Militantes da Luta Antimanicomial fazem desfile-manifestação nesta quinta-feira, em Belo Horizonte

Militantes da Luta Antimanicomial fazem desfile-manifestação nesta quinta-feira, em Belo Horizonte

Profissionais e usuários dos serviços de saúde mental, além de familiares e simpatizantes da causa, animados pela escola de samba ‘Liberdade Ainda que Tam Tam’, saíram as ruas de Belo Horizonte hoje, 16, em comemoração à Luta Antimanicomial. Neste ano, a maior bandeira do desfile – que se concentrou na Praça da Liberdade por volta das 13h seguindo em passeata/desfile até a Praça da Estação depois das 15h – é a “defesa de uma política digna, inclusiva e responsável para os usuários de álcool e outras drogas”, segundo a presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP) Marta Elizabete.

Militantes da causa usavam coloridas fantasias criadas a partir de materiais recicláveis, alguns dançavam ao som de uma marchinha carnavalesca, que entre seus versos brincava: “psiu, psiu, psiu, estou ouvindo vozes”. Um trio elétrico ocupava a parte central da praça, onde os presentes faziam alegorias. O clima festivo é a marca da manifestação pela Luta Antimanicomial em Belo Horizonte. Neste ano o evento reuniu cerca de três mil pessoas sob o tema da resistência, representada pela a frase “Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir”. Dividido em seis alas, o desfile contou com homenagens a diversos movimentos: “Estamos falando da criança e do adolescente como o futuro, falando da loucura, falando da ditadura militar”, informou Marta Elizabete.

A usuária da rede de saúde mental e membro da Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais (Asussam-MG), Maria Soares Ferreira, afirma que o ideal dos militantes é lutar não só pelo fechamento de leitos psiquiátricos – “que tem essa lógica de trancar para tratar” – e sua substituição por uma rede substitutiva – “um serviço de portas abertas em que a pessoa possa ser tratada em liberdade, com cidadania” -, mas também de combater todas as formas de discriminação à pessoa que tenha algum sofrimento mental. Ela defende que “a luta antimanicomial tem como insignia a ética”.

Maria Soares enumera: “Em Belo Horizonte a rede esta bastante implantada. São 9 centros de convivência, 7 Centros de Referência em Saúde Mental (CERSAMs), o 3° Cersam-Ad – que atende dependentes de álcool e outras drogas – será inaugurado, embora isso seja um tanto tardio e a gente está correndo contra o tempo para ampliar a rede de apoio a estes usuários. Há um Centro de Referência Psicossocial (Caps-Ad) na pampulha que funciona 24 horas, foi inaugurado recentemente um no Barreiro e está para ser aberto outro na regional nordeste.”. Para ela a luta deve ser conduzida no sentido de ampliar essa rede, exemplifica: “há demanda para a abertura de mais dois CERSAMs”.

Marta Elizabete ratifica o pioneirismo mineiro no engajamento pela luta: “Nós temos manifestações em quase todos estados do Brasil, mas não podemos deixar de considerar que minas é um lugar de muita importância, porque Minas Gerais sempre esteve na luta pela liberdade”. A presidente do CRP comentou sobre a política de redução de danos, que procura diminuir os danos de viciados em crack a partir do uso de drogas lícitas: “Nós somos trabalhadores da saúde pública. E o Ministério da Saúde no Brasil adota a estratégia da redução de danos como uma das ações da política de álcool e outras drogas. Há uma série de ações que tem que ser desenvolvidas para a estratégia, que é razoavelmente recente, e envolve todo um trabalho de aproximação, de orientação, de informação aos usuários e as famílias.”. A militante acredita que o sucesso nas ações da política para tratamento de usuários de álcool e outras drogas implica em investimento do setor público para a construção de uma rede de serviços que inclui consultórios de rua, Caps-Ad, casas de acolhimento transitório (para pessoas que ainda não tiverem condição de retornar a suas casas), leitos em hospitais gerais para desintoxicação, abordagem com humanidade.

Sobre o caráter festivo do movimento, Marta Elizabete justifica: “hoje nós estamos fazendo um movimento comemorando e falando que nós estamos resistindo a políticas autoritárias do governo, de projetos de leis do parlamento e de projetos que vão contra um ideia de uma política de qualidade, digna, inclusiva. Nós estamos fazendo esta manifestação em homenagem a luta por uma sociedade brasileira melhor.”

 

Por Alex Bessas

Foto por João Alves

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