Comportamento

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*Por Bianca Morais

Quantas vezes você já andou de avião? E em quantas delas você viu uma mulher no comando? 

A resposta para ambas as questões provavelmente será poucas ou nenhuma. De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) no ano passado, enquanto no total foram expedidas 3183 licenças para pilotos homens, para mulheres foram apenas 207. Uma realidade assustadoramente desigual, colocando a profissão de piloto em um patamar quase totalmente masculino. Embora a diferença ainda seja muito grande, a realidade vem mudando ao longo dos anos. Por exemplo, entre 2015 a 2017, o número de mulheres com licença de pilotos privados de avião (PPR) saltou de 279 para 740, aumento de 165% nessa categoria. 

Quando falamos em papéis sociais, condicionamos indivíduos em determinados grupos de uma sociedade. Antigamente, a figura feminina estava relacionada a dona do lar. Porém, após muitas manifestações e batalhas, houve várias conquistas como o poder de voto, acesso à educação, ensino superior e a aclamada entrada no mercado de trabalho. A mulher enfim deixou um lugar que lhe havia designado e até hoje luta pela igualdade dos gêneros. 

Para se ter uma ideia, por anos não se usava a palavra “pilota” para se referir às mulheres que exerciam esse cargo, utilizava-se apenas o adjetivo “piloto”. Como por muito tempo os cargos eram fundamentalmente ocupados por homens, as mulheres não participavam dessa área e não eram nomeadas dentro dela, sendo invisíveis ali. Entretanto, com o aumento da inserção feminina se enxergou a necessidade da mudança. Nomear em feminino a profissão mostra a visibilidade que elas têm ganhado.

Quando se ingressa em uma profissão como a aviação, tanto mulheres quanto homens abrem mão de estarem próximos de parentes e amigos. Não existe uma rotina fixa, por isso são datas especiais, feriados e aniversários longe de casa. Agora, se já é complicado para um homem, imagine para uma mulher que carrega uma pressão social de ser mãe e que precisa deixar os filhos em casa. Ou da esposa que fica dias longe do marido, ou de simplesmente uma mulher independente que coloca seus planos profissionais acima daquilo que se espera dela. Aí surgem os comentários, as brincadeiras e cochichos dentro da família ou no ambiente corporativo.  

A liberdade de poder ingressar no mercado de trabalho foi dada à mulher há anos, porém a sociedade quer encaixá-las em empregos normativos, porque, por mais que não se assuma, grande parte das pessoas querem ver as mulheres crescendo, mas não aceitam que a  independência delas saia do “padrão”.

A maioria das profissionais no ramo da aviação se encontram na classe de comissárias de bordo, mulheres estereotipadas, maquiadas, arrumadas, bem vestidas. Um cargo como pilota muitas vezes é almejado, mas pela falta de incentivo e representatividade o sonho fica pelo caminho. É fato, que o valor dos cursos  são altos, mas se existissem mais encorajamento, com certeza, haveria mais inclusão, muitas ainda não sabem que também podem ocupar esse espaço.

É devagar que elas vão conquistando as alturas.

São poucas, mas elas existem.

Juliana Steck, 34 anos, trabalhou durante 10 anos como tripulante, hoje tem um canal no youtube e uma escola de cursos de aviação. Começou na área com 18 anos, fazendo o curso de comissária de bordo, e trabalhou no setor durante cinco anos em uma companhia brasileira. Seu próximo passo na carreira foi estudar para piloto, levou cinco anos para concluir. Quando terminou o mercado da aviação estava aquecido, por isso, conseguiu emprego fácil, voou durante dois anos em um ATR-600.

Em sua trajetória no comando de uma aeronave, Juliana admite que já vivenciou o machismo. Em um caso, ela conta que estava em aeroclube e o instrutor do lugar a indicou escolher o Cessna, um modelo de avião mais fácil, e disse que por ela ser mulher iria se adaptar melhor a ele. Juliana que nunca se deixou ser rebaixada em sua profissão, acabou fazendo todas suas horas no Paulistinha, que na teoria do instrutor, era o avião que mulheres não conseguiriam voar.

“Nunca me coloco no papel de vítima, sempre considero que o problema está no outro e não em mim. O que as pessoas pensam de você não muda quem você realmente é. Não me importo se alguém me considera inferior, eu sei das minhas capacidades e sigo em frente”.

Tem poucas mulheres, como você vai conseguir isso

Karla Cristina Martins, 32 anos, formada em Ciências Aeronáuticas atua na área da aviação há nove anos. Com a ajuda dos pais e abrindo mão de festas e viagens, a mineira conseguiu economizar dinheiro para sua formação. Se já não é fácil ser uma mulher no mundo da aviação, ser uma mulher negra requer muito mais força. “Lidar com preconceito é difícil, o olhar de desconfiança das pessoas, principalmente quando chega uma negra de black power no aeroporto” desabafa.

Mas nada disso nunca foi um empecilho na jornada da pilota. Com muita raça, foco e coragem, ela nunca desistiu de seu sonho. Hoje em dia, atua como freelancer e sempre escuta comentários cruéis, muitas vezes até dos próprios familiares, que duvidam de sua capacidade. Justificam seus argumentos em cima do fato dela ainda não ter entrado em uma companhia aérea, pois o curso não deu certo, que fez um curso que não tem nada a ver com ela.

