História da Imprensa Mineira
Matérias e entrevistas com jornalistas mineiros

Hoje o jornalismo brasileiro ficou mais triste. Hoje o meu jornalismo ficou mais triste.

Geneton Moraes Neto fez a passagem. Sim, o icônico jornalista pelos diversos dossiês, entre eles o da última entrevista do poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade, acaba de falecer. Referência para alguns, Geneton é, e foi um pilar para mim.

Tudo começou por conta de uma entrevista que a pequena equipe de estagiários do jornal hiperlocal da faculdade, o Jornal Contramão, iria realizar. Recém-chegado no estágio e mais novo ainda na área jornalística – cursava publicidade -, eu não fazia ideia de quem seria o Moraes Neto.  Lembro que todos estavam eufóricos, Alex Bessas estudava as perguntas, Juliana Costa pensava nos conteúdos para as redes sociais, Fernanda Kalil preparava o equipamento visual e eu pensava nos planos que poderia fazer dele. Pronto, todos preparados e estudados, fomos ao encontro dele.

Após esperar por dez minutos, ele caminha até nós com uma camisa de botão verde, calça jeans, casaco bege, sapato fechado, cabelos grisalhos e óculos arredondados. Este era Geneton Moraes Neto. Simples, modesto e atencioso. Nós sentamos na recepção do Hotel Mercure e começamos a entrevista. Em um determinado momento, ele para e reflete o que seria o jornalismo, “jornalismo é produzir memória” ele conclui. Mal sabíamos que aquela entrevista seria um fato dominante em minha vida. Ela iria ficar para memória.

Alguns meses se passaram e recebo um email do Geneton através do contato do jornal. O assunto era “Favor encaminhar ao João Alves”. Enlouqueci quando li isso. Ele continua “ Caro João: tudo bem? Você poderia entrar em contato? Queria ver se você poderia nos enviar uma foto tirada naquela entrevista em BH”. Caraca, o Geneton lembra da nossa entrevista e ainda viu as fotos que postamos em nossa página. Eu não to acreditando. De imediato eu respondi e enviei algumas opções.

Emails foram trocados e ele foi bem específico em qual foto queria. Preta e Branca, três planos, no primeiro plano havia a câmera enquadrada em seu rosto, no segundo havia um Geneton reflexivo, no último plano havia penas um sofá preto. Esta foi a foto que ele escolheu e que meses depois tive o prazer de ser comunicado que seria a foto de orelha do mais novo livro dele, o Dossiê 50.

Quando eu disse que ele era um pilar, não estava exagerando. Na época em que eu estava divido entre a Publicidade e o Jornalismo, Geneton foi um divisor de águas nas minhas carreiras acadêmicas e profissionais. Eu acreditava no meu trabalho. Eu acreditava no meu olhar. No dia 25 de novembro de 2013 recebo o livro em minha casa via sedex. Abro o pacote com enorme cuidado e me deparo com o livro. Abro e leio:

“Para João – Fotógrafo de olhar afiado – com meus votos de sucesso na profissão, um abraço, Geneton, Nov, 2013”.

O fotografo de olhar afiado fica órfã. Assim como Luke Skywalker teve ajuda de vários mestres, sempre tem um que deixa aquela saudade, Leia-se Obi Wan Kenobi. A jornada ainda continua um pouco mais triste, mas com a certeza que é possível fazer um belo trabalho. Seja através de dossiês, entrevistas ou fotografias, o importante é produzir memória.

E você, caro Geneton Moraes Neto, ficará para a memória. Ficará na minha, na do Jornal Contramão e na história do jornalismo brasileiro.

Vá em paz e muito obrigado!

Texto e Foto: João Alves.

+ 5 perguntas que você estava com vergonha de perguntar:

 

Inaugurada na quarta-feira, 11, a exposição “Je suis Charlie, Uai”, apresenta trabalhos de 24 cartunistas mineiros (Aragão, Aroeira, Lor, Mário Vale, Melado, Nílson, Son Salvador, Thalma, Alves, Duke, Dum, Edra, Genin, Guto Respi, Janey, Jorge Inácio, Lute, Mello, Nelson Cruz, Quinho, Chantal, Nani e Rico. E como convidado especial, Ziraldo) que produziram charges especialmente para homenagear os colegas de profissão do jornal Charlie Hebdo – que foram assassinados no dia 07 de janeiro.

