Praça Sete

#FDS

SEXTA- FEIRA

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Foto: divulgação

Nos dias 27, 28 e 29 de novembro, o Cine Theatro Brasil recebe o espetáculo “A Tempestade”.

A obra se passa numa ilha remota, onde Próspero, duque de Milão por direito, planeja restaurar sua filha Miranda ao poder, utilizando-se de ilusão e manipulação. Próspero tem a seu serviço Caliban, um escravo em terra, homem adulto e disforme, e Ariel, o espírito servil e assexuado que pode se metamorfosear em ar ou fogo. Os poderes eruditos e mágicos de Próspero e Ariel combinam-se para invocar uma grande tempestade, visando assim atrair seu irmão Antônio, que lhe usurpou a posição de duque, e seu cúmplice, o rei Alonso de Nápoles, para a ilha. Lá, suas maquinações acabam por revelar a natureza vil de Antônio, provocando a redenção do rei, e o casamento de Miranda com o filho de Alonso, Ferdinando.

A Tempestade é uma história de vingança, amor, conspirações oportunistas, e também de reconciliações e perdão. “Temos A Tempestade nas mãos, e isso não é pouco. Trata-se de um dos textos mais importantes de Shakespeare e o que ele tem de mais atual é o fato de tratar do desejo”, comenta Celso Frateschi. “Tenho atração e encantamento por obras que traduzem o universo mítico, onírico e poético, como A Tempestade“, complementa o diretor Gabriel Villela.


Datas:

27/11/2015 – Sex às 21h

28/11/2015 – Sab às 21h

29/11/2015 – Dom às 20h

Local: Cine Theatro Brasil -Rua dos Carijós, 258 – Centro – Telefone:(31) 3201-5211 ou (31) 3243-1964

Valores:

Pateia 1:R$ 60,00 (inteira) | R$ 30,00 (meia)

Plateia 2:R$ 50,00 (inteira) | R$ 25,00 (meia)

Gal Costa

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Foto: divulgação

No dia 27 de novembro o Sesc Palladium recebe a cantora e compositora Gal Costa.

A cantora e compositora reconhecida nacionalmente pela sua voz encantadora apresenta o novo trabalho intitulado “Estratosférica”. Além de canções inéditas o público pode esperar uma retrospectiva dos seus grandes sucessos e releituras.

Show Gal Costa – Estratosférica

Hora: 21h

Local: Sesc Palladium

Ingressos:  Plateia I – R$200 (inteira) e R$100 (meia) / Plateia II – R$160 (inteira) e R$80 (meia) / Plateia III –

R$130(inteira) e R$65 (meia)

Grande Teatro do Sesc Palladium

Classificação: 14 anos

Duração: 90 minutos

  Forfun   

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Foto: divulgação

Belo Horizonte recebe o show de despedida da banda Forfun, dia 27 de novembro no Chevrolet Hall.

Após 14 anos de carreira, o Forfun decidiu encerrar as atividades. pra celebrar essa transição e dar um merecido “até logo” a todo o público, a banda decidiu fazer uma pequena turnê de despedida passando por algumas capitais do Brasil.

 

Local: Chevrolet Hall

Endereço: Av. Nossa Senhora do Carmo, 230 – Savassi

Abertura da casa: 20:30

Horário do show: 22:00

Classificação: 16 anos (14 e 15 anos permitida a entrada acompanhados de pais ou responsável legal)

Valores:

PISTA LOTE 2: R$50

PISTA LOTE 3: R$60

PISTA LOTE 4: R$70

“Zeitgeist: Arte da Nova Berlim”

festa-carlos-capslock-imagem-destaquefoto: divulgação

O CCBB BH será tomado pelo underground techno dos clubes de Berlim na madrugada do dia 27 de novembro, com a festa Carlos Capslock que traz performances e projeções. Neste dia a exposição estará aberta até às 2:00, programe sua visita. Uma verdadeira imersão na cultura dos famosos clubes berlinenses.

A exposição “Zeitgeist: Arte da Nova Berlim”, de curadoria de Alfons Hug, apresenta a festa Carlos Capslock, inédita em Belo Horizonte.

Festa: a partir das 23h00 com capacidade máxima é de 300 pessoas.

Local: Centro Cultural Banco do Brasil

Endereço: Praça da Liberdade, 450 – Funcionários Belo Horizonte/MG

A entrada é por ordem de chegada.

Sujeito à lotação do espaço

Entrada permitida para maiores de 18 anos

SÁBADO

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Foto: divulgação

MARCOS & BELUTTI

No dia 28 de novembro o Chevrolet Hall recebe a dupla sertaneja Marcos e Belluti.

Com fãs espalhados por todo o Brasil, os músicos acumulam sucessos como os hits de sucesso “Será Que Vai Rolar”, “Dupla Solidão” e atualmente a música “Aquele 1%”.

Em show mais intimista, eles cantam sucessos como “Domingo de Manhã”, “Então Foge”, “I Love You” e “Irracional”.

Data: Sábado, dia 28 de novembro de 2015.

Horário: 22h.

Local:Chevrolet Hall – Belo Horizonte (MG)- Av. Nossa Senhora do Carmo, 230 – São Pedro

Ingressos: de R$ 30 a R$ 560.

Classificação etária: 14 e 15 anos: permitida a entrada (acompanhados dos pais ou

responsáveis legais).16 anos em diante: permitida a entrada (desacompanhados).

Abertura da casa: 1h30 antes do espetáculo.

Para mais informações no site Guia BH – https://www.guiabh.com.br/show/marcos-e-bellutti

“Relações Aparentes”

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Foto: divulgação

No dia 28 de novembro, sábado, o Palácio das Artes recebe a comédia “Relações Aparentes”, com Vera Fisher no elenco. A peça, uma das principais comédias de Alan Ayckbourn, marca o retorno de Vera Fisher aos palcos após 9 anos, e conta a história de Greg e Ginny, um casal que vive junto e tem a confiança abalada por uma suspeita de traição.

Uma série de mal-entendidos são usados para ironizar o mundo da alta classe média londrina tratando do rompimento dos cânones familiares com a traição entre casais, jamais se abstém da elegância e da inteligência em seu linguajar literário puro.Com direção de Ary Coslov e Edson Fieschi, o elenco conta ainda com Tato Gabus Mendes, Michel Blois e Anna Sophia Folch. A partir das 21h.