“Questionam até como meus pais tiveram dinheiro para pagar meu curso, acham que por sermos negros e ter vindo da favela não podemos ter condição para nada”.

A verdade é que aviação não é um mercado fácil, existem aqueles que sonham com a pilotagem desde cedo e não tem condição, por isso, começam  em outra área da aviação, como a de comissário de bordo, juntam o dinheiro e ainda têm a possibilidade de crescimento dentro da própria empresa. Karla ainda é nova e tem muito a trilhar na sua carreira, e não é o que os outros pensam que ditará seu futuro.

Quando se é mulher na aviação, sempre vão duvidar de sua capacidade, encontrarão uma forma de tentar diminuir sua conquista, mas são essas pessoas de mente pequena que nunca, nem ao menos tentaram algo tão grande.

“Eu ainda estou viva, enquanto eu puder eu vou lutar para chegar lá, e sei que vou alcançar, não é fácil, mas a luta continua. O bom dessas pedras que recebi é que servem para construção dos degraus da minha vitória e da muralha para me fortalecer”.

Sexismo na aviação

Bethânia Porto Pinto Toledo, 44 anos, sempre quis ser uma pilota de avião. Com seus 13 anos de idade já ansiava fazer o curso, mas por conta da idade foi apenas com seus 17 que conseguiu começar a fazer a parte teórica. A jovem garota no auge dos seus 18 anos, enquanto muitos da mesma idade ainda estavam concluindo o ensino médio, ingressando em uma faculdade, Bethânia estava tirando sua primeira licença de piloto privado.

Com 25 anos na aviação, a comandante, hoje está a frente do Airbus A330 em uma das maiores companhias aéreas do Brasil, fazendo voos nacionais e internacionais. Inclusive, vale ressaltar que esse modelo de avião que ela pilota, dentro da companhia em que trabalha, somam-se no total duas únicas comandantes mulheres no meio de mais de 150 homens.

Dedicada, a pilota nunca se deixou abalar por comentários machistas vindo tanto da parte de outras mulheres quanto de homens, como “precisava ter homem nesse voo para ser mais seguro”, ou “eu acho que isso não é profissão de mulher”. Um episódio específico ficou muito marcado em sua vida, isso porque ele teve repercussão não apenas nacional como mundial.

Foi em 2012, que a comandante estava em seu local de trabalho e viu um passageiro em questão conversando com uma agente, ele fazia gestos apontando para a cabine. Depois de um tempo, a despachante foi falar com ela e disse que o passageiro alegava que não estava se sentindo à vontade em voar com uma mulher e que iria fazer uma reclamação com a empresa.

Bethânia, com todo seu profissionalismo, foi conversar com o rapaz. “Ele estava muito ofegante, meio descontrolado na verdade, falou que queria ter a opção de não voar com uma mulher” conta ela.

A comandante, preocupada com seus outros passageiros, afinal, se por eventualidade durante o voo acontecesse qualquer situação inesperada que deixasse o homem em pânico, ele poderia colocar um avião inteiro de pessoas assustadas. Falou a ele então que estava disponibilizando sua vaga no voo e ele iria em outro. Nesse momento ela pediu à comissária que fechasse a porta da cabine.

“O homem começou a fazer um show lá atrás, falou que ele estava sendo vítima de uma situação e que ele não descia nem sobre a presença da polícia. Foi nesse momento que tive que chamar a polícia federal para tirá-lo”.

Esse foi um fato marcante não apenas para Bethânia, como para o mundo. Os outros passageiros que estavam no voo registraram e foi questão de horas para ser noticiado em grandes jornais. Foi um episódio claro de sexismo, que é a atitude de descriminação por conta do sexo da pessoa.

Mulheres comandantes são raras, então foi uma das primeiras vezes que algo como isso aconteceu, houve grande repercussão. A pilota se sentiu exposta, ela como uma profissional não gostou de ver seu trabalho sendo tão evidenciado.

Ocorrências como essas, partem do controle de quem as sofre e se torna algo muito maior. Isso passou-se com Bethânia, mas poderia ter sido com qualquer outra mulher dentro da aviação. Precisou-se dessa notoriedade para mostrar que aconteceu e que está errado, para conscientizar as pessoas. Se ela está em um cargo tão alto é porque ela tem capacidade para estar ali, e é imprescindível o respeito.

Persistência é a alma do negócio, qualquer carreira que uma mulher for seguir ela terá dificuldades. “Mulher na aviação é ousada, corajosa e determinada, tem que ter muito jogo de cintura” afirma Bethânia, que é um dos exemplos fortes de que é possível sim alcançar seus objetivos e construir uma carreira incrível se você se esforçar muito e não desistir por conta de obstáculos que irá enfrentar.

Enquanto uma mulher pilota ainda tiver a exigência de usar uma gravata em seu uniforme, a batalha não está completamente vencida. E claro, o problema não é a gravata, e sim, o que ela demonstra, que as mulheres não são completamente bem vindas no meio onde os homens são a maioria, mas é com muita luta que um dia a igualdade virá. Mas continuem mulheres, apertem os cintos, pois a viagem é longa mas em breve chegaremos ao fim dela.

