TBT

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Por Daniela Reis

O movimento de 11 de novembro, também conhecido como Golpe Preventivo, foi marcado por uma série de acontecimentos que que levaram ao contragolpe político liderado pelo General  Henrique Teixeira Lott, em 1955.

Na madeugada daquele dia, Lott, que era o então ministro da Guerra, reuniu-se em sua residência com trinta generais de guarnições locais do Rio de Janeiro. O objetivo era garantir a posse do presidente eleito, Jucelino Kubitschek. A ação contou com a ocupação de militares e tanques de guerras nas ruas da cidade.

Para entender

Naquela altura, depois de muitas divergências, a ação do ministro visava a legalidade democrática, uma vez que a posse de JK e João Goulart, eleitos para a presidência da República, iria ser impugnada pela oposição, capitaneada pela União Democrática Nacional (UDN) e por Carlos Lacerda – que liderava a fina flor do conservadorismo no país. O golpe de Estado estava em andamento.

Após o suicídio de Getúlio Vargas, o cargo de presidente do Brasil foi ocupado por seu vice, Café Filho. Em teoria, o mandato de Café Filho se estenderia até 31 de janeiro de 1956, quando ocorreria a posse do presidente escolhido em eleição presidencial que ocorreria em outubro de 1955. No entanto, houve, nesse período, uma crise política resultante das movimentações da UDN.

No começo de 1955, muitos membros da UDN – da qual o grande destaque era Carlos Lacerda – passaram a defender a anulação da eleição presidencial de 1955 e a reivindicar a imposição de um governo tampão, nomeado por eles como “governo de emergência”. Esse discurso era, naturalmente, um grave desafio à Constituição de 1946 e à democracia brasileira da Quarta República.

A cidade foi tomada por tanques, carros de assalto e 25 mil soldados que ocuparam pontos estratégicos, como: o Campo de Santana, a Estação de Trem Central do Brasil, e o aeroporto Santos Dumont. O presidente interino, Carlos Luz (que era presidente da Câmara e assumira o cargo após o vice-presidente Café Filho alegar problemas de saúde), escapou do Palácio do Catete pela porta dos fundos. Os líderes golpistas se refugiaram no cais do Ministério da Marinha, no Porto do Rio de Janeiro, e embarcaram no cruzador Tamandaré, que zarpou com destino a Santos. O plano era constituir um governo paralelo com o apoio do governador paulista Jânio Quadros.

Quando o Tamandaré chegou ao canal de entrada da Baia de Guanabara os canhões das duas fortalezas militares – o Forte do Leme e o Forte de Copacabana – começaram a disparar. O cruzador conseguiu varar a barra, mas logo chegou pelo rádio a notícia de que São Paulo se rendera às tropas legalistas. Não tinha saída: o Tamandaré deu meia volta, Carlos Luz renunciou, e os líderes golpistas tiveram de negociar as condições do desembarque.

O contragolpe promovido pelo general Lott foi fulminante. Após a rendição, quando a conjuntura política parecia finalmente entrar nos eixos, Café Filho saiu do hospital e anunciou sua disposição de reassumir a Presidência da República: a UDN voltou a se assanhar e o Exército retornou com os blindados para as ruas do Rio.  Mas o Congresso Nacional votou a interdição de Café Filho e confirmou a posse de JK e Jango para 31 de janeiro de 1956. O general Lott jamais aceitou ter protagonizado um contragolpe – dizia ter liderado um “Movimento de retorno aos quadros constitucionais vigentes”.

 

 

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Por Daniela Reis 

O dia 04 de novembro de 2008 foi um grande marco para a história. Era terça-feira, e o então senador democrata Barack Hussein Obama, de 47 anos, foi eleito o 44º presidente dos Estados Unidos, sendo o primeiro negro assumir a Casa Branca. 

No começo da campanha eleitoral, ainda em 2007, poucos apostavam na candidatura de Barack Hussein Obama, por ser desconhecido e também por ser negro.

Obama tinha a percepção de que os eleitores buscavam uma mudança na administração do país, principal lema de sua campanha, com isso, conquistou a nomeação democrata com o apoio em massa após as últimas primárias democratas.

