Dia Mundial do Transtorno Afetivo Bipolar

Dia Mundial do Transtorno Afetivo Bipolar

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“O Transtorno Afetivo Bipolar não é uma simples mudança de humor”

Por Italo Charles

O termo “bipolar” se tornou muito comum nos últimos tempos. Quem nunca ouviu, ou até mesmo disse que alguém é bipolar e muda de humor a todo momento? Mas, para além disso, é importante entender que todo ser humano passa por variações de humor em alguns momentos.

De toda forma, o que não pode se tornar banal é o uso do termo bipolaridade, uma vez que se trata de uma doença séria. Hoje, 30 de março, é lembrado o Dia Mundial do Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), a data marca o aniversário do pintor, pós-impressionista, Vincent Van Gogh, diagnosticado postumamente como provável portador do distúrbio.

O TAB é compreendido como um distúrbio de humor grave. Suas características mais notáveis são as oscilações de ciclos de depressão e euforia (mania e hipomania) entre momentos assintomáticos. As crises podem alterar a periodicidade e grau de intensidade (leve, médio ou alto).

As transições de humor possuem reações negativas em relação a conduta e desempenho dos pacientes. Para a Dra. Olivia Duarte de Oliveira, Médica da Família e Psiquiatra na Rede Consultar, “o humor pode ser caracterizado como o elemento que dá “cor” às vivências do indivíduo, aumentando ou diminuindo o peso das experiências reais, modificando assim o sentido do que foi vivido”. 

Na maioria dos casos o distúrbio se inicia precocemente, tanto em homens quanto mulheres por volta da adolescência e predomina um dos pólos da doença. De acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) existem 300 milhões de pessoas ao redor do mundo com Transtorno Afetivo Bipolar.

Segundo os manuais internacionais de classificação diagnóstica (CID-10 e DSM.IV), existem diversos tipos de TAB alternando em níveis de mudanças comportamentais, são eles:

TIPO 1

A pessoa portadora do distúrbio Tipo 1 geralmente manifesta de forma acentuada ciclos de mania, que duram em média 7 dias, e uma fase depressiva que pode se estender por um longo período. Em ambos períodos sintomáticos as mudanças comportamentais se tornam bem visíveis e podem afetar o comportamento familiar, social e desempenho profissional do portador.

TIPO 2

Nesta definição existe a oscilação de sintomas parecidos com o Tipo 1, entretanto ocorre de forma mais leve definido como “Hipomania”, dessa forma o dano comportamental é menor.

Transtorno Bipolar Não Especificado 

O TAB Não Especificado demonstra alguns sintomas, o que sugere o diagnóstico, mas não são definidos como suficientes nem em duração (tempo) e grau de intensidade para ser caracterizado como Tipo 1 e Tipo 2.

Transtorno Ciclotímico

Essa classificação apresenta os sintomas leves do TAB, manifestando oscilações crônicas da doença, que podem ocorrer no mesmo dia. Neste caso o indivíduo varia entre os sintomas de mania e hipomania (de forma leve), mas que em muitos casos podem ser considerados como personalidade forte ou irresponsabilidade.

Causa

Dra, Olívia Duarte de Oliveira – Psiquiatra

 

Ainda não existe a causa exata do transtorno bipolar, mas considera-se que um conjunto de fatores possam influenciar no desenvolvimento do distúrbio, tais como estrutura do cérebro e ambiente. De acordo com a Dra. Olivia Duarte de Oliveira: “A herança genética tem grande importância na gênese do transtorno”.

Em alguns casos já foram comprovados a predisposição na manifestação de sintomas de alteração de humor advindas de pessoas com histórico genético, essas manifestações se estabelecem como: ciclos periódicos de depressão, estresse prolongado, entre outros.

Diagnóstico

Para a Dra. Olívia Duarte o diagnóstico não é simples e pode demorar, uma vez que se baseia na história do sujeito, em geral cíclica, envolvendo melhoras e recaídas. 

“O diagnóstico é inteiramente clínico, exige-se ao menos um episódio de mania ou hipomania (semelhante, porém menos grave que a mania). Devem também ser excluídas doenças da tireoide, outras doenças que alteram hormônios e o uso de medicamentos ou drogas estimulantes. Nestes casos os exames bioquímicos podem ajudar”, explica.

Sintomas

Os sintomas variam conforme a fase em que o doente se encontra. 

Em depressão pode ter tristeza:

  • Falta de prazer nas coisas;
  • Cansaço fácil; 
  • Alterações do sono ou apetite; 
  • Sentimento de culpa; 
  • Dificuldade de tomar decisões e pensamentos de morte.

Já na fase de mania o paciente pode experimentar:

  • Elevação da auto-estima; 
  • Sentimento de grandiosidade; 
  • Irritabilidade, aumento da energia; 
  • Pouca necessidade de sono; 
  • Falar mais que o normal; 
  • Facilidade em se distrair;
  • Pensamento acelerado e envolvimento em atividades com potencial para riscos (jogos, direção imprudente, gastos excessivos , comportamento sexual de risco,  investimentos insensatos, etc).

Em casos mais graves pode haver delírios e alucinações. “Frequentemente há a incapacidade de perceber a própria doença, achando que estão na melhor fase de suas vidas. Além disso, os sintomas são tão graves que os impedem de exercer suas atividades no trabalho, escola e vida familiar”, conta a Dra Olívia Duarte. 

Tratamento

O Transtorno Afetivo Bipolar não tem cura, mas pode ser controlado. O tratamento é realizado através de uso de medicamentos, acompanhamento psíquico e psicoterapia a fim de minimizar as manifestações sintomáticas. 

De acordo com a Dra. Olivia, o acompanhamento e conhecimento da família acerca da doença é imprescindível para o progresso durante o tratamento. “Como o paciente não tem noção que está doente é a família que leva ao médico, isso faz com que o paciente tome a medicação ao longo do tempo e forneça ao médico  informações essenciais para diagnóstico e acompanhamento do caso”.

Nos casos em que o portador ainda não foi diagnosticado, muitas vezes por desconhecimento dos familiares, os prejuízos podem ser grandes. “A vida do paciente com TAB não controlado pode ser devastada. Através de acidentes, perda de emprego e relacionamentos, dilapidação de patrimônio, internações hospitalares e suicídio, dentre outras”, finaliza a Dra. Olívia Duarte.

 

*A matéria foi produzida sob a supervisão da jornalista Daniela Reis

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