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“Essa exposição nasceu da intenção de alguns cartunistas de prestar solidariedade aos franceses. É um tributo à memória do Charlie e das outras vítimas do atentado. E também é uma luta dos cartunistas pela liberdade”. explicou José Carlos Aragão, idealizador da homenagem junto à AFBH.

No dia da abertura da exposição, foi lançado um manifesto a favor da liberdade. “Nós, mineiros, temos uma relação muito próxima com a Revolução Francesa. Foi a partir daí que surgiram os Inconfidentes. O sentimento de liberdade está até estampado na bandeira de Minas”, completa Aragão.

A exposição ficará disponível para visitação até o dia 07/03 na galeria Georges Vincent, Rua Tomé de Souza, 1418, Savassi. Entrada gratuita.

1- Charlie Hebdo, quem?

Charlie Hebdo é um jornal francês satírico e semanal que não tem medo de ofender. O jornal tira sarro de políticos e líderes religiosos, de todos os matizes, e faz parte de uma tradição de sátira política e religiosa na França secular. Mas o jornal também foi acusado de ser anti-islâmico, antissemita e racista, e que o conteúdo é puramente inflamatório e ofensivo.

2- E então?

No dia 07 de Janeiro passado, os irmãos Saïd e Chérif Kouachi invadiram o jornal Chalie Hebdo junto aos seus fuzis Kalashnikov e assassinaram 12 pessoas – que inclui membros da equipe e policiais. Os irmãos Kouachi são homens franceses, de origem Argélica, e são muçulmanos que se sentiram ofendidos com as caricaturas que o Charlie Hebdo publicava. As sátiras que faziam piadas sobre líderes islâmicos, ao profeta Maomé e ao Deus Alá foi, aparentemente, a motivação dos irmãos para atacar a redação do jornal.

3- Por que tanta sensibilidade por algumas charges?

Nas charges que a Charlie Hebdo publicava, o profeta ou o deus islâmico (assim como outros líderes religiosos) tinha toda a característica grandiosa, inacessível e misteriosa totalmente retirada. As figuras santas que só estão disponíveis no altar ou em livros sagrados eram convidadas a agir como humanos. Então, de repente, Alá, que os mulçumanos só viam como o criador dos céus e da terra e que não há nada semelhante a Ele no mundo, caricaturado com as nádegas de fora. Numa religião tão tradicional, onde ainda em alguns países islâmicos as mulheres não conquistaram o direito de dirigir carros, ter o profeta despido para o mundo, rebaixando-o a condição de homem é muito ofensivo para os mais crentes.

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O islamismo é uma religião tão antiga quanto o judaísmo e o cristianismo. Só que o Islã não teve uma reforma ou modernização da sua fé em séculos! Não houve um muçulmano revolucionário como houve cristãos: Matin Luther King, Joana D’arc, alguns Papas. Ou seja, a religião Islâmica ainda mantem o pensamento medieval que todas outras um dia tiveram.

4- “Je suis Charlie”? Que isso?

“Je suis Charlie” foi o slogan do movimento que aconteceu logo depois dos assassinatos na redação do jornal Charlie Hebdo em prol da liberdade de expressão. Traduzido para o português o slogan significa “Eu sou Charlie” foi escrito em cartazes e perfis do Facebook numa demonstração de simpatia pelas mortes provocadas pela intolerância de muçulmanos extremistas. Mas muitas pessoas aderiram à causa pois protestavam à liberdade de pensar e falar livremente, não necessariamente estando de acordo ou comprando as caricaturas do Charlie Hebdo.

5- “Je suis Charlie, Uai”? Uai?

24 chargistas mineiros fizeram cada um uma charge para homenagear os colegas do Charlie Hebdo assassinados. Os trabalhos se transformaram na exposição “Je suis Charlie, Uai”. Entretanto, a exposição não deixa de ser uma reedição da exposição de 1977 em que a maioria dos chargistas que ontem se reuniram para lançar a exposição “Je suis, Charlie, Uai” estavam manifestando naquele mesmo lugar, pelo mesmo motivo: liberdade de expressão. Em 77 eles viviam em uma ditadura e tinham suas charges proibidas de circularem. E agora, com o incidente trágico na França – que se mostrou uma nova tentativa de censurar pela intimidação- e com toda censura velada que vivemos no Brasil de hoje sob forma de sentenças judiciais e pressões, os chargistas daquela geração e os da nova se juntaram para lutar contra a causa da livre expressão do pensamento.

