Diversidade

Por Júlia Garcia

O fim de semana em Belo Horizonte está repleto de eventos para todos os gostos. Confira hoje a agenda que o Contramão separou para você curtir o final de semana.

Sexta

Depois de mais de cinco anos longe dos palcos, a banda NX Zero se reúne para a turnê Cedo ou Tarde. Celebrando uma história de sucesso e que acumula hits, Di Ferrero, Gee Rocha, Filipe, Conrado Grandino e Daniel Weksler estão viajando pelo Brasil para matar a saudades do público fiel. E hoje, sexta-feira, a banda chega na capital mineira para mais uma apresentação. O show acontece no Expominas, a partir de 20h. Os ingressos estão disponíveis no Eventim.

Sábado

E Belo Horizonte recebe mais uma edição do Pandora Festival. O evento que reúne os melhores DJs da cena eletrônica nacional, surpreende a cada ano. Com uma estrutura tecnológica de outro planeta e mais de 20 atrações, você poderá curtir 12h de muita música. O Pandora Festival 2023 acontece no Mineirão, a partir das 15h. Para garantir o ingresso basta acessar o Sympla.

E para curtir o restinho da semana do rock em grande estilo, vem aí mais uma edição do Prime Rock BH, o festival dos clássicos do rock nacional. Neste ano, o Prime Rock desembarca na Esplanada do Mineirão. Com um line-up surpreendente, o Prime Rock vai reunir Biquini, Paula Toller, Paulo Ricardo, Nenhum de Nós, as participações especiais de Léo Jaime e Fernanda Abreu e muito mais. O evento começa às 13h, e os ingressos podem ser adquiridos pela plataforma BlueTicket.

Domingo

E no domingo você poderá curtir a feijoada porcão! Muita comida, muita bebida e um convidado super especial, Dudu Nobre. Além do cantor, o evento vai reunir o Beiço do Wando, Baile do Magua e os Magnatas do Samba. Curtiu? O evento acontece no Estacionamento Porcão, a partir de 12h. Corra pra garantir seu ingresso no Sympla!

E para encerrar a semana, as crianças e familiares poderão ser transportados para um universo cheio de fantasia. Isso porque Belo Horizonte recebe o Gato Galactico Space Show. Com muita música e criatividade, o YouTuber Ronaldo Souza, o Gato Galactico, chega à capital com sua turnê que faz parte das celebrações de 10 anos do canal. O espetáculo acontece no Minas Centro, às 17h. Os ingressos estão disponíveis no Sympla.

Por Júlia Garcia

No último sábado (8), a cantora Ludmilla reuniu 60 mil pessoas no Estádio Nilton Santos, o Engenhão, para mais uma apresentação do seu projeto de pagode. A artista prometeu o maior ‘Numanice’ de todos os tempos, e pela repercussão nas redes sociais, conseguiu cumprir. O show foi composto por luzes, fogos e drones e reuniu vários fãs e figuras públicas como Vini Jr. e Bruna Marquezine. 

Repertório, convidados e estrutura

Ludmilla cantou diversas canções de seu repertório e regravações. Inclusive, quem estava no show, pôde curtir outras atrações. A artista dividiu o palco com Baco Exu do Blues, Preta Gil, Mumuzinho e L7.

Baco Exu do Blues, Ludmilla e L7 no Numanice. Foto: Instagram/Divulgação.
Mumuzinho, Ludmilla e Preta Gil. Foto: Instagram/Divulgação.
Bruna Marquenize e Vini Jr. no Numanice. Foto: Instagram/Divulgação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na plateia, famosos e fãs aclamavam a Rainha da Favela, que agora, está em grande destaque na cena do pagode. E por falar em palco e plateia, Ludmilla não mediu esforços para entregar uma ótima estrutura. O espaço foi dividido em cinco setores: open bar, front stage, pista, cadeira inferior e superior. 

De acordo com Rodrigo, fã da cantora, a organização foi a melhor que já viu. No bar não havia filas e para pegar bebida era fácil. “Que estrutura! Disparado a melhor organização de todos os eventos que já fui. A locomoção estava bem facilitada entre bar e banheiro. A higienização do banheiro também estava impecável”, conta.