Relações Aparentes

Data: 28/11/2015 – Sáb às 21h

Endereço: Av. Afonso Pena, 1537 – Centro    Telefone: (31) 3236-7400

Ingressos:

Plateia I e II

R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada)

Plateia Superior

R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada)

Classificação etária: menores de 12 anos acompanhados dos pais.

Intervenção de Artes Visuais #sernegroé

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Foto: divulgação

Data: 28/11/2015 de 06h00 às 18h00

A intervenção #sernegroé, do artista plástico Rafael Boneco, propõe a realização de uma instalação interativa na qual um biombo, transformado pelo grafiti, e por tinta de quadro negro, se tornam espaço de escrita para o público negro. Este, provocado pela questão que dá nome à intervenção: ser negro é?, deixa ali seu registro num ato de interação e reflexão sobre uma questão que é tão cara para o orgulho e empoderamento negro.

Local: Parque Municipal – Avenida Afonso Pena, 1377

Espaço de Leitura + Árvore Baobá –  Árvore da Palavra – FANZINHO*

Data: 28/11 de 10h00 às 16h00

Local: Parque Municipal – Avenida Afonso Pena, 1377

Espaço destinado à leitura e interação *voltada para o público infantil.

 

Oficina construção da boneca Abayomi

Data: 28/11 ás 10h

Local: Parque Municipal – Avenida Afonso Pena, 1377

Construção da boneca Abayomi. A palavra abayomi tem origem iorubá, e costuma a ser uma boneca negra, significando aquele que traz, felicidade ou alegria. Bonecas de pano artesanais, muito simples, a partir de sobras de pano reaproveitadas, feitas apenas com nós, sem o uso de cola ou costura e com mínimo uso de ferramentas, de tamanho variando de 2 cm a 1,50 m, sempre negras.

Obs: A oficina não precisa de inscrições prévias.

Projeto: Pauta em Movimento Espetáculo Chica – Cia Étnica

Concepção e direção de Carmen Luz; Cia Étnica de Dança; Teatro Cacilda Becker, RJ; 21 a 31/05/2015

Foto: divulgação

Data: 28/11  as 19h00

Local: SESC – Grande Teatro – Rua Rio de Janeiro, 1046

A Companhia Étnica foi criada na cidade do Rio de Janeiro em 1994 por um desejo de intervenção na cena contemporânea da dança carioca: o de pôr em foco os sujeitos e objetos da diáspora africana. Suas criações traduzem, em forma singular, pesquisas e reflexões sobre a ancestralidade africana no Brasil e o multiculturalismo brasileiro.

A entrada pode ser mediante 1kg de alimento não perecível para o Mesa Brasil Sesc ou R$10. Os trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo têm 15% de desconto no valor da inteira. O espaço está sujeito a lotação.

Bazar do Projeto Aluga-se!

COMPRAS, VENDAS e TROCAS + EXPOSIÇÕES e INSTALAÇÕES

Sábado, 28 de novembro de 2015, das 9h às 18h30 e Domingo, 29 de novembro de 2015, das 10h às 14h.

Rua: Batista Figueiredo, 30 – Vila Paris, BH.

Oficinas:

DATA: 28 e 29/11

– 10:30h: Oficina de Caixinha de presentes – Rosângela Míriam

– 14:30h: Design Sistêmico, Empreend. e Coworking – Rosângela Míriam

– 16:00h: GAMES – Oportunidades e Desafios – Umbu Games

DOMINGO, 29/11

– 10:30h: Hortas Urbanas e Plantas Medicinais – Evandro A. Ferreira

– 12:30h: Oficina de Caixinha de presentes – Rosângela Míriam

INSCREVAM-SE em www.sympla.com.br/sagarana43!
DOMINGO

Encontro de Blocos

Encontro dos Blocos Afoxé Banderê, Bloco baianas Ozadas, Bloco Afro Magia negra, Bloco Afro fala Tambor e as Sambadeiras, Bloco Oficina Tambolê e Bloco Afro llê Aiyê

Local: Praça da estação

Horário: 16h00

Warley Henrique – “Pra quem não me conhece”.

Nesta edição do 8º FAN, você vai conferir Warley Henrique com o show “Pra quem não me conhece”. Ele traz experiências inéditas na música instrumental nos mais diversos gêneros. 29/11, às 18h – Teatro Marília.

Local: Av. Alfredo Balena, 586- Santa Efigênia

 

Por Amanda Aparecida

Foto destaque : Gael Benítez

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Ato contra o aumento de tarifas termina em bombas da PM e manifestantes confinados em hotel 4 estrelas, no centro de BH

Por Bruna Dias

Praça Sete de Setembro, BH, 12 de agosto de 2015, 17h.

Os Movimentos Passe Livre BH (MPL-BH) e Tarifa Zero (TZ-BH) organizaram pelas redes sociais uma manifestação contra o aumento da tarifa das passagens de ônibus, totalizando o segundo reajuste em menos de um ano, a tarifa (de R$ 3,10 para R$ 3,40) acumulou um aumento de 19,3%, acima da inflação de 6,4%.

O protesto começou por volta das 17h30, na Praça Sete, de forma pacífica. Pouco depois do início da passeata, que seguiria até a porta da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para contemplarem o ato simbólico de “pular a catraca”, o grupo de manifestantes, cerca de 5 mil, segundo organizadores e 400 conforme contabilizou a Polícia Militar, encontraram um bloqueio policial  na avenida Afonso Pena, impedindo-os de seguirem até a PBH.

A repórter do Jornal O Tempo, Bárbara Ferreira, participa, desde 2013, de coberturas das manifestações contra as tarifas de ônibus, e alega nunca ter presenciado atos de violência. “Normalmente são protestos pequenos, com pouca gente, onde eles tradicionalmente queimam uma catraca e dispersam”, descreve.

https://www.facebook.com/contramaojornal/videos/vb.209723495797941/608739505896336/?type=2&theater

Por estar habituada, a repórter não esperava confrontos, mas começou a notar que havia uma propensão ao conflito logo no início do ato. Naquele momento, manifestantes e a PMMG negociavam a liberação de uma faixa da Avenida Afonso Pena que corta o centro da capital mineira. “Na primeira negociação, na Afonso Pena, próximo a Igreja São José, lembro de uma das meninas negociando com a polícia, falando com o coronel Gianfranco que eles precisavam de um tempo, porque era muita gente e eles não estavam conseguindo se organizar para liberar parte da via, que era a ordem da Polícia. Já, de cara, eles foram muito duros e estipularam um tempo curto para que a via fosse liberada. Não se via uma predisposição para negociação.”, lembra a repórter.

