Moda

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Do sexy ao conceituado, os visuais evidenciaram o poder e a ousadia das artistas ao longo dos nove dias da semana de moda parisiense 

Por Keven Souza

Nesta última terça-feira (dia 8) chegou ao fim um dos acontecimentos mais aguardados no mundo da moda, a Paris Fashion Week. A famosa semana fashionista teve início no dia 28 de fevereiro e abordou as possíveis tendências na temporada outono-inverno de 2022/2023. Com uma programação para lá de exclusiva e recheada de glamour, contou com a presença seleta de Miu Miu, Botter, Dior, Valentino, Off-White, entre outras marcas de luxo, que se reuniram para apresentar suas mais recentes coleções e apostas. 

A PFW, sendo um feito realizado semestralmente, é um dos melhores momentos para descobrir as tendências que vão fazer sucesso nas próximas temporadas, tanto dentro como fora das passarelas. Um evento que expõe coleções das estações do ano desde sua estreia em 1973 e que está, hoje, entre as principais semanas de moda mais importantes e influentes da cena internacional, ao lado da Londres Fashion Week, Milão Fashion Week e New York Fashion Week, sendo a última a ser realizada dentre elas. 

O que muitos não sabem é que além do tradicional runway, a semana reserva um desfile fora das passarelas. Nessa proposta, grandes personalidades da mídia são convidadas para participar e prestigiar as grifes com looks que refletem o que devem bombar, nesta edição, além das peças deslumbrantes, o que chamou atenção foi a participação das brasileiras no cenário fashion mundial.

Se antes havia burburinhos de que o Brasil possuía dificuldades de se juntar ao mercado estrangeiro, seja na indústria musical ou nas relações entre países, atualmente esse impasse tem se tornado cada vez menor na moda. 

Isso porque, a relevância da brasilidade nos calendários internacionais já é uma realidade bem comum no universo fashion. Tanto que, famosas como Anitta, Bruna Marquezine, Marina Ruy Barbosa, Isis Valverde e Giovanna Lancellotti, foram alguns dos nomes nacionais que receberam tratamento VIP com seus looks incríveis, representando o país e mostrando que de bom gosto o Brasil também entende. 

De Honório para o mundo

‘Você vai se apaixonar pela garota do Rio’, canta Anitta em sua música “Girl From Rio”. A começar por ela, a cantora realmente encantou todos em sua passagem pela Paris Fashion Week. Foi destaque na Vogue França, Vogue México, Vogue Itália, além ter sido tietada na imprensa de diversos países. Avisa que é ela Brasil! 

Por mais que seja sua estreia na Semana de Moda de Paris, a aparição de Anitta não teve nada de modéstia, a empresária usou e abusou de peças luxuosas para representar grifes que possuem nome de peso quando o assunto é tendência. E logo no seu primeiro dia, marcou presença no desfile da Balenciaga, onde usou um look todo preto escolhido pela própria marca. 

Anitta no desfile da Balenciaga – Foto: reprodução/Instagram

Em seguida, Anitta esteve pronta para o desfile da Valentino em uma produção totalmente solar e conseguiu sentir a fama ao virar alvo das câmeras de fotógrafos ali presentes. 

Anitta no desfile da Valentino – Foto: reprodução/Instagram

E como ela não para, a semana de moda para a pop star foi cheia de compromissos fashionistas e os últimos looks de Anitta foram um arraso! Veja outras marcas que ela usou para assistir os grandes desfiles: 

Anitta durante a Semana de Moda em Paris – Foto: reprodução/Instagram

É ‘B’ de Brasil e Bruna Marquezine 

Outra figura que foi assunto nos veículos de comunicação foi a super modelo e atriz, Bruna Marquezine. A ex-global iniciou a PFW com um look regado a ousadia e alfaiataria feito por ninguém menos que Saint Laurent, uma blusa com saia longa preta que causou polêmica entre os internautas pela alta transparência. 

