Crônica

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Por Pedro Soares

– Tá doendo, mano? 

– Minha mãe vai me matar! – ele exclamou.

Repeti a pergunta, mas ainda não conseguia parar de rir. 

– Mano, tá doendo? 

Incansavelmente ele repetia o metaforico “minha mãe vai me matar”. Mas, em um determinado momento ele completou a frase dizendo: “minha mãe vai me matar… quebrei o meu braço”. 

No auge dos meus dez anos, não pude entender o que aquilo significava, hoje, mais velho, volto à aquela cena e percebo que a visão que tínhamos dos nossos pais era um tanto quanto amedrontadora. Seria isso pelo “pulso firme” que eles direcionavam a nós? Ou apenas uma má interpretação da nossa parte? 

Um fato é que, naquele momento, pareceu mais fácil lidar com um braço quebrado e a dor iminente do que contar para a mãe algo que poderia ter acontecido com qualquer criança comum. 

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Por Ana Clara Souza

É gostoso lembrar da minha infância. Meus brinquedos preferidos, minhas brincadeiras preferidas, a tranquilidade conturbada das faltas de responsabilidades… E o mais significante pra mim, a amizade que carrego com minha melhor amiga até hoje.

Ana Carolina da Silva Luz. Carol. Ló. Luz (e bota luz nisso!), chegou na minha vida quando eu tinha apenas 6 anos. Ela entrou na escola que eu estudava, e eu, uma garotinha bem amarga, não gostou dela de cara. Como eu disse no início desse parágrafo, a luz que por sinal ela também carrega no sobrenome, inundou todo o ser humano que eu era, com pouco mais de um metro.

Foto: Acervo pessoal.

Quando falo de amor, são as memórias com ela que inundam a minha mente de coisas boas. Na falácia que o amor é construção, como foi composto o nosso companheirismo, pra mim, é a demonstração mais pura de amar. Há mais de 17 anos, nós compartilhamos os momentos mais pesados, leves, e tudo que se enquadra no substantivo “momento”, juntas.

Marcar de andar de patins na praça da cidade que crescemos, encontrar para fazer todos os para-casas, fazer aulas de dança, e outras 1001 coisas que realizamos durante a meninice, são os marcos gostosos que me emociono ao redigir essa crônica. Como o nosso crescimento é ligado no desenrolar das inúmeras facetas que moldamos, partilhar a vida desde a infância com a Carol, significa muito pra mim.

Sabe quando estamos aprendendo amarrar o tênis, e ao invés de fazer uma laço, nos embolamos em um tanto de nó? Começamos a criar meios e com o tempo nós buscamos formas de aperfeiçoar, compreender e entender que é a prática que faz com que melhoremos as nossas habilidades? É isso. Nossa amizade é um nó de tênis. Sendo aperfeiçoada desde a genuinidade de duas criancinhas de 6 anos. Te amo amiga!

Fonte: arquivo pessoal.

Por Ana Clara Souza

Meu primeiro contato com o Teatro foi quando eu tinha oito/nove anos. Assistia novelas e filmes mas não tinha noção que era preciso estudar Teatro para ser uma personagem fictícia dos palco e telinhas, e por isso,  sempre digo que o meu primeiro contato com, essa arte magnífica foi quando interpretei o meu primeiro papel para um público – muito importante ressaltar a palavra público, por que sempre interpretei inúmeras coisas. Porém, eu e meu mundo, de frente ao espelho.

Fonte: arquivo pessoal.

Nessa peça, eu era a protagonista de uma história onde uma criança incompreendida não se sentia pertencente a nenhum lugar. Eu amei interpretar! Mas nada além de uma inquietação momentânea de uma garotinha que sempre amou tudo relacionado à arte. Poucos anos depois, minha turma da escola teria que realizar uma peça para apresentar em um evento. Minha personagem? uma macaca serelepe. Desta vez, eu não era a protagonista, mas minha professora se encantou com a minha intimidade na caracterização de um animal, e sem intenção, começou a plantar uma sementinha cênica na minha cabeça.