Texto e fotos: Camila Lopes Cordeiro

O Instituto de Comunicação e Artes (ICA) recebeu na noite de ontem o engenheiro químico, Luís André Rico Vicente, ex-vice-presidente executivo da Gerdau Açominas (entre 2003 e 2007) que proferiu uma palestra sobre “Comunicação Organizacional” e sua experiência à frente do grupo empresarial em um momento de crise.
Quem apresentou o palestrante à plateia de alunos e professores do ICA, foi o diretor do instituto, professor Lélio Fabiano dos Santos que recomendou aos alunos comprometimento e dedicação nas carreiras que escolheram abraçar ainda na faculdade.

O engenheiro iniciou a carreira lecionando engenharia química, quando foi promovido para coordenar o setor de publicidade e propaganda do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas. “É preciso que tudo concatenado e muito bem feito a busca pela perfeição”, recomendou.

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Engenheiro Químico Luiz André Rico Vicente, ex-vice-presidente executivo da Gerdau Açominas. Clique aqui e confira a galeria de fotos.

Durante a palestra, Luiz André frisou que, mesmo sendo de outra área do conhecimento, ele sempre teve um apreço pela equipe que cuidava da comunicação organizacional da Açominas. Luiz André ingressou na Açominas em 1994, no momento em que empresa estava falida, pouco antes da privatização. “Quando começa uma crise numa empresa, todo mundo entra em pânico, principalmente os empregados”, afirma. “Em comunicação, falta de retorno é muito grave. Se o principal diretor de uma empresa não abraçar a comunicação, ela não irá para frente”, explica.

O palestrante explicou, ainda, que uma das primeira iniciativas para gerenciamento de crise entre os funcionários foi a comunicação direta. “Pegamos um galpão de almoxarifado e improvisamos um auditório para 1200 pessoas, onde nós explicamos para o peão o que estava acontecendo com o grupo”, lembra. “Mais tarde construímos de fato um auditório para 1200 pessoas”.

O relato de experiências profissionais, permeadas por desafios em relação à eficiência da comunicação entre a chefia e os funcionários foi o ponto central da palestra. “Eu me arrependo de não ter me formado nessa área de comunicação, porém, o grande destaque da minha carreira foi nesse seguimento e, eu quero agradecer a companhia do Lélio Fabiano dos Santos, entre outros, que foi de grande valia”.

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Professores do ICA durante a palestra.

Núcleo de carreira

Antes da palestra do engenheiro Luiz André Rico Vicente, a psicóloga, Raquel Fernandes Nazareth, representando o Núcleo de Carreira, explicou as vantagens para o aluno veterano ou calouro de se cadastrar no sistema do núcleo que dispõe de vagas para estagio e empregos . A psicóloga explicou ainda que, o núcleo desenvolve oficinas para os alunos. “No último ano realizamos uma oficina de elaboração de curriculum”, destaca.

Por : Bruno Coelho
Foto : Felipe Bueno

A exposição “Arquivo da Cidade: memória cidadã” celebra os 20 anos do Arquivo Público Municipal; montada no Centro de Cultura de Belo Horizonte , tem como objetivo mostrar para a população os serviços de arquivo e conservação realizados pela instituição.  “Construímos a exposição em quatro fases falam da trajetória da instituição, seus serviços e o acervo. Nós mostramos  um pouco do que é a conservação, a digitalização e sempre dando exemplos através do próprio acervo”, explica a diretora do Arquivo Público, Maria do Carmo Andrade Gomes.

