Manifestação

Moradores de rosa Leão, da ocupação Izidora, na região norte da cidade de Belo Horizonte, se concentram para marcha. Ao todo, mil moradores atravessaram a cidade até o Tribunal de Justiça de Minas Gerais para acompanhar o julgamento que definiu o futuro da ocupação. Fotografia: Lucas D'Ambrosio

Após seis horas e quase 25 quilômetros percorridos em marcha, cerca de mil moradores da ocupação urbana Izidora atravessaram a cidade de Belo Horizonte em busca de justiça. A longa e exaustiva caminhada, na quarta-feira, 28, teve início na região norte da cidade, até chegar ao centro da capital. O destino: Palácio da Justiça, sede do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).

Os moradores realizaram a marcha em forma de protesto e foram até as portas do tribunal, localizado na avenida Afonso Pena, acompanhar o julgamento que iria decidir os rumos jurídicos da ocupação. Iniciado às 13h30, o Pleno do TJMG, composto por 19 desembargadores, julgou o Mandado de Segurança impetrado pela defesa da Izidora, que tentava garantir a segurança, por meio de medidas conciliatórias, o despejo das famílias que moram na região.

Moradores da ocupação Izidora atravessam mata e estrada de terra para alcançarem o asfalto que leva até a Avenida Cristiano Machado. Fotografia: Lucas D'Ambrosio
Moradores da ocupação Izidora atravessam mata e estrada de terra que levam até o asfalto que dá acesso à avenida Cristiano Machado. Fotografia: Lucas D’Ambrosio

 

A marcha atravessou a cidade através da Avenida Cristiano Machado. Fotografia: Lucas D'Ambrosio
A marcha atravessou a cidade pela avenida Cristiano Machado, cruzando bairros da capital, Belo Horizonte, em direção ao centro. Fotografia: Lucas D’Ambrosio

 

As pessoas ali presentes, das crianças de colo até os mais idosos, estavam concentradas na porta do tribunal e se aglomeram em volta da escadaria. Correntes de oração e rostos apreensivos transformaram o semblante dos que estavam presentes, aguardando o resultado.

 

Cerca de 30 mil pessoas moram atualmente nas ocupações Rosa Leão, Vitória e Esperança, que integram a ocupação Izidora. Nas 8 mil famílias, cerca de 7 mil crianças também moram na região. Fotografia: Lucas D'Ambrosio
30 mil pessoas moram atualmente nas ocupações Rosa Leão, Vitória e Esperança, que integram a ocupação Izidora. Nas 8 mil famílias, cerca de 7 mil crianças também moram na região. Fotografia: Lucas D’Ambrosio

 

 

Enquanto aguardavam o anúncio do julgamento, moradores se posicionaram nas escadarias do Palácio da Justiça, sede do TJMG, na Avenida Afonso Pena, região central de Blo Horizonte. Fotografia: Lucas D'Ambrosio
Enquanto aguardavam o anúncio do julgamento, moradores se posicionaram nas escadarias do Palácio da Justiça, sede do TJMG, na Avenida Afonso Pena, região central de Belo Horizonte. Fotografia: Lucas D’Ambrosio

 

Depois de três horas de julgamento, por 18 votos a 1, ficou decidido o não acolhimento do mérito do referido mandado, autorizando a reintegração da posse. O anúncio da decisão foi realizado por meio de uma comissão de advogados que estava presente no julgamento e eram responsáveis pela defesa e representação dos interesses da ocupação.

Comovidos, os advogados se pronunciaram para os presentes, sobre futuros planos para tentar a reversão da decisão do TJMG no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília. O recurso pretende suspender a ordem de reintegração da posse e do despejo das famílias, que pode acontecer a qualquer momento, após a publicação do recente julgamento.