 

E assim elas vão ocupando espaço e uma frase da Cecília Meireles exemplifica muito bem:

“Liberdade de voar num horizonte qualquer, liberdade de pousar onde o coração quiser”.

 

**Revisão: Italo Charles

***Edição e supervisão: Daniela Reis

*Por Bianca Morais

No mês de outubro os cursos de aviação do Centro Universitário Una completam dez anos, para comemorar o Jornal Contramão vai trazer uma série de matérias relacionadas ao assunto. E para abrir as felicitações trazemos uma importante reflexão: Os negros na aviação e o preconceito.

Quando o assunto em pauta é a questão racial, independentemente de ser no meio social ou profissional, sabemos que existe discriminação, seja velada ou não. Agora imagina uma área como a aviação, onde majoritariamente os profissionais são brancos e de uma elite dominante.

Na aviação encontramos os mais diferenciados tipos de racismo, seja aquele institucional que é o tratamento diferenciado entre raças no interior de organizações, por exemplo, quando vemos mais pilotos e comissários de bordo brancos dentro de um avião, do que negros. Também existe o racismo recreativo, aquela “piadinha” que alguém faz com a aeromoça negra em um voo. Racismo não é apenas quando alguém chama um negro por um apelido pejorativo, a questão vai muito além disso.

Acontece que muitos desses negros que sofrem preconceitos preferem se calar, eles como profissionais respeitam a empresa em que trabalham, e claro, temem pelas consequências de suas denúncias, a falta de credibilidade perante um branco e o medo de perder o emprego silenciam as vozes de muitos descriminados.

A aviação é uma área com formação alto custo e a desigualdade social muitas vezes impede muitos até de pensar em ingressar nessa área de atuação. Além da falta de verba, a exigência de conhecimento em línguas estrangeiras acaba desmotivando essas pessoas. Para grande parte da população viajar de avião ainda é um luxo, uma realidade distante, imagina atuar como profissional pilotando ou até mesmo na manutenção de uma aeronave.

A estrutura aeroportuária é elitista, é muito difícil encontrar um negro no cargo de chefia, agora é bem comum encontrá-los na limpeza das aeronaves e dos aeroportos. A falta de representatividade é também um dos principais motivos que justificam o baixo número de negros na aviação. O estereótipo da aviação é branco, e não somente da tripulação propriamente dita, mas dos passageiros, se comparado aos brancos o número deles é muito menor. Discutir sobre o assunto é necessário, em um país como o Brasil, onde a população é consideravelmente mista entre brancos, pardos e negros, encontrar menos de 5% de negros em um ambiente de trabalho é preocupante.

Histórias que valem a pena conhecer

Apesar de tudo, aos poucos e com muito luta eles estão conquistando seu lugar. Como é o exemplo de Thiago Daltro, 32 anos, formado em aviação civil, é piloto de avião. Contradizendo as estatísticas, ele conquistou um cargo de muita responsabilidade. A grande maioria dos pilotos no Brasil, são brancos, então imagine o compromisso social que Thiago carrega. Ele afirma que quer ser inspiração para os negros que têm vontade de ingressar na aviação, mostrar que lugar de negro é onde ele quiser, e não somente no check-in ou guardando bagagem no avião, mas também estando no controle dele.

Ele também conta que já sofreu sim, racismo velado. Thiago, muitas vezes mesmo vestindo uniforme de piloto que é diferente de todos os outros da tripulação, é confundido, tanto por passageiros como funcionários da própria linha aérea que acham que ele é despachante e perguntam quantos passageiros tem a bordo e até por comandantes.

“O comandante já apertou na minha mão, me cumprimentou, conversou comigo e depois de meia hora perguntou cadê o co-piloto. Situação chata mas tem que revelar”, conta.

Thiago explica que quando se trata da sua capacidade, ninguém nunca o questionou, quando se chega em um patamar da companhia área onde poucos chegam, como ele chegou, as pessoas apresentam um pouco mais de respeito por conta de sua posição.

“Quando você é negro e chega nessa posição você deve mostrar duas vezes mais que as outras pessoas, elas já pensam que por eu ter chegado até aqui, eu sei o que estou fazendo e não me questionam tanto”.

Outra história é a de Filipe Amâncio, 30 anos. Ele teve um tio piloto como inspiração. Sempre quis ingressar na área da aviação, porém como os cursos são caros não teve condições e acabou optando por fazer o curso de manutenção de aeronaves. Antes de se formar, já havia conseguido o primeiro emprego na área como auxiliar técnico de manutenção, onde ficou por dois anos.

Filipe que hoje mora na Austrália, afirma que consegue ver uma nítida de diferença de comportamento comparado ao Brasil. “Fora do Brasil é muito comum você ver pessoas negras em um avião, já no Brasil é muito difícil. Você anda no aeroporto e em um dia inteiro você vai ver umas 3 ou 4 pessoas da tripulação negras”, conta ele.