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A diretora do Arquivo Público de Belo Horizonte, Maria do Carmo. Foto: Natália Alvarenga

Fundada em 1991 com a finalidade de selecionar e guardar documentos que registram a história da capital mineira, o Arquivo Público tem um rico acervo proveniente de doações e recolhimento em instituições públicas. Para montar a exposição Maria do Carmo conta que trabalhou com “a ideia do caleidoscópio”. “Trouxemos uma quantidade grande de cópias digitais que estão distribuídas, desenhadas em mosaicos a partir dos temas da exposição”, explica. Na sala onde textos, fotos, plantas de prédios e mapas da cidade estão expostos, é possível acompanhar vários momentos da cidade em seus quase 115 anos de história. O público pode verificar pelas imagens a mudança da paisagem urbana, o cotidiano da cidade, os serviços públicos prestados ao longo do tempo e a participação popular nos movimentos políticos.

“A exposição não apresenta um cartão postal. Ela mostra várias questões, como saneamento, mostra favela, mostra educação, mostra a memória da administração pública e as filas para acesso aos serviços públicos. Isso tudo está, de certa forma, contemplado na exposição, embora o acervo seja muito mais rico”, avalia Maria do Carmo.

Exposição explora imagens
Exposição explora imagens

A exposição “Arquivo da Cidade, Memória Cidadã” pode ser vista no Centro de Cultura Belo Horizonte, na Rua da Bahia, 1.149, Centro, de segunda a sexta, das 9 às 19 horas até o dia 16/9. A entrada é franca.

Por Felipe Bueno

Fotos: Felipe Bueno e Natália Alvarenga

Jornalista e político Sebastião Nery, laçou a 2ª edição do livro: ‘A Nuvem, o Que Ficou do Que Passou’ – 50 anos de história vivenciados pelo autor. Em entrevista para o  Contramão o Jornalista conta como foi o processo de criação do livro,  fala sobre as novas tecnologias e a censura nos tempos da Ditadura.


Jornal Contramão – Como foi o processo de construção do livro “A NUVEM”?

Sebastião Nery – Foi um processo que se complicou, exatamente pela história do livro. A documentação que eu tinha, ficou muita parte pra trás, em 1954 fui candidato a vereador aqui em Belo Horizonte e fui preso, entraram na minha casa e levaram meus documentos. Vou para Bahia, e vem o golpe de 61, a renúncia do Jânio, fui preso de novo, entraram na minha casa, carregaram todos os meus papéis. Chega o golpe de 64, aí devastou: pararam um caminhão e carregaram todo o meu apartamento, até o papel higiênico, sabonete phebo, tudo. Tinha um Guingnard, com uma dedicatória para mim, tinha um Vicente de Abreu, presentes de meus amigos, pinturas, carregaram tudo. Quando eu fui escrever o livro é que eu percebi que havia perdido uma documentação grande. Foi quando eu u tentei recuperar.

Passei algumas tardes aqui na biblioteca na Praça da Liberdade, pegando a documentação do tempo que eu morei aqui em Minas. Mas o problema é que eu morei na Bahia, e que morei em São Paulo, morei no Rio, e também que morei em Portugal, na Espanha, em Paris, na Itália, em Moscou (…) E como a vida era muito ampla e a documentação que eu tinha era pequena, fui e recuperando aos poucos, e quando consegui e trabalhei nisso em seis meses. Sentei e escrevi o livro assim em seis meses. Consegui uma boa documentação. Outra coisa é o tempo. Muitos amigos mortos, muitas testemunhas mortas e então eu procurava pessoas que não encontrava mais. Mas o livro pegou. E eu acho que eu consegui documentar e contar a história de 1950 até 2000 numa grande documentação histórica e fatos concretos.

Jornal Contramão – Como você avalia o jornalismo de hoje com o jornalismo de antes, quando começou a exercer a profissão?

Sebastião Nery – O jornalismo muda como o país mudou. Antes nós tínhamos um país que era antes de Juscelino um país rural e comercial. E então a imprensa era uma imprensa partidária, cada partido tinha seu jornal. Depois você tem uma imprensa empresa: os jornais pertencem a grupos econômicos que em geral quase todos pertencem aos selos bancos. A imprensa não é mais aquela imprensa: nem a imprensa partidária de antes nem também uma imprensa ideológica. Hoje é uma imprensa financeira. É uma imprensa que defende os projetos econômicos dos grupos que a sustentam. Então você não pode ter mais Carlos Lacerda. Por que você não tem Carlos Lacerda? Porque Carlos Lacerda tinha projeto política da UDN. Hoje não há nenhum jornal que tenha um projeto político. O projeto político do jornal ou é o projeto do atual governo ou contra este governo. Foi isso que mudou. A imprensa deixou de ser imprensa pra ser empresa.