Bruna Marquezine no desfile da Saint Laurent – Foto: internet/Instagram

Outra marca que Bruna, de certa forma, roubou a cena foi a Vetements. Da coleção Ready-to-Wear de Outono 22, a modelo apareceu usando um sobretudo altamente confortável que trabalha o aspecto de pelúcia. O azul royal da peça ressalta a sensação de euforia devido à sua alta intensidade da cor, sendo um verdadeiro luxo e remetendo ao conceito da moda dopamina – que é a trend dos looks de cores vibrantes. 

Bruna Marquezine no desfile da Vetements – Foto: internet/Twitter

O fato é que desenvolver um evento com presença de Bruna Marquezine tem tido peso dois no resultado, isso porque, há algum tempo a atriz tem ganhado notoriedade internacional e frequentado locais requisitados. Diferente de Anitta, a brasileira não é nova no mundo fashion, Bruna é influente nesse eixo e já desfilou na New York Fashion Week, Milão Fashion Week e também na versão nacional, São Paulo Fashion Week. 

Marina Ruy Barbosa é o momento 

Se o cabelo ruivo é o mais quente não temos certeza, o que sabemos é que a ruiva mais famosa do Brasil entregou charme e beleza pelas ruas da capital francesa. O look escolhido por Marina na Semana de Moda de Paris é da coleção Rendez-Vous de Valentino. A peça é toda trabalhada no ‘’all black’’ para realçar o que a torna diferente das demais. 

Marina Ruy Barbosa para Valentino – Foto: internet

Nem só de preto você viverá! Foi a partir dessa premissa que a atriz mostrou versatilidade ao usar um top branco de crochê com detalhes dourados para o desfile da grife Giambattista Valli. E não é que de tendência ela entende? 

Marina Ruy Barbosa para o desfile da Giambattista Valli – Foto: internet/revistas

 

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Clichê desde o século passado, modelo volta à cena digital e trazemos detalhes de como ele surgiu 

Por Keven Souza

A pandemia trouxe diversas mudanças na vida de todos. Essa alteração, de fato, não foi diferente na nossa relação com a moda e no modo de enxergar o mundo. Viver o hoje tem sido um grande dilema: aguentar este momento de inquietude e conviver com a nostalgia do que vivemos no passado.  

Essa sensação de êxtase é normal, afinal revisitar o passado faz parte da criação do futuro, pensando isso, há algum tempo, a moda tem ressurgido com algumas velhas tendências, aquelas propostas ditas como novas, mas que são na verdade combinações do que algum dia já foi um sucesso.

Hoje, o que não falta são tendências que voltaram com tudo no durante e pós-pandemia, trazendo o famigerado conceito de “vintage” à tona. E nesse mar de novidades não tão atuais assim, o chapéu de pescador ou bucket hat foi um acessório bastante usado no século passado que reapareceu atualmente ganhando proeminência de ser um legítimo protagonista do Instagram.

Os buckets são perfeitos para quem quer adotar um visual super estiloso e descolado, e apesar de ser queridinho das pessoas, sua criação não parte de uma conotação fashion. Assim como tudo na moda surge envolto de comportamentos ou tendências, sua origem é histórica e vem da necessidade humana. 

Jéssica Góes, estudante – foto: arquivo pessoal

No início do século 20, em meados de 1900, na Irlanda, pescadores e navegantes buscavam proteger suas cabeças e olhos da chuva, naquela época, a aba virada para baixo permitia a água escorrer e não se acumular. Foi a partir dessa usabilidade do item que inúmeros irlandeses começaram a usá-lo, que por consequência chegou a muitos lugares do mundo através da popularidade no país.  

Já nos anos 60, os chapéus retornam enquanto acessório de moda totalmente casual para sair durante o inverno ou verão. Logo na década de 80, a indústria musical tomou conta da peça, estampando-a em capas de álbuns e videoclipes. Mas, foi nos 2000 que o chapéu de pescador explodiu! 

Após quase 25 anos do hit do bucket, hoje o modelo é altamente comercializável, comum e de fácil acesso. A peça saiu do fundo do baú direto para os holofotes das redes sociais, personalidades como Dua Lipa, Justin Bieber, Kendall Jenner, Bella Hadid, entre outros; já fizeram uso do objeto, que é possível encontrar em valores que variam de 6 a 200 reais, disponivel em versões unissex e para todas as idades. 

