#CRÔNICA: O pé de manjericão e a vida da gente

#CRÔNICA: O pé de manjericão e a vida da gente

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Different side is desert with a dead tree, Concept of changes.

Por Cássio Leonardo

Nas idas pro interior para visitar os pais voltou com um pé de manjericão, feio que só. A ideia era plantar no apartamento que dividia e ver se dava para colocar em algumas das receitas que tentava fazer, cozinhar era bom.

A muda arrancada pelas mãos experientes da mãe era a mais feia possível, mas aceitou de bom grado, cavalo dado não se olha os dentes, agora tinha era aquele inferno de pegar o ônibus com aquelas folhinhas verdes que cheiravam de longe, que preguiça meu deus.

Preguiça e um certo desconforto, achava horrível incomodar os outros, mas foi assim mesmo, mochila nas costas e o pé de manjericão na mão. As instruções da mãe eram claras: Chegando em casa, já planta, deixa a terra bem fofinha e não desfaz o torrão, se não morre. Em casa fez isso, não desfez o torrão, preparou a terra, plantou, adubou, e regou, deixou lá. O problema era a ansiedade, que angústia senhor, esperar aquilo crescer para poder usar, enquanto olhava a planta pensava que podia ter descido e comprado um maço no sacolão e estaria pronto, mas não, a história era mesmo cuidar.

Mas aí, deu formiga, elas trabalhavam incessantemente com um objetivo claro, devastar aquele manjericão feio, era difícil não descer para comprar, mas resistiu. No telefone com a mãe: Como é que a senhora mata as formigas? Folha de fumo, onde eu vou arrumar isso? tá, mas e aí faz o ‘que? Entendi.

Era simples, mistura na água e rega, as formigas vão embora, funcionou, porém, as folhas ficaram ainda mais feias, e agora estavam começando a empretecer, ia morrer, jeito não tinha mais.

Mas ainda tinha a experiência estética, tomou como objetivo pessoal e intransferível salvar aquela planta, salvar era muita pretensão, só deixar mais bonita estava bom. Pegou a tesoura, não tinha a de poda, eram aquelas que sempre tem em casa, e cortou tudo que estava feio, quase o manjericão todo.  A ‘experienciação’ estética o tinha salvado, a planta ficou boa, bonita até. Depois de um tempo, com regas regulares e sol na medida certa, a planta cresceu, era um pé de manjericão bonito que só, e ele nada de perceber, percebeu mesmo quando num dia de angústia enquanto regava, sentiu o cheiro de vida vindo da terra, eram das folhas verdes. No outro dia raspou a cabeça, enquanto o cabelo caia o sorriso ia ‘enlarguecendo’ e a vida dentro dele ia nascendo.

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