No ano seguinte, com os meus 12 anos, novamente precisei fazer outra peça para escola. A escolha do meu grupo foi atualizar a clássica história da Branca de Neve, para ‘A Preta de Neves’. Na nossa cabeça, infanto – juvenil,  era um trocadilho muito dos bons já que morávamos em uma cidade cujo nome é Ribeirão das ‘Neves’, e a intérprete principal era negra. Minha personagem? a versão contemporânea do sujeito que é designado para matar Branca de Neve, mas desiste. Uma empregada/espiã que tenta fazer o mesmo mas que também não consegue. Desde então, tudo mudou. Aquela semente que já germinava nos meus jovens pensamentos, desabrochou com o questionamento de uma outra professora que me perguntou; “Você já pensou em fazer Teatro?”.

De fato nunca tinha pensado, mas a partir dali, só desejava adentrar por esse mundo das representações. Em Fevereiro de 2013, eu era a mais nova estudante de Teatro! Depois de dois anos e seis meses, com 16 anos,  era uma profissional da área com registro no Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões – SATED.

Sem romantizar,  ser Atriz é uma das maiores dádivas da minha passagem por esse mundo. Eu me descubro e descubro o universo. Compreendo e questiono. Provoco sensações e sou provocada. A quinta arte já me ofertou muitos momentos inenarráveis que nunca me imaginaria vivendo, e meu maior sonho como artista, é que outras pessoas pudessem sentir algo semelhante ao que narrei acima.

No Brasil, as artes no geral são negligenciadas e elitizadas. A maioria das pessoas  que escolhem o caminho artístico, não tem apoio. Muitos jovens nunca nem cogitaram a possibilidade de exercer essa profissão. Fui bastante criticada e taxada como louca quando escolhi ir para esse ramo ao ir de encontro com os diversos cursos técnicos ofertados pelo Governo, todos voltados para áreas de Gestão e Negócios, e nenhum com viés artístico. É urgente  o aumento de verbas e políticas públicas, a reformulação do senso comum diante ao mundo artístico, e o reconhecimento e valorização do Teatro, que é uma profissão de respeito e muito digna como todas as outras.

Neste Dia Mundial do Teatro, termino esse texto reforçando a minha gratidão por ter ido de encontro à essa arte, e te faço o convite para ir assistir algum espetáculo teatral, até mesmo na Internet, assim que chegar no ponto de exclamação. Se divirta!

Por Keven Souza

Hoje (2), o telejornalismo amanheceu abatido. Como se fosse uma grande partida de futebol, a TV brasileira jogou contra o ciclo da vida. E nessa partida, não muito feliz para os torcedores (ou telespectadores), foi o time que não conseguiu mudar o placar antes do último apito soar. 

A atacante da TV, Glória Maria, saiu do campo sem previsão de retornar. Sem um adeus com acréscimo, prorrogação e nova partida. Somente memória do que foi a brilhante ‘camisa 10’ da seleção do telejornalismo brasileiro. 

Pioneira 

Glória nasceu no Rio de Janeiro. Mulher preta movida pela curiosidade, pelo talento e inteligência. Cursou Jornalismo pela PUC-Rio onde alavancou sua carreira, dando show de pioneirismo dentro da profissão até há poucos anos. E se tornou referência para quem um dia sonhou estar na TV. 

Na TV, sorriu, chorou e entrou ao vivo em momentos históricos do nosso país. E, claro, como pioneira, foi a primeira a entrar simultaneamente e em cores no Jornal Nacional em 1977. Um feito

Glória Maria (Foto: Reprodução)

importantíssimo para época, uma vez que era uma mulher preta jornalista aparecendo em rede nacional. 

Reportagens internacionais  

Não só de ao vivo Glória Maria trabalhou. A jornalista viajou por mais de 100 países, passando pela Europa, África e parte do Oriente, quando mostrou um mundo novo ao telespectador brasileiro. Acumulando cerca de 15 passaportes carimbados. 

A jornalista cobriu ainda a guerra das Malvinas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998). 

Um agradecimento do telejornalismo

Com tantos feitos, garra e fibra, o jornalismo agradece a Glória Maria. É um adeus com gosto de obrigado por fazer da sua paixão, grandes reportagens e matérias culturais que certamente chegaram a muitos lugares no Brasil. 