Além disso, as opções de luxo também não ficam de fora! Marcas como Prada, Versace e Burberry possuem seus modelos de alto padrão e custo. 

Tendência na casa mais vigiada do país 

Se o Big Brother Brasil é um experimento social ou não, não sabemos! A única certeza é que ele é uma vitrine de exposição que fomenta tendências desde suas primeiras edições. Agora com o novo formato de programa: Pipoca (anônimos) X Camarote (famosos), o reality propicia os participantes que já são conhecidos na mídia, influenciarem ainda mais o telespectador, seja na torcida, nos votos ou até mesmo na moda. 

O chapéu de pescador ganhou espaço na cabeça (e no coração) dos jogadores nesta edição do programa. O BBB 22 teve sua estreia recentemente, mas a maioria dos participantes já apostaram no item com o intuito de agregar valor aos looks durante a permanência na casa. 

Linn da Quebrada, Bárbara Heck e Jade Picon são algumas das mulheres que fizeram charme com o modelo. Os meninos, Pedro Scooby e Paulo André, também mostraram que de tendências entendem e se jogaram nos buckets, que é uma verdadeira febre na casa mais vigiada do país. 

Jade Picon, influenciadora digital – foto: TV Globo/BBB
Paulo André, atleta – foto: TV Globo/BBB

Como e onde usar

Nessa volta do chapéu, a proposta é trazer algo urbano e desprendido. Quanto mais diferente o tecido, a cor e a estampa, maior será a possibilidade de arrasar. A peça é ideal para dias e locais ensolarados, como piscinas, sítios, almoços e encontros casuais, por isso, a sugestão é usá-la em ocasiões informais. 

Em relação ao look, o cenário perfeito seria investir em peças monocromáticas para acompanhar o bucket, pois a harmonia de cor dará mais foco ao acessório. Mas não se limite, a moda é transcendental e liberal, usufrua do objeto da forma que mais lhe agrada.

A real é que o modelo tem impactado a nova geração, mas não exclui o sucesso com os velhos amigos, aqueles do século passado. Tudo é uma questão de adaptação e ousadia, então sinta a vontade de usar e abusar do chapéu de pescador sem medo de errar ou até mesmo inovar!

 

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Técnica faz sucesso nas redes sociais e é mais fácil do que você imagina

Por Keven Souza

Quando a moda passou a ser um objeto de estudo, compreende-se que, por meio dela, as pessoas começaram a discernir que para ter estilo não precisa de muito. Atualmente, para se tornar único no meio de tantos, a moda lhe dá o que realmente é preciso para realçar sua personalidade: a liberdade de criar. 

Ser criativo tem muitos benefícios e na maquiagem essa premissa não é diferente. Saber combinar tons, cores e tipos de acabamentos na pele, pode ser a chave para acrescentar – ou descobrir – o seu estilo e apresentar as mil e umas versões de si mesmo. 

O delineado invertido tem sido uma das técnicas mais buscadas na maquiagem com o intuito de inovar, destacar o olhar. Diferente do de ‘gatinho’, essa proposta é mais ousada, muito colorida e altamente moderna. E, hoje, o Contramão traz algumas dicas na hora de fazer o seu delineado invertido, além de inspirações para valorizar o seu visual neste verão.

Aposta que veio para ficar

Uma verdadeira protagonista no desfile outono/inverno 2021 da Dior, o delineado na linha inferior dos olhos tem chegado a muitos lugares por meio de tutoriais no Youtube ou vídeos no TikTok. A trend de maquiagem é fácil de fazer e funciona para todos os tipos de peles, sendo comum entre quem busca fugir da versão clássica e quer ganhar alguns likes a mais nas redes sociais. 

Então se não sabe por onde começar, a primeira dica é simples! Tenha noção de que para fazer uma boa maquiagem não é preciso usar produtos de marcas famosas ou de alto custo. Existem diferentes marcas, como Macrilan, Ruby Rose, Natura, Vult, Avon, entre outras, que oferecem o custo/benefício em seus produtos e que, em suma, se desempenham perfeitamente na pele por terem sido bem executadas. O segredo é saber aplicar a técnica.