O rapaz também compartilha da ideia de que a cor da pele estimula preconceitos na mente das pessoas, da capacidade e do conhecimento que ele possa ter.

“Se a pessoa é negra, ela veio de uma escola ruim, fez uma faculdade ruim e por isso o aprendizado que ela tem não é bom o suficiente”, desabafa.

Larissa Lacerda, 24 anos e Letícia Andrade, 29, são duas comissárias de voo, jovens, mulheres e negras no mundo da aviação. Além do preconceito pela cor da pele, elas ainda têm que encarar o assédio.

“Comentários típicos do racismo estruturado como: você tem uma beleza exótica. Não tem aquele narigão; Você fica muito mais bonita de megahair que com esse cabelo; Não, você não é negra, você é morena”, compartilha Letícia.

Desde o cabelo até as curvas de seu corpo, mulheres negras são vistas como atrativo até mesmo quando estão correndo atrás de seus sonhos.

“Uma vez um passageiro me falou que eu deveria estar na Europa ou sambando no carnaval. Isso tudo porque neguei o embarque dele por motivos de segurança”, descreve Larissa.

Fernanda Nascimento, 37 anos, atua como comissária de voo há um ano. Tendo dentro de casa seu maior exemplo, a aeromoça cresceu vendo sua mãe, mulher negra e nordestina ocupando cargo de chefia no trabalho, por isso, ela sempre soube que poderia chegar aonde quisesse, o mais alto possível, e o céu foi o seu limite.

Diferente do relato de muitos, Fernanda, representa uma esperança em meio a tanto preconceito vivenciado pelo negro na aviação, segundo ela, sempre foi acolhida de braços abertos por sua tripulação, a empresa em que trabalha visa muito a questão da diversidade, e se já chegou a sofrer algum questionamento foi de pessoas de fora da aviação que se espantam ao saber de sua profissão.

“O martelo sempre será mais pesado pra nós, então sempre digo que temos que ir em busca daquilo que realmente nos faz feliz, pois cobrança vai existir em qualquer meio. Meu conselho: Estude muito, poupe dinheiro e acredite sempre em você!”

Não pertencer a esse universo, por quê?

Laiara Amorim Borges, 32 anos, nunca quis trabalhar presa em um escritório ou numa rotina corriqueira, a mineira sempre quis conhecer o mundo, foi então que procurando por profissões que pudessem abrir essa porta, encontrou a aviação. Seu sonho no começo era pilotar aviões, porém por ser um investimento muito alto, preferiu guardá-lo.

Depois de um tempo, Laiara optou por fazer o curso de comissária de bordo,  por conta das possibilidades do mercado e por não conhecer uma pilota de avião mulher e negra, ela achava que o curso de pilotagem não pertencia a ela. Em episódios como esses é possível retornar na questão da representatividade, até certo ponto a jovem mineira não se sentia representada em uma profissão como aquela, então, preferiu seguir uma profissão diferente deixando seu desejo de lado.

Em 2011, começou o curso de comissária, na época o custo era em torno de sete mil reais e para ela, que sustentava sua casa, dificilmente sobrava dinheiro para manter outras contas, principalmente se tratando de estudo. É um investimento alto, mas como a própria contou o retorno é rápido, o problema é o tempo que se leva para chegar lá.

A comissária passou por dificuldades para conseguir ingressar na profissão, via colegas de curso, sem nenhuma experiência ou idiomas passando em processos seletivos e ela não. A questão do racismo sempre esteve presente, o que ela não conseguia era mensurar o tanto que isso a afetava. Precisou começar por baixo, em solo, para desta forma tentar uma migração interna.

“Eu vejo hoje uma reclamação de muitas pessoas que a maioria dos negros que trabalham na aviação, antes trabalharam em solo, dificilmente vão diretamente para voo”, relata.

Laiara, hoje é chefe de voo e relata como mesmo estando em uma posição superior ainda precisa provar sua competência. Seu cargo dentro da equipe lhe concedeu uma faixa no uniforme diferente dos outros funcionários, porém mesmo com essa diferenciação é muito comum terceiros chegarem e questionarem quem é o responsável. Isso acontece principalmente quando está ao lado de colegas brancos, é muito difícil para algumas pessoas enxergarem um negro em posição de poder.

Para além do ser negro na aviação, mais difícil é ser uma mulher negra na aviação. Laiara que está há oito anos na área, já passou por muitas fases. Atualmente as companhias áreas vêm se esforçando para manter uma igualdade entre a tripulação, porém é chocante acreditar que até alguns anos atrás, como compartilha a comissária, mulheres negras de cabelo crespo ou ondulado eram obrigadas a prendê-los em um coque, enquanto aquelas de cabelo liso ou escovado tinha a escolha de deixá-los soltos ou em rabo de cavalo. Padrões não podem ser construídos encima de algo que possa ferir a raça de alguém.

Laiara entrou na aviação para conhecer o mundo e está conseguindo, está vencendo, nem sempre é fácil e ela passa constantemente por desafios, mas sua de força de vontade lhe dá motivos para continuar. E aquele sonho do começo de ser piloto, ela está correndo atrás, já está cursando a faculdade de ciências aeronáuticas e em muito breve será possível reconhecer mais uma mulher negra, pilota de avião.

