Maria Madalena: Prostituta, Santa ou Revolucionária?

Maria Madalena: Prostituta, Santa ou Revolucionária?

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Por Bianca Morais

Em uma época em que as mulheres viviam refém dos pais e depois dos maridos, quando elas não tinham acesso à educação e trabalhavam apenas em funções domésticas, uma delas, talvez uma das primeiras feministas do mundo, se levarmos o termo cru do movimento que luta pela igualdade de gêneros, se destacou. O nome dela: Maria Madalena. 

Tida por muitos, ao longo de séculos de catolicismo, como prostituta e pecadora, aquela que acompanhou Jesus Cristo até sua morte e ressureição, muito provavelmente, teve de deixar para trás padrões impostos pela sociedade da época que diziam que ela deveria permanecer em casa.  

Lucas 8:2 diz: “Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios”. Para os judaicos, ter demônios, nada mais é que ter uma doença, mas no cristianismo europeu aquilo foi ligado ao pecado, e por ela ser mulher, relacionado ao sexual. Em nenhum momento o versículo deixou claro que era uma prostituta, mas estamos cansados de saber que as religiões interpretam a bíblia da forma como querem, por isso, muitas a consideram de tal forma, inclusive, as mesmas que dizem que o relacionamento homoafetivo é pecado, mesmo Jesus durante toda sua vida ter pregado o amor. 

No livro “O Código da Vinci” de Dan Brown, é narrado um relacionamento secreto entre Jesus e Maria Madalena retratados nas obras de da Vinci. O argumento parte em teorias feitas pelos chamados “Evangelhos Canônicos” nos livros apócrifos do Novo Testamento e dos escritores gnósticos. Segundo eles, na pintura A Última Ceia, quem está ao lado de Jesus de cabelos compridos e traços femininos seria Maria Madalena e não o apóstolo João. Além disso, o fato de Jesus não envergar o Gral leva a interpretação que a mulher é o “Cálice Sagrado”, onde repousa o “sangue de Cristo”, ou seja, que ela estaria grávida. 

Após a crucificação de Jesus Cristo foi Maria Madalena que visitou sua tumba levando especiarias para ungir seu corpo nu, tarefa assumida por esposas, mães ou familiares. Já dizia a bíblia que Jesus viveu entre nós como um homem comum, e homens naquele tempo e com a idade dele tinham esposas. Os cristãos fervorosos dizem que o filho de Deus não veio a terra para se casar, muito menos para ter filhos, por isso, repudiam tanto Maria Madalena.  

Claro, isso é uma teoria, assim como toda bíblia escrita pela Igreja Católica, a mesma que considera Jesus Cristo, nascido em Jerusalém, um homem branco de olhos azuis.  

Na atual sociedade com o machismo imposto toda mulher autossuficiente, dona de si, financeiramente independente, mãe solo, líder e chefe, intimida e sofre preconceito. Quantas mulheres que saem a noite para tomar uma cerveja com o marido, ou levam o filho na apresentação da escola sozinha são vistas com maus olhos pela sociedade que por mais avançada que seja, ainda acredita que lugar de mulher é no fogão, faxinando casa para quando o marido chegar à noite do trabalho sua janta estar servida? 

Sendo assim, não seriamos todas nós feministas, Maria Madalena? 

Maria Madalena é vítima. Vítima de um catolicismo exacerbado, vítima de sua imagem ser possivelmente ligada a uma relação mais intima com Jesus. Vítima de ter largado costumes da época para seguir seu líder espiritual.  

E se Maria Madalena de fato fosse prostituta, qual seria o problema? Prostituta é uma profissão, mulheres que ganham a vida com trabalhos sexuais, inclusive, para homens de bem, seguidores do catolicismo. A questão é, do mesmo jeito que eles têm o direito de seguirem uma religião e usufruírem dos serviços delas, elas também têm o direito de acreditar em Deus e seguir os ensinamentos de Jesus. Independente se Maria Madalena foi ou não uma prostituta, ela teria a mesma licença para seguir a Jesus Cristo, afinal, foi ele quem disse “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”.  

No Brasil não se discute religião, política e futebol. 2022, copa do mundo e eleições. Com as redes sociais é, sem dúvidas, impossível não se discutir esses assuntos. Por que não discutir religião então? Discussão é uma palavra forte, pode remeter algo agressivo e não precisa ser. Discutir religião pode ser simplesmente uma maneira de tentar trazer os ensinamentos de Jesus Cristo para a nossa atual realidade.  

Paz, amor, harmonia, perdão, respeito entre os homens, por que é tão fácil adorar Jesus e tão difícil seguir seus mandamentos? Por que considerar uma mulher solteira uma prostituta? Por que levar um fora de uma mulher te leva a ofendê-la? Do que adianta não consumir carne na sexta-feira da paixão para ser perdoado dos seus pecados se você poderia simplesmente não os cometer? 

O feminismo te incomoda porque algumas pessoas são cheias de preconceitos dentro de si, e o pior, tentam justificar isso em cima do cara mais bacana que já passou pela Terra. E como disse Bruna Marquezine em uma recente participação num podcast, “Jesus Cristo é maneiraço, o fã clube que estraga o rolê”.

Nota do editor: os textos e fotos, vídeos publicados nos artigos de opinião não refletem necessariamente o pensamento do Contramão, sendo de total responsabilidade do(s) autor(es) as informações, juízos de valor e conceitos divulgados.

 

 

 

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