Estranho

Estranho

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Por Giovanna Silveira – Metrica Livre – Parceira Contramão HUB

Olhou por cima do ombro várias vezes, movimento involuntário dos que esperam demais. Não imaginava também chegar tão cedo, se de prévia julgava o motivo de estar ali, mas ficou.

Ninguém a um raio ilusório de vinte metros de distância, somente ele e a presença estática dos arbustos enfileirados, que de certa forma o faziam companhia. Bateu os pés, estralou os dedos, olhou o relógio e o celular, num movimento de marcha atlética contínua, e fazia um movimento com os lábios como se fosse assobiar, mas se havia algum som, saía em decibéis de ar reprimido.

Ouviu ruído abafado de passos rompendo as folhas ressecadas no chão, ergueu a postura e olhou em 6 direções diferentes… logo voltou a posição que mais lhe familiarizava, o aguardo.
E assim foram dez, vinte, trinta, quarenta e sete minutos de pequenos exercícios de paciência; e quando se cansou de todos os possíveis espectros de tempo que o cercavam, olhou o relógio. Fez como quem toma um longo ar para si, espiou uma última vez por sob os ombros, e enxergou que nunca houve um motivo para estar e esperar ali.

Pôs-se nos pés largos, de uma forma simples sorriu para ninguém e se foi. E em um perímetro imperceptível de alguns longos metros de distância, eu o observei, enquanto também esperava. Naquele dia por alguns instantes, o estranho do tempo e eu, divimos o espaço, o tempo e a espera.

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