Numanice no Engenhão. Foto: Instagram/Divulgação.
Numanice feat Hemorio

Antes mesmo do dia do evento, essa apresentação já era a maior de todos os tempos. A cantora realizou a campanha, em parceria com o Hemorio e anunciou em suas redes, que quem doasse sangue entre os dias 5 e 7 de julho, ganharia um ingresso para o show. O  ‘Numanice tá no Sangue’ bateu recordes! Foram mais de 1600 doações em três dias. 

Ludmilla no Hemorio. Foto: Novela Mais/Divulgação.

Em entrevista ao O Globo, Luiz Amorim, diretor-geral do Hemorio, afirmou que a campanha salvou o mês de julho e que as doações vão durar no máximo duas semanas. “Precisamos de mais iniciativas como essa para conscientizar as pessoas. Ficamos muito felizes, torcendo para que isso vire um hábito”, diz. Amorim acredita que a campanha de Ludmilla foi uma ótima maneira de atrair os jovens, faixa etária que menos doa sangue.

Sensação e realização 

Eu já curti um Numanice e posso dizer com toda certeza que foi uma experiência incrível. Para Ani, admiradora da artista, o evento trouxe várias sonoridades e diversidade. “Sensação de ter participado da história sendo construída por uma das maiores artistas brasileiras, e um pedacinho da grandeza de pura musicalidade festiva que é esse evento”, afirma.

Já para Rodrigo, que havia ido ao show de pagode de Ludmilla, ambas as experiências foram surreais. “Esse foi o meu segundo Numanice, porém nessa de agora, senti que consegui viver melhor tudo que o evento pôde proporcionar”, relembra.

Público no Numanice. Foto: Instagram/Divulgação.

Ao serem questionados sobre o que mais gostaram no evento, os jovens rasgam elogios sobre o show. Para Rodrigo, foi lindo ver a forma que a Ludmilla contagia o público com suas composições e regravações.“A forma com que a cantora conseguiu mesclar seus lançamentos pop com versões de pagode, ficaram perfeitos”, conta.

Já para Ani, o que mais gostou foi o ambiente do Numanice.“Todo o contexto do evento e viver essa experiência é algo único, um misto de sentimentos”, diz.

Tour Numanice

E os fãs de outros estados, que não conseguiram prestigiar o Numanice do Engenhão, estão ansiosos para a chegada do evento em suas cidades. Sebastian, que é belorizontino e fã da cantora, está com expectativas altíssimas. “A tour já começou em outras cidades e a cada show novo a ansiedade só aumenta, a Lud vai entregar um show incrível para os mineiros”, conta.

Além da ansiedade para receber mais um Numanice em BH, as especulações sobre quais serão os convidados também são grandes. A cantora costuma dividir momentos no palco com artistas regionais, e para Sebastian, o que não falta em Minas são cantores incríveis. “Gostaria muito de ver a Marina Senna, o Chris MC, Akatu e Djonga, são mineiros incríveis”, diz.

E se você não pôde comparecer no maior Numanice de todos os tempos, fique tranquilo! Ludmilla preparou uma tour e irá passar por vários estados. Confira na imagem abaixo.

Divulgação da Tour Numanice. Foto: Instagram/Divulgação.

Por Júlia Garcia

O fim de semana em Belo Horizonte está repleto de eventos para todos os gostos. Confira hoje a agenda que o Contramão separou para você curtir o final de semana.

Sexta

O mês de julho já se foi, mas os arraiás continuam em julho. E nesta sexta-feira você pode separar sua bota e sua camisa xadrez para a 7ª edição do Arraiá de São José. O evento está repleto de comidas típicas, quadrilhas, música ao vivo e muita diversão para toda a família. A festa, que iniciou às 16h, vai até às 22h e acontece no Pátio do Santuário São José, no centro de BH.  Se não puder ir hoje, pode ficar tranquilo, o Arraiá de São José continua no sábado e domingo. 

Se você quer terminar sua sexta-feira com bastante alegria, pode conferir o espetáculo “Aperte o play e só… ria”. Protagonizado pelos atores Kayete e Carlos Nunes, o espetáculo é uma mistura de cenas engraçadas, conduzidas com humor e inteligência. Kayete e Carlos interpretam diversos personagens no decorrer dessa hilariante história. A comédia acontece hoje, às 20h, no Teatro Raul Belém Machado. Para comprar os ingressos, basta acessar o site ou aplicativo Sympla.