Rua da Bahia, BH, 12 de agosto de 2015, aproximadamente 18h50

Ao seguir a Afonso Pena, próximo a rua da Bahia, os manifestantes encontraram um cordão policial que os impedia de chegar ao prédio da PBH. A solução, rapidamente, encontrada foi subir a rua da Bahia. De início, não havia nenhum cerco policial. Na altura do quarteirão da rua Goiás, a movimentação militar começou a aparecer e, minutos depois, mais à frente, um grande contingente de policiais tornaram a bloquear a passagem.

A historiadora Joyce Garófalo, seguia para a manifestação quando, no caminho, presenciou a movimentação da Cavalaria e Tropa de Choque da PM se deslocando para a região em que os manifestantes se encontravam. “Neste momento, cheguei a observar se as câmeras da BHTrans estavam ligadas, ao que pude notar, não estavam. A cidade estava mais escura que o normal. Com isto, imaginei que pudesse vir a ter algum problema, mas nunca pensei que poderia ser tão rápido! Assim que encontrei os manifestantes, foi o tempo de avistar meus companheiros e perguntar se estava tudo bem para as bombas já começarem.”

https://www.facebook.com/lucas.morais.5811/videos/875518512537246/

 [Retirado do Facebook de Lucas Morais, postado em 12/08] Em 2:52 começa a investida militar.

A repórter Bárbara Ferreira, neste momento, estava acompanhada do fotógrafo Denilton Dias, próximo ao cordão policial. Ferreira sentindo o clima de tensão se identificou como repórter para os militares, apresentou o crachá e pediu para sair do local. Os policiais negaram a saída. Segundo a repórter, os eventos foram os seguintes: “O tenente-coronel Gianfranco dizia que eles teriam cinco minutos para liberar a via, as lideranças diziam que precisavam de mais tempo, devido à quantidade de pessoas. No calor da negociação, os manifestantes concordaram e se viraram para tentar atender a ordem.”

Próxima ao cordão da PMMG, a repórter pôde acompanhar o desenrolar dos fatos e a investida contra os manifestantes, por volta das 19h. “Nessa hora, eu estava ao lado do cordão da PM, os manifestantes mais abaixo. Escutei o major do choque, major Xavier, dizendo que não haveria acordo, era para liberar a via imediatamente. Fiquei com medo. Vi que eles não iam esperar, me virei para os manifestantes, vi eles começando a se organizar e ouvi a primeira bomba!”. Apesar de estarem distantes dos manifestantes, neste momento, o fotógrafo da equipe de O Tempo foi atingido na perna por uma bala de borracha. “Vi o militar que atirou na gente, ele nos viu e atirou contra nós dois. Meu fotógrafo estava mais perto, foi atingido.”

 [Postado no Youtube na conta do Coletivo Carranca, em 13/08]

2:46 é possível ver o clarão no canto direito do vídeo e segundos depois, o Fotógrafo Denilton Dias, aparece mancando na calçada, ainda no canto direito.

Hotel Sol, rua da Bahia, número 1040, BH, 12 de agosto de 2015, 19h13

A partir deste momento, o cenário mudou. De acordo com os presentes, por cerca de vinte minutos, bombas de gás de pimenta, gás lacrimogêneo e balas de borracha invadiram o asfalto. Encurralados e assustados com a reação dos militares, os manifestantes e os pedestres que passavam pelo local se refugiaram nos prédios próximos à região. Cerca de 60 pessoas se abrigaram no Hotel Sol. A historiadora, Joyce Garófalo, entrou pela porta da frente do hotel. “Lá dentro, não sabíamos para onde ir, a intenção nunca foi invadir um estabelecimento privado e, sim, se proteger. De repente, uma moça, mais tarde descobrimos que era a gerente do hotel, abriu a porta do restaurante e falou para entrarmos. Ela foi falando aos berros, por conta do barulho de bomba, orientando onde ir, onde não ir.”, relata.

O estudante de direito da UFMG, Igor Ferreira, participava do ato desde seu início, e, na hora em que as bombas começaram a estourar, o caminho para se proteger era um só: o saguão do hotel 4 estrelas. “Eu vi várias bombas no ar e saí correndo para o local mais próximo que tinha, no caso, o Hotel Sol. Não cheguei a me machucar porque entrei muito rápido, pela porta da frente. Tentei primeiro ficar no saguão, mas o gás lacrimogêneo estava muito forte, não dava pra respirar!”, relembra.

Neste instante, Igor Ferreira e outros manifestantes refugiados no hotel, alcançam o restaurante para fugir do gás lacrimogêneo. “Chegando lá, alguém, possivelmente alguma liderança da manifestação, falou para não mexermos em nada, não quebrarmos nada. Que aquela era uma situação delicada, não era normal estarmos ali. E, realmente, vimos que ninguém mexeu em nada, ninguém quebrou nada”, garante o estudante.

Garagem do Hotel Sol, BH, 12 de agosto de 2015,19h13

O artista Ed Marte estava se aproximando do cordão policial para tirar uma foto quando ouviu o barulho da primeira bomba. Ed Marte correu para a garagem do hotel. “Entrei junto com muitas outras pessoas na garagem. Quando entramos, achamos que estávamos seguros, porém, lá dentro é grade para a rua, o gás entrou e como é fechado, ficou horrível ficar lá em baixo. Todo mundo ficou desesperado e começamos a subir pela escada de serviço. Chegamos ao saguão do hotel. A rua estava uma barulhada de bombas, tiros. Não era um lugar seguro para ir. Então entramos no restaurante do hotel que, aparentemente, era um lugar seguro.”

https://www.facebook.com/contramaojornal/videos/vb.209723495797941/609032332533720/?type=2&theater

Restaurante do Hotel Sol, BH, 12 de agosto de 2015, 19h19

“De repente, apagou-se as luzes e só pude ver os capacetes da tropa de choque entrando. Eles mandaram ficar com as mãos pro alto. Antes de mandarem, já tinham pessoas com as mãos pro alto, pra mostrar que estávamos pacíficos. Depois, [eles] mandaram deitar no chão, começaram a falar que agora éramos um bando de cordeirinhos, que nossa “macheza” tinha acabado. [A polícia] Começou a xingar mesmo, já entrou dando voz de prisão para todo mundo. Houve tortura psicológica muito pesada.”, denuncia a historiadora Joyce Garófalo.