A questão racial, mesmo que de forma velada, pontuou a campanha do senador. Após a descoberta dos sermões controversos de Jeremiah Wright, seu ex-pastor por 20 anos com quem teve que romper, Obama fez um discurso sobre o tema que ficou marcado como exemplo do poder de sua retórica e acabou atraindo milhares de pessoas aos seus comícios.

“Escolhi disputar a Presidência neste momento histórico porque acredito profundamente que não podemos resolver os desafios de nossa era a não ser que o façamos juntos, a não ser que aperfeiçoemos nossa união ao compreender que, embora nossas histórias pessoais possam diferir, temos esperanças comuns”, disse Obama, na época.

Mesmo sem anunciar constantemente o fato de poder ser o primeiro presidente negro dos EUA, foi entre os eleitores negros que Obama teve os maiores índices de votação.

Em seu discurso ainda sobre o tema, Obama falou que espera transcender as diferenças entre os povos para que juntos possam conquistar um futuro melhor para seus filhos e netos.

“Essa crença deriva de minha fé inabalável na decência e na generosidade do povo dos Estados Unidos. Mas também deriva de minha história pessoal como americano”.

Quase 66% dos 153,1 milhões eleitores registrados para as eleições presidenciais americanas enfrentaram longas filas e problemas nas urnas para votar nas eleições gerais, o que significaria a maior taxa de participação desde 1908.

 

Mandatos

Suas decisões políticas abrangeram a crise financeira global e incluíram mudanças nas políticas de impostos, na legislação para a reforma da Indústria da saúde dos Estados Unidos, iniciativas de política externa e a libertação de forma gradual dos prisioneiros da Prisão de Guantánamo em Cuba. Ele participou do encontro de 2009 do G-20 em Londres, visitando mais tarde as tropas americanas no Iraque. Em viagem por diversos países europeus após o encontro do G-20, anunciou em Praga sua vontade de negociar a redução do arsenal nuclear mundial, levando a sua eventual extinção. Em outubro de 2009 foi agraciado com o Nobel da Paz pelos seus “esforços extraordinários para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos”.

Obama foi eleito para o segundo mandato em 6 de novembro de 2012, derrotando o concorrente republicano Mitt Romney com 65.9 milhões de votos populares e 332 votos eleitorais, citando seus objetivos para o segundo mandato em seu discurso de vitória. Ele ressaltou a necessidade de combater a desigualdade econômica e ao mesmo tempo lidar com a adaptação ao aquecimento global, bem como a reforma do ensino americano para promover a tecnologia e inovação, dizendo: “Acreditamos em uma América generosa”.

 

Curiosidades sobre Obama 

Obama coleciona gibis do Homem Aranha e Conan, o Bárbaro;

Seu apelido na faculdade era “O’Bomber”, pela habilidade no basquete;

Em 2006, ele foi vencedor do Grammy pela narração do livro “Sonhos de Meu Pai”, quando ainda era senador pelo Estado de Illinois;

Obama leu todos os livros da série Harry Potter;

Já trabalhou como balconista de uma sorveteria; 

Durante sua infância, Obama morou quatro anos na Indonésia e teve um macaco de estimação; 

Ele não toma café; 

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Andreas Albert Von Richthofen, com 27 anos

Por Hebert Jonas – especial para o Contramão

Andreas Albert Von Richthofen

Andreas era apenas um adolescente de 15 anos quando tudo aconteceu, logo, imaginamos o quão difícil deve ter sido lidar com o que houve. 

Suzane e Andreas eram muito próximos. Segundo relatos, os dois sempre estiveram unidos. “Um sempre protegeu o outro”, disse uma das amigas de infância de Suzane.

Andreas era conhecido na época por ser um jovem educado, tranquilo e bem reservado, assim como era o pai, Manfred. O jovem estudava dois idiomas e tinha uma rotina pacata.

O garoto sempre aguardava o pai chegar do trabalho para falar sobre seu dia, aos finais de semana eles iam para um sítio que possuía em São Roque para fazerem atividades juntos, como marcenaria e cuidavam do jardim.

O Assassinato

Vamos relembrar um pouco do caso e saber como está atualmente o único herdeiro da família Von Richthofen.

