Dia Nacional da Luta contra Aids e HIV

Dia Nacional da Luta contra Aids e HIV

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Primeiro de dezembro é conhecido como a data que marca a luta contra a Síndrome de imunodeficiência adquirida (Aids)

 

Por Italo Charles

Há muitos anos falar sobre Aids e HIV era visto como tabu. Muitas pessoas fugiam desse debate, mas, ao longo do tempo, visto a necessidade de falar sobre a doença que era temida e considerada a doença dos “gays”, as manifestações para disussão se tornaram pauta.

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – mais conhecida como AIDS em inglês ou SIDA em português – é causada pelo vírus HIV que atinge o sistema imunológico do ser humano. Entretanto, o que muitos não sabem é que quem contrai o vírus HIV não necessariamente será acometido à AIDS.

A ciência e a medicina se evoluíram muito ao longo dos anos e com isso têm proporcionado às pessoas soropositivas uma vida saudável. Atualmente, as formas de tratamento e cuidados para os pacientes têm sido de grande eficácia, diferente das situações ocorridas até o final da década de 1990 quando não se sabia muito e não havia tratamentos eficazes.

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, há no Brasil aproximadamente 900 mil pessoas com HIV, desse montante 642.362 mil pessoas estão em tratamento e, no último ano (2019)  foram diagnosticados 41.919 novos casos.

Vivência – O diagnóstico da infecção por HIV, para muitos soa como “um fim”. Não diferente para João (nome fictício para manter em sigilo a identidade do entrevistado), que por um tempo viu a sua estimativa de vida se esvair devido ao diagnóstico e a situação na qual foi exposto.

Em 2017, no mês de novembro, João passou por uma situação que jamais imaginaria. Com 21 anos, em uma festa após ter bebido muito, ou supostamente ter sido drogado por algo na bebida, se sentiu mal até que os amigos o colocaram em um quarto para descansar. Mas, no meio da noite ao acordar no susto, percebeu que havia alguém sobre ele no ato de estupro. Ainda sob efeito do álcool ou talvez do entorpecente que pudera ter sido acrescentado em sua bebida não teve forças para reagir.

“Na manhã seguinte, juntei minhas coisas e fui embora dali o mais rápido que pude, sem que ninguém me visse. Nunca havia me sentido tão mal em toda a minha vida. Estava com muita vergonha e raiva de mim mesmo”, desabafa.

Na época, o jovem que hoje está com 24 anos, não tinha muitas informações sobre HIV/AIDS e consequentemente sobre os meios para minimizar os riscos após a exposição. Dessa forma, por se sentir envergonhado e culpado não contou a ninguém e sequer sabia como procurar ajuda.

Passado o tempo, ao se relacionar com um rapaz – aproximadamente três meses após o estupro – este mesmo rapaz se viu com alguns sintomas e resolveu procurar o médico e fazer exames, ao ser diagnósticado informou a João para que pudesse realizar os exames também. Dado o dia, angustiado por ter sido infectado com gonorreia e ao fazer os testes, foi diagnosticado como reagente para o HIV, neste momento viu seu mundo cair. 

“No início foi difícil, confuso… eu havia acabado de passar por um grande trauma e receber a notícia só piorou; eu não conhecia os procedimentos, a quem procurar, se eu deveria contar para minha família ou não, se eu iria morrer pelo vírus, se minha vida mudaria muito ou não e se mudasse, o que mudaria? Além, é claro, a questão do medo, medo de mim mesmo, medo de sempre ser excluído e rejeitado pelas outras pessoas”, explica.

A falta de liberdade para falar do assunto amedronta muitas pessoas e com isso provoca a desinformação. Até o momento em que João teve que enfrentar o medo para fazer os exames, as informações que tinha eram poucas. “Eu tinha muito pouco conhecimento, não estamos mais nos anos 80 e 90, mas ainda há sim muitos tabus e estigmas, como o pensamento de que HIV e AIDS são a mesma coisa, AIDS é uma palavra que assusta pelo seu histórico no mundo, então as pessoas não abordam muito esse assunto; eu por exemplo, não sabia sobre a prep, que é a prevenção que temos disponível para situações de exposição ao vírus, se eu soubesse na época, muita coisa seria diferente”, salienta João.