Outra parte dos policiais buscaram pessoas que se refugiaram em outras dependências do hotel. O estudante de Cinema da UNA, Marlon Santos, entrou pela garagem, e, ao subir as escadas, se abrigou no auditório localizado no terceiro andar. “Todo mundo que estava no terceiro andar foi algemado, éramos umas vinte e poucas pessoas. Eles nos falaram que estávamos presos por desobediência, pois não fomos até eles nos render. Levaram a gente para o restaurante onde nos reunimos com o restante do pessoal.”, relata Santos.

As imagens do circuito interno mostram a tropa de choque dentro do restaurante, com escudos e armas empunhadas. “As armas estavam apontadas para todos nós, apesar de não estarmos armados. Fomos proibidos de ter acesso ao nosso celular, pessoas que gravaram tiveram as mídias apagadas.”, conta a historiadora.

Reunidos todos os manifestantes, o discurso policial continuou, segundo o estudante Igor Ferreira. “Ele insistia muito em dizer que os policiais eram os mocinhos e que nós éramos baderneiros. Ele chegou até a falar da ditadura. Que ele não viveu nesta época, mas que nós éramos a verdadeira ditadura, o que é um absurdo!”, relata o estudante de direito.

Em determinado momento, foi feita uma triagem policial para decidir quem seria liberado e quem continuaria detido. Igor Ferreira narra o acontecido: “Nessa triagem ele perguntou quem dos presentes tinha carteira de trabalho. Quem estava com ela, ele liberava. O restante ele chamou de vagabundo, falou que não produzia nada para o país e a maioria era estudante! Depois ele perguntou quem não estava na manifestação e conseguia provar que não estava. Quem conseguia, ele liberava. Eu e meus amigos estávamos e resolvemos ficar, defender nossos ideais, porque nós estávamos na manifestação e não podíamos, simplesmente, ser presos por isso. Via-se muita arbitrariedade no comportamento da polícia e nenhum respeito pelos manifestantes”.

https://www.facebook.com/laura.amancio.5/videos/901469406593188/

 [ Retirado do Facebook de Laura Amâncio, postado em 13/08]

Para o advogado Pedro Munhoz, que estava presente no Hotel Sol para negociar a soltura dos detidos, a triagem feita pelos militares se configura como abuso de poder. “Abuso  de poder é crime! Primeiro, porque não havia motivo para eles estarem presos. Segundo, que exigência de carteira de trabalho para libertar, não existe no ordenamento jurídico brasileiro. A polícia tem que agir dentro da lei. Isso que foi feito foi arbitrário. Parecia que eles estavam tentando dar uma lição de moral nos manifestantes. Sabendo que nem todo mundo que trabalha tem carteira de trabalho ou anda com ela, essa é uma exigência anacrônica, absurda e ilegal.”, assegura Munhoz.

Portaria do Hotel Sol, BH, 12 de agosto de 2015

Enquanto os manifestantes estavam detidos dentro do restaurante do hotel; do lado de fora, advogados, defensores públicos e a imprensa tiveram acesso negado. O advogado Pedro Munhoz, assim que soube do confinamento dos manifestantes, se dirigiu ao local a fim de negociar a liberdade dos manifestantes. Ao chegar, encontrou vários outros advogados impossibilitados de adentrar o estabelecimento por um cordão do batalhão de choque. “Nossos clientes estavam lá dentro e a PM não quis franquear nosso acesso para o interior do hotel. Cheguei a conversar primeiro com o Major, que me respondeu simplesmente “não”, passando por cima de lei federal.”, frisa.

Após muita insistência por parte dos advogados, segundo Munhoz, o major lhes solicitou a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e disse que iria conversar com o comandante para ver se seria possível liberar a entrada. Sobre esta ação, Munhoz esclarece: “Nada disso é legal. Nós concordamos em entregar nossa carteira da ordem porque ele demonstrou certa boa vontade, mas ele não poderia recolher nossos documentos. Era nosso direito estar lá dentro. É uma prerrogativa do advogado acompanhar a prisão.”.

Cerca de vinte minutos após recolher os documentos, o Major retornou, devolveu as carteiras e informou que a entrada não seria permitida. Os advogados persistiram e os ânimos começaram a se acirrar. Os Militares com escudos e cassetetes à mão começaram a empurrá-los. “A situação ficou muito tensa, levantei minha carteira da ordem e comecei a mostrar, foi a única coisa que consegui pensar em fazer na hora. E eles indo pra cima! De repente, pararam e disseram que podíamos entrar.”, recorda o advogado.

Advogado Pedro Munhoz mostrando a carteira da OAB. Foto: Jornal Hoje em Dia. (13/08)
Advogado Pedro Munhoz mostrando a carteira da OAB. Foto: Jornal Hoje em Dia. (13/08)

Assim que os advogados foram encaminhados para o saguão, novas bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas pela PMMG para dispersar a multidão que estava na porta do hotel. O gás invadiu o rol, dificultando a respiração dos advogados. Munhoz lembra que, naquele instante, era realizada uma nova negociação com os militares para os advogados terem acesso ao restaurante. “Somente dois advogados puderam entrar, com tempo contado para dar um recado. Quando nós teríamos o direito de conversar com os presos, saber como foram tratados até ali. Ficamos no saguão do hotel, respirando gás lacrimogêneo.”, recorda.