Tudo ocorreu no dia 31 de outubro de 2002, na cidade de São Paulo em uma mansão no bairro nobre Brooklin Velho, um crime com repercussão internacional, orquestrado pela irmã de Andreas, Suzane Von Richthofen,o cunhado Daniel Cravinhos e o irmão de Daniel, o Cristian Cravinhos.

No interesse de conseguirem viver “em paz”, planejaram friamente o assassinato dos pais de Suzanne. O plano era levar o irmão (Andreas), para um playground na região enquanto cometiam o crime e após iriam a um motel para ter como álibi a sua localização no momento do crime.

Assim que levaram Andreas ao playground, o casal se encontrou com o irmão de Daniel e se direcionaram até a casa da família.

Ao chegar na casa seguiram o planejado e assassinaram a sangue frio os Manfred e Marísia com barras de ferro e quando perceberam que não estavam obtendo sucesso com as barras tiveram a ideia cruel de colocar panos úmidos na boca do casal e jogaram água para afogarem.

  •   Suzanne e Daniel Cravinhos foram condenados a 39 anos e 6 meses de prisão.
  •   Cristian Cravinhos foi condenado a 38 anos e 6 meses de prisão.

 

Cristian e Daniel Cravinhos ao lado de Suzane Von Richthofen

Como está Andreas?

Desde 31 de outubro de 2002 Andreas foi afastado da irmã após prestar depoimento sobre o acontecido, e a partir deste dia viveu com seu único tio, Miguel Abdalla.

Andreas reencontrou com sua irmã no dia 13 de novembro daquele ano para a reconstituição da cena do crime, após isto, no dia 14 de novembro, Andreas visitou a irmã na 89° dp, no Morumbi na companhia do advogado de Suzane.

Após essa visita, no dia 14 foi divulgado um bilhete supostamente escrito por Andreas, ele afirmou ser coagido a escrever pelo tal advogado de Suzane.

“Perdoar é abrir o coração. Não só perdoei minha irmã Su, mas continuo a amá-la. Agora, principalmente, é o momento em que ela mais precisa do amor. Apesar da dor, tenho plena certeza de que nossos pais a perdoaram. Ainda ontem ouvi uma frase que muito me marcou: a humanidade deve caminhar unida em busca da civilização do amor” — Polêmico bilhete supostamente escrito por Andreas

Andreas nunca falou nada sobre o caso e desde 2002 não a visita mais, a vida de Andreas não parou naqueles anos, ele focou em estudar e cursou Farmácia e Bioquímica pela universidade de São Paulo entre os anos de  2005 e 2009.

Fez doutorado em 2010 na mesma universidadee recebeu bolsa de estudos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e viveu com o tio e avó até 2006, quando ele se mudou para a Suíça.

Somente em 2017 que se obteve as últimas notícias do paradeiro de Andreas, ele foi localizado quando pulava de muro em muro das casas na zona sul de São Paulo. Após ser abordado na região da cracolândia, no centro da capital paulista e internado no Hospital do Campo Limpo.

Andreas Albert Von Richthofen, com 27 anos

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Por Daniela Reis 

Ayrton Senna foi um dos maiores ídolos brasileiros, piloto de Fórmula 1, fez história nos autódromos do mundo. E nosso TBT de hoje relembra sua trajetória de sucesso! 

Há exatos 30 anos, Senna conquistava o tricampeonato mundial de F1. O feito aconteceu no GP de Suzuka, no Japão. Esse dia ficou marcado na memória dos brasileiros, afinal marcou não só o último título de Senna na F1 como também o último do Brasil na categoria. 

Senna foi o grande responsável pela paixão de milhares de brasileiros pelas corridas aos domingos. Famílias inteiras se reuniam para torcer pelo piloto, numa época quando o Brasil enfrentava grandes problemas com a alta inflação, era ele que trazia alegria para a nação. 

O tricampeonato

Em 20 de outubro de 1991, Ayrton Senna viu o erro de Nigel Mansell no início da etapa de Suzuka para fazer uma prova controlada, terminar em segundo após ceder a vitória ao companheiro de McLaren Gerhard Berger, e conquistar seu tricampeonato.