Quem olha para Kenia Aquino, 34 anos, hoje e vê uma chefe de cabine, forte e determinada nem imagina o tanto que ela lutou para alcançar essa posição. Já vimos que cursos ligados à aviação não são baratos, mas isso não foi um empecilho na jornada dessa guerreira, ela que trabalhava em um hospital onde não recebia tão bem, gastava um pouco mais que a metade do salário para custear os estudos, não foi nem um pouco fácil, mas não seria uma dificuldade financeira que a afastaria de seu sonho de infância.

“Sempre fui uma criança inquieta e absolutamente apaixonada pelo céu. Quando viajei de avião pela primeira vez aos 16 anos, eu pude ver de cima para baixo as nuvens e eu me apaixonei de vez e sempre tive esse desejo”.

O começo não foi nem um pouco fácil para a Kenia, com 12 anos de estrada ela relembra como foi difícil passar no processo seletivo.

“Eu fiz quatro seleções, consegui ser aprovada apenas na quarta, nas outras três eu não consegui e em uma delas eu tenho certeza que foi por motivos raciais embora eu não tenha como comprovar”.

No processo seletivo em questão, a gaúcha conta que fez todas as provas e chegou a fazer o exame admissional com o médico da empresa, quando chegou na hora de ir para São Paulo assinar os documentos e a carteira de trabalho os responsáveis ligaram para ela afirmando que ela havia sido reprovada nos exames. Dentro desse episódio lamentável, é importante ressaltar que Kenia já havia assinado documentos da própria empresa afirmando que estava apta para as funções e que, além disso, na época ela havia feito exames da aeronáutica e tinha habilitação de saúde. Mas de nada isso valeu, e uma pessoa de pele de clara ficou com sua vaga no final.

Episódios como esses infelizmente são frequentes na vida de Kenia. A comissária já sofreu vários episódios de racismo tanto da parte de passageiros como de colegas de trabalho esse foi um dos motivos por ela ter se afastado do serviço por recomendações psiquiátricas no último ano. São diversos relatos, em determinada ocasião uma passageira em tom de piada disse que as comissárias de voo sentem muito calor por serem “queimadinhas”, isso se dirigindo diretamente a Kenia. Um outro recusou a água que ela havia oferecido para pedir a uma outra comissária branca.

“Eu não posso dar uma resposta como eu gostaria, então eu acabo não respondendo nada para não me prejudicar, para não prejudicar meu trabalho”.

Muitos passageiros, também não respeitam as instruções passadas por Kenia da mesma forma que respeitam quando é outra aeromoça falando.

“Se eu pedir é uma ofensa, agora se uma colega loira pedir ele obedece”.

Kenia e Laiara, colegas de trabalho, achavam que aqueles episódios de racismo velado eram coisas de suas cabeças, mas a partir do momento em que elas viram que as histórias se pareciam e se repetiam, perceberam um comportamento e uniram forças para combater isso.

Kenia é dona da página @voonegro. Antigamente denominada “black’s in the air”, o principal objetivo era dar espaço a imagens negras da aviação. Kenia sempre via vários perfis exaltando comissários de voo no instagram, porém todas elas brancas. Cansada disso criou seu próprio perfil, enaltecendo os negros da área. O tempo passou e a aeromoça viu que o nome inglês não fazia mais tanto sentido e mudou para Voo Negro.

Existe um problema hoje na aviação que é o preconceito, todos citados nessa reportagem contaram pelo menos uma situação em que sentiram o racismo na pele, a indiferença. É necessário colocar mais gente negra na aviação para que episódios como esse parem de acontecer, ou aconteçam com menos frequência, porque quando as pessoas passarem a ver mais representatividade é esperado que essa discriminação diminua, porque o negro não estará mais sozinho ali.

“É preciso colocar mais gente negra consciente de sua negritude na aviação, porque essa dor que a gente sente por ser discriminado a bordo, não é justo que a próxima geração de negros sinta também. Porque se estamos sentindo essa dor hoje, precisamos trabalhar para que esse problema se não solucionado, pelo menos diminua”, desabafa Kenia.

Quilombo Áereo

Vendo que o voo negro passou a ser uma causa de luta pela inserção do negro na aviação, ela uniu forças com a Laiara que também tem sua página @voe_como_uma_garota_negra e criaram o Quilombo Áereo.

O que é o Quilombo Aéreo ?        

“Somos o Quilombo Aéreo, coletivo que visa trazer à visibilidade as/aos tripulantes negras/os da aviação civil brasileira. Temos um grupo de advogadas, psicólogas, mestres e doutoras negras nos apoiando e nos ajudando na construção e consolidação da nossas pautas”.

Quando e como surgiu o coletivo?         

“O coletivo nasceu no final de 2018 do aquilombamento de 4 tripulantes Kenia Aquino, Shirlei Reis, Jivarlos  Cruz e  Laiara Amorim e duas paginas no instagram o @voonegro e o @voe_como_uma_garota_negra, unidos pela dororidade das pautas raciais outrora não discutidas na aviação civil brasileira. Nasceu pela necessidade de fazer algo dentro da área e criar oportunidades de inclusão e estratégias de enfrentamento ao racismo.

