Por Ana Clara Souza

Meu primeiro contato com o Teatro foi quando eu tinha oito/nove anos. Assistia novelas e filmes mas não tinha noção que era preciso estudar Teatro para ser uma personagem fictícia dos palco e telinhas, e por isso,  sempre digo que o meu primeiro contato com, essa arte magnífica foi quando interpretei o meu primeiro papel para um público – muito importante ressaltar a palavra público, por que sempre interpretei inúmeras coisas. Porém, eu e meu mundo, de frente ao espelho.

Fonte: arquivo pessoal.

Nessa peça, eu era a protagonista de uma história onde uma criança incompreendida não se sentia pertencente a nenhum lugar. Eu amei interpretar! Mas nada além de uma inquietação momentânea de uma garotinha que sempre amou tudo relacionado à arte. Poucos anos depois, minha turma da escola teria que realizar uma peça para apresentar em um evento. Minha personagem? uma macaca serelepe. Desta vez, eu não era a protagonista, mas minha professora se encantou com a minha intimidade na caracterização de um animal, e sem intenção, começou a plantar uma sementinha cênica na minha cabeça.

No ano seguinte, com os meus 12 anos, novamente precisei fazer outra peça para escola. A escolha do meu grupo foi atualizar a clássica história da Branca de Neve, para ‘A Preta de Neves’. Na nossa cabeça, infanto – juvenil,  era um trocadilho muito dos bons já que morávamos em uma cidade cujo nome é Ribeirão das ‘Neves’, e a intérprete principal era negra. Minha personagem? a versão contemporânea do sujeito que é designado para matar Branca de Neve, mas desiste. Uma empregada/espiã que tenta fazer o mesmo mas que também não consegue. Desde então, tudo mudou. Aquela semente que já germinava nos meus jovens pensamentos, desabrochou com o questionamento de uma outra professora que me perguntou; “Você já pensou em fazer Teatro?”.

De fato nunca tinha pensado, mas a partir dali, só desejava adentrar por esse mundo das representações. Em Fevereiro de 2013, eu era a mais nova estudante de Teatro! Depois de dois anos e seis meses, com 16 anos,  era uma profissional da área com registro no Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões – SATED.

Sem romantizar,  ser Atriz é uma das maiores dádivas da minha passagem por esse mundo. Eu me descubro e descubro o universo. Compreendo e questiono. Provoco sensações e sou provocada. A quinta arte já me ofertou muitos momentos inenarráveis que nunca me imaginaria vivendo, e meu maior sonho como artista, é que outras pessoas pudessem sentir algo semelhante ao que narrei acima.

No Brasil, as artes no geral são negligenciadas e elitizadas. A maioria das pessoas  que escolhem o caminho artístico, não tem apoio. Muitos jovens nunca nem cogitaram a possibilidade de exercer essa profissão. Fui bastante criticada e taxada como louca quando escolhi ir para esse ramo ao ir de encontro com os diversos cursos técnicos ofertados pelo Governo, todos voltados para áreas de Gestão e Negócios, e nenhum com viés artístico. É urgente  o aumento de verbas e políticas públicas, a reformulação do senso comum diante ao mundo artístico, e o reconhecimento e valorização do Teatro, que é uma profissão de respeito e muito digna como todas as outras.

Neste Dia Mundial do Teatro, termino esse texto reforçando a minha gratidão por ter ido de encontro à essa arte, e te faço o convite para ir assistir algum espetáculo teatral, até mesmo na Internet, assim que chegar no ponto de exclamação. Se divirta!

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