Daí em diante, libere a criatividade! Foque nos olhos para obter um melhor resultado. É o que diz o maquiador e designer de sobrancelhas, Rodrigo Chaves Frois. “A minha sugestão seria iniciar nos olhos e após finalizado, dar início na pele”, comenta. 

Para fazer o delineado, seja no modo esfumado ou marcado, é importante ter um lápis – sombra ou delineador gel/líquido – de cor pigmentada, com ponta fina e o mais firme possível. Logo, hidrate e higienize a parte dos olhos. E caso tenha costume, use primer para esta área para potencializar e prolongar o efeito.

A partir disso, faça uma linha rente ao canto do olho, embaixo dos cílios inferiores, e, então, alongue o traço até o externo do olho para formar o gatinho. Se tiver olhos grandes, tenha cuidado com a grossura.

Segunda dica, experimente começar com pouco produto e ir dando o devido acabamento para finalizar. Busque também usar sombra durante o processo para ajudar na fixação e na durabilidade do traço. Esse é o segredo para Rodrigo. “Iniciar e terminar o projeto do delineado invertido com sombra, aplicando com pincel chanfrado é interessante, pois fica mais fácil de consertar caso haja alguma imperfeição”, explica o maquiador e designer de sobrancelhas. 

Feito isso, finalize o look da forma que mais lhe atende e faça do delineado invertido, a peça principal da sua maquiagem.  

Veja algumas inspirações:

  • Versões coloridas 

  • Versões para o dia a dia 

 

  • Versões com glitters

 

  • Versões elegantes e charmosas

 

  • E claro, versões clássicas para homens também

O fato é que em ambos os métodos de fazer a nova tendência, o que não se pode fazer é se limitar. A premissa do delineado diferentão é se arriscar, por isso escolha produtos que combinam com você e se jogue nessa proposta em qualquer estação, época ou data do ano! 

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Do clássico ao funcional, marcas apresentam coleção outono/inverno 2022 na Semana da Moda Masculina de Milão

Por Álvaro Botelho

Enquanto o Brasil espera o carnaval passar para começar o ano, Milão não perde tempo e abre a temporada de inverno masculina. As passarelas italianas são conhecidas pelo requinte, por serem clássicas e valorizarem o trabalho manufaturado. Dessa vez não foi diferente, mas com uma nova roupagem. 

Ficou visível que todo o assunto sobre se reinventar, que tanto foi pautado no começo e auge pandêmico, resultou em uma abordagem para cativar a nova geração e se adaptar para um mundo que pede pelo funcionalismo, mas que carrega muita identidade. 

A Zegna abriu Milão com uma proposta esportiva, minimalista e com ótimas combinações de cores.

Zegna – Inverno 22

 

A Fendi propõe um novo clássico, com cortes mais expressivos e pretende mudar a forma como a juventude vê a alfaiataria, além de não temer em comunicar uma imagem sexy e mais feminina para o homem atual. 

Fendi – Inverno 22

Falando em feminilidade, Prada marca as cinturas e exubera os ombros para nos inserir em uma ficção, onde o futuro e a natureza andam lado a lado com um casting repleto de celebridades experientes e atuais. Os modelos saem de uma ambientação futurista e os looks imponentes fazem todo sentido para um futuro que aprendeu com suas falhas (Destaque para os macacões de nylon prada estampados). 

Prada – Inverno 22
Prada – Inverno 22

Mas nem tudo é minimalista em Milão. O show opulento ficou por parte da dupla mais controversa da moda. Dolce&Gabbana escolheu o casal do momento para ser a grande estrela da noite, estou falando de Megan Fox e Machine Gun Kelly. O rockeiro loiro abre a passarela com um terno coberto em pedraria, deixando claro que o guarda-roupa masculino atual é carregado de muita identidade e personalidade. 

Dolce&Gabbana – Inverno 22

Milão trabalha muita sobreposição, modelagens clássicas, mas com personalidade e acima de tudo funcional. O futuro pode ser simples, amigo da natureza e não exclui o clássico, pelo contrário, celebra todos os antepassados, mas agora construído dentro daquilo que faz sentido em nossa nova realidade.