 

Frei Gilvanderson Luís Moreira, ao lado da comissão de advogados que representou a ocupação no processo do TJMG, anuncia a decisão que autoriza a reintegração de posse da área ocupada pelas forças policiais. Fotografia: Lucas D'Ambrosio
Frei Gilvander Moreira, ao lado de advogados que representaram a ocupação no processo do TJMG, anuncia a decisão que autorizou a reintegração de posse da área ocupada pelas forças policiais. Fotografia: Lucas D’Ambrosio


Revolta instaurada

Durante todo o dia, os gritos entoados eram um só: direito à moradia. Nos últimos anos, a região em que está localizada a ocupação Izidora é objeto de disputa e especulação imobiliária envolvendo diferentes partes: Prefeitura de Belo Horizonte, Governo do Estado de Minas Gerais, Governo Federal, a empresa Granja Werneck SA, a construtora Direcional e os 30 mil moradores da região.

 

São cinco mil casas, gente! Aonde nós vamos enfiar toda essa gente? Maria da Silva, moradora da Izidora. "Eu vim a pé, carregando uma faixa! Nós não vamos aceitar!”. Fotografia: Lucas D'Ambrosio
“São cinco mil casas, gente! Aonde nós vamos enfiar toda essa gente?” Maria da Silva, moradora da Izidora.  Fotografia: Lucas D’Ambrosio

 

A Izidora – ocupação formada por outras três: Rosa Leão, Vitória e Conquista – está localizada na região norte de Belo Horizonte e abriga 30 mil pessoas distribuídas em 8 mil famílias. Uma característica que é defendida pelos moradores é a existência de casas construídas de alvenaria. Eles defendem que essas construções não sejam destruídas, pelo contrário, sejam aproveitadas em um plano de urbanização da região.

L.C, 17, é estudante e moradora da Rosa Leão, uma das três ocupações pertencentes à Izidora. Sob o sol quente, enquanto percorria a Avenida Cristiano Machado, L.C demonstrou os motivos que a levaram marchar até o centro da cidade, “Estou aqui lutando por uma moradia digna. Todo ser humano tem esse direito. É uma dignidade do ser humano. A maioria das pessoas acham que estamos parando a cidade por vandalismo, mas estamos fazendo isso por um bem e por um direito de todos nós”, afirmou a estudante que é moradora da Izidora.

Fotografia: Lucas D'Ambrosio
Fotografia: Lucas D’Ambrosio

 

Um dos representantes da ocupação, Frei Gilvander Moreira lamentou a decisão proferida pelo colegiado do TJMG, “Parece que querem fomentar uma guerra civil em Belo Horizonte. As ocupações estão em processo de consolidação e essa decisão do tribunal (TJMG) foi um absurdo. São 30 mil pessoas morando nas ocupações da Izidoro. Tem crianças, idosos, gente de todas as idades. Se a polícia for lá para fazer o despejo, essas pessoas não vão desistir de brigar pela moradia delas”, afirmou Moreira em coletiva de imprensa.

Déficit Habitacional

O conflito latifundiário e urbano da ocupação Izidora é considerado o maior da América Latina. Desde 2011, cerca de oito mil famílias ocupam a região do norte da cidade de Belo Horizonte, conhecida como “Mata do Isidoro”. Composta por três ocupações: Vitória, Conquista e Rosa Leão, a Izidora se tornou referência na luta pelo direito à moradia no Brasil.

 

As casas de alvenaria, construídas desde 2011, chamam a atenção na ocupação Rosa Leão, na Izidora. Cerca de 5 mil casas estão construídas em toda a ocupação, o que não justificaria a derrubada delas, de acordo com os moradores. Fotografia: Lucas D'Ambrosio.
As casas de alvenaria, construídas desde 2011, chamam a atenção na ocupação Rosa Leão, na Izidora. Cerca de 5 mil casas estão construídas em toda a ocupação. Os moradores acreditam que a derrubada delas para a construção de casas populares, seria injustificada. Fotografia: Lucas D’Ambrosio.

 

Garantido constitucionalmente, esse direito visa assegurar a moradia justa, digna e necessária para os brasileiros. De acordo com informações da Fundação Clóvis Salgado, nos anos de 2013 e 2014, o déficit habitacional por situação do domicílio e déficit habitacional relativo aos domicílios particulares permanentes e improvisados, da região metropolitana de Belo Horizonte, foi de 140.707 (2013) e 155.393 (2014) de unidades.

