Da coerência de André Novais

Da coerência de André Novais

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Por Davi Fuzari

 

Ao falar do trabalho do cineasta André Novais, raramente não encontramos a palavra simplicidade relacionada ao seu modo de contar histórias. O que acontece em alguns de seus filmes é que André opta por esta falsa simplicidade, potencializando o conteúdo de seus filmes, deixando em segundo plano as complexidades dos dispositivos que ele utiliza e do conjunto de temporalidades dos registros presentes em sua obra.

Uma singularidade de André é o seu conhecimento sobre o cinema nacional.  Ele pesquisou cinema brasileiro na academia, é cinéfilo e mais do que isso, ele se dedica à prática, com ganas de dar continuidade a esta arte que é feita de forma única em nosso país. O cineasta do conteúdo também é o da coerência; com pouco mais de uma década fazendo cinema, podemos perceber a paixão com que ele trabalha e seu caminho evolutivo através de seus curtas até o primeiro longa lançado no ano de 2014, Ela volta na quinta. André se mantém coerente consigo mesmo na busca pelo fazer CINEMA, paixão esta que nos é tão cara e que nos revelou muitos diretores geniais no Brasil.

Em seu primeiro curta, Uma homenagem a Aluízio Netto, de 2004, André tem a oportunidade de trabalhar ainda em película (super 8), fazendo uma homenagem a cineastas de outros tempos, como Mário Peixoto e Humberto Mauro. O curta faz referência a uma quadrilha do partido comunista dos anos 20, que trocava as cartelas dos filmes por outras, com conteúdo de cunho marxista. O filme passa duas vezes, sendo que na primeira vez estamos diante de uma história de romance clássica. Na segunda, o teor do filme muda inteiramente apenas com a troca dos conteúdos das cartelas, revelando um casal militante com ideias comunistas.

A famosa gag nos roteiros de cinema revelavam André,  ainda ali no começo de sua carreira, um caminho de escrita, mas também um caminho pelo labutar no exercício de filmar ideias. A partir daí foram vários os exercícios fílmicos materializados nos curtas que André viria a realizar. Sua coerência vem do cinema brasileiro e das referências de seus próprios filmes, como em Pouco mais de um mês de 2013 – na sequência em que o casal conversa sobre a câmera escura, efeito físico criado no quarto onde o diálogo acontece; o espectador contempla a imagem refletida enquanto a narrativa se desenrola no extra-campo, assim como acontece no curta Fantasmas, de 2010.

Além do trabalho de extra-campo, o preparo e a direção de não atores tem sido um método muito assertivo em seus filmes. O fato de não serem atores profissionais mas de serem conhecidos intimamente pelo diretor (a família atua em seus filmes) revelam resultados surpreendentes. Exemplo disso foram os dois prêmios de “ator/atriz coadjuvante” alcançados no 46º Festival de Cinema de Brasília com o trabalho de atuação de seu irmão (Renato Novais) e sua namorada (Élida Silpe) com o longa Ela volta na quinta. A segurança que ele tem em relação às interpretações traz um certo oxigênio para o diretor lapidar os conteúdos em seus filmes. Os diálogos muitas vezes são improvisados, tendo o roteiro como guia com pontos importantes e imprescindíveis, mas é o improviso e a naturalidade impressos na tela que fazem com que o trabalho de André seja tão singular. Único em sua simplicidade numa tarefa tão complexa que é o fazer cinema, contar histórias que de certa forma são histórias universais, pois sempre tratam do humano e suas relações.

O que seriam das histórias sem alguém que saiba contá-las? O que seriam das ideias de boteco que poderiam virar filmes curtos, sem a perspicácia presente no genial André Novais? Vida longa!

 

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