Com seis vitórias no ano, incluindo uma sequência impressionante de quatro triunfos nas quatro primeiras corridas do campeonato (Phoenix, Interlagos, Ímola e Mônaco), Senna chegava à Suzuka com folga na liderança do Mundial, tendo 85 pontos contra 69 de seu único rival no ano, Nigel Mansell.

Mesmo com o britânico acordando na segunda metade da temporada e emplacando cinco vitórias nas oito corridas que antecederam Suzuka, incluindo na etapa anterior em Barcelona, Senna vinha em boas condições para garantir o título com uma prova de antecedência. Era o início do que viria a ser a Williams ‘de outro mundo’ que o esporte viu em 1992 e 1993, com os títulos do próprio Mansell e o tetracampeonato de Alain Prost.

Na classificação, a McLaren já mostrou sua força, com Berger fazendo a pole, quase dois décimos à frente de Senna, enquanto Mansell saía logo atrás, na terceira posição com a Williams.

Berger seguiu mostrando sua força no domingo. Com uma boa largada, o austríaco rapidamente começou a abrir, deixando Senna para bloquear Mansell. Para manter suas chances de título vivas, o britânico precisava vencer a qualquer custo.

Vendo Berger disparar, Mansell começou a pressionar Senna, contando que o brasileiro cometeria um erro. Mas o que aconteceu foi exatamente o contrário. Foi o “Leão” que acabou rodando no início da décima volta em meio a problemas com seu freio. Sem ter condições de voltar, Senna garantia o tricampeonato, mesmo com muita corrida ainda pela frente.

Para garantir de vez o título, a McLaren adotou as ordens de equipe, pedindo a Berger que deixasse Senna passar com a promessa de que, caso os dois seguissem em primeiro e segundo na volta final, o brasileiro cederia a vitória ao companheiro de equipe.

Senna e Berger fizeram uma prova dominante do início ao fim e, na volta final, o brasileiro cumpriu sua promessa, abrindo caminho para que o austríaco passasse para conquistar sua primeira vitória pela McLaren, terminando apenas 0s3 à frente de Senna.

Apesar da vitória em plena madrugada, a celebração no Brasil foi enorme. Em um momento em que o país sofria de um jejum de mais de duas décadas no futebol, as conquistas de Senna ajudavam ainda a aliviar outros problemas que o país vivia, como a crise econômica.

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Por Bianca Morais 

O TBT de hoje do Jornal Contramão, é um artigo de opinião e mostra não apenas os acontecimentos desastrosos daquele 2 de outubro de 1992, mas uma resolução sobre a atual situação que não é muito diferente da antiga.

A Casa de Detenção de São Paulo, mais conhecida como Carandiru, inaugurada em 1920, foi durante décadas uma prisão segura e bem estruturada. Para se ter ideia, na época foram investidos 14 mil réis em sua construção, enquanto outros presídios custavam por volta de até mil réis. Depois de 20 anos funcionando, em 1940 ele alcançou sua lotação máxima, e em decorrência disto começou a construção dos pavilhões para que pudesse receber mais detentos.

Os pavilhões eram divididos por detentos.

  • No Pavilhão 2 aconteciam as triagens dos presos e onde ficavam os serviços de apoio, como alfaiataria e barbearia.

 

  • No Pavilhão 4 encontravam-se as celas individuais e enfermaria. Importante ressaltar que nesse prédio, no térreo mantinham-se os presidiários doentes, muitos com tuberculose, doença comum na época. No segundo andar os deficientes mentais, errado, uma vez que esse perfil de pessoa não deveria estar em uma cadeia comum.

O terceiro andar era ocupado pelas celas individuais e onde permaneciam estupradores e pedófilos. Por serem jurados de morte, esses bandidos precisavam ficar em celas separadas, e com isso, acabavam sendo beneficiados, afinal, sem convívio com os outros, eles não entravam em brigas, mantinham bom comportamento e conseguiam a liberdade mais cedo.