 

Edição: Keven Souza

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Pautados no movimento slow fashion, em Belo Horizonte, mulheres que não se veem no padrão imposto por lojas de departamentos usam e abusam de brechós e empresas locais inclusivas

Por Ana Clara Souza, Dante Alves, Júlia Thais e Keven Souza 

A moda desempenha papéis importantes na sociedade. As roupas que vestimos são carregadas de significados sociais, econômicos, culturais, e, até mesmo, geográficos. É de longa data a relação das pessoas com a vestimenta, por meio da qual o ser humano se expressa desde as mais remotas civilizações. No Egito Antigo, por exemplo, um dos maiores símbolos daquele povo está, justamente, em sua extravagante forma de o corpo se expressar. 

Mesmo quem diz “não ligar” para as tendências, talvez por não estar antenado quanto ao que “anda na moda”, vê-se inserido em um sistema que funciona como um grande ciclo vicioso, criado em consequência do modelo capitalista. Podemos apostar, por exemplo, que você já ouviu falar de nomes como C&A, Riachuelo, Renner, Marisa… Arriscamos a dizer, ainda, que tenha em seu guarda-roupas algum produto de alguma dessas lojas citadas. 

Pois é! Tais marcas, de onde vêm seus modelitos, configuram um problema contemporâneo, capaz de afetar a economia, o meio ambiente e aumentar a desigualdade social. Tal inimigo responde pelo nome de Fast Fashion. Em outros termos: a moda que não cessa um segundo. Afinal, time is money!

Para contrapor os ideais de tal (frenético) processo industrial, iniciou-se, em 2004, na Inglaterra, um movimento que preza, antes de tudo, pelo meio ambiente e pela inclusão. Além de ser contrário às produções em massa. O nome da iniciativa de resistência, é claro, não poderia ser outro: Slow Fashion. “Conceito novo na moda, foi tirado de uma concepção do fast food, e é uma consciência ambiental que contrapõe o modelo mercadológico do fast fashion“ – Sarah dos Anjos, designer fashion. 

Peça da 3305store que é da designer fashion Sarah dos Anjos

Quando se pensa em moda, é possível imaginar passarelas, vitrines de lojas, manequins, roupas, modelos, e um universo composto por tecidos e padrões. Para muitos, é um estilo de vida, em que, a cada estação, os comportamentos são renovados. O ato de se vestir tornou-se algo que vai além de cobrir a nudez. A roupa também é uma forma de se expressar e mostrar sua personalidade em cada peça. Como diz a costureira Ellen Kássia, dona da loja Camazzo Boutique: “Não se trata somente de me vestir, mas, sim, de transmitir ao mundo quem eu sou e como quero ser vista”.

Ao entrar em uma loja de departamento, como Renner, C&A ou Riachuelo, pessoas com corpos fora do padrão encontram dificuldades ao localizar uma peça, por conta dos tamanhos. Sendo assim, sempre recorrem a costureiras, que confeccionam roupas com as medidas desejadas, mas que não é uma opção tão fácil. Para Kássia, a moda inclusiva é uma pauta atual, que está evoluindo gradativamente, já que existe uma dificuldade das empresas em abrir espaço para todos os tipos de corpos. “Sempre há pessoas que optam pelo serviço sob medida, exatamente por essa falta de opções no mercado. Agora, na Camazzo Boutique, temos algumas peças até o nº 46. Pretendo, no futuro, abranger outros tantos tamanhos. Também faço roupas sob medida!”, completa Ellen Kássia.

Com a falta de representatividade nas vitrines e uma versatilidade de tendências, o slow fashion existe para quebrar barreiras impostas pelo capitalismo e o padrão estético. Ao incluir tamanhos não convencionais, as empresas que usam o método fast fashion começam a ter consciência de que somos diferentes corporalmente. 

Slow fashion é acessível? 