Sábado

E se você é amante do rock, e quer iniciar as comemorações para o Dia Internacional do Rock, se prepare! No sábado, acontece o Rock no Parque, evento em que evidencia a força do rock em BH. O evento reúne diversas atrações, de bandas da capital mineira. Shows com: Orquestra Mineira de Rock, Putz Grilla, Banda Cianna e muito mais. Para garantir os ingressos, é só abrir o Sympla. O evento acontece no Parque Municipal, a partir de 10h. 

A partir de 16h você pode curtir o Arraiá Casa Lagoa Eventos de 2023. O evento, que é 100% open bar e open food, convida os Barões da Pisadinha e Gabi Martins como atrações. Serão oito horas de festa, com muitas comidas e bebidas. O arraiá acontece neste sábado, no espaço CASA LAGOA EVENTOS. Os ingressos estão disponíveis no Sympla

Domingo

Domingou com a 24ª Parada do Orgulho LGBT+ de BH. E o tema escolhido deste ano é  Democracia: Liberdade e direitos para todes! A luta pela democracia não deve ser seletiva. O evento acontece na Praça da Estação, a partir das onze da manhã e é totalmente gratuito. Todos, todas e todes, devem se unir, em uma voz coletiva, para combater a opressão e o preconceito. 

 

Evento é considerado a maior manifestação popular de massa de caráter social de Minas Gerais e uma das mais antigas do país

Por Gustavo Meira

Acontece no próximo domingo (09), a 24ª edição da Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de Belo Horizonte, com o tema ‘’Democracia: Liberdade e Direito para Todes’’.  Um evento de luta coletiva para combater a opressão, o preconceito e a invisibilidade presente dentro da própria comunidade. A concentração é a partir dàs 11h na Praça da Estação, onde haverá um palco principal para a apresentação de mais de 50 atrações. 

Multidão de pessoas reunidas na Parada do Orgulho na Praça da Estação. Foto: Cellos MG.

A artista drag Mannu Mallibu interpretada por Daniel Gerth é uma delas. Ela se apresentará pela primeira vez na Parada do Orgulho da capital, o maior palco em que já se apresentou. A inspiração da performance ao lado de duas amigas será em ‘’RuPaul’s Drag Race’’, programa que tem um significado pessoal à artista, que a influenciou diretamente em sua carreira. 

‘’Ser uma das atrações do palco principal da Parada me traz uma sensação de muita felicidade. De saber que alguma pessoa, nem que seja uma só, vai me ver e vai pensar ‘nossa, eu queria estar lá!’. Então, eu acho que a importância que tem pra mim, é de ser vista como possibilidade para alguém de algo real, que é válido, que é possível. Que ser drag queen é algo que é, que pode e que deve ser celebrado’’, diz.  

Artista Mannu Mallibu, interpretada por Daniel Gerth. Foto: redes sociais/divulgação.

A celebração contará também com cortejo de cinco trios elétricos que agitam o público durante todo o percurso com músicas que tem como destino final a Praça Raul Soares, no Barro Preto. Segundo a Prefeitura da capital, são esperadas 250 mil pessoas, 100 mil a mais do que na edição do ano passado, que aconteceu em novembro.

Além da Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ ser um movimento de resistência, luta e celebração, ela serve também para dar visibilidade às drags queens ‘’Além do Carnaval, a parada provavelmente é o lugar em que um artista drag mais vai ter público. É você estar em um lugar que majoritariamente entende e celebra a arte que você faz, a arte drag. É como uma validação’’, é o que explica Mannu Mallibu.

Alto investimento 

Esta edição da Parada contou com o investimento de R$ 300 mil do município e R$ 50 mil de emendas parlamentares vindas da Câmara Municipal. Todo o valor foi investido na estrutura do evento, que é organizado pelo Centro de Luta Pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos MG).

O Brasil continua a liderar o ranking dos países que mais matam LGBTQIAPN+. De acordo com levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB), a partir da análise de notícias publicadas nos meios de comunicação. Foram apontados 242 homicídios e 14 suicídios ao longo do ano passado, ou seja, uma morte a cada 34 horas. Este movimento é em prol dessas pessoas, que sofrem e morrem todos os anos por simplesmente serem quem elas são. Além da celebração, é a luta pelo respeito.

A diversidade é um dos pilares fundamentais de uma sociedade democrática. Cada indivíduo merece ser reconhecido e respeitado em sua individualidade, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero. A luta pela liberdade e pelos direitos da comunidade é um reflexo do desejo de criar um mundo mais inclusivo e justo para todos.