Tem umas vantagens que tecnologicamente ela melhorou, ela tem mais condições, chega mais ao povo, mas por outro lado, ela não é opinativa. Ela é muito menos opinativa do que já foi. E isso faz com que ela comece a perder a briga com a internet, porque a internet é para dar notícia seca, a internet é para dar a notícia com, como ela diz, em tempo real, mas o jornal tem que discutir o jornal que tem que dar opinião, tem que debater. Se o jornal quiser pensar e fazer no dia seguinte o que a internet fez na véspera morrem todos. Então os jornais têm que opinar, discutir o país, participar. Senão, agrava-se o que já está acontecendo. É que você chega em casa a noite, você entra na internet e lê a primeira página do Globo, e lê a primeira página do Estado de Minas, e lê a primeira página do Correio Brasiliense e você fica sabendo a noticia. Quando chega no outro dia o jornal está dizendo a mesma coisa aí não adianta comprar o jornal. Por isso que eles, a Folha vendia um milhão de exemplares e também o Jornal do Brasil e também o Globo e o Dia, vendiam um milhão de exemplares no Rio de Janeiro no fim de semana. Hoje nenhum deles vende mais que 300 mil no fim de semana, de sábado pra domingo. Por quê? Porque as pessoas já viram no jornal na internet as notícias. Então é preciso que o jornal seja um instrumento de debate, de opinião, senão vai apanhar muito da internet. E a juventude que maneja a internet vai a cada dia lendo menos jornal. Porque ela acha “Pô já tenho aqui na internet pra que eu vou comprar o jornal na banca ou assinar o jornal ou ler o jornal?”

Jornal Contramão – A censura que existia naquele tempo, ainda existe?

Sebastião Nery – A censura da ditadura era muito bruta porque censurava às vezes a própria noticia. Mas hoje não há uma censura nos jornais. Os jornais se alinharam demais. Ou o governo ou a oposição. Então o que eu acho hoje é que os jornais estão excessivamente dependentes do grupo financeiro ao qual eles pertencem. Então no Rio de Janeiro hoje nós temos uma coisa grave, aquilo que o ex-prefeito César Maia chama de o pensamento único do Rio de Janeiro. Você tem no Rio de Janeiro a TV Globo, e você têm a rádio Globo e depois você tem O Globo e depois você tem o Extra depois você tem o Super… Então, a Globo tem seis, sete canais de comunicação e todos são dela. E não teve ninguém pra contestar que o Dia morreu, ta com 50 mil exemplares, quando já teve um milhão e o Jornal do Brasil morreu, ta na UTI. Então você tem uma cidade como o Rio de Janeiro que é capital, cultural, num sei o quê, a capital política do país hoje é totalmente dependente do pensamento Globo. Quando o Roberto Marinho estava vivo, eu, por exemplo, que trabalhei na TV Globo seis anos, sete anos, eu sabia o que o Roberto Marinho pensava. Mas eu não sei se os filhos do Roberto Marinho pensam alguma coisa, não sei o que pensam, e eles têm o comando das empresas dele e tal. Isso é muito ruim. Porque a cidade, o país, fica dependente de um grupo empresarial que é excessivamente monopolista. Aí falam: “ah porque o Chavez” o Chavez é uma menina de primeira comunhão diante da TV Globo. O controle da televisão que a Globo faz, bem, num é controle, a supremacia, o domínio, ver o império que é a Globo é muito maior do que a televisão do Chavez lá na Venezuela. Isso é claro que ela não impede os outros jornais, mas ela é tão poderosa que acaba dominando e isso é ruim pra imprensa. Por isso que tem que discutir… não isso que o governo propôs que eu acho totalmente errado, é preciso analisar o que os jornais tem. Nada disso! O Globo tem que escrever o que quiser. Mas os outros grupos também têm que participar do processo. E ter seus jornais, suas rádios, para daí discutir. Não é porque você chega à França, tem um grande jornal, que é um jornal que apóia o governo, mas tem mais oito jornais. Aí você faz a discussão, o que não pode é um só.

Jornal Contramão – O que você espera hoje com o relançamento do livro “A Nuvem”?

