Mercado Central, 90 anos de muita história

Mercado Central, 90 anos de muita história

Principal Mercado de Belo Horizonte une tradição, contemporaneidade

e encanta turistas por sua singularidade

 

Por Sabrina Gutierrez dos Santos (texto e fotos)

O Mercado mais conhecido de Minas Gerais retomou as suas atividades após o período mais crítico da pandemia, confirmando a sua vocação turística, com uma visitação que cresce a cada dia e segue no enorme espaço, onde produtos variados e de qualidade atendem a todos os gostos.

História

Belo Horizonte tinha apenas 32 anos quando o prefeito Cristiano Machado resolveu reunir, em um só local, os produtos destinados ao abastecimento dos 47 mil habitantes da jovem cidade. Foi assim que o Mercado Central nasceu, no dia 7 de setembro de 1929, unindo as feiras da Praça da Estação e da atual Praça da Rodoviária. Em um terreno com 22 lotes, próximo à Praça Raul Soares, foram reunidos todos os feirantes, centralizando o abastecimento da população.

Nos 14 mil metros quadrados do terreno descoberto, circundando as carroças que transportavam os produtos, as barracas de madeira se enfileiravam para a venda de alimentos. Seus corredores guardam grandes memórias e muitas histórias, segundo o site oficial do Mercado Central, que também traz outras informações.

O Mercado funcionou até 1964, com atividade intensa, quando o prefeito da época, Jorge Carone, resolveu vender o terreno, alegando impossibilidade de administrar os estabelecimentos. Para impedir o fechamento do Mercado, os comerciantes se organizaram, criaram uma cooperativa e compraram o imóvel da Prefeitura. No entanto, teriam que construir um galpão coberto na área total do loteamento no prazo de cinco anos; se não conseguissem, precisariam devolver a área à Prefeitura.

Há duas semanas do fim do prazo dado pela Prefeitura, ainda faltava o fechamento da área. Foi então que os irmãos Osvaldo, Vicente e Milton de Araújo decidiram acreditar no empreendimento e investiram no projeto. Foram contratadas quatro construtoras, ficando cada uma responsável por uma lateral, para que o galpão pudesse ser fechado no tempo estabelecido. Ao fim do prazo, os 14 mil metros quadrados de terreno estavam totalmente cercados. Os associados, com seu empreendedorismo e entusiasmo, viram seus esforços recompensados.

Melhorias com o passar do tempo

Rai Amorim, que trabalha numa das lanchonetes mais tradicionais do espaço, há mais de 30 anos no local, diz que “o Mercado se especializou nesses últimos anos e a administração tem a limpeza como grande foco, porque antigamente as pessoas só viam o mercado como sujo, hoje em dia não, é bem profissional essa questão e a da segurança. Antigamente era barraca ao ar livre e chovia, era muito barro, aí tinha um lamaçal. A partir da década de 1970, com a construção do prédio galpão, a principal mudança foi essa organização. Como o Mercado é uma associação, os próprios comerciantes têm poder de voto, têm um conselho, então a administração está sempre conectada aos lojistas”.

Bem-organizado e com a participação ativa dos proprietários das lojas, a cada dia, ao longo dos anos, o Mercado Central ampliou suas atividades, expandindo seus negócios. Enquanto isso, se transformava em um núcleo não só de produtos alimentícios, mas também de artesanato, tornando-se um dos principais pontos turísticos da cidade e um dos locais mais queridos dos belorizontinos. Com 210 funcionários na administração, limpeza, estacionamento e segurança, o Mercado tem hoje 25.460 metros quadrados de área construída e 420 vagas rotativas no estacionamento.

Atualmente, com mais de nove décadas de vida, representante marcante da cultura mineira, o Mercado Central possui mais de 400 estabelecimentos, com artigos para animais, artesanato, padarias, açougues, restaurantes, hortifrutis, entre outros tipos de mercadorias. Oferece serviço de informações bilíngue, via site e no próprio local, e atrai diariamente milhares de visitantes de todos os lugares do Brasil e do mundo.