 

Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de 2022, na Av. Amazonas, BH. Foto: Cellos MG.

 

 

Com dois dias de evento, confira os destaques desta edição de 2023 

Por Keven Souza

Diversos fatores influenciam a credibilidade de um festival: a pluralidade no line-up, a diversidade do público, a qualidade na estrutura física e até a logística. O Festival Sensacional, que foi realizado neste último fim de semana, entre os dias 23 e 24 de junho, conseguiu cumprir todos os requisitos. Foram cerca de 21 atrações e 4 palcos que agitaram Belo Horizonte, nos mais de 30 hectares de área verde do Parque Ecológico da Pampulha. 

Noite de abertura

Em sua décima edição, o festival funcionou em um formato inédito, acontecendo em dois dias seguidos. Na sexta-feira (23), ocorreu a noite o show de abertura com a turnê “Nós, a gente”, de Gilberto Gil e família. 

A apresentação foi de encher os olhos. Transmitiu a defesa da liberdade, da igualdade e da justiça social para um mar de pessoas que ali estavam para prestigiar a carreira de Gil, que ainda homenageou Rita Lee com a clássica “Ovelha Negra”.  Ali, pelos gramados do parque, o show contou com banda formada exclusivamente pelos netos e filhos do artista, como a cantora Preta Gil. 

Arte, cultura e música a céu aberto 

No dia seguinte, sábado (24), o line-up contava com Gloria Groove, Marina Sena, Fundo de Quintal, Flora Matos, Mc Tha, Masterplano, entre outros artistas. 

No palco Chacoalha, Mc Tha trouxe suas raízes e religião para sua apresentação. A cantora, que é de Tiradentes/MG, mostrou que, além das músicas e da performance, um de seus maiores trunfos são seus fãs, que lotaram o espaço e cantaram fervorosamente seus sucessos. 

Ao entardecer, Fundo de Quintal mostrou a força que é o samba brasileiro. O grupo carioca cantou seus maiores hits, como “Trem das Onze” e “Amar é Bom”. Logo após, o clima esquentou no Festival Sensacional. 

Gloria Groove misturou funk, pop e pagode em um único show no palco Sensacional, com participação especial de Valesca Popozuda. Isso com muitas luzes, danças e figurinos. Durante a apresentação, a drag queen ainda relembrou as vezes que visitou a capital mineira e deixou claro: “Amo esta cidade”, disse Glória.  

Mais tarde, foi a vez de Marina Sena subir ao palco para encerrar a edição de 2023 do Sensacional. A mineira de Taiobeiras retornou a Belo Horizonte para apresentar sua turnê e seu novo álbum “Vício Inerente”, e cantou ainda um compilado de sucessos do seu primeiro álbum solo, “De Primeira”. 

Marina Sena durante seu show. Foto: Amanda Serafim.

Seus fãs vibravam, emocionados, lotando o gramado do Parque Ecológico da Pampulha. Lucas Fernandes, que estava presente no festival, afirma que a cantora, apesar de ter poucos anos de carreira, já é um sucesso. “Marina Sena é a nossa diva mineira”, pontua.

Era nítido a entrega de Marina no palco do Festival Sensacional, a felicidade e a qualidade do show nessa volta para a antiga casa, chamada de Belo Horizonte. 

Marina Sena. Foto: Amanda Serafim.
Sensacional é realmente sensacional 

O Sensacional é um festival que se diferencia de outros da cidade por não ter nenhum tipo de setorização. “O Sensa nasceu na rua e foi realizado durante vários anos em um formato sem grades nem ingressos, com todo o público ocupando os mesmos espaços. Faz parte dos nossos valores e vamos seguir lutando para que todes presentes possam ter acesso à mesma experiência”, afirma Mari Campos, diretora do festival.

No Brasil, 68,8% da comunidade LGBTQIA+ está em algum grau de Insegurança Alimentar, sendo 20,2% em IA grave, conforme levantamento do Guia de Cuidado e Atenção Nutricional à População LGBTQIA+

Por Júlia Garcia e Millena Vieira.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos alimentares são um conjunto de doenças psiquiátricas que se caracteriza por uma desordem no ato de se alimentar. Estima-se que mais de 70 milhões de pessoas no mundo sejam afetadas por algum transtorno alimentar, incluindo anorexia, bulimia, compulsão alimentar e outros, sendo a anorexia e a bulimia nervosa as de maior incidência entre o público jovem de 12 anos até o início da vida adulta, o que acaba dificultando o seu desenvolvimento. 