Minas Gerais é o segundo estado do Brasil com o maior déficit, sendo que no ano de 2013 o déficit habitacional no estado é de 493 mil unidades e em 2014, 529 mil. Esse déficit é apurado conforme a quantidade de unidades das moradias consideradas inadequadas. Este critério é determinado, por exemplo, se nas moradias existe água encanada, destinação adequada para o lixo, saneamento, forma de iluminação do domicílio, entre outros.  

Fotografias e Reportagem: Lucas D’Ambrosio

No dia 22 de setembro foi realizado em em Belo Horizonte, “Dia Nacional da Paralisação e Mobilização – rumo à greve geral contra o governo Temer”, para debater a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)  241/16, em pauta no Congresso Nacional. Ela prevê o congelamento das despesas públicas para os próximos 20 anos. A concentração para o ato foi realizada nas praças, Afonso Arinos, Sete e Estação, ambas na região central de BH. Os manifestantes percorreram as ruas da capital e se reuniram na praça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

 

Paralisação nacional no dia 22 de Setembro reúne sindicalistas na Praça da Assembléia de Minas Gerais. Fotografia: Lucas D' Ambrósio.
Paralisação nacional no dia 22 de Setembro reúne sindicalistas na Praça da Assembléia de Minas Gerais.
Fotografia: Lucas D’ Ambrósio.

A mobilização contou com sindicatos mobilizados pela CUT – Central Única dos trabalhadores. Entre eles, estavam presentes o FETAM – Federação de Empresas de Transporte em MG, CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Sind UTE – Sindicatos Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais, AMES – Associação Mineira de Engenharia de Segurança, FENET – Federação Nacional dos Estudantes do Ensino Técnico e UJR – União da Juventude Rebelião.

Beatriz Cerqueira, presidente da CUT/ MG. Fotografia: Lucas D' Ambrósio.
Beatriz Cerqueira, presidente da CUT/ MG.
Fotografia: Lucas D’ Ambrósio.

R.O, auxiliar administrativo do CREA, estava próximo à praça observando a manifestação acompanhando de outros funcionários da Instituição. “Isso aqui é uma falta de respeito com quem trabalha na região, não vai dar em nada. Não é golpe e o governo não vai voltar atrás. Está só atrapalhando.”, comentou o rapaz, desaprovando a mobilização e os transtornos que ela poderia causar para o trânsito da região.

Segundo Beatriz Cerqueira, presidente da CUT/MG, o dia 22 de setembro é um marco para as lutas sociais e sindicais, “é o dia nacional de paralisações com atos em todas as capitais e uma pauta muito concreta. Estamos lutando contra os retrocessos anunciados pelo governo Michel Temer, seja sobre a reforma da presidência, seja em relação à PEC 241 ou à reforma trabalhista que irá estabelecer mudanças drásticas na CLT. Também nos reunimos contra a flexibilização da agenda no mundo do trabalho.”, explicou Cerqueira.

Apreensão de menor e incidente com ambulantes

Um grupo de menores, estudantes da rede pública de ensino, participava do ato, quando foram abordados por três soldados da Polícia Militar (PMMG), um deles identificado como SD (soldado) Vasconcelos. De acordo com o estudante J.A, os militares ordenaram que ele e seus amigos encostassem em uma árvore para serem revistados. Ao informar que era menor e apresentar seus documentos, J.A alegou ter sido agredido por um soco na mão e teve os documentos jogados fora do seu alcance pelo referido policial. Outro menor, amigo de J.A, também foi agredido.

Estudante apreendido durante a manifestação. Fotografia: Lucas D' Ambrósio.
Estudante apreendido durante a manifestação.
Fotografia: Lucas D’ Ambrósio.

Manifestantes que testemunharam a abordagem, na tentativa de intervir, também foram revistados. Tentando acompanhar o procedimento realizado, as pessoas foram dispersadas pela PMMG que utilizou a cavalaria e gás de pimenta contra elas. Inclusive, profissionais da imprensa também foram atingidos. Durante a ação, o menor F.B.M foi detido, aparentemente por estar de capuz, e encaminhado à 5ª DP, no bairro Floresta. Ao serem questionados sobre a apreensão do menor, policiais presentes na ação alegaram que não estavam autorizados a falar e que as informações seriam posteriormente divulgadas pela assessoria de imprensa da PMMG, através de contato por meio do 190.

