Por Eduarda Boaventura

Com os dedos enrolando uma mecha do cabelo vai passando o tempo, roda, roda, roda. A mulher enrola para terminar o trabalho, digita sem pressa, guarda suas coisas como se tivesse todo tempo do mundo. Estava despreocupada, ia chegar em casa, tomar um longo e demorado banho, jantar e se deitar. O relógio dá uma volta completa. Final do expediente, pronta para ir embora, no ponto do ônibus, a mão volta a cachear o cabelo.

A senhora sentada no ponto observa, a mulher com roupas sérias, a mochila no colo, a cara cansada e enrolando uma mecha clara. A senhora não sabia, mas essa mania é de infância, a mulher enrola seus cabelos desde bebé, enquanto mamava no colo da mãe, desde  que entende por gente ela faz isso com o cabelo. Sua mãe achava fofo, pedia para fazer esse cafuné nela, várias vezes a mulher lembra de dormir com as mechas da mãe em seus dedinhos. Era costume, fazia quando ia dormir, com suas bonecas, enquanto estava entediada, nas aulas, quando tinha escola, nos bares bebendo uma cerveja gelada. 

Sentia saudade da infância, era tudo mais tranquilo, sem responsabilidades, desenrolava a vida facilmente, tinha as amiguinhas, tempo para brincar e várias experiências novas a aguardavam. Agora era tudo tédio, monótomo e costumeiro, cada dia igual ao anterior.

O trânsito até em casa estava péssimo como sempre, a mulher encostou a cabeça na janela e levantava o olhar do telefone para as molas que teimam em cair em seus olhos. 

Pediu um sushi, que chegou com ela, agradeceu ao entregador e finalmente sentou no sofá da sala. Depois de um banho quente, um pijama confortável, a mulher deitou na cama, enrolando seus cabelos para mais um dia acordar atrasada.

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