Para a nutricionista e professora Luana Santos, especialista em Adolescência pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com Doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP), os distúrbios alimentares estão vinculados a condições de saúde física ou psicológica, questões socioculturais e até mesmo fatores genéticos. Entre os adolescentes, o principal fator de risco, além da auto estima baixa, a distorção da própria imagem e os maus hábitos alimentares, é o culto excessivo ao corpo. “Isso tem sido muito valorizado, sobretudo nos últimos anos, com o avançar das redes sociais, há uma imposição pelas redes, pelas mídias de corpos que fogem do padrão, há um culto excessivo ao corpo esteticamente diferente do que é habitual da adolescência, isso favorece a ocorrência de distúrbios”, alerta.

Na visão da professora, existe uma linha muito tênue entre transtorno alimentar e transtorno de saúde mental. “Essa relação é uma via de mão dupla, aqueles indivíduos que têm o histórico de depressão, ansiedade e outros transtornos, vão ter maior propensão a ter um distúrbio alimentar, e aqueles indivíduos que têm um distúrbio alimentar também poderão ter maior chances de desenvolver qualquer transtorno de saúde mental, pela questão inerentes aos quadros de distúrbios”, afirma.

Em 2021, o Conselho Regional de Nutricionistas 1º Região (CRN-1), lançou a 1º edição do “Guia de cuidado e atenção nutricional à população LGBTQIA +”. Conforme levantamento, no Brasil, 68,8% dessas pessoas vivem com algum grau de Insegurança Alimentar (IA), sendo 20,2% em IA grave. De acordo com o Guia, entre os TAs mais comuns à população LGBTQIA+ e outros problemas correlacionados, estão: altos índices de insatisfação corporal devido ao padrão de corpo e beleza e à pressão estética hetero cisnormativa; estresse entre minorias (opressão sofrida pelos próprios membros da comunidade); estresse de minorias (opressão sofrida pela sociedade). Em relação às pessoas trans em comparação com cisgêneros, o uso de laxantes e outros remédios para fins de emagrecimento são muito comuns.

Aos 21 anos, Isaque Vieira, um homem negro, gordo, baixo, de cabelos cacheados e pretos, está dentro da estatística de 2% da população brasileira transgênera. Ele lembra as inseguranças que o levaram a desenvolver bulimia no início de sua juventude. “Eu comecei a passar pelo transtorno alimentar quando eu tinha uns 10 anos mais ou menos. Foi quando comecei a entender como as pessoas na escola eram diferentes de mim por conta do meu corpo. No twitter, descobri uma hashtag chamada #anaemia que é onde pessoas que sofrem anorexia e bulimia conversam entre si e colocam metas nada seguras para perder peso e eu comecei a praticá-las”, conta. 

Após o desenvolvimento do transtorno alimentar na adolescência, Isaque diz que ao se identificar como um homem trans, as influências das mídias digitais começaram a ser muito mais negativas. “Hoje quando vejo um corpo trans nas redes sociais, ao invés de olhar para esse corpo e me identificar, eu olho e me sinto triste. Muitas das vezes são corpos fora do padrão por serem corpos trans, mas são corpos padronizados dentro da comunidade trans, (corpos magros, brancos e principalmente transicionados) e daí se cria um enorme sentimento de insegurança em mim”, afirma. Embora seja um fator limitante, para o jovem negro e trans, o padrão de beleza vai muito além do corpo. “Quando a gente vê os padrões da sociedade sendo impostos, geralmente são pessoas brancas, de cabelo liso, olhos azuis. Padrões que uma pessoa negra não vai alcançar, sabe? E isso acaba sendo frustrante”, diz.

De acordo com a psicóloga Dalcira Ferrão, pessoas fora do padrão normativo tendem a desenvolver mais transtornos pela cobrança excessiva imposta socialmente sobre os corpos, ou seja, sobre a forma como devem ser e existir. “Perceber que não se aproxima desse dito “padrão” faz com que as pessoas se vejam sem pertencimento no coletivo”, afirma. Ainda segundo a psicóloga, a maioria dos jovens utilizam as redes sociais como referencial para a construção de suas identidades. Espelham-se em pessoas públicas e naquilo que é divulgado nas mídias. “O tempo que os jovens têm destinado à tecnologia tem sido demasiado, o que acaba impossibilitando outras vivências no dia-a-dia. Ao mesmo tempo em que a internet pode interligar pessoas que estão distantes geograficamente, pode também afastar quem está ao nosso lado”, diz. 