Não estou aqui para defender bandidos, mas é necessário entender que sim, existe uma diferença gritante entre alguém que rouba um pão para sustentar a família e alguém que estupra crianças. Esse perfil de prisioneiro deveria ser punido com mais rigor, sem a oportunidade de voltar a se reinserir tão cedo.

E isso acontece até hoje, afinal, se alguém condenado por ter estuprado uma criança, pelas “leis da prisão”, é morto logo nos primeiros dias, porque não criar um presídio para eles, onde irão pagar suas penas juntos aos seus iguais.

  • Pavilhão 5 nesse prédio possuía as celas conjuntas. No terceiro andar ficavam os justiceiros, no quarto os travestis, no quinto os “presos do seguro”, jurados de morte, conhecidos como amarelos, o apelido se veio pelo fato de que por não saírem das celas com medo e serem proibidos de tomar sol, eles ficavam amarelos. 

Situações desumanas, mas ainda na lei da prisão, se eles saíssem de lá, seriam mortos, e com certeza, os policiais, encarregados de manter a ordem no presídio, não iriam impedir isto.

  • Pavilhão 6 lá ficavam a cozinha e as solitárias, onde presos que cometiam alguma desordem eram mantidos durante alguns dias isolados.

 

  • Pavilhão 7 era o mais calmo, ocupado por presos de bom comportamento e que trabalhavam.

 

  • Pavilhão 8 presos reincidentes, os chefões, os mais “espertos”, que não procuravam confusão e viviam deles.

 

  • Pavilhão 9 o local do massacre. No pavilhão 9 se encontravam os réus primários.

O Brasil vive uma realidade de presídios superlotados e situações precárias. O Estado é falho, milhares de celas pelo país estão cheias de réus primários, aqueles que ainda estão aguardando julgamento, e não é atoa que foi justamente nesse pavilhão, superlotado, que ocorreu o massacre.

Existem réus primários que não cometem crimes tão graves, e existem aqueles que cometeram violências brutais, e ali, todos se encontravam, pois esperavam, às vezes anos, por julgamento. 

Coloque em uma cela uma pessoa manipulável e outras estressadas. Coloque alguém que acabou de entrar na cadeia e que não tenha onde dormir, porque para dormir nas celas do Carandiru você precisava pagar, sem dinheiro, você fica devendo a um assassino, que ou vai te matar ou irá te cobrar um favor. O que é pior? Era essa a realidade catastrófica do Pavilhão 9. 

A prisão era uma verdadeira bomba relógio, a divisão dos pavilhões e presos sempre causava muitas brigas e discussões, inclusive, diferentes facções eram colocadas juntas de modo preciso para brigarem entre si e, quem sabe, “com sorte” um ou outro acabava morto para esvaziar o Carandiru. Enfim, uma dessas brigas, no entanto, ficaria marcada para sempre na história daquele lugar. Era como se fosse uma tragédia anunciada para extinguir o depósito de prisioneiros.

No dia 2 de outubro de 1992 aconteceu uma partida de futebol entre dois times de presidiários, outros detentos assistiam a partida. Enquanto isso, no pavilhão 9 começou uma briga entre dois presos conhecidos como Barba e Coelho. O que parecia apenas uma discussão comum, iria se tornar o maior massacre dentro de um presídio no Brasil.

Em determinado momento, a briga perdeu o controle e foram entrando mais e mais pessoas. Eram dezenas de presos se atracando e os guardas não conseguiam separar, por isso, foi necessário chamar reforço, eram 300 policiais do lado de fora do Carandiru.

Naquela tarde, o Coronel Ubiratan estava no comando e autorizou todos aqueles policiais a entrar no prédio e controlar a situação. E não apenas ele, mas foram ordens do governador e do secretário de “segurança” pública de que a PM poderia intervir para “restabelecer a ordem”, o que deu início ao banho de sangue. Literalmente falando, pois ao final o sangue dos mortos misturou a água dos canos estourados. 

A partir desse momento várias versões apareceram, e fica a cargo de vocês, leitores, escolherem qual parece mais digestível.

Enquanto a polícia afirmava que 86 policiais invadiram o presídio, a promotoria que investigou afirmou que foram mais de 300, e a maioria sem crachá.

