O preço ambiental das etapas de produção da chamada “moda rápida”

Lolly Counny

O mundo da moda é fascinante e atraente, mas, muitas vezes, ignoramos os impactos negativos do setor sobre o meio ambiente. O fenômeno do fast fashion, que, semanalmente, leva roupas baratas e acessíveis às prateleiras das lojas, está entre as principais causas do problema.

As tendências mudam com frequência, e as vestimentas tornam-se acessíveis a público cada vez mais amplos. Neste cenário, marcas de fast fashion, como Shein, Zara, H&M e Forever 21, estão sempre produzindo novas coleções a preços baixos. Tal indústria crescente, porém, apresenta um lado sombrio, com consequências devastadoras ao ecossistema.

A produção em massa é a principal característica da moda rápida. O segmento tem sido associado a um dos mais altos índices de poluição em todo o mundo,  sendo considerada a segunda indústria mais poluente do planeta. De acordo com a ONU Meio Ambiente, a indústria têxtil é responsável por cerca de 10% das emissões globais de CO2 e 20% da poluição da água do mundo. Além disso,  a produção de tecidos como o poliéster, frequentemente usado no segmento, consome quantidades significativas de energia e emite gases de efeito estufa.

Contudo, não são apenas tais emissões que preocupam. A produção de roupas baratas e descartáveis resulta em quantidades enormes de resíduos têxteis.  Estima-se que aproximadamente 92 milhões de toneladas de restos sejam gerados a cada ano, e, na sequência, acabam queimados ou descartados em  aterros sanitários, o que pode causar poluição do ar e contaminação do solo.

Além disso, a produção de algodão, matéria-prima mais usada na indústria da moda, tem grande impacto ambiental. Tal produção requer grandes quantidades de água e pesticidas, o que leva à degradação do solo e à contaminação dos recursos hídricos de muitos países em desenvolvimento.

O modelo de negócios fast fashion também incentiva o consumo excessivo e o  rápido descarte de roupas, o que acelera ainda mais a degradação ambiental. As  vestimentas são compradas, frequentemente, por impulso, e usadas apenas  algumas vezes antes de serem descartadas. Esse ciclo contínuo tem amplo impacto significativo sobre o meio ambiente. 

Trabalho escravo

O ritmo acelerado da indústria da moda, conhecida pelas coleções que mudam constantemente e pelos preços baixos, esconde uma realidade sombria: as condições precárias de trabalho para produção das roupas.

Muitas marcas de fast fashion são frequentemente criticadas pelo uso de trabalho escravo em suas cadeias de suprimentos. Em certos caso, elas produzem roupas em grande quantidade, e com preços reduzidos, ao montar base em países em desenvolvimento, onde os trabalhadores são mal pagos e  trabalham em condições perigosas.

Tais proletários são obrigados a trabalhar longas horas, com salários baixíssimos e sem garantias de segurança. Muitos são forçados a trabalhar em condições insalubres, sem acesso a água limpa ou a banheiros adequados. Além disso, há relatos de trabalho infantil nas fábricas. Crianças são forçadas a ajudar suas famílias a sobreviver, e acabam privadas de educação e oportunidades.

Embora as marcas de fast fashion se defendam, ao afirmar que não têm conhecimento do trabalho escravo nas etapas de suprimentos, muitas organizações de defesa dos direitos humanos argumentam que as empresas não fazem o suficiente para monitorar e garantir a ética de suas práticas.

No documentário Untold: dentro da máquina Shein, lançado em 2022, pela emissora britânica Channel 4, o público é conduzido à realidade reveladora das condições deploráveis enfrentadas pelos trabalhadores de uma das maiores empresas de fast fashion do mundo, queridinha dos jovens na atualidade. 

Funcionários dizem relatam trabalham 120 horas por semana, com turnos diários que começam às 8h e terminam tarde da noite, e têm apenas um dia de folga por mês. Além disso, os operários ganham apenas £500 mensais, tendo que confeccionar 500 peças diárias. E correm o risco de serem penalizados por erros na confecção, o que acarretaria desfalque no salário. 

À medida que exploramos o complexo mundo fast fashion, fica evidente que essa indústria gera profundas consequências sociais, ambientais e econômicas.  Desde a exploração de mão de obra até a produção em massa de roupas descartáveis, a busca incessante pelo lucro tem levado a um ciclo insustentável, que precisa ser repensado. 

Pequenas mudanças em nossas escolhas diárias podem ter um impacto significativo na redução do desperdício e na demanda por uma indústria de moda mais justa e ecologicamente responsável.

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