Dalcira Ferrão é uma mulher preta de cabelos cacheados, feminista, bissexual, antirracista e militante LGBTQIA+ e Direitos Humanos. Psicóloga clínica e social desde 2007, ela trabalha no atendimento de pessoas LGBTIQIA+, suas famílias, mulheres em situação de violências e pessoas pretas. Além disso, durante o período de 2016 a 2019, Ferrão foi presidente do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG) e Conselheira Federal de Psicologia, entre 2020 e 2021. Hoje, a psicóloga é colaboradora das Comissões de Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual e de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP-MG.

Outro fator preocupante sobre o transtorno alimentar, é o isolamento do indivíduo, podendo afetar de forma negativa a saúde mental e impactar nas atividades diárias. “No início pode ser que a pessoa se distancie da família ou do grupo, para que as pessoas não percebam vestígios do distúrbio. Esse indivíduo pode se tornar incapaz de participar de atividades por até mesmo sentimentos causados pelo transtorno e não querer estar de forma sociável com os demais”, afirma a profissional Luana Santos.

Desafio de ser um homem trans

Isaque acredita que o seu maior desafio seja parar de se comparar tanto. O jovem alega que até dentro da comunidade trans há padrões a serem seguidos. “Você sempre tem que ser alguém que toma hormônio, que já transicionou. Quando você olha pra você e vê que você tem traços femininos, você não se entende mais como um homem trans”, declara.

A divisão entre “ser um homem trans” e “ser um homem cis”, também é um desafio para Isaque. “Quando a sociedade impõe que homens trans não são “homens de verdade” por serem transexuais, você ouve isso e nega para si mesmo. É muito difícil, sabe? Porque tem mil coisas que a sociedade vai impor para você seguir, mil padrões, e quando você não tem como seguir, é mais complicado ainda”, diz.

Segundo o psicanalista Julian Silvestrin, ter seu modo de gozo, seu prazer, sua forma de viver a sexualidade encarada como um transtorno, pode produzir diversas formas de sofrimento e igualmente diversas formas de tentativa de apaziguamento. “É aí que cada sujeito vai construir sua trajetória de transição, que é sempre singular”, conclui.

Para Dalcira Ferrão, “é extremamente importante que as pessoas que apresentem sofrimento psíquico decorrentes dos transtornos alimentares ou das imposições de sexualidades e de gênero tenham suporte psicológico e/ou médico adequados, quando necessário, e que se constitua uma rede de apoio, de modo a promover relações de segurança e confiança”, ressalta.

Segundo o Guia de cuidado e atenção nutricional à população LGBTQIA+, o acesso à saúde também é limitado para a comunidade. “De forma geral, a experiência de pessoas LGBTQIA+ nos serviços de saúde é marcada por constrangimentos, falta de conhecimento e violências, o que resulta em um afastamento dessa população dos serviços de saúde”, afirma o estudo.

Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibilize atendimento para pessoas em sofrimento psíquico por meio dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), sendo os CAPS – Centro de Atenção Psicossocial, em suas diferentes modalidades, pontos de atenção estratégicos da rede, a espera pela disponibilização de um profissional qualificado e a falta de investimento na saúde mental no Brasil, que recebe menos de 2% do orçamento recomendado pela OMS, quando deveria receber no mínimo 6%, dificulta o acesso afetando toda a população.

Perguntado sobre o que gostaria de deixar para as pessoas que se identificam com Isaque, o jovem respondeu: “Eu diria que antes de tudo, reconhecer que precisamos de ajuda é o principal, a partir daí as coisas fluem naturalmente para o nosso bem. Quando a gente está nesse processo, é muito difícil enxergar que estamos precisando de ajuda, o primeiro passo é reconhecer isso. Meu maior conselho é que a pessoa encontre um profissional que a ensine a se enxergar de uma forma melhor e cuidadosa. Hoje eu digo que amar nossos corpos é uma luta diária que temos que ter em mente que vamos vencer, falo luta porque é realmente algo muito difícil. Mas sempre com a ajuda de um profissional, a gente consegue aprender o que é amar e respeitar nossos corpos.”