300 policiais, e grande parte deles sem identificação. Eles não estavam entrando ali para controlar uma rebelião, eles estavam entrando ali para matar!

No ano de 1992 o país passava pelo primeiro episódio de impeachment, a transição do governo de Collor para o de Itamar Franco tomava conta de todos os jornais. No dia seguinte ao massacre seriam as eleições em São Paulo, entre as pesquisas o favorito era Paulo Maluf e seu principal adversário era Eduardo Suplicy. Aquele rebelião não poderia durar mais que um dia, ela precisava acabar naquela sexta-feira.

A tal guerra pode ter começado dentro da prisão, mas no final das contas ela se tornou uma batalha de fora para dentro.

Os direitos humanos e presos presentes afirmam que na hora que os policiais estavam entrando, eles já estavam se rendendo e entregando as armas. 

Os policiais alegam que os presos não estavam pacíficos, que ao contrário, atacavam eles e agiam de forma violenta, jogando sacos com urina nos policiais e os atacavam nos corredores com seringas com sangue de portadores de HIV.

Não se rebate sacos de urina com armas de fogo. 

Os detentos e, posteriormente, a perícia afirmaram o seguinte: a hora que os policiais atacaram, eles já haviam se entregado, estavam desarmados dentro das celas, e mesmo assim, os homens entraram para matar.

Ninguém tentou apaziguar nada, a perícia afirmou que apenas 26 detentos de 111 mortos naquele dia, estavam fora da cela, isso significa que 85 sujeitos foram mortos dentro da cela, já rendidos.

A trajetória das balas seguia de fora para dentro, os policiais teriam parado nos cantinhos da cela e atirado. A maioria dos tiros? Na cabeça, tórax. Ninguém atira na cabeça para render presos, atiram nesses locais para exterminá-los. 

Os policiais em contrapartida alegam legítima defesa. Centenas de presos desarmados, se um policial atirasse na perna de um, já calaria milhares, mas não, não era defesa, era ataque. 

Eles são bandidos merecem morrer? Escutamos diariamente isso vindo da boca de representantes do governo, não desde hoje, desde sempre. O banho de sangue do carandiru foi 29 anos atrás, mas com ordens superiores, poderia acontecer hoje ou amanhã.

Até os dias atuais, policiais sobem morro matando bandido e gente inocente que não teve sorte de estar ali no momento. Um preso custa ao governo cerca de 2500 reais, por que o governo não pega os 2500 reais e investe em educação? Em construção de escolas, invés de anexos em presídios?

Uma criança na favela cresce recebendo cesta básica e brinquedos de traficante de droga, enquanto de policial cresce levando tapa na orelha, chamado de vagabundo, e de vez em quando perde um amiguinho de escola de bala perdida.

Você acha que essa criança vai gostar de bandido ou de policial? Quer respeito, respeite.

Na noite daquele 2 de outubro, os policiais obrigaram os presos sobreviventes a carregar os amigos mortos até o 1º andar do presídio, e nisso ainda atirou em alguns deles que saíam da cela. 

Havia tantos mortos, que até quem não tinha morrido e estava agonizando entrava no camburão e morria sufocado.

Se não deviam nada a ninguém, por que atrapalhar uma cena de crime? 

Em uma primeira hora a polícia anunciou o número de mortos: 8 detentos.

Oficialmente 111.

Por que aqueles presidiários morreram? Qual foi o crime cometido por eles? Por que eles estavam ali? Será que o crime cometido por eles é pior que o de desviar verba de construção de escolas e hospitais? Será que o crime deles é pior que corrupção?

Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Discurso do presidente do Brasil. O mesmo que diz que bandido bom é bandido morto. Se cree tanto em Deus não deveria ser ao contrário? Não é Deus o único poderoso o suficiente, que pode condenar alguém no juízo final? Onde se perdeu a tradução da bíblia sagrada? E vale lembrar, que segundo a legislação brasileira, Brasil é um país laico.

E sabe o que aconteceu com todos aqueles responsáveis pela morte de 111 presos? Condenados, claro, mas alguém realmente pagou por isso? Ou para esses a lei divina irá cobrar? Segunda opção.

