Como ponto de encontro, Mercado Novo deixa para trás o passado de andares vazios e se torna casa da moda mineira

Por Keven Souza

Andar por aqueles corredores é uma provocação aos sentidos. A luz ofuscante que atravessa os cobogós, os objetos antigos que compõem os espaços e o cheiro envolvente de comida, inspiram a criatividade. Inspirações essas que pulsam e apontam à moda autoral e disruptiva de Minas Gerais. 

O Mercado, já conhecido pela gastronomia, agora reúne nomes e marcas que carregam a identidade do estado. Ali, em um ambiente efervescente e diverso, está o contraste entre o estilo modernista e as linhas contemporâneas da moda atual – aquela mais alternativa, plural, divertida, consciente e responsável.

Você, certamente, encontrará um mercado mais gourmetizado, que, antenado ao estilo boêmio da capital, é a nova casa da moda mineira. Reunindo, da bolsa ao calçado, peças autênticas e artesanais produzidas por quem vive e conhece a riqueza histórica, cultural e artística, que é a moda feita do ‘jeitinho’ mineiro. “É lindo o espaço ter o que há de melhor no nosso estado, afinal a moda é uma das grandes vertentes de Minas Gerais e é fundamental contar com ela, especialmente a mineira”, diz Luiz Filipe de Castro, curador dos espaços do Mercado Novo. 

Nessa nova roupagem – que vai na contramão de um Mercado que surgiu há 60 anos -, conheça duas lojas que estão representando o DNA da moda mineira e são queridinhas do público circulante. 

 

Efeito sinestésico 

 

Paredes brancas, design industrial e pontos de luz. É o que caracteriza a loja da O Jambu presente no segundo andar, no Mercado Novo. A marca exibe prateleiras suspensas, além de vários espelhos pelo espaço, envolvidas com a criatividade e com os modelos das bolsas e mochilas que praticamente compõem o espaço e o deixam mais único.

Espaço da Loja O Jambu. Foto: divulgação.
Espaço da Loja O Jambu. Foto: divulgação.

É a partir dos poderes de uma planta da região amazônica, das mais cheias de brasilidades e famosa por deixar a boca dormente, que inspira e dá nome a marca fundada por Carol Maqui e Swami Cabral. O “casamento” da dupla nasce do desejo de oferecer uma experiência sinestésica aos clientes: ela, do norte de Minas Gerais, ele, paraense. “É a diversidade da flora deste país que guia a nossa missão: oferecer bolsas e mochilas para todes”, explica Swami. 

Bom gosto, criatividade e sofisticação é o que não falta por aqui. A estética descolada, mas ao mesmo tempo conceitual, traz a irreverente sensação de pot-pourri (mixagem de ideias) em seus produtos. Com isso, grande parte das bolsas e mochilas possuem design menos óbvios e caretas, mas mais divertidos, ligados à moda atual.

As peças chamam atenção e ganham o coração dos amantes do Mercado. Vitor Milani, cliente da marca, afirma que toda vez que vai ao Mercado Novo visita a loja. “O ambiente é bonito e descontraído, e chama atenção para, pelo menos, olhar uma bolsa. Costumo dizer que sou cliente fiel e consumo os produtos pela qualidade, versatilidade e aparência das bolsas, que são lindas”, destaca.

Fonte: O Jabum. divulgação.
Fonte: O Jabum. divulgação.

Além de “abraçar” a diversidade, a O Jambu busca, em sua essência, um raio-x dos valores cosmopolitas atrelados ao contexto urbano e às suas manifestações culturais. Tudo isso com origens mineiras e nortistas. 

 

Vintage com estilo

 

Muitas araras e objetos vintages, essa é a personalidade do brechó Belle Époque presente no segundo andar do Mercado Novo. A loja é um reduto cultural e imagético da moda vintage, que trabalha com o conceito da ressignificação do velho e da economia circular, sustentável.

Ali, em poucos metros quadrados, é como se o tempo tivesse parado nos anos 50 e 60 resgatando o passado e as lembranças da infância em casa de vó. Graças a ambientação de época que chama atenção.

Ele existe há 6 anos e surgiu a partir de um gosto pessoal de Sandra Cruz, designer e proprietária da marca. “Sempre consumi em brechó, pela qualidade e exclusividade das peças. Quando estava na faculdade sempre ia com algumas coisas mais diferentes e minhas amigas sempre perguntavam da onde vinha as peças, querendo comprar. Daí surgiu a ideia de abrir o Belle Époque”, relata. 

Fachada da loja. Foto: Keven Souza.
Fachada da loja. Foto: Keven Souza.

No começo era apenas o digital, nada de araras e objetos vintages como decoração. “Comecei vendendo online e participava, algumas vezes, de feiras. Logo depois, senti a necessidade de ter um espaço físico, e foi aí que conheci o Mercado Novo”, explica a proprietária. 

Agora, há mais de 4 anos no Mercado, o brechó vem ganhando espaço entre os consumidores por proporcionar uma experiência de compra diferente em diversos sentidos. É o que acredita Isabella Leandra, apaixonada por moda e consumidora do brechó. “Passar pelas araras e olhar cada peça me faz visitar um passado que não vivi. Então, imaginar quantas histórias e memórias aquelas roupas construíram é sempre uma experiência marcante”, diz. 

Com a proposta um pouco diferente da O Jambu, o Belle Époque expõe vestuário, acessórios, luminárias, aleḿ de outras peças que você certamente vai se apaixonar. Tem camisas de botão, casacos coloridos, jaquetas jeans, sapatos arrojados, muitas bijuterias e outros produtos apegados à moda de outras décadas. Isso, claro, a partir de uma curadoria específica ligada à moda circular – peças não descartadas, inseridas no processo de reuso.

Sandra destaca que o Mercado é um estímulo da moda de BH, por reunir marcas genuinamente locais. Um lugar que deve dar orgulho aos mineiros e ser para os turistas uma síntese do que a cidade tem para oferecer. 

Foto: Belle Époque/divulgação.
Foto: Belle Époque/divulgação.

Por isso, faz sentido estarem lá. Indo lado a lado com a economia criativa do Mercado Novo. “A moda ali (no Mercado Novo) é bem forