#CRÍTICA – 13 Reasons Why

#CRÍTICA – 13 Reasons Why

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NOTA:   ☆ ☆ ☆ 

            A nova série da Netflix, “13 Reasons Why“, criada por Brian Yorkey e estrelada por Katherine Langford e Dylan Minnette, baseada no livro homônimo de Jay Asher está dando o que falar desde a data de seu lançamento mundial (31/03). O programa relata a história de vida da personagem Hannah Baker, mais especificamente, a história de como a vida da mesma acabou. A adolescente era vítima de bullying, de constrangimentos e de violências físicas e morais. A série conta em formato de 07 fitas gravadas em ambos os lados, formando 13 gravações, os 13 motivos, ou melhor, as 13 pessoas que a levaram cometer suicídio. A história se inicia com Clay Jensen, o amigo mais próximo da menina, recebendo uma caixa de sapatos contendo as fitas e entrando em um dilema do motivo de estar nelas. Clay começa também a enfrentar os demais nomes da fita em busca de satisfações.

                A série com 13 episódios de 50 minutos desde seu início se mostrou ser fora do normal, assim como seu livro. Em ambas as obras a adolescência não é tratada com futilidade e dramatização excessiva, como se os jovens fossem pessoas sem problemas, preocupações e transtornos, onde a solução mais viável é sempre a mais previsível, fácil e comum possível. A história abrange nitidamente o crescimento do adolescente, mostrando as dificuldades de se fazer amigos, de ser aceito no meio dos demais e principalmente, a dificuldade de se encontrar no mundo e se descobrir quem realmente é. A série que realiza uma série de flashbacks que são intercalados com o tempo real da narrativa, mostra todas as angústias sem pudor ou pestanejos. Eles realmente estão ali, são graves e merecem serem ouvidos e respeitados.

                A produção, que seguiu fielmente a composição do livro, com mudanças suaves e plenamente necessárias para o novo formato abordado é de se tirar o chapéu principalmente pela bandeira que levantou, fator que jamais havia sido levantada antes. A série, possuindo a Netflix como provedora teve a oportunidade de dar muito mais visão a este problema do que o próprio livro, lançado em 2007, principalmente pois aborda também as pressões e a vulnerabilidade causadas na atualidade, 10 anos após a publicação, uma vez que na série temos a tecnologia como vilã fundamental devido a divulgação de fotos e da imagem da protagonista em redes sociais e em mensagens instantâneas.

                Ainda abordando essas diferenças temos a construção dos personagens. Na obra de Asher, temos um Clay mais tímido que guarda as fitas para si e esporadicamente conversa com seu melhor amigo e guardião de Hannah, Tony e na série o temos mais justiceiro, indo tirar satisfação com cada um dos nomes presentes na gravação. Sem contar que o envolvimento dos demais nomes é bem mais forte na nova versão, onde vemos os personagens nitidamente perturbados e até mesmo revoltosos com a atitude da vítima, alegando que a mesma era mentirosa e só estava querendo chamar atenção mesmo depois de morta, mantendo o desrespeito que antes já continham com a garota. Porém, alguns personagens vão se tornando mais arrependidos, humanizados e até mesmo dispostos a se redimirem consigo mesmos e com a justiça, como forma de respeito e honra à figura da menina. Além deste envolvimento dos 13 motivos de Hannah no enredo, temos também uma forte presença dos pais da menina a procura do motivo que levou a filha a se matar e completamente perdidos dentro da própria vida e da própria casa, sem respostas e esclarecimentos, apenas com a saudade.

O envolvimento dos pais da garota acarreta o envolvimento da própria instituição de ensino, a Liberty High, uma vez que os Baker processam a escola pela morte da filha por especulações a respeito de bullying e opressão. Temos também um envolvimento dos pais de Clay e uma preocupação da escola a respeito do suicídio em si, uma vez que os alunos se encontram nitidamente perturbados e estranhos após a morte de uma das colegas.

Além da narrativa brilhante e de um espetáculo realizado pelos atores, temos a perfeição da técnica, principalmente da direção, direção de fotografia e arte. A série a cada episódio vai se tornando mais fria e sombria, principalmente nas transições entre os flashbacks, onde as cenas de Hannah são quentes, com os tons laranjas e vermelhos bem evidentes e as cenas de Clay azuladas, frias e com cores cinzas e escuras abordadas. A direção também conseguiu realizar bem esse feitio, com movimentos de câmera sutis, mas bem eficazes para realizar essa transição de forma bem suave, sem contar no jogo realizado de câmera objetiva e subjetiva de cenas mais fortes, como a relatada na primeira fita a respeito da tão citada cena da festa da personagem Jéssica Oliver. Já a arte teve um envolvimento fundamental nas vestimentas e na aparência dos personagens, ao implantar um machucado na testa de Clay para identifica-lo e ao representar a forma perdida e inconstante do garoto ao fazê-lo permanecer com a mesma roupa até mesmo em cenas na qual está indo dormir, conseguindo assim mostrar que o personagem havia até mesmo parado de tomar banho e começara a feder.

13 reasons why é o tipo de série que ao mesmo tempo possui sutilezas é totalmente a verdade nua e crua, sem amenizar a imagem da adolescência, do bullying, do assédio, do estupro e do suicídio. A série consegue implementar diversos assuntos polêmicos de forma nítida que consegue abrir os olhos de todos que a assistem. Logo após o lançamento da série diversas campanhas contra a depressão e incentivando a atenção e a conversação com os jovens foram criadas, dentre elas a hashtag “#NãoSejaUmPorque” onde pessoas que se solidarizarão com a personagem Hannah Baker deram depoimentos a respeito da conscientização do bullying e da exposição. Entretanto, o único fator fundamental que ainda não foi visto pela maioria dos espectadores da série foi o ponto na qual se identificar. A maioria, sendo jovem ou não, se identificou com a protagonista, porém, todos sabem que 99% da população é um porquê. Ser um porquê não é somente expor, agredir ou retalhar a imagem de alguém de alguma forma. Ser um porquê é ignorar uma pessoa que nitidamente precisa de você, é ignorar os sinais, é não dizer o que realmente sente, é não estender a mão a quem precisa e não permanecer do lado de quem deve. Essa série deve ser assistida por todas as pessoas e por todos os gêneros e idades, principalmente por abordar a reação mais usual de um adulto ao se deparar com uma situação como essa, mas o que está além de assistir é se conscientizar que você é um porquê e tentar melhorar. #NãoSejaUmPorque.

 

Por: Isadora Morandi

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