a pena conferir.

 

 

 

 

 

*Esse produto resultado do Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Una da Jornalista Bianca Morais.

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