Dos 300 policiais, 78 foram a júri por participação no massacre, 74 foram condenados por homicídio, porém, com os julgamentos anulados ninguém cumpriu pena.

Na realidade o capitão Ubiratan pagou, em 2001 ele foi condenado por 102 mortes, 632 anos de cadeia, mas em 2006 acabou sendo absolvido. No entanto, antes tivesse sido preso, pois aqui fora não teve tanta sorte, no caso dele não foi a justiça, nem Deus que o julgou, foi a lei da prisão, o “aqui se faz aqui se paga”.

Atualmente o presídio está desativado, os presos foram transferidos, alguns dos prédios demolidos e outros reaproveitados para abrigar instituições educacionais e de cultura, mas a realidade é que nada nunca poderá apagar o que aconteceu naquele dia, todo aquele sangue derramado.

O episódio do Carandiru chamou atenção de todo o mundo, a partir daquela data houve muita cobrança em cima da polícia, a tropa de choque não invadia mais, aquele massacre acabou interferindo na segurança dos presídios, uma vez que eles não poderiam mais interferir e os presos acabaram tendo mais “liberdade” na forma de agir. Os justos acabam pagando pelos pecadores.

O Primeiro Comando da Capital, o PCC, uma das maiores organizações criminosas no Brasil nasceu com a justificativa de “combater a opressão dentro do sistema prisional paulista” e “vingar a morte dos cento e onze presos”, se a justiça não é feita pelos meios convencionais ela acaba sendo feita por outros.

O governo nunca esteve preparado, os anos 90 foram marcados por crises econômicas e desemprego, a criminalidade crescia mais a cada dia, esse episódio não deveria ter acontecido, o certo era se construir mais prisões, se aqueles presos deveriam pagar pelo seus crimes, eles iriam pagar para sempre, mas vivos. 

A rebelião era entre presos, uma hora ou outra eles acabariam resistindo, em situações como essas, corta luz, água, banho de sol, uma hora eles acabariam cedendo, infelizmente essa hora nunca chegou. 

111 mortes não podem ser esquecidas, todos estamos fadados a cometer erros na vida, e não é por isso que precisamos pagar com nossa vida, antes de encher a boca para falar de fulano, olhe para dentro e entenda que você também não é perfeito. Se dentro da sua religião apenas Deus pode julgar, porque você insiste em condenar os outros sem nem ao menos juiz você é?

 

Por Daniela Reis 

No dia 30 de setembro do ano de 1917 nascia Abelardo Barbosa, o famoso Chacrinha. Grande comunicador da TV, ficou famoso pela sua descontração e irreverência. Criador da famosa frase “na televisão, nada se cria, tudo se copia”, o apresentador alcançou popularidade, sobretudo, com os programas de calouros na TV.

Importantes nomes passaram pela buzina do debochado comunicador, como Fagner, Joana, Beth Carvalho, Jorge Ben, Nelson Ned, Wanderléa, Moraes Moreira e Fábio Júnior. E bordões como “Teresinha!”, “Vocês querem bacalhau?” , “Eu vim para confundir, não para explicar!” ocupam até hoje a memória de muitos brasileiros.

Sua história  foi repleta de intensos momentos. Desde sua estreia na TV Tupi, com a Discoteca do Chacrinha, sua passagem pela TV Rio, Rede Globo, retorno à Tupi, passando pela Bandeirantes e, até enfim, voltar à Globo, nas tardes de sábado.

DÉCADA DE OURO

A partir de 1945, trabalhou em várias emissoras de rádio apresentando o programa Cassino do Chacrinha, no qual lançou sucessos como Celly Campello com “Estúpido Cúpido”. Mesmo depois de se tornar sucesso na TV, Chacrinha nunca abandonou o trabalho em rádio.

A estreia na televisão aconteceu em 1956, na TV Tupi, com quatro programas: Festa no ArraialMusical Selo de OuroSucessos Mocambo e Clube da Camaradagem. Em seguida, estreou o infantil Rancho Alegre, paródia aos filmes de faroeste, no qual interpretava o xerife. Também começou a apresentar a Discoteca do Chacrinha, na mesma emissora. No início dos anos 1960, apresentou sua Discoteca na TV Paulista, TV Rio e TV Excelsior, sempre com grande sucesso.