Segundo a designer Sarah dos Anjos, a matéria-prima dos produtos é o maior problema. “Mesmo sendo cultivada ou produzida no Brasil, elas vão para fora e voltam com preços altíssimos. O estreitamento de relações entre fornecedores e empreendedores tem ajudado, pois fazemos a cadeia produtiva local girar”, afirma. Além de ter um modelo de produção distante do Fordismo, cada peça é feita de modo a respeitar o tempo que precisa para concluir. Isso faz com que o produto final tenha preço mais alto do que uma peça fast fashion, que te induz a comprar roupas a todo momento, pois não são feitas para durar, além de serem produzidas em curto período de tempo e apresentar caráter duvidoso. Afinal, você sabe de onde vem a roupa que está vestindo agora?

Como o próprio nome diz, a “moda lenta” exige pesquisa detalhada de matérias-primas que não tragam malefícios ao meio ambiente – já que a moda é o ramo que mais polui depois do petróleo, e que tenha durabilidade maior –, como vestimenta para meros mortais como nós, além de um trabalho manual e delicado, que leva muito tempo. 

Ao contrário da famosa frase capitalista “tempo é dinheiro”, aqui, “tempo, pesquisa e valorização de cada detalhe” é expressão capaz de salvar o planeta de forma inclusiva, para todos os tipos de corpos, acessando cada pessoa com uma peça exclusiva e atemporal. Ou seja, você tem peças únicas, duradouras e compreende ainda a não colaborar com trabalhos em condições escravas, além de produzir menos lixo.

Luana Madhavi, dona do brechó Madhalu, e também consumidora, diz que acessou esse universo slow fashion por conta do pai, que é consumidor até hoje e sempre gostou de exclusividade e autenticidade, com preços acessíveis. “Quando conheci os brechós, não pensei em meio ambiente. Meu foco era comprar muito, com a grana que eu tinha, e era pouca. Depois, comecei a pesquisar, vi que a moda polui muito, e, agora, tento comprar tudo que visto com consumidores locais ou empresas que tenham como vertente o slow fashion”, destaca a filha.

Contudo, o slow fashion veio, de certa forma, para mudar o conceito “o que é seguir a moda” nos dias de hoje. Para você, estar dentro do padrão é usar roupas que, em duas semanas, já não serão novas, ou é ter um estilo atemporal? Em grande medida, é ajudar o meio ambiente ou pagar por aquela blusinha, de caráter duvidoso, que outras tantas exibirão na rua? 

Para te dar um rumo, que tal separar um tempo para visualizar seu guarda-roupa e se questionar se realmente precisa de tudo? Por que não fornecer peças, em bom estado de conservação, para algum brechó e, ainda, gerar uma grana extra? Que tal separar roupas que não usa há mais de um ano e customizar, transformando-as em peças exclusivas? Por fim, deixe a moda se adequar em você e não o contrário!

Onde encontrar o slow fashion em BH?

Disponíveis em Belo Horizonte, a maioria dos brechós se encontram no Instagram. Separamos alguns localizados na capital mineira, que utilizam-se da moda sustentável e podem ser achados facilmente.

 

 

 

 

 

 

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Por Luiza Vinte e Matheus Velleda

O High End da moda, mais conhecido como alto luxo e as práticas da  sustentabilidade sempre tiveram conotações contra-intuitivas, já que o luxo por muito tempo refletiu o excesso, hedonismo e ostentação, enquanto a sustentabilidade sempre teve fortes mensagens de reestruturação do consumo desenfreado. Entretanto, a sustentabilidade e o luxo carregam valores parecidos, como respeito pela matéria-prima de qualidade, uma mão de obra qualificada, respeitada, o que nos fazem acreditar que há a possibilidade dessa vertente coexistir dentro do mercado de moda e de luxo.

A indústria do luxo em sua primariedade não foi associada junto às questões ambientais e às mudanças climáticas, porém com todas mudanças sociais obtidas nos últimos anos, o luxo passou a evocar um significado diferente em seu conceito, tais conceitos de qualidade, feitos à mão e atemporalidade são intrinsecamente sustentáveis. Além disso com o crescimento do poder aquisitivo entre a gerações mais novas, que tem pensamentos muito mais sustentáveis e eco-friendly que as gerações anteriores, é preciso que as marcas se adaptem e comuniquem com essa nova demanda que cada vez mais se concretiza, não como tendência mas sim uma forma de garantir um futuro justo para as futuras gerações.

