#CRÔNICA: Onze

#CRÔNICA: Onze

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Divulgação Rede Globo

Sentado na mesa fumando um cigarro (algo que prometi que ia parar), me pergunto quantos minutos de vida perco somando aquele a minha mão. É um estranho devaneio pensar na morte em si, quanto mais pensar na própria morte!  Pois aí se torna o dobro de devaneios mais um puta epitáfio.  O decorrer dos pensamentos cresce enquanto no seu auge o cigarro se apaga em minha mão.
A mesa estava lotada e envolta de fumaça dos diversos cigarros das pessoas que ali estavam, mas parece que ninguém notou o barulho que fiz na minha mente. Fui lembrando de coisas decorrentes da minha vida. Algumas boas, outras nem tanto. Tive nostalgia e medo, e com certeza umas boas gargalhadas mentais, me peguei pensando no primeiro beijo e enfim em uma pergunta que me fizeram na última sexta feira.

A verdade que na última sexta, em um encontro de amigos e conversa furada, me pegaram de surpresa com a seguinte questão:

“Como era a Capitu para você? “

Ela, a moça que fez a pergunta, tentou explicar melhor me dizendo até como seriam suas duas versões de Capitu, sim duas! Uma como ela realmente era e outra de como ela seria na visão de Bentinho. A pergunta não parava de me martelar desde então, ia crescendo como o burburinho do barulho da geada que se transforma em tempestade!

 Misturado aos pensamentos que já me assombravam por conta do cigarro assassino, a pergunta sobre minha Capitu me atormentava mais! Como seria ela? Como? Seria ela alguém que me aparece sem eu esperar numa tarde qualquer, e faz todo dia 27 ser diferente, ou o beijo roubado no estacionamento em dia de chuva? Seria então o primeiro beijo do lado da igreja ou o primeiro encontro que se tornou namoro por puro impulso?

Minha Capitu! Quem seria ela? Poderia muito bem transitar entre aquela Capitu que surgiu em uma conversa ou outra nos corredores da escola até me conquistar, em uma grande hipótese ela seria forte o suficiente para me fazer apaixonar mesmo não estando por perto!

Ah, pergunta maldita que não me sai da cabeça!  Se não foi a do primeiro beijo na escada rolante, com certeza será a que me abraçou na festa! Que seja! Que seja a que tiro o boné para ela rir ou a Capitu quieta que com olhar, tanto me questiona na mesa ao lado.

Seria eu, louco de imaginar uma Capitu que nunca aparece e me deixa sempre esperando, aonde eu insisto mesmo sabendo que um dia ela vai me deixar? Quem sabe rebelde o meu coração seja suficiente para dizer que no fim minha Capitu nunca existiu que morra eu sem amor com o cigarro assassino que me acalma e assim me trai!

No fim, em defesa de Capitu, seja ela como e qual for, só penso que ela não traiu Bentinho, ele só era um alienado!

Mas para que você leitor não tenha que ficar se perguntando, são onze minutos, onze minutos de vida é o que perdemos a cada cigarro.

Por Daniel Reis

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