Enfrentar desafios é parte da vida de qualquer indivíduo, mas para pessoas soropositivas, muitas vezes se tornam muito maiores e temerosas. “A questão mais difícil sobre HIV que enfrentei e ainda enfrento é a questão psicológica, isso te afeta, te deixa pra baixo, você tem medo de ser rejeitado ou discriminado e consequentemente é mais difícil se relacionar com alguém intimamente, você se fecha e teme que alguém entre”.

Mas nem só de desafios a vida é feita. Ao se pensar no acaso e no destino é possível observar que certas situações estão ali para revelar algo de positivo, gerar aprendizados e experiências. “O maior aprendizado é que passei a ser mais grato pelas coisas que antes eu não era, amadureci e fui impulsionado a correr atrás do que eu quero e, com certeza isso me deixou mais forte em alguns aspectos, quando você faz parte de alguma minoria, tem que ser duas vezes melhor pra conseguir metade daquilo que os outros tem, então peguei isso como filosofia e seguir em frente”, conclui.

 

Em entrevista com a médica infectologista, Bárbara Silveira Faria, do Hospital Sofia Feldman, algumas questões a respeito do que se difere a AIDS e o HIV, os meios de prevenção e tratamento foram levantados.

Bárbara Silveira Faria – Médica Infectologista do Hospital Sofia Feldman
  • Quais são os sintomas mais comuns após a infecção de HIV?

Estima-se que 10 a 60% dos indivíduos com infecção precoce por HIV não apresentaram sintomas. 

Em pacientes com infecção sintomática aguda, o tempo normal desde a exposição ao HIV até o desenvolvimento dos sintomas é de duas a quatro semanas, embora períodos de incubação de até dez meses tenham sido observados. 

A maioria dos sintomas associados à infecção aguda por HIV tem resolução espontânea; no entanto, a gravidade e a duração dos sintomas variam amplamente de paciente para paciente.

Uma variedade de sintomas e sinais pode ser observada em associação com a infecção aguda sintomática por HIV. Os achados mais comuns são febre, linfadenopatia, dor de garganta, erupção cutânea, mialgia / artralgia, diarréia, perda de peso e dor de cabeça.

Nenhum desses achados é específico para infecção aguda por HIV, mas certas características, especialmente a duração prolongada dos sintomas e a presença de úlceras mucocutâneas, são sugestivas do diagnóstico.

Além desses sintomas mais comuns, são considerados como apresentações sintomáticas atípicas, infecções oportunistas e manifestações do sistema nervoso central.

 

  • Com qual periodicidade devem ser feitos os testes?

O teste de HIV deve ser realizado para diagnosticar o HIV em pacientes com sinais e sintomas clínicos de infecção aguda ou crônica, bem como naqueles com possível exposição ao HIV. O teste de HIV também deve ser incorporado ao rastreamento de rotina de indivíduos saudáveis, incluindo mulheres grávidas. 

Para pacientes sem fatores de risco para infecção por HIV, é recomendado pelo menos um teste de HIV em adultos e adolescentes de 13 a 75 anos de idade. Além disso, as mulheres grávidas devem ser testadas para o HIV no início de cada gravidez usando uma abordagem de “exclusão”, mesmo que tenham sido testadas durante gestações anteriores. 

Embora o teste único em uma visita de rotina à clínica médica seja razoável para a maioria dos pacientes, testes anuais ou mais frequentes são recomendados para pessoas de alto risco, incluindo:

 

  • Homens que fazem sexo com homens com parceiros sexuais infectados pelo HIV ou com sorologia desconhecida, podem se beneficiar do teste a cada três a seis meses
  • Usuários de drogas injetáveis.
  • Pessoas que trocam sexo por dinheiro ou drogas.
  • Parceiros sexuais de pessoas infectadas pelo HIV, bissexuais ou drogas injetáveis.
  • Pessoas que fazem sexo com parceiros cujo status de HIV é desconhecido.