A imprensa também não teve acesso aos manifestantes. A repórter Bárbara Ferreira entrou no saguão do hotel e, rapidamente, foi colocada para fora. “Resisti por uns 20 minutos, até que um militar começou a me puxar pela bolsa, e puxar mesmo!”, narra. De acordo com a repórter, no momento em que os manifestantes eram conduzidos para o ônibus da PMMG, uma nova ação truculenta se instaurou. “Os militares já saíram com escudo, empurrando todo mundo. No canto direito do saguão, tinham vários profissionais da imprensa, todos sendo empurrados. Jogaram spray de pimenta em nós!”, relata. “Eu nunca imaginei que com minha idade veria isto. A gente sabe que na época da ditadura e, em outros períodos, a imprensa vivia isto, mas nunca imaginei que nos anos 2000, eu como jornalista seria impedida de estar em algum lugar e poder relatar isto!”, acrescenta a repórter.

Central de Flagrantes da PCMG, bairro Floresta, BH, 12 de agosto de 2015

Cerca de três horas após a entrada da Polícia Militar no hotel, os detidos foram conduzidos para um ônibus da PMMG e encaminhados para a Central de Flagrantes da Polícia Civil (CEFLAN/PCMG), no bairro Floresta. O estudante Igor Ferreira estava dentre os detidos. “Somente nesta hora, tivemos contato com os advogados pela janela do ônibus. Permanecemos assim por mais duas ou três horas, na porta do CEFLAN. Até que apareceu o secretário dos direitos humanos [Nilmário Miranda] e falou que estávamos liberados, mas que, possivelmente, responderíamos criminalmente pelo que aconteceu. Como se manifestar fosse crime!”, desabafa.

O estudante Marlon Santos, e outros dois jovens que estavam feridos, foram encaminhados, primeiramente, à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e, depois, conduzidos até o CEFLAN. Lá, permaneceram algemados junto a outros quatro manifestantes. De acordo com Santos, eles permaneceram assim, sem nenhuma informação, até às 2h, quando foram liberados. Os manifestantes não foram fichados, mas tiveram os dados pessoais colhidos.

Para Munhoz, a soltura já era prevista, uma vez que a delegacia sequer tinha suporte para abrigar tantos presos e a ausência de uma acusação que se sustentasse. “As acusações que a PM fez foram completamente infundadas. Primeiro, eles foram acusados de desobediência porque não desobstruíram a via, quando a PM ordenou. Não houve tempo pra isto, eles [a Polícia] estavam negociando com uma pessoa que estava na ponta, essa pessoa vira para transmitir a ordem, e antes que ela possa fazer algo, começou o ataque. A segunda acusação foi de invasão de propriedade privada, sendo que a gerente os acolheu. A terceira acusação foi dano, mas o dano provocado, ao que parece, foi feito pela própria Polícia Militar que estava fazendo uso de munição não letal em direção aos manifestantes. Ninguém lá tinha alguma espécie de arma branca.” O advogado acrescenta: “ Não se pode prender todo mundo no atacado, sem individuar as culpas, sem saber o que cada um fez de errado”.

Polícia Militar

Em declaração dada ao jornal O Tempo, 14/08, o Comandante do Batalhão de Choque da PMMG, Tenente-coronel Gianfranco Caiafa, explicou que no momento em que os manifestantes desviaram a rota para a Rua da Bahia, uma quarta negociação se iniciou, estipulando cinco minutos para a liberação da via, porém, de acordo com o comandante, segundos após o ultimato ele foi atingido por uma pedra e deu o comando de dispersão.

“A pedra pegou no meu coturno e atingiu minha mão, provocando sangramento. Já fiz o exame. A princípio, eu fui o único militar atingido. Só que é o seguinte: se eu tomo uma pedra, eu não preciso esperar minha tropa levar outra. Essa situação mais do que legitima a ação da polícia. Aliás, eu não precisava nem ser agredido para usar a força, não. Eu dei uma ordem legal. Se não for cumprida, eu tenho o poder constitucional de usar a força proporcional. Eles estavam impedindo a população de ir e vir.”

Mão do comandante Gianfranco Caiafa. Foto: Jornal O Tempo (14/08)
Mão do comandante Gianfranco Caiafa. Foto: Jornal O Tempo (14/08)

A repórter Bárbara Ferreira acompanhou de perto o momento da quarta negociação e contesta. “Posso estar redondamente enganada, mas ao que constou pra mim, não houve nenhum tipo de agressão por parte dos manifestantes. Se alguém tivesse tacado uma pedra ou alguma coisa do tipo, eu teria visto e meu fotografo até teria tirado uma foto.”.

Sobre a conduta nesta e em outras manifestações, o comandante informou em entrevista ao jornal O Tempo, 14/08: “Nós temos um memorando da Polícia Militar orientando como proceder em casos de interdição de via. Após três negociações, se não houver a liberação da via, teremos que usar a força, de forma proporcional para garantir a liberação.Vamos manter nossa forma de agir para garantir a liberação da via.”

O Comandante Geral da PMMG, Marco Antônio Badaró Biachini, em declaração dada ao jornal Hoje em Dia, 10/10, afirmou: “O que temos são determinados grupos que acham que podem impor a sua vontade frente a todos os outros cidadãos. Isso não pode acontecer e não vou permitir. É minha a recomendação para que não se interrompa o fluxo de veículos em vias públicas, e ai do comandante que não cumprir a minha determinação. No local, ele vai negociar. Se não houver negociação ou abertura da via, é para retirar os manifestantes imediatamente, e a ordem tem que ser cumprida. Se preciso, usaremos a força.”

Repercussão

Após tomar conhecimento dos fatos, entidades de classe, como o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, publicaram notas de repúdio à PMMG:

(…) “O Sindicato dos Jornalistas não aceita a violência contra a imprensa livre. O ataque e intimidação a jornalistas é temerário no Estado democrático de direito, tendo em vista a necessidade de preservação da liberdade de expressão e das garantias constitucionais da atividade jornalística. Assim, o Sindicato exige uma resposta do Governo de Minas sobre o atentado contra a imprensa, assim como espera esclarecimentos sobre as demais denúncias de prisões arbitrárias e violações de Direitos Humanos durante a manifestação.”

Em nota oficial, o Governo do Estado determinou a apuração rigorosa dos fatos, destacando que, a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania está acompanhando os desdobramentos do conflito.