Qual objetivo do comitê?       

Nossa Missão: Mitigar os efeitos do racismo na Aviação; desenvolver estratégias de autocuidado e cuidar da saúde mental das/os negras/os aeronautas; além de conscientizar as empresas sobre os efeitos do racismo institucional.

Nossa Visão: Contribuir com as pautas antirracistas também na aviação; abrir espaço para o ingresso e permanência de mais mulheres negras e homens negros na área.

Quantas pessoas o projeto já atendeu?               

O projeto uniu cerca de 80 tripulantes negros em dois grupos um misto que é aberto para diversas pautas do cotidiano dos tripulantes, para debates, dúvidas troca de experiências e acolhimento. Um outro grupo voltado para as mulheres negras aeronautas/aeroviárias sobre empoderamento estético o que se faz muito importante nessa área já que ela gira em torno de um padrão eurocentrista que tenta enquadrar todas as pessoas como únicas não respeitando a nossa pluralidade e diversidade e muita vezes nos violentando com imposições estéticas de embranquecimento.

O cômite atua no país inteiro?         

Sim, o coletivo visa atender tripulantes no Brasil inteiro embora nesse momento nossa atuação é mais ativa em SP,POA,BH.

Vocês já tem sentido um retorno positivo do comitê ajudando a comunidade negra?   

Sim, somos pioneiras(os) nesse braço da militância, trouxemos ao conhecimento público dados e informações que ainda eram omitidos ou não verbalizados, temos colhido muitos frutos como aprovações em editais que possibilita o auxilio ao impulsionamento na carreira, parcerias com instituições e grupos que trabalham a diversidade étnico-racial, MTP e  sindicatos. Tivemos que repensar nossas estratégias de enfreamento ao racismo institucional a partir da pandemia e criar novas formas de atuação.

A ideologia do racismo coloca o negro em lugares estratégicos onde querem que ele esteja, empurrando essa população para o subemprego, por exemplo, o trabalho doméstico, e não que esse tipo de trabalho seja menos digno, ao contrário, porém é nesse lugar que o racismo quer que o negro permaneça. Movimentos como o Quilombo Aéreo nada mais quer do que a inserção do povo negro aonde ele quiser, é dar oportunidade, mostrar a população uma nova perspectiva de trabalho para além daqueles que eles estão acostumados, democratizar o acesso ao espaço aéreo.

Alguém um dia disse “Nem o céu é o limite quando os sonhos são maiores que o próprio universo”, e é essa força, é essa tripulação de comissários, pilotos, comandantes, mecânicos que não viram limites e alcançaram seus sonhos de estarem nas alturas, e estão, muitos até mesmo sem perceber, abrindo portas para que no futuro, muitos mais negros estejam na aviação.

 

*A matéria foi produzida sob a supevisão da jornalista Daniela Reis

*Crédito: Freepik

Consultora de Imagem comenta sobre a importância do autocuidado no período de isolamento 

*Por: Italo Charles

A busca por conforto e praticidade ao vestir, tornou-se realidade para muitas pessoas devido ao isolamento social. Em home office, alguns preocuparam em se arrumar para trabalhar, o que de certa forma gerou o aumento na produtividade, em outros casos, pessoas se estabeleciam com seus pijamas ou com os famosos trajes de ficar em casa.

Cuidar da autoimagem e autoestima fazem parte de um processo de construção do indivíduo. A imagem é muito mais que o vestuário, a pessoa pode estar num traje deslumbrante, mas não se sentir bem internamente. 

Em conversa com Consultora de Imagem Marina Seif, profissional da área há 14 anos, a equipe do Contramão abordou os aspectos e importância do cuidado com a autoimagem durante o isolamento social. 

Marina, Qual a importância do cuidado com a autoimagem?

O cuidado com a autoimagem é essencial, pois a autoimagem está diretamente relacionada à nossa autoestima. Não é incomum encontrarmos pessoas que têm uma visão distorcida de sua própria imagem, prova disso são os transtornos alimentares. Em alguns casos, a consultoria de imagem pode ajudar, mas em outros, é necessário um acompanhamento psicológico. No que diz respeito a consultoria de imagem, é fundamental que o cliente esteja satisfeito com o resultado, senão vira fantasia e depois fica difícil de manter o trabalho realizado. 

Neste período de isolamento, muitas pessoas passaram a ter sua rotina de trabalho em home office. Com isso o conforto e praticidade se tornaram primordiais. Algumas pessoas adotaram o pijama para ficar o dia inteiro trabalhando, e outras continuam se arrumando. Dessa forma, como o autocuidado e a ausência em se arrumar podem afetar a imagem após pandemia ?

Os especialistas são quase unânimes em dizer que sim, que isso implica inclusive na sua produtividade e autoestima e eu vou dizer que depende muito da pessoa. Ficar de pijama de segunda a segunda pode não ser muito saudável para nossa saúde mental, mas que atire a primeira pedra quem não trabalhou de pijama nem um dia nesta pandemia.