Não haverá outra Glória Maria. Isso é fato… O seu legado permanecerá, como também a exemplificação perfeita do que acontece quando se une profissionalismo e paixão em uma única sintonia: o amor de milhares de fãs que todos os dias irão fazer da sua última partida em campo, um eterno e brilhante jogo. 

Por Millena Vieira e Gabriel Almeida

Entender o sentido da existência de todos os seres vivos, pode ser uma das maiores questões do ser humano, ficando atrás somente do mistério da morte. Desde sempre, os povos ao redor do mundo buscam respostas sobre a existência da vida, pairando pelo tempo as famosas perguntas “de onde viemos?”, “para onde vamos?” e “qual é a missão de cada um de nós na terra?”. Parte da construção de uma resposta, nasce da necessidade de algo sobre além, desencadeada por diversas religiões e filosofias de vida. De contraponto, um dos principais desafios à convivência democrática está ligado à intolerância, por um sentimento de soberania dentro dessa multiplicidade religiosa.

“A religião é a maneira como a gente diz sobre as coisas, além da sua condição material, ou seja, há uma realidade por trás das coisas que é maior do que a sua condição imanente, há uma perspectiva transcendental, há um sentido, há algo de sagrado e de poderoso, místico, então é uma maneira de reler o mundo também”, explica Pedro Luiz de Oliveira Doche, bacharel e licenciado em Filosofia, com pós seguido em Ciência da Religião pela Puc Minas.

A orientação espiritual concebe ao indivíduo formas de compreender o mundo, a si mesmo, os seus valores morais e até mesmo suas decisões políticas. Com a manifestação das crenças religiosas, é preciso analisar a relação do indivíduo com a fé e seu comportamento perante ela. Tal comportamento religioso, na maioria das vezes, é induzido por crenças que perpetuam em uma mesma família por gerações, ou seja, nos seus primeiros anos, o indivíduo não escolhe a sua própria religião, ele já nasce nos berços da influência. A decisão passa a ser de cada um, a partir da autodeterminação das próprias escolhas e seu entendimento de posição no mundo.

A diversidade das religiões no mundo se dá pela identificação e evolução histórica e pelo desenvolvimento de vários povos, cada um com sua própria maneira de interpretar a criação da vida e o fim dela. Em tendência, a intolerância nasce a partir da incapacidade de conviver socialmente com as diferenças, é a ausência da vontade de lidar com o outro, assim como suas ideias, ocasionando atitudes ofensivas a crenças e práticas religiosas ou mesmo a quem não segue uma religião, é a deslegitimação da fé do outro a partir do próprio ponto de vista, porém a afirmação do que é a fé para si não deveria sobressair como é a fé para o outro.

No Brasil, segundo levantamento do Datafolha, a religião mais predominante é a religião Católica, com cerca de 50% da população, seguida pela Evangélica, com 31%, Espírita, 3%, e Umbanda, Candomblé ou outras religiões afro-brasileiras com 2 % dos brasileiros. Em teoria, a Constituição Federal prescreveu o Brasil como país laico, ou seja, garante o direito fundamental à liberdade de religião e o Estado deve prestar proteção e garantia ao livre exercício de todas as religiões.

Embora haja legislação, no último ano, o país obteve 545 denúncias de intolerância religiosa, três queixas por dia, sendo as religiões de matriz africana as que mais sofrem com o preconceito, segundo levantamento realizado pelo Disque 100, serviço para denunciar denúncia de direitos do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Terreiro de Umbanda Caboclo Pena Dourada. Imagem: Ana Clara Souza.
Terreiro de Umbanda Caboclo Pena Dourada. Imagem: Ana Clara Souza.

Mateus Araújo, de 22 anos, explica sua trajetória dentro da Umbanda, religião de matriz africana. “Eu cresci aqui… Desde pequeno, eu tive o livre arbítrio para escolher a religião que queria, meus pais foram muito flexíveis com relação a isso… Eu escolhi a Umbanda, porque eu senti que era o meu lugar.” Com a identificação desde jovem, Mateus mostra também como percebe a intolerância em sua forma velada: “O preconceito não está necessariamente na fala, mas sim em como essa fala é produzida e entonada… depende de quem está falando e como está falando.”