Seguindo a linha do raciocínio do mercado de luxo e o crescimento de tendências sustentáveis, listamos algumas tendências que ganharam ao longo das últimas semanas espaços e interpretações dentro das grandes marcas de moda e luxo.

Patchwork

O patchwork, técnica milenar de juntar retalhos de tecidos já era usado no século 9 a.C no Egito antigo como uma forma de reutilizar sobras de tecido e prolongar a vida útil de uma peça, já na idade média o seu uso foi para criar peças que iam por baixos das armaduras para proteger a pele das armaduras, a técnica se espalhou por toda a Europa.

Mas só foi no fim da década de 1960 que a técnica foi  de fato introduzida à moda, graças à forte influência da cultura hippie e a valorização crescente das habilidades e do trabalho manual, que são necessários para produzir patchwork. Neste período o surgimento do artesanato tradicional  se tornou uma alternativa à moda dominante, e como a técnica do patchwork é barata e fácil de se fazer, era uma ótima maneira de adicionar individualidade a uma roupa.

Nos dias de hoje, com o agravamento da pandemia e as formas de repensar moda e consumo, a tendência nostálgica aos anos 60,  traz consigo a ideia de que nada é jogado fora, mas sim reaproveitado. Desde o inverno de 2020 a tendência do remendos, vem ganhando presença nas passarelas e assumindo muitas interpretações, como a Marni que exibiu  um sneaker feito de aproveitamentos, Alexander Wang apresentou um terno abstrato em patchwork, o crescente pensamento de conscientização e reaproveitamento foi até uma das principais tendências abordadas no desfile primavera/verão de 2021 da Dolce e Gabbana, abordou o maximalismo do patchwork, fazendo referência a ilha de Sicìlia na Itália, onde diferentes culturas se encontraram, como os espanhóis e os árabes.

Dolce e Gabbana desfile primavera/verão 2021
Tênis da Marni

 

Tecnologia

Couro que costuma a ser sinônimo de luxo, passou a ser questionado com a medida que o veganismo se torna cada vez mais popular e debatido em todo o mundo. Por muitos anos alternativas como o “couro ecológico” eram facilmente anunciadas como veganas e sustentáveis, mas na realidade o couro de poliuretano (PU) ou policloreto de vinil (PVC) são tão ruins e maléficos ao planeta, muitas vezes piores que o couro animal. 

Com a evolução da tecnologia e avanço em pesquisas de têxteis, alternativas começam a surgir para o mercado/consumidores empenhados em consumir produtos sustentáveis. Um exemplo de como a tecnologia vem se tornando uma aliada do mercado sustentável, foi apresentado esse ano pela marca francesa Hermès, que em parceria a startup de ciência de materiais, a Mycoworks, um material similar ao couro, porém feito de cogumelos. Até o final deste ano um dos modelos de bolsa mais famosos da marca, o “Victoria”  passará a ser confeccionado com esse material.

Sylvania, nome dado ao material, foi resultado de uma colaboração de três anos entre a MycoWorks e a Hermès. Com esse lançamento Hermès se junta a outras grandes marcas de moda e luxo no percurso para encontrar alternativas viáveis e não plásticas ao couro animal, devido às crescentes preocupações ambientais. 

Ano passado grandes marcas como Stella Mccartney, Kering e Adidas também anunciaram que estavam investindo em outra alternativa à base de micélio (parte vegetativa de um fungo) chamada Mylo. Para uma marca tão tradicional como a Hermès, lançar um produto como esse foi surpreendente, já que a marca é conhecida mundialmente pelas suas bolsas, que são consideradas um dos produtos de luxo mais procurados em todo o mundo.  Se sua influência conseguir tornar o couro de cogumelo algo cobiçado, seria uma grande vitória para o meio ambiente. Iniciativas como essas são exemplos de atitudes que podem gerar bons frutos para um consumo mais sustentável e a esperança é que, se bem sucedida, a ideia inspire o resto da indústria de luxo para alternativas mais ecológicas.

