. o amor que me atravessa .

. [do livro de cartas] o amor que me atravessa .

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Por Débora Gomes – . as cores dela . – Parceira Contramão HUB

Salvador,

em alguns dias, nesses que são mais de saudade e de vento, eu penso n’ocê de um jeito devagar, que me faz esquecer um pouco a solidão. cê mudou, eu também. e é claro que o amor sofreria todas as nossas consequências, mesmo sem a gente se importar.

o amor me atravessou, Salvador. e embora seja tão difícil acreditar nisso, só aconteceu porque era ocê a me sorrir na outra ponta do tempo. caso contrário, desconfio que passaria por essa brevidade nossa, como quem suspira e espia a vida correr pelas janelas de dentro.

e escreve, pra sobreviver.

eu não teria conhecido um bocado do amor, se cê não tivesse chegado naquele agosto seco e silencioso, pra me tirar pra dançar sobre o tempo. lembro como se fosse hoje: cê usava uma blusa branca, um chapéu marrom, óculos de sol e um jeito vivo de enxergar o mundo, que hoje eu já não vejo mais (nem o mundo, nem n’ocê).

pudesse, deixava tudo que vivi de lá pra cá, toda essa longitude em que me transformei, só pra ter de volta aquele teu coração de começos. a vida sempre possível, os planos de casa lilás com paredes brancas e rede na varanda… toda uma simplicidade, que a gente não vê mais no nosso coração.

Bisa me disse, outro dia, que se tiver de ser, não importa o tanto ou no quê a gente se transformou: o tempo, que a gente não mede em ampulhetas nem em relógios, se encarrega de unir nosso sorriso de novo, numa dessas curvas que a gente tanto faz.

eu gosto de acreditar nisso, principalmente nesses dias em que a saudade carrega o nome teu…

vai ser sempre com amor.
Alice,

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ps.: faltou te dizer que todos os poemas, até aqueles que eu não escrevi, eram procê.

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