“Com relação aos lamentáveis fatos ocorridos na noite de hoje, no conflito com manifestantes contra a Prefeitura de Belo Horizonte pelo aumento das tarifas de ônibus, o Governo do Estado determinou uma apuração rigorosa dos fatos. A Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania está acompanhando os desdobramentos do conflito e participará diretamente da investigação a ser feita pelos órgãos competentes, incluindo a escuta livre de todos os envolvidos e a perícia das imagens obtidas pela imprensa e pelas câmeras de vigilância. O Governo de Minas Gerais reitera também sua posição de garantir o direito democrático de livre manifestação, assim como o de ir e vir de todos cidadãos, e a não tolerância com agressão a agentes públicos no exercício de sua função.”

O governador Fernando Pimentel (PT), declarou: “a PM  agiu dentro do protocolo. O direito a manifestação é democrático, mas se a polícia é agredida, lamento muito, não há outra saída. Precisa reagir”.

“Cenário de guerra”, assim descreveu a assessora do Hotel Sol, Larissa Tonnich sobre o ocorrido. “Policiais descendo e Manifestantes Subindo. Quando começaram as bombas muita gente correu para se proteger. Não tínhamos como controlar a entrada, não era só de manifestantes. Tinham pessoas que não estavam no protesto, mas que entraram para se proteger. Vários andares foram invadidos. Alguns manifestantes chegaram a bater na porta dos hospedes.”, relatou. A gente não solicitou a entrada da PM, eles entraram atrás dos manifestantes, soltaram bombas (tem tudo registrado em vídeo). A ação durou 4 horas e os manifestantes ficaram contidos na área do restaurante”, declarou a assessora. Sobre eventuais prejuízos materiais, a assessora destacou o cancelamento de reservas, hospedes solicitando a troca de hotel, além de um portão e um granito quebrado durante a invasão.

Novembro de 2015

Nos dias que se seguiram, pessoas que foram detidas naquele 12 de agosto, recorreram à Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania para denunciar violações de direito por parte da PMMG, algumas foram encaminhadas para exames no Instituto Médico Legal (IML). As reclamações foram oficializadas e enviadas à promotoria.

A servidora do Ministério Público, Fernanda Monteiro, trabalha no Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos (CAO – DH) , foi uma das responsáveis por colher os relatos dos manifestantes. Ela explica que um número pequeno (sem estimar quanto) de pessoas se apresentou para relatar ocorrido. “Não é muito fácil mover uma ação contra a polícia ou qualquer órgão do governo. As pessoas ficam desacreditadas”, explica. Monteiro lembra, em certo momento, que perguntou para um dos manifestantes se ele queria que a reclamação fosse formalizada, segundo ela a resposta foi: “Claro que não! Eu conheço o sistema, não vai acontecer nada.”.
Outros cidadãos presentes no ato, foram, voluntariamente, ao Ministério Público ajudar os manifestantes atuados naquela noite a conseguir informações para abrir um processo contra o estado em função da atuação da Polícia Militar. Em Setembro, a informação era a de que o processo estava em andamento. Nenhum manifestante detido na madrugada de 12 para 13 de agosto de 2015, foi chamado para depor. Três meses após o ocorrido, nada parece ter acontecido. Até o fechamento da matéria, a promotoria de Direitos Humanos (sobre os processos)  e a PMMG (sobre atuação e as queixas) não responderam os contatos da reportagem.

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Movimentos sociais organizaram pelo Facebook um novo ato nacional contra o presidente da câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB). Com 25 estados confirmados, os protestos se iniciam às 17h desta sexta-feira, 13. Na pauta de reivindicações, destaca-se a PL 5069/2013 que dificulta o aborto após estupro.

Segundo a Integrante do Levante Popular da Juventude – SP, Laryssa Sampaio, o deputado tem, ao longo de seu mandato, conquistado inimigos prioritários, ressaltando a juventude, as mulheres e a comunidade LGBT. Cunha é autor do projeto de lei que criminaliza o preconceito contra heterossexuais e também é de sua autoria o projeto que pede a instituição do “Dia do Orgulho Heterossexual”, no Brasil. Além de se posicionar a favor da redução da maioridade penal, o presidente da câmera autorizou a criação da comissão responsável pelo “Estatuto da Família”, que classifica como família apenas a união entre homem e mulher. Na prática, o estatuto dificulta a adoção de crianças por casais homossexuais.

Para Sampaio, a PL 5069/2013 foi o estopim para a população ir as ruas, “Ele está querendo mexer na autonomia do nosso corpo, que é algo que pra nós mulheres, não pode ser mexido!”, afirma.

Em Belo Horizonte, o ato se iniciará na Praça Sete, e conta com 1,5 mil presenças confirmadas no evento do Facebook. O público confirmado transpassa entre homens e mulheres de diversas idades. Com cartazes em mãos, o grupo já começou a se reunir na praça. Entre as frases, destaca-se “Meu útero não é dinheiro na Suíça para ser da sua conta” fazendo menção à conta no exterior onde o deputado movimentou grande quantia de dinheiro.

Estados que participam do ato hoje, sexta-feira,13.
Estados que participam do ato hoje, sexta-feira,13. (Imagem: Divulgação)

 

Por: Bruna Dias.

Foto: Gabriel Peixoto

Descia a rua Rio de Janeiro, logo cedo, às 06h, quando avistei algumas barracas. De uma delas saía Paulo, pessoa em situação de rua há dez anos. Ele subia em direção à Rua da Bahia quando foi abordado por mim. Sem saber muito o que dizer, perguntei seu nome e o porquê de ele estar morando na barraca azul de que saiu há poucos minutos. Tímido e intimidado, continuou andando sem dar muita atenção, e só respondeu quando lhe ofereci um café da manhã numa lanchonete próxima à rua Espírito Santo.

Após aceitar o convite para um lanche, Paulo falou mais. Contou sobre como é viver na rua e como as pessoas os tratam como invisíveis. Além disso, fez questão de tecer comentários carinhosos sobre os amigos que fez e mantém nos locais próximos de onde posiciona sua casa improvisada. Chegando na lanchonete, Paulo ficou receoso em fazer um pedido. Lhe ofereci bolo e café e ele, sorrindo com o canto da boca, disse que gostava e concordou. Pegou o café da mão da balconista como se estivesse encontrando ouro numa mina em Serra Pelada. O bolo, segurou com firmeza como se ele fosse escapar de seu domínio.