As mudanças com a pandemia

Em março de 2020 Belo Horizonte entrou em lockdown devido à pandemia da Covid-19 que se propagou pelo Brasil, causando mais de 600 mil mortes no país e 22,2 milhões de infectados até dezembro de 2021. Com isso, muitas lojas do Mercado Central ficaram fechadas durante o período de isolamento na cidade, que durou por volta de nove meses, e vários lojistas tiveram que trabalhar com aplicativos e delivery.

Segundo o jornal Diário do Comércio, antes da pandemia passavam no Mercado, por dia, 31 mil pessoas. Já no fim de semana a quantidade era maior, por volta de 58 mil visitantes. Hoje esse número foi reduzido, são 25 mil pessoas diárias e 31 mil nos finais de semana, mas com a reabertura das lojas a perspectiva é de que a frequência volte a subir.

Quando o comércio começou a retornar, de maneira gradual, em maio de 2021, com 10% da ocupação, vários bares localizados no Mercado tiveram que colocar mesas e cadeiras para fora do estabelecimento, garantindo a segurança tanto dos clientes quanto dos funcionários, por conta do distanciamento social. Além disso, novos hábitos foram adotados durante a pandemia, como o uso constante do álcool em gel e das máscaras.

Rai Amorim, na entrevista concedida ao jornal Contramão, também contou que “a nossa ordem foi começar a fazer o delivery ano passado (2020), que a pandemia estava menos controlada, o pessoal não tinha se vacinado ainda. O Mercado tinha restrição de 300 pessoas por vez, só podia entrar quando saia alguém, então foi um período bem difícil, sem movimento, mas era necessário, acho que conseguimos administrar bem essa crise”.

Mas, mesmo com o retorno da totalidade das suas atividades, funcionado com 100% da sua capacidade desde agosto de 2021, o Mercado ainda não retomou a mesma frequência de público do período anterior à pandemia. A funcionária Raquel Joana, que trabalha numa das padarias do local, aberta há cinco anos, relata: “o que eu senti de mudança foi o fluxo de pessoas. A gente veio do isolamento, como estava tudo fechado, a gente teve muita dificuldade em questão de venda, as vendas caíram bastante, a gente não podia deixar os produtos expostos, não podia deixar os clientes se alimentarem aqui dentro”. Ela explica que, com a flexibilidade, o público aumentou e que os lojistas criaram boas expectativas em relação às vendas de Natal.

Quanto ao público, o Mercado continua agradando, segundo comentam diversos frequentadores. Andrélia Moreira, aposentada, comenta que “além de oferecerem a segurança necessária para o público, posso tomar uma cervejinha e comer jiló; esse clima que tem aqui, de mineiridade, de descontração, de interior, é muito bom para fazer amizades. Gosto muito do Mercado porque tem mercadoria direto da roça, mas na verdade venho mais pra comer um bom tira gosto e beber”.

Fernanda de Araújo, cabelereira e maquiadora, diz que “o Mercado não é famoso só pela localização, mas também pela qualidade e por essa energia que ele tem, sabe? Gostosa, de interior. Quando entrei aqui pela primeira vez fiquei louca. Eu gosto de tudo, a peixaria, o atendimento, os temperos, as castanhas, tudo é muito bom, difícil escolher uma coisa só”.

Mesmo após o período mais complicado da pandemia da Covid-19, o Mercado Central continua surpreendendo com os cuidados com a segurança, o bom atendimento e os produtos diversificados. O Mercado mantém a sua essência e, em breve, deverá retomar o antigo número de visitantes, seguindo como um ponto turístico privilegiado no centro da cidade, que agrada a todos os gostos.

Para completar 

Os alunos da Unidade Curricular Desenho e Produção de Som desenvolveram um material audiovisial sobre o Mercado Central. A produção conta com entrevistas e muitas curiosidades sobre o local, confira no link.

 

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