“É aquela coisa da polícia fascista não se importar com a gente, não se importar com quem é estudante, com quem é negro, com quem é gay, com quem é trans. Porque, sinceramente, eu quero ver eles abordarem alguém do Santo Agostinho, Bernoulli (colégios de BH). Mas quando é de escola pública, Villa Lobos, Estadual Central, acontece esse tipo de coisa.” desabafa o menor, estudante.

Ambulantes que estavam trabalhando no local foram proibidos pelos seguranças da Assembleia de vender seus produtos próximo às escadarias do prédio. De acordo com J.J.B, 33, vendedora ambulante, ela e outros comerciantes foram impedidos de comercializar seus produtos no espaço frontal ao prédio da ALMG. “Os seguranças chegaram e falaram que não pode vender em frente a Assembléia.”, lamentou a comerciante que não quis ter sua identidade revelada. De acordo com informação fornecida por representantes da segurança, a ordem foi realizada pela presidência da ALMG.

Ambulantes foram obrigados a desocupar o centro da Praça da Assembléia por ordem da presidência da Casa Legislativa. Fotografia: Lucas D' Ambrósio.
Ambulantes foram obrigados a desocupar o centro da Praça da Assembléia por ordem da presidência da Casa Legislativa.
Fotografia: Lucas D’ Ambrósio.

Rumos para a greve geral
Depois de uma tentativa frustrada de tentar utilizar o Plenário Central para realização da Assembléia, os sindicatos e manifestantes reuniram-se na entrada do prédio para debater e ouvir os representantes. Entre eles estava Patrus Ananias, que em entrevista coletiva comentou,

Deputado Federal Patrus Ananias, durante coletiva de imprensa na paralisação nacional do dia 22 de Setembro. Fotografia: Lucas D' Ambrósio.
Deputado Federal Patrus Ananias, durante coletiva de imprensa na paralisação nacional do dia 22 de Setembro. Fotografia: Lucas D’ Ambrósio.

“O Congresso Nacional quer aprovar a PEC 241 à toque de caixa, não querem que ela seja discutida porque sabem muito bem que o tempo trabalha contra eles. Se for debatida, a sociedade brasileira irá perceber que é a ‘PEC do desmonte’: desmonta a Constituição brasileira e com ela o estado democrático de direito. Portanto, é uma PEC à serviço dos grandes interesses do capital internacional.”, finalizando sua entrevista antes de se dirigir à mesa de mediação da reunião com os sindicalistas.

Reportagem: Gabriella Germana

Fotografias: Lucas D’Ambrosio

Estefane dos Santos de Oliveira foi uma das visitantes da exposição "Mulheres Cabulosas da História".

Apesar de desempenharem um papel fundamental na construção humana, social e cultural da história, existem mulheres que foram esquecidas ao longo do tempo e colocadas como coadjuvantes diante das tradicionais figuras masculinas impostas pelos livros didáticos. Nomes como, Dandara, Simone de Beauvoir, Mercedes Sosa, Nísia Floresta, Sophie Scholl, Frida Khalo e Angela Davis são alguns desses exemplos. O projeto fotográfico “Mulheres Cabulosas da História” faz o resgate desses e de outros símbolos da luta social e feminista, por meio da releitura dos seus retratos clássicos utilizando, dessa vez, mulheres que são a atual força de representatividade dessas causas.

A fotógrafa Isis Medeiros, 26, é a responsável por idealizar o projeto que está exposto na passarela cultural do Anexo da Biblioteca Professor Francisco Iglésias, Rua da Bahia nº 1889, bairro Lourdes, entre os dias 25 de agosto a 02 de setembro, com entrada franca. Com o apoio e a realização do coletivo de mulheres do movimento social Levante Popular da Juventude, a ideia foi o resultado do engajamento fotográfico desempenhado pela autora do projeto. “Quando conheci o Levante, tive contato com todas as causas de opressão social: feminismo e patriarcado, racismo e todos os tipos de LGBTfobias. Por eu ser mulher, a primeira coisa que me pegou foi o feminismo. Fui entender várias das opressões que as mulheres sofriam e que antes eu não conseguia enxergar, e que também sofria antes. Fui entender as dificuldades que vivemos. Logo no inicio comecei a pensar como transformar isso em algum tipo de trabalho”, explica Medeiros sobre a inspiração do seu projeto.