Fomos embora de volta à Rio de Janeiro conversando e observando as barracas vizinhas à azul de Paulo. Perguntei se ele ainda precisava de outra coisa que estivesse a meu alcance ajudá-lo e, após negativa, continuei procurando histórias, até ser abordado por Ismael, também pessoa em situação de rua. Com um jornal impossível de identificar pelas rasuras e amassos, apontava para políticos culpando-os por ele estar na rua. Indagou sobre poder me falar da palavra de Deus e, já andando, indicou o lixo do chão e ordenou que eu pegasse e jogasse em local apropriado. Segundo ele, esse gesto é importante e faz parte de suas tarefas diárias. Entramos em outra lanchonete, dessa vez na Avenida Afonso Pena, onde fomos recebidos com olhares desconfiados. Ismael pegou um vidro de pimenta e experimentou, alegando gostar da especiaria “sem frescuras”. Pediu somente meio copo de café com leite e, ao receber um inteiro, despejou sobre a pia do balcão a outra parte. “Eu pedi só metade, entendeu?”.

Seguimos rumo à rua Curitiba, sem motivo, quando Ismael parou e pegou em meu ombro. “Quer apostar que vou acenar para as pessoas do ônibus e ninguém vai corresponder e, se corresponder vai ser com um sorriso irônico?”, desafiou. Ele foi para a faixa de pedestres e fez o que prometeu. Os passageiros do coletivo, azul como a barraca de Paulo (lá da Rua Rio de Janeiro), reagiram como o esperado: olhavam torto, com sorriso idem. Ismael voltou para a calçada com olhos realçados e disse ser triste “essas humilhações”. “Ser tratado como bicho, sem dignidade, é muito ruim, sabe? Só Deus mesmo, a palavra dele, me salva e pode salvar”, exclamou. Nos abraçamos e partimos para vielas opostas.

Perto da rua Tupis um homem sentado num banco chamou atenção por sua cabeça baixa e papelões velhos sobre os pés, sujos e descalços. Receptivo, porém perceptivelmente triste, se apresentou como Antônio e me ofereceu um canto do banco para sentar. Obedeci seu chamado e, assim como nas situações anteriores, ofereci ajuda e um café. Aceitou logo de cara e eu, apressado, fui procurar estabelecimento para comprar comida. Nenhum dos próximos aceitava cartão e, após cinco tentativas fracassadas, voltei ao banco de Antônio e esperei com ele até o horário de o supermercado do quarteirão abaixo abrisse.

Durante o papo, Antônio enumerou os poucos parentes que tem no Rio de Janeiro e relembrou os tempos em que morava em sua terra natal, Ceará. Afirmou que o forró é seu ritmo musical favorito e que, um dia, pretende reencontrar seus filhos de 23 e 12 anos, no Rio. Reclamou sobre a dificuldade de tomar banho na cidade e a violência. Sua mochila de documentos foi roubada, assim como o cobertor que havia ganhado de uma instituição. Ainda mostrou as feridas de sua perna devido a um “acidente” com um taxista, que, segundo ele, passou por sua perna sem olhar para trás.

O supermercado abriu e a felicidade de Antônio ao ver seu lanche também. Dividiu com seu colega que surgiu no tempo em que fui ao mercado e, os dois, se despediram de mim com um abraço apertado e um agradecimento sincero. Fui embora tentando mensurar a importância do que havia ocorrido e pesando como atitudes como essa ainda são pequenas perante um problema que cresce e ninguém vê. Ou pelo menos finge não ver.

Por Gabriel Peixoto

Protesto reúne 12 mil manifestantes segundo organizadores

Nesta quinta-feira (20), brasileiros de 39 cidades do país foram as ruas para protestarem contra o ajuste fiscal, a atual reforma política e pedir a saída do presidente da câmera dos deputados, Eduardo Cunha.  O protesto na capital mineira teve inicio às 16hrs na Praça Afonso Arinos, seguindo pela Avenida Afonso Pena em direção a Praça Sete, descendo logo depois para a Praça da Estação e se dispersando às 19h30.

A manifestação pró-Dilma, que foi uma resposta ao protesto que aconteceu no último domingo (16), foi organizada por sindicatos como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), além de partidos de esquerda como o PC do B e PT. De acordo com a PM, a manifestação contava com seis mil pessoas, mas para os organizadores da ação, havia o dobro, 12 mil pessoas.

Protesto reúne 12 mil manifestantes segundo organizadores
Protesto reúne 12 mil manifestantes segundo organizadores

Em meio a gritos de “Fora Cunha” e “Fora Levi”, que saiam do som altíssimo dos dois trios elétricos e eram acompanhados pela massa, vários manifestantes carregam cartazes demonstrando sua insatisfação com a atual situação política do país. “É minha primeira manifestação em Belo Horizonte, já que me mudei pra cá há pouco tempo. Acho que é importante ir pra rua e lutar por nossos direitos”, afirma o ator Murilo Galvão.

Corretor imobiliário, Fernando Mauro de Souza segura cartaz contra o juiz Sérgio Moro

Para o corretor de imóveis, Fernando Mauro de Souza, a presidente Dilma Rouseff foi eleita pela maioria e o impeachment ou a renuncia seria a mesma coisa que acabar com a democracia. “Está vendo esse cartaz que estou segurando? O para lá significa Paraná, lugar em que o dinheiro roubado está indo parar e o Judas Iscariotes traiu Jesus, assim como o juiz Sérgio Moro que comanda a Operação Lava Jato traiu a população. Precisamos lutar contra essa corrupção”, desabafa Souza.

No total, a manifestação no Brasil levou 190 mil pessoas as ruas segundo os organizadores e 73 mil segundo a PM.

Por Julia Guimarães

Fotos por Bruna Dias

Ação da PMMG, durante ato contra o aumento da Tarifa, repercute nas redes sociais

A manifestação organizada nas redes sociais pelo Movimento Passe Livre BH (MPL-BH) e Tarifa Zero contra o aumento da tarifa das passagens (R$ 3,10 para R$ 3,40) começou por volta das 17h30 de ontem na Praça Sete, de forma pacífica.  Pouco depois do inicio da passeata, que seguiria da Praça Sete até a porta da Prefeitura de Belo Horizonte, para contemplarem o ato de “pular a catraca”, o grupo de manifestantes, cerca de 5 mil, segundo os organizadores e 400 conforme a Policia Militar, encontraram um bloqueio militar na avenida Afonso Pena, impedindo que os manifestantes seguissem até a PBH.  Desviando a rota, os manifestantes entram pela Rua da Bahia encontrando outro cerco de policiais.

