#CRÔNICA: O (ex) entregador de pizza

#CRÔNICA: O (ex) entregador de pizza

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Por Cássio Leonardo

Domingo de noite e nós esperando o entregador de pizza chegar com nosso pedido, até aqui nada fora do comum, imagino que nesse mesmo prédio mais uma dúzia de pessoas faziam o mesmo. Comer pizza nunca era a nossa primeira opção, eu sempre preferi fazer minha comida em casa, mas nesse domingo em especial não havia clima pra isso, o gato récem resgatado que estava a pouco dias morando conosco havia morrido, e gato morto tira a gente dos trilhos.

Foi pela morte dele que decidimos pedir pizza, cozinhar com o corpo morto ainda em casa parecia desrespeitoso, e pra nós era mesmo. Que já pedimos a pizza com qualquer desconfiança porque também nossa fome era ofensiva, mas havia de se comer, não há o que fazer, era necessário alimentar o corpo vivo que temos.

A nossa falta de ação nos constrangia, o que diabos fazer com aquele corpo tão pequeno que deixava um buraco tão grande? Enterrar parecia demais, não enterrar parecia de menos, sem nos falar nos torturavámos com essas questões, cada um em seu canto, eu fingindo ser forte e ela chorando, assim nossas ignorâncias pelos menos não se machucavam.

O entregador chegou, eu fui atender ela me acompanhou, havia qualquer coisa de grave em nós, de porta aberta esperando ele achar a máquina de cartão o choro nos surpreende, chorei tudo que podia na frente daquele estranho quee preocupado perguntou o porque do choro, enigmatico respondi: A morte. Ela explicou , o entregador sensibilizado se ofereceu para levar o bicho morto e dar fim as nossas questões, aceitamos de bom grado, entreguei a caixa de sapato na qual ele estava, ele sem falar nada pegou. O corpo havia ido embora e no apartamento restava a nossa tristeza e a pizza que ninguém comeu.

O entregador jogou a caixa na primeira lixeira que viu, e a vida continou, machucada, mas insistentemente viva, era até grosseria, nos obrigar a viver. O entregador, que não perguntamos o nome, depois de feita nossas entregas, não quis mais passar de casa em casa todas as noites, a morte poderia estar em alguma porta, e isso era demais, a morte é ditadora e ele não entregaria mais pizzas.

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