Tornando o projeto em realidade:

Em fevereiro de 2015, após retornar de uma viagem realizada para a Bolívia, a fotógrafa apresentou a proposta para o movimento, do qual faz parte desde o ano passado, e recebeu o apoio para a sua concretização. Com a ajuda de outra integrante, Paula Silva, iniciaram o processo da pesquisa de nomes e referências que poderiam integrar as retratadas. Isis Medeiros credita o sucesso do projeto ao trabalho coletivo que foi realizado. “Ele foi muito importante e envolveu todas as meninas do movimento. Durante um mês de mobilização realizamos as pesquisas e o ensaio, que não durou mais de dois e intensos dias. No total foram 43 retratos realizados de 70 nomes pesquisados. Nesse processo, criei um evento no facebook e as meninas foram ajudando com sugestões e palpites. Tivemos a ajuda da figurinista Alzira Calhau que providenciou as vestimentas de cada uma das mulheres que foram retratadas”, explicando sobre o processo de criação das fotografias.

Além de participarem no processo de criação, as mulheres do movimento social também foram as modelos utilizadas para as releituras fotográficas. Todas os registros estão acompanhados de uma pequena biografia de cada uma das personalidades e, em seguida, é apresentada uma descrição da mulher que a representou. Isis Medeiros, além de fotógrafa, foi responsável por interpretar Isis Dias de Oliveira que, durante a ditadura militar, atuou como militante da Ação Libertadora Nacional sendo presa no ano de 1972 e dada como morta, quinze anos depois.

Retratos de Mulher:   

Estefane dos Santos de Oliveira, 21, é estudante e foi uma das visitantes da exposição “Mulheres Cabulosas da História”. Frequentadora do espaço destinado à estudos e leitura da biblioteca pública, o trabalho chamou a atenção da estudante que visitou o trabalho. “Por eu ser mulher, acho interessante ver e conhecer um pouco das mulheres que lutaram e representaram nossa causa ao longo dos anos da nossa história.”. Para ela, todos os retratos, de alguma forma, possuem a sua importância individual. “Cada uma delas lutou por ser mulher. Lutou pelo nosso reconhecimento e pelo nosso próprio bem-estar. ”, comenta.

A ideia de Isis Medeiros foi criar um ambiente em que as pessoas pudessem ver e interagir com as fotografias. Ao lado do texto que apresenta a exposição, existe uma placa com os dizeres: “o que você diria agora para uma mulher? ”. Ele acompanha caneta e papéis para serrem colados em volta do cartaz com a resposta dos visitantes. Medeiros comentou sobre as experiências geradas pela oportunidade de expor todo o material, “O que mais me comoveu foi a questão da mulher negra. Ela é a que menos aparece. Me comove ver as mulheres negras se empoderando e se organizando. Elas sentem um reconhecimento quando se deparam com a exposição e isso me emociona”, afirma .

Certa vez, Medeiros estava na Praça da Liberdade e observando os visitantes através do corredor de vidro em que as fotografias estão expostas, no interior do anexo da biblioteca, se atentou para um grupo de meninas que estavam chorando ao verem as fotos. “Naquele momento percebi que alcancei o objetivo que é de sensibilizar as mulheres para lutarem por aquilo que acreditam, por serem aquilo que desejam ser. A vida inteira lutamos por reconhecimento e para estarmos vivas. ”, finaliza.

Fotografias e Reportagem: Lucas D’Ambrosio

Homem caminha pela Praça da Liberdade e observa a montagem de "Triângulos", do artista Victor Monteiro.