Acho que o mais importante que trabalhar ou não de pijama é entender o que está por trás desta decisão. É só uma busca por conforto ou essa escolha é resultado de desânimo constante? Essa opção está me prejudicando de alguma forma? Eu estou de pijama, mas estou me sentindo bem? 

Lembrando que imagem vai muito além do vestuário. Não adianta a pessoa estar impecavelmente vestida e com as expressões apáticas, a voz arrastada e a caos instalado no cômodo em que está trabalhando.

Como se adaptar a esse momento de vida sem perder o estilo, seja para somente ficar em casa ou para trabalhar?

Acredito que o segredo está em equilibrar seu estilo pessoal, com a imagem que quer ou precisa passar para quem está do outro lado da tela e, a nova rotina de trabalho em casa. Optar por peças que te façam sentir bem e sejam confortáveis é uma ótima opção. Por exemplo, ninguém precisa vestir terno para trabalhar em casa, se não for uma exigência que você aparece assim nas vídeos conferências, mas estar com a barba feita ou alinhada, uma camisa mais arrumada e o cabelo penteado já fazem toda a diferença.

É importante definir um “look” para o momento de trabalho e o momento de descanso? Quais são os efeitos:

Depende muito do seu trabalho e do que você faz nos seus momentos de descanso. Quanto mais versáteis forem as peças do seu guarda-roupa, maiores as possibilidades delas serem utilizadas na composição de looks para os mais variados momentos.

Sabendo que os espaços como salões de beleza, academia, lojas e centros estéticos não estão funcionando, como os cuidados com a imagem interferem na autoestima e como elevá-la?

As pessoas têm encontrado soluções caseiras e virtuais para suprir essas necessidades e acredito que seja essa uma ótima solução. Essa pode ser também uma ótima oportunidade de reavaliar esses hábitos de beleza que, muitas vezes, realizamos sem questionar se são realmente necessários. Tenho visto um movimento de mulheres que aproveitaram a quarentena para abandonar de vez os alisamentos e as colorações e acho fantástico. Nada contra quem ainda mantêm esses hábitos, mas poder reavaliar isso é muito legal.

É possível dizer que após esse período as pessoas vão passar por um processo de readaptação do “vestir”? 

Precisamos entender, antes de tudo, que o vestir é reflexo do momento pelo qual a sociedade está passando. As pesquisas apontam que haverá uma alteração na forma de consumo de moda, com o impulsionamento da tecnologia e a valorização de marcas locais e com propósito.

Já no quesito estilo, acho que viveremos tendências antagônicas; de um lado a valorização do comfy, que tem sido enaltecido no recolhimento e, do outro lado uma glamourização mais exacerbada, em um desejo de celebração e recuperação do “tempo perdido”. Parece exagero comparar a pandemia com os períodos de guerra, mas ambos foram momentos de crise mundial e o que tivemos após a Primeira Guerra foi a valorização de peças mais práticas e inspiradas no guarda-roupa masculino, enquanto depois da Segunda Guerra Mundial, vieram os anos dourados com o new Look de Dior. 

Quer conhecer mais sobre o trabalho de Marina Seif, acesse o Instagram (@marinaseif)

 

*Edição: Daniela Reis

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Por: Bruna Nunes

Entre a década de 1990 e o primeiro decênio dos anos 2000 as crianças foram bombardeadas de conteúdo infanto juvenil que eram exibidos em vários programas da televisão aberta como TV Globinho (Globo), Bom Dia e Cia (SBT), Band Kids (Bandeirantes), entre outras programações além das fitas cassetes e Dvd’s. Algumas franquias de filmes fizeram bastante sucesso entre a garotada, as produções que envolviam princesas e a famosa boneca Barbie se tornaram uma febre com direito a brinquedos superfaturados. 

Avaliando o sucesso dessas histórias, será que elas poderiam influenciar aqueles espectadores que agora se tornaram  jovens e adolescentes? Para isso, fizemos um questionário e estudamos a resposta dos participantes entre 12 e 25 anos. A intenção principal da enquete foi entender como essas pessoas se sentem hoje em relação ao conteúdo abordado nas tramas.

A história desses longas na maioria das vezes possuía o mesmo roteiro. A Disney explorava sempre o lado da boa moça ingênua e indefesa que passava por momentos turbulentos, encarnando a jornada do herói e indo de encontro ao príncipe que exercia o papel de salvador. Nos desenhos da Barbie a abordagem era um pouco diferente, a personagem também passava pelo processo de altos e baixos mas conseguia resolver os empecilhos por ela mesma sem a necessidade de um “salvador”, mesmo com um par no final.

Graças aos movimentos de empoderamento feminino e o conhecimento das bases do feminismo, vários participantes comentaram e criticaram a visão desse tipo de enredo que nutria o ideal da mulher ser o sexo frágil. Essa nova perspectiva ajudou a contestar o conceito do príncipe encantado (um cara legal, que sempre vai te salvar de qualquer problema), tirando a necessidade de depositar uma carga de responsabilidade em um par romântico.

Abordamos também o lema do “Felizes para sempre” e da identificação física com as protagonistas. Por se tratar de uma interpretação profunda e delicada das respostas, convidamos a psicóloga Maria Dalva Garcia para nos ajudar a entender as entrelinhas das respostas.