De acordo com relatos postados no Facebook, a confusão deu inicio após a negociação com os policiais – de liberarem uma faixa da via. Policiais dispararam bombas de efeito moral, bala de borracha e gás lacrimogêneo contra os manifestantes, ação que foi registrada e confirmada por diversos vídeos e relatos nas redes sociais.

“Mal eu me virei para ver o que os manifestantes iam decidir, ouço a primeira bomba. Me assustei e imediatamente comecei a procurar o fotógrafo que estava comigo. Meio cega pelo gás de pimenta e tudo o mais que eles jogavam eu o vi. Em sua frente, os militares com armas em punho atirando a esmo. Tentei gritar, dizer que estava trabalhando e que queríamos apenas sair. Pareceram não ouvir. Vejo que o fotógrafo parou de correr e só o ouço dizer: ‘Acho que fui atingido’.”   Bárbara Ferreira, repórter do Jornal O Tempo.

“Alcancei a multidão quando já subiam a Rua da Bahia… o clima estava muito tranquilo, nenhum sinal de baderna ou confronto. Mas havia um cordão de policiais impedindo a passeata de seguir. Alguém passou dizendo que eles deram 3 minutos pra liberar a via. (Oi???). De repente… BOMBA…. várias…!!! Posso dizer com experiência de causa…nunca vi tantas ao mesmo tempo, em tão pouco tempo e em circunstância mais desnecessária!! Corri pro primeiro refúgio que vi junto com um monte de gente…o hotel Sol!! Uma chuva de bombas de gás encurralaram manifestantes e vários funcionários dentro do saguão que ficou tomado pela maldita fumaça.” Teo Nicácio, artista.

Violência Gratuita

Para os participantes do Ato Contra o Aumento, a ação foi considerada “gratuita e violenta”.  Após a investida da PM, houve correria na Rua da Bahia e dezenas de pessoas buscaram refúgio no Hotel Sol.

“Cenário de guerra” assim descreveu a assessoria do Hotel Sol. Segundo a assessora Larissa Tonnich, eles estavam em meio ao confronto: “Policiais descendo e Manifestantes Subindo. Quando começaram as bombas muita gente correu para se proteger. Não tínhamos como controlar a entrada, não era só de manifestantes. Tinham pessoas que não estavam na protesto, mas que entraram para se proteger. Vários andares foram invadidos. Alguns manifestantes chegaram a bater na porta dos hospedes.”, relatou.

“A gente não solicitou a entrada da PM eles entraram atrás dos manifestantes, soltaram bombas (tem tudo registrado em vídeo). A ação durou 4 horas e os manifestantes ficaram contidos na área do restaurante”, declarou Tonnich. Sobre eventuais prejuízos materiais, a assessora destacou o cancelamento de reservas, hospedes solicitando a troca de hotel, além de um portão e um granito quebrado durante a invasão.

Nas redes sociais, manifestantes relataram a tentativa de se refugiar no hotel e como ficaram confinados lá, durante a investida da PMMG.

“Assustador e bizarro: mais de 50 pessoas, inclusive eu, foram mantidas nos fundos de uma hotel pela Polícia Militar. Sem poder sair ou gravar a situação, sem poder telefonar e sem que ninguém de fora pudesse entrar até determinado momento. (…) Havia menores lá dentro, 5 eu contei. Havia aposentados. Havia jovens. Havia adultos. Tudo que a PM queria que houvesse, porém, era terror. Por isso o tenente* discursava eternamente, por isso nos filmaram rosto a rosto e anotaram nossos nomes, por isso ameaçaram, por isso meus amigos continuam lá, presos. Pelo terrorismo que aqui não é crime, mas ordem (e progresso)”. Nina Lavezzo de Carvalho, estudante.

Durante a confusão, 62 pessoas foram detidas, alguns jornalistas foram proibidos de registrarem as ações, várias pessoas ficaram feridas entre elas o repórter o Jornal O Tempo, Denilton Dias, que foi atingido por uma bala de borracha. Ao tomar conhecimento do fato, às 23h37, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, publicou a “Nota de Repúdio à PMMG”.

(…) “O Sindicato dos Jornalistas não aceita a violência contra a imprensa livre. O ataque e intimidação a jornalistas é temerário no Estado democrático de direito, tendo em vista a necessidade de preservação da liberdade de expressão e das garantias constitucionais da atividade jornalística. Assim, o Sindicato exige uma resposta do Governo de Minas sobre o atentado contra a imprensa, assim como espera esclarecimentos sobre as demais denúncias de prisões arbitrárias e violações de Direitos Humanos durante a manifestação.”.

Em nota oficial, o Governo do Estado determinou uma apuração rigorosa dos fatos, destacando que, a Secretária de Direitos Humanos e Cidadania está acompanhando os desdobramentos do conflito.

Com relação aos lamentáveis fatos ocorridos na noite de hoje, no conflito com manifestantes contra a Prefeitura de Belo Horizonte pelo aumento das tarifas de ônibus, o Governo do Estado determinou uma apuração rigorosa dos fatos. A Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania está acompanhando os desdobramentos do conflito e participará diretamente da investigação a ser feita pelos órgãos competentes, incluindo a escuta livre de todos os envolvidos e a perícia das imagens obtidas pela imprensa e pelas câmeras de vigilância. O Governo de Minas Gerais reitera também sua posição de garantir o direito democrático de livre manifestação, assim como o de ir e vir de todos cidadãos, e a não tolerância com agressão a agentes públicos no exercício de sua função.

Novo Ato

Está marcado para ás 17h, desta sexta-feira, o 2º Ato Contra o Aumento da Tarifa. A Defensoria Pública de Minas Gerais protocolou nessa terça-feira (11) uma nova Ação Civil Pública (ACP), com pedido de liminar, suspendendo o aumento das passagens de ônibus em Belo Horizonte. No documento, a defensoria questiona dados que apontam redução no número de passageiros, prejuízo com a não fiscalização do projeto do Move e o elevado custo de manutenção do serviço.

Da Redação
Foto colaborativa: Reginaldo da Silva