No fluxo diário de Belo Horizonte, pouco se nota dos seus detalhes e dos locais pertencentes a ela. Através de um meio inusitado, o artista plástico Victor Monteiro, 31, é um dos representantes de movimentos da arte que visam a releitura dos espaços urbanos que são utilizados pela população, normalmente, de forma imperceptível. Ele criou um meio para desconstruir essa “utilização automática” dos espaços, por meio de sua arte. A Praça da Liberdade, normalmente utilizada como um caminho pelos moradores da região Centro-Sul de BH, seja para irem até o local de seus trabalhos ou para suas casas, outrora, como um espaço de lazer, se tornou a nova galeria aberta de Monteiro.

Com a utilização de filme plástico e fita tipo durex o artista, que é do Espírito Santo, está criando esculturas interativas entre as palmeiras imperiais que cercam o corredor central da Praça da Liberdade. Ao lado de amigos que o auxiliam na montagem, ele utiliza andaimes de aço para elevar a montagem de três triângulos, representando a bandeira do estado de Minas Gerais. A iniciativa é vinculada ao seminário Patrimônio e Arte Contemporânea, do IEPHA e do Inhotim, e tem por objetivo a preservação do patrimônio e noções contemporâneas de urbanismo, arte e ocupação.

Convidado para realizar uma ação na praça, Victor Monteiro explica sobre o Prolongamentos, nome dado à sua intervenção. “Normalmente realizo ele em construções arquitetônicas e tento fazer extensões de paredes, colunas e elementos da construção arquitetônica. É uma proposta que executo desde 2007. Agora, tentei trazer a proposta para o ambiente natural aqui da praça, utilizando as palmeiras como colunas de sustentação. Fiz uma proposta que chamei de Triângulos, trazendo uma relação formal com a bandeira de Minas”., comenta. Para ele, seu objetivo com esse tipo de intervenção e ocupação é fazer com que as pessoas possam interagir no espaço público por meio de uma maneira distinta daquele trivial. “As montagens das estruturas serão realizadas até o dia 18 e a desmontagem será na sexta feira, 19. Utilizamos o filme de plástico para cobrir e proteger as palmeiras e o durex colamos sobre o filme”.

Monteiro relata que algumas pessoas ainda estranham o trabalho que está sendo realizado, principalmente, pessoas mais velhas. Na tentativa de conversar com o público que frequenta a praça, dois jovens falaram sobre suas impressões da arte de Monteiro. João Victor Duarte e Isabel Lima Pontes, estudantes, acreditam que este tipo de projeto é importante para a cidade. “Sinceramente, não entendi inicialmente a proposta. Depois de chegar mais próximo percebi que é uma arte que pode fazer com que as pessoas percebam ainda mais a praça que está à volta delas.”, opina João Victor. Comentando sobre as dimensões do trabalho, Isabel Pontes comenta, “o mais interessante é que força a pessoa a desviar do seu caminho cotidiano. Não tem jeito da pessoa não ver essa estrutura”, finaliza. Triângulos, o trabalho de Victor Monteiro ficará exposto de hoje, 17 até sexta feira, 19, no canteiro central da Praça.  

Reportagem e fotografia: Lucas D’Ambrosio

Foto Comunidade LGBT

Levantando a bandeira que seguia com o tema “Democracia é respeitar a identidade de gênero: não nos apague com politica”, ontem 17, Belo Horizonte reuniu cerca de 40 mil pessoas na Praça da Estação na 19ª edição da Parada do Orgulho LGBT. A edição 2016, que teve como foco a discussão a respeito da identidade de gênero foi organizada pelo Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais – Cellos- MG- em parceria com o Conselho Regional de Psicologia.

O palco na Praça da Estação recebeu diversas apresentações artísticas, entre elas drag queens, teatro manifesto e grupos de dança. Para Leandro Augusto, estudante de Cinema, foi uma preparação espiritual: “Todos os dias eu vejo pessoas que precisam de espaço para se expressar. A liberdade nesse dia é maior. Foi um dia maravilhoso. Quando cheguei à concentração a energia foi maravilhosa, fantástica.”. Os trios elétricos tomaram conta da festa por volta das 17h horas e com um novo trajeto, menor esse ano, eles passaram pelas ruas Guaicurus e Tupis tendo seu encerramento na Avenida Olegário Maciel.