 

  • Quais são os meios de prevenção?

A melhor técnica de evitar a Aids / HIV é a prevenção combinada, que consiste no uso simultâneo de diferentes abordagens de prevenção, aplicadas em diversos níveis para responder as necessidades específicas de determinados segmentos populacionais e de determinadas formas de transmissão do HIV.

Intervenções biomédicas

São ações voltadas à redução do risco de exposição, mediante intervenção na interação entre o HIV e a pessoa passível de infecção. Essas estratégias podem ser divididas em dois grupos: intervenções biomédicas clássicas, que empregam métodos de barreira física ao vírus, já largamente utilizados no Brasil; e intervenções biomédicas baseadas no uso de antirretrovirais (ARV).

Como exemplo do primeiro grupo, tem-se a distribuição de preservativos masculinos e femininos e de gel lubrificante. Os exemplos do segundo grupo incluem o Tratamento para Todas as Pessoas – TTP; a Profilaxia Pós-Exposição – PEP; e a Profilaxia Pré-Exposição – PrEP.

Intervenções comportamentais

São ações que contribuem para o aumento da informação e da percepção do risco de exposição ao HIV e para sua consequente redução, mediante incentivos a mudanças de comportamento da pessoa e da comunidade ou grupo social em que ela está inserida.

Como exemplos, podem ser citados: incentivo ao uso de preservativos masculinos e femininos; aconselhamento sobre HIV/aids e outras IST; incentivo à testagem; adesão às intervenções biomédicas; vinculação e retenção nos serviços de saúde; redução de danos para as pessoas que usam álcool e outras drogas; e estratégias de comunicação e educação entre pares.

Intervenções estruturais

São ações voltadas aos fatores e condições socioculturais que influenciam diretamente a vulnerabilidade de indivíduos ou grupos sociais específicos ao HIV, envolvendo preconceito, estigma, discriminação ou qualquer outra forma de alienação dos direitos e garantias fundamentais à dignidade humana. Podemos enumerar como exemplos: ações de enfrentamento ao racismo, sexismo, LGBTfobia e demais preconceitos; promoção e defesa dos direitos humanos; campanhas educativas e de conscientização.

Representação gráfica da Prevenção Combinada | Fonte: Ministério da Saúde/ Aids.gov
  • Hoje, as pessoas soropositivas podem viver uma vida comum e saudável?

Apesar de ser uma doença sem cura, quase 40 anos após o começo da epidemia, e com os avanços na medicina, o paciente soropositivo que segue o tratamento corretamente, consegue levar uma vida normal. 

A implementação de testes rápidos que possibilitam o diagnóstico precoce contribui para o  urso da doença, uma vez que o tratamento precoce oferece alguns benefícios, reduzindo eventos clínicos e a mortalidade em pacientes com infecção pelo HIV  

Preconceitos ainda estão muito presentes na sociedade, precisamos desmistificar os estigmas sobre a doença, fazer com que os portadores do HIV consigam falar abertamente sobre o assunto, e mantê-los sempre incluídos na sociedade. 

  • Por que soropositivo?

Chama-se soropositivo um indivíduo portador de anticorpos no sangue que provém a presença de um agente infeccioso. O termo é mais usado para descrever a presença do vírus HIV, causador da Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), no sangue. 

A AIDS é uma doença crônica e que pode ser potencialmente fatal. Ela acontece quando a pessoa infectada pelo HIV tem o seu sistema imunológico danificado pelo vírus, interferindo na habilidade do organismo de lutar contra os invasores que causam a doença, além de deixar a pessoa suscetível a infecções oportunistas.

Por isso, é importante lembrar que: Ser soropositivo não é a mesma coisa que ter AIDS! Há  soropositivos (termo usado para designar a pessoa infectada pelo vírus do HIV) que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Mas podem transmitir o vírus a outras pessoas pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não tomam as devidas medidas de prevenção.  

 

João foi o nome utilizado para preservar a identidade real da fonte.*

 

**A matéria foi produzida sob a supervisão da jornalista Daniela Reis

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