DISCOTECA DO CHACRINHA

Chacrinha foi contratado pela Globo em 1967, para apresentar dois programas: a Discoteca do Chacrinha, às quartas-feiras, e A Hora da Buzina, rebatizado em 1970 como Buzina do Chacrinha, aos domingos.

Apesar da boa repercussão, em dezembro de 1972, voltou para a TV Tupi. Em seguida, foi para a Record e retornou para a TV Tupi. E em 1978, mudou-se para a TV Bandeirantes. Só voltou à Globo em março de 1982, dessa vez para apresentar, nas tardes de sábado, seu maior sucesso, o Cassino do Chacrinha. Mistura de programa de auditório com atrações musicais e show de calouros, o Cassino tinha a direção de José Aurélio “Leleco” Barbosa, filho do apresentador, e de Helmar Sérgio, e permaneceu na grade de programação da Globo até a morte do apresentador, em 1988.

Em seus programas, o “Velho Guerreiro”, exerceu seu talento único para a comunicação através de uma persona extravagante que o tornou um ícone da televisão brasileira. Até o início dos anos 1960, vestia-se de terno e gravata para apresentar os programas. Depois, passou a se apresentar com figurinos excêntricos – o primeiro deles incluía um boné de disc-jóquei e um enorme disco de telefone para pendurar no pescoço – ou fantasiado das maneiras mais espalhafatosas, como baiana estilizada, telefone gigante, noiva ou mulher-maravilha.

 

ALÔ, TEREZINHA!”

Durante o programa, fazia soar a buzina de mão que usava para desclassificar os calouros nos concursos que promovia. Tinha o hábito de apontar para o próprio nariz quando queria enfatizar uma de suas frases, ao mesmo tempo debochadas e insólitas, que se tornavam bordões instantâneos, como: “Alô, Terezinha!”, “Quem não se comunica se trumbica”, “Na TV nada se cria, tudo se copia” e “Eu vim para confundir e não para explicar”. O apresentador também “distribuía” gêneros alimentícios para a plateia, arremessando bacalhaus, farinha, abacaxis, pepinos, etc.

Os programas de Chacrinha contavam ainda com as chacretes – dançarinas que faziam coreografias durante as atrações e tinham nomes exóticos como Rita Cadillac, Fernanda Terremoto e Fátima Boa Viagem – e com o seu corpo de jurados, do qual fizeram parte figuras marcantes como o produtor musical Carlos Imperial, a cantora Aracy de Almeida, a transformista Rogéria e a atriz Elke Maravilha.

Chacrinha e suas Chacretes

CENSURA

Por conta de seu comportamento anárquico, Chacrinha teve problemas com setores mais conservadores da sociedade e com a Censura Federal. Foi importunado pelos censores que não permitiam que as câmeras mostrassem os corpos das chacretes e procuravam inibir suas brincadeiras, especialmente as frases de duplo sentido. Numa ocasião, o apresentador se sentiu desrespeitado na maneira de ser abordado nos bastidores do programa e chegou a escrever à Censura Federal, reclamando formalmente dos maus-tratos recebido pelos censores.

Todos os anos, Chacrinha lançava marchinhas de carnaval que ficaram famosas. Em 1987, foi homenageado pela Escola de Samba carioca Império Serrano, com o enredo “Com a boca no mundo: quem não se comunica se trumbica”. Chacrinha fechou o desfile, no alto de um carro alegórico, cercado de chacretes e acompanhado da jurada Elke Maravilha e do seu assistente de palco, Russo.

ÚLTIMO CASSINO DO CHACRINHA

Em 1988, a saúde de Chacrinha começou a dar sinais de que não ia bem. O humorista João Kléber chegou a apresentar alguns programas em seu lugar. Em junho, o apresentador voltou ao comando do programa, mas, ainda não totalmente restabelecido fisicamente, precisou da ajuda de João Kléber. O último Cassino do Chacrinha foi ao ar no dia 2 de junho de 1988. Chacrinha faleceu naquele ano, em 30 de junho, aos 70 anos, vítima de câncer no pulmão.