Em um país onde seus muros são construídos a partir do roubo, da exploração, da tomada de culturas e liberdades, como a escravidão dos povos negros e indígenas e a catequização, pense em uma realidade de respeito as reais liberdades democráticas, beira ao fictício.

Para cortar as raízes herdeiras da imposição e da importunação sobre a fé do outro, é preciso, antes, de um esforço social e, principalmente, governamental para a criação de medidas e novas políticas de segurança e educação que de fato saiam do papel e sejam subordinadas.

Religiões dos povos indígenas

Apesar da catequização, uma religião indígena resiste e se assemelha em diversos aspectos entre os diferentes povos. A relação com o mundo e a forma como é vista e interpretada é muito diferente do cristianismo, por exemplo. Os povos indígenas abraçam com fé as entidades e os grandes guerreiros que se manifestam através dos elementos da natureza. Eles acreditam que há um criador, chamado Tupã, responsável também pelas chuvas, raios e trovões. Além dele, há outros responsáveis ​​pela proteção do mundo em seus diversos aspectos, sobretudo ligados às matas e às florestas, bem como a crença de que alguns espíritos estão encarnados em animais, potencializando o poder da natureza e da relação dos povos com ela. Em sua relação com a crença e a vivência da fé, acredita-se que alguns possuem o dom de manter contato com os espíritos e as entidades. 

Religiões de matrizes africanas

Assim como algumas religiões indígenas, as religiões de matriz africana, como a Umbanda e o Candomblé, possuem em sua essência, a preservação aos ancestrais, a sabedoria dos mais idosos e a proteção de entidades poderosas e espíritos. Candomblé é uma religião afro-brasileira, que foi trazida pelas pessoas negras escravizadas. Umbanda é uma religião brasileira que mescla elementos do catolicismo, espiritismo e religiões afro-brasileiras. Uma das formas mais conhecidas no Brasil, é Iemanjá, guardiã das águas, e assim como ela, é possível encontrar outros tipos presentes nas duas religiões, onde os orixás são deuses cultuados representantes das forças elementares oriundas da água, da terra, do ar, faça fogo. Duas religiões monoteístas que apesar das semelhanças, não são iguais, uma é genuinamente brasileira. 

Por Matheus Dias

Nas ruas, na TV, na rádio, na internet, no letreiro, nas bandeiras, nas faixas, nos altos falantes de carros, nos papéis – famosos santinhos, nos muros e em diversos locais se vê a movimentação política que se aflora de dois em dois anos a partir do mês agosto. 

É impossível não perceber que já se aproxima um dos períodos em que temos que exercer a cidadania, irmos nos colégios eleitorais para votar em alguém que nos representa.

Desde criança escuto a palavra “representar”, ou derivações dela. Quando se tratava de política, me pego pensando quando comecei a votar: será que tenho alguém que apoio e confio a tal certo ponto de me representar? Consigo achar um candidato que entregará tudo? Possivelmente não, mas parto para o desafio de fazer uma peneira nos que conheço ou ouvir falar para sondá-los em dar o meu voto. 

O horário eleitoral gratuito é um dos momentos da grade de programação de rádio e TV mais rejeitados e apontado como chato por grande parte das pessoas na minha percepção, mas paro a rotina alguns dias para poder assistir e ver quem está com  a oportunidade de me representar. E novamente me deixa mais confuso, principalmente os concorrentes aos cargos de legislativo, que neste ano são os deputados e senadores. 

Sinto que por uma cultura enraizada em nossa sociedade, os cargos de legislativo aparentam ser menos importantes para sabermos suas propostas e, para os candidatos que tentam se reeleger,  uma análise de seu mandato.  

Quando vejo o grande debate nas ruas sobre os candidatos concorrentes aos cargos do executivo e pouco escuto dos deputados, por exemplo, fico preocupado e quando pergunto para os amigos e também pessoas próximas, a resposta é de que ainda pensará em um candidato e que verá mais para frente – mesmo faltando menos de duas semanas para ir às urnas. 

Acredito que nessa reta final, os candidatos com melhor propaganda, maior números de placas espalhados pela cidade e com maior simpaticidade ganham votos. A hora de dar um voto de confiança se aproxima, é preciso ter cautela para depositar confiança e poder nas mãos de pessoas que influenciará e tomará decisões que respingará em mim e em todos.