Sebastião Nery – Eu não tenho nenhum medo da concorrência da internet em cima do livro. Claro que tem uma vantagem; as editoras e os autores vão ter que fazer cada vez mais livros que a juventude leia porque aquela linguagem excessivamente acadêmica, excessivamente técnica, afasta milhões e milhões de leitores que se acostumam a ler na internet mais superficialmente. Então o livro tem que disputar aí. As pessoas têm que perceber o que o livro é além da notícia. Então esse livro que ta aqui conta uma história, tem 50 anos de história, então se você for botar isso na internet tem que botar muito. Mas é preciso que as editoras façam livros assim como esse e é preciso que a internet não se banalize demais para não ficar tão banal e medíocre que prejudique a formação da juventude. Você não pode encher a internet de Big Brother. Uma besteira atrás da outra, não pode isso também, porque isso é um crime cometido contra o futuro do país.

Colunista político histórico da “Tribuna da Imprensa”, republicado em outros 25 jornais do País, Nery é autor do best-seller “Folclore Político”, que marcou a literatura política nos anos 70, “Socialismo com liberdade” (1974), “16 derrotas que abalaram o Brasil” (1974), “Crime e castigo da divida externa” (1985), “A história da vitória: porque Collor ganhou” (1990), “A eleição da reeleição” (1999) e “Grandes pecados da imprensa” (2000). Em 2002, reuniu 1.950 histórias numa edição definitiva do “Folclore Político”.

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Por: Ana Paula Sandim e  Débora Gomes
Foto e vídeo: Ana Paula Sandim

Na manhã desta quinta-feira a Praça da Liberdade serviu como estudio para a transmissão da programação matinal da rádio Band News. A rádio que esse ano comemora 5 anos criou o projeto aniversário, para divulgar essa comemoração. Projeto onde realizam transmissões ao vivo das capitais onde tem o sinal da rádio. Passando em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, hoje desembarcaram em Belo Horizonte, para mostrar para seus ouvintes um pouco de como acontece no universo por trás da voz que invade todos os dias os rádios. A grande atração foi à presença do Jornalista Ricardo Boechat. Considerado um dos jornalistas mais bem informados do país, Boechat foi recepcionado pelos mineiros e ouvintes do seu programa diário na Band News com muito carinho e presentes, de cachaças a livros bíblicos e finalmente uma bíblia. Visivelmente satisfeito com a receptividade do público mineiro, o jornalista e radialista, esbanjou simpatia e carisma, atendendo a todos que pediam autógrafos e fotos. A Tv Band Minas também transmitiu ao vivo algumas imagens da população que se aglomerava na Praça.

A comemoração contou com a presença de grande parte do elenco de radialista da Band News de Belo Horizonte, entre eles estava à apresentadora e agora radialista Roberta Zampetti. Questionamos como é soltar a voz todos os dias na rádio, sendo que sempre foi apresentadora do programa Brasil das Gerais na Televisão.  “A primeira vista pensei em não aceitar, achava que seria um enorme desafio, mas depois pensei que uma oportunidade dessas rejuvenesce a vida profissional”, explica a Jornalista.

Após o encerramento do programa apresentado por Boechat, foi cantado um parabéns diante de um bolo que levava a logo marca da rádio, que foi distribuído para as pessoas que acompanhavam a festa. Em entrevista com o Jornalista, discutimos sobre a liberdade do Brasil diante da sua frase: “Um país sem liberdade de opinião é um país sem liberdade. Ponto.”

Categoricamente ele disse que o país tem sim, plena liberdade de expressão, mas claro que com alguns acidentes de percurso. Quando perguntado se para um jornalista ser bem informado ele precisa de boas fontes ou de muita leitura, Boechat diz que o mais certo é tempo. Com ele você conquista boas fontes, que são confiáveis, pois quando tinha 21 anos de carreira, não tinha a metade das fontes que tem hoje com 41 anos. Ao ser perguntando sobre a liberdade de expressão no seus programas de rádio ou de TV, o radialista e apresentador contesta dizendo que “Não, pois são propostas diferentes. O programa de rádio é meu, então falo o que me dá na teia. O programa de televisão é mais informativo e menos opinativo.”

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Ouça a entrevista completa:

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Por João Marcelo Siqueira
Fotos: João Marcelo Siqueira