Bolsa da Hermès

 

Upcycling

Em junho do ano passado, quando as fábricas da Chanel reabriram, Virgine Viard, diretora criativa da marca francesa, montou uma coleção de resort usando botões e fios que sobraram da última coleção, o que parece soar algo bobo é na verdade uma inovação dentro da marca. Já a Prada, lançou um ano anterior o Re-Nylon, uma coleção composta inteiramente por um nylon regenerado, criado através de um processo de reciclagem e purificação de plástico coletado dos oceanos, redes de pesca, aterros e resíduos de fibra têxtil em todo o mundo.

A prática nomeada de upcycling se consolidou até na alta costura. Em janeiro deste ano, os designers holandeses Viktor e Rolf lançaram a sua coleção nomeada de “Haute Fantaisie”, que revitalizou vestidos, tecidos e materiais reaproveitados de anos anteriores, a coleção que foi descrita como uma “rave de alta costura”, proteja uma energia positiva, desafia ideias do que alta costura pode ser.

Upcycling, como descrito nos exemplos anteriores, é o processo de criação de novos itens a partir de materiais já existentes, duplicando o ciclo de vida das peças, e de um ponto de vista criativo, cria uma nova perspectiva estética e de informações ao produto, tornando-o único. O objetivo dessa tendência que está se tornando mainstream é fazer com que o consumidor e o mercado percebam as consequência de uma produção irresponsável e sem consciência. Além de tudo ainda é uma ótima iniciativa para momentos de incerteza econômica, já que a sua produção é feita com peças antigas, descartando então a necessidade de compra de mais matéria prima.

Viktor e Rolf – primavera 2021

 

Não é nenhuma novidade que a pandemia, nos obrigou parar e repensarmos toda a nossa realidade. A sociedade se isolou, sem saber ao certo quando tudo ia passar, e se de fato vai passar, diversas empresas, sejam grandes ou pequenas, enfrentaram e ainda enfrentam grandes desafios. A garantia de um futuro se tornou incerto para nós e para o planeta. Com o levantamento de pautas como a ameaça à sobrevivência humana, a constante degradação dos recursos naturais, a exploração de animais, o abuso ambiental e o aquecimento da temperatura devido à emissão de gases poluentes tornaram a questão ambiental um assunto urgente e necessário. Os consumidores, que cada vez mais se demonstram abertos a discutir tais pautas, e se tornam cada dia mais preocupados com os impactos ambientais e sociais da indústria da moda,  por sua vez decidem apoiar marcas que promovam a  transformação do setor em uma indústria ecologicamente e socialmente responsável. 

E com essa crescente preocupação em processos e cadeias produtivas responsáveis, ideias de reaproveitamento, adesão de uma tecnologia limpa e ecologia são bastantes interessantes. A esperança é que essas inovações veganas, lideradas pelas grandes marcas cheguem no mainstream e possam ser cada vez mais debatidos. 

Um ponto que chama atenção, são as contradições entre discurso e prática da cadeia de moda, resta saber se as marcas de fato se preocupam com uma mudança limpa e responsável ou se é apenas uma estratégia  de marketing para se manterem relevantes no mercado. É importante que as marcas e as pessoas entendam que a sustentabilidade vai muito além de um couro produzido de cogumelos ou a utilização eventual de retalhos. Para entender a sustentabilidade na moda é importante que olhemos para todos os bastidores de uma marca, seja a origem, os processos químicos dado ao tecido, processo de produção, quem costura, quem e como se distribui. 

Uma roupa sustentável não pode ser produzida em larga escala, não há como padronizar, por exemplo, uma peça feita de patchwork já que a ideia da técnica é utilização de retalhos, e não um mix de texturas, tecidos e estampas. Roupas sustentáveis tem uma produção individual, dentro do seu tempo, se preocupando com os impactos ambientais e sociais. As marcas de luxo andam por um campo minado, por muitos anos as grandes marcas de luxo foram responsáveis por ditar tendências e comandar o mercado, agora sob uma nova pressão de um consumidor mais rigorosos, e com a estrondosa força das redes sociais, se tornou fácil para que todos os consumidores ao redor do mundo se juntem e possam de fato cobrar atitudes ecológicas, transparentes, honestas e responsáveis das marcas.

 

 

Edição: Keven Souza