Indo além das festividades, a parada mais uma vez trouxe à tona a busca e luta pelos direitos iguais entre todos indiferente de orientação sexual, como conta Marcelo Henrique Santos, que foi voluntário e fez parte da organização: “Foi ótimo. Pude ver os bastidores de todo mês da jornada pela cidadania LGBT, além de ajudar a construir a parada LGBT de Belo Horizonte, o trabalho que da pra fazer o manifesto acontecer, ver acontecer nas ruas todas as pautas que reivindicamos. É lindo poder participar e ter um posicionamento mais ativo na luta pelos direitos LGBT.”.

No momento das discussões politicas, o manifesto contou com a presença da deputada federal Jô Moraes (PC do B) e o secretário de direitos humanos do governo estadual de Minas Gerais Nilmário Miranda (PT). “Espero que as próximas paradas continuem com a mesma pegada dessa, que teve tanta gente bacana lutando pela democracia e pelo respeito a identidade de gênero.”, deseja Santos.

Segundo relato de Jacson Dias, estudante de cinema, militante e produtor da cobertura do evento, é essencial participar para a quebra de paradigmas e preconceitos que giram em torno do universo LGBT: “Cada ano para mim tem sido uma experiência melhor falo tanto politicamente, como pessoa física, porque eu vou aprendendo, diminuindo preconceitos e adquirindo conhecimentos, tanto no âmbito pessoal como profissional. No meu trabalho a mudança é nítida.”.

Para alguns ir as ruas é um momento de descoberta e aceitação como relata Santos quando questionado sobre o que mudou para ele ao participar: “Pra mim o que mudou foi à aceitação de mim mesmo e as pessoas que me rodeiam e o orgulho de poder ser quem eu sou.”. Para Augusto foi um “protesto na base da alegria, celebração de tudo que conseguimos. Às vezes é um pouco menos, às vezes um pouco mais. Mas, tem que ser celebrado tudo aquilo que conseguimos.”, finaliza.

Reportagem Ana Paula Tinoco

Fotos Pablo Abranches

Reunindo profissionais da saúde, pacientes e familiares, o Movimento da Luta Antimanicomial traz para as ruas a alegria e diversão na letra do samba enredo: “Eles passarão, nós passarinho”, o protesto contra o retrocesso que nos encara e diminui de forma eminente a conquista dos direitos de todos os cidadãos com sofrimento mental ou não.

“É a questão de olhar o outro e enxerga-lo assim como você gostaria de ser enxergado. Enxergar a diferença como todas as outras.”, nos conta João Vitor de Campos, estudante de jornalismo.

A data, que ainda não foi instituída formalmente como pessoa jurídica, conquistou seu espaço e possui forte representatividade e legitimidade na área da saúde e entre seus profissionais. O movimento, hoje, possui três cadeiras na Comissão Intersetorial de Saúde Mental do Conselho Nacional de Saúde. E traz como bagagem um ponto importante na área da saúde mental: a Reforma Psiquiátrica.

“É um trabalho que a gente vem executando. É contra os serviços prestados nos manicômios. Para atender essas pessoas nós temos a Central de Convivência, Cersam, Conversa de Rua, entre outros, que estão sempre de portas abertas. A proposta é dar atendimento onde a pessoa estiver. E é por isso estamos na luta por 25 anos.”, esclarece a psicóloga Carla Paulino.

 A luta que teve seu início em 1987 tem como objetivo a extinção dos manicômios, por meio de uma intervenção social, assim como a melhoria do tratamento de pessoas com sofrimento mental, já que naquele ano tornou-se público os absurdos que aconteciam nas instituições e o reconhecimento de seus direitos como cidadãos. Tudo isso embalado ao lema: “Por uma sociedade sem manicômios”.

“Eu acho importante o diálogo desse movimento, a luta antimanicomial, devido a triste historia que as pessoas com distúrbios mentais passam. Mas, movimentos como esse do dia 18 de maio são importantes para acabar com o preconceito.”, Opina Campos, Estudante de Jornalismo.

Texto: Ana Paula Tinoco/ Fotos: Yuran Khan