Por mais que 88,5% dos participantes não acreditassem no conceito de príncipe encantado, o que pode ser indício de maturidade, 80,8% acredita pelo menos em parte no ‘felizes para sempre’. De certa forma as pessoas estariam transferindo a responsabilidade do par as tornarem completas para o ato do relacionamento, ou seja, o relacionamento teria a carga de as tornarem felizes, o que também pode gerar frustração e desgaste emocional.

A frase “E viveram felizes para sempre” empregada em vários filmes da Disney incluindo algumas novas adaptações em live action, transporta uma grande carga emocional, isso porque a visão transmitida é que todos os relacionamentos serão longos, duradouros e perfeitos. Devemos nos atentar a realidade de que nem sempre teremos um bom relacionamento e precisamos estar abertos às possibilidades para evitar possíveis traumas vindo desse ideal.

Analisando o perfil físico das personagens das tramas, a grande maioria das protagonistas são brancas, de cabelos lisos e traços angelicais com medidas físicas surreais. O que não faz jus a diversidade de tipos de cabelo, pele e corpos que sempre estiveram presentes ao redor do mundo. 

O padrão de beleza imposto nas últimas décadas era muito cruel e quase irreal, vimos várias pessoas se submeterem ao uso de cintas e espartilhos para esconderem o corpo que tinham, além das inúmeras descolorações, progressivas e relaxamentos para obterem o cabelo perfeito. Com a popularização das cirurgias plásticas a preocupação se tornou mais real já que a mudança física está mais acessível.

O modo como se portavam e falavam, também era alvo de críticas. Perguntado aos nossos participantes se em algum momento quiseram se vestir ou ter cabelos e corpos igual ao das personagens 73,1% responderam que sim. Mas seria só admiração de criança querer se vestir dessa forma ou ser igual a eles ? 

Questionamos se eles tivessem a possibilidade de mudar algo em si para ficarem igual a suas personagens favoritas, se fariam e 57,7% sentem vontade de se modificam seja mudança estética, física ou comportamental. Segundo nossa psicóloga Maria Dalva para interpretarmos esses dados, precisamos levar em conta a pressão social sobre as pessoas dessa faixa etária que são mais susceptíveis às interferências culturais. 

De certa forma essas personagens aparecem como o padrão perfeito, sempre impecáveis, magras e “bem sucedidas”. Essa visão distorcida se não trabalhada pode desencadear uma série de gatilhos que levam a transtornos psicológicos como a depressão, bulimia, anorexia, automutilação, isolamento social, entre outros. “O papel do meio é muito importante! Família amigos etc. que faça com que essa pessoa se situe mas de forma positiva nesse mundo que está aí … exigente demais!”, explica Maria Dalva.

A última pergunta do questionário era se essas pessoas acreditavam que houve influência dos filmes ao longo dos anos na forma que eles pensam ou agem atualmente, e por mais que a maioria acredite que sim, as respostas oscilaram entre sim, não e talvez. O que abriu um questionamento se essa influência seria boa ou nociva e pelo ponto de vista psicológico “Se é bom ou nocivo? Depende do quanto a pessoa sabe dosar as coisas ou encontrar um ponto de equilíbrio, porque isso afeta a pessoa de forma global auto estima …adaptação no no mundo”, explicou a psicóloga.

A interferência dessas produções vão depender  das experiências que obtivemos ao longo do tempo, assim como nossos valores e ideais consolidados. Vale salientar que com o passar dos anos as companhias cinematográficas fizeram alterações em suas novas criações abrindo um leque maior para a diversidade e ideais atuais. 

Mas como é esse processo de transição? para entendermos um  pouco do lado da indústria, conversamos com o diretor de criação e desenvolvimento da agência SPARTA, Rangel Morais. Mesmo com a questão da diversidade sendo constantemente levantada, o consumo de brinquedos padrões ainda é alto.

Rangel nós explicou que além da cultura enraizada que temos, algumas empresas investem nessa perpetuação e não adotam medidas diferente por medo de retaliação do público alvo deles, porém na indústria do entretenimento infantil a questão já vem sendo trabalhada. O mesmo citou inclusive a estratégia da Mattel em criar versões diferentes da boneca Barbie e algumas apostas da Disney como Pocahontas e Mulan nos anos 90 e novas aposta como Valente e Moana na quebra de padrões. 

Nem sempre as companhias cinematográficas pensam na identificação da criança com o desenho, o medo de apostar em algo novo e revolucionário ainda pesa nas decisões. Para isso é importante que as indústrias apostem nas pesquisas de opinião para acompanhar as demandas atuais. Em algum momento houve um ponto crucial para a mudança,“Com a popularização da internet a partir dos anos 2000, a troca rápida de informações aproximou as pessoas e as marcas”, afirma Rangel . 

A esperança é que as crianças possam se identificar com seus personagens favoritos, que se sintam parte das histórias e se sintam bem com isso. Diferente das décadas anteriores, hoje podemos nos expressar e questionar as coisa abertamente.

 

 

 

*A matéria foi realizada sob a supervisão e edição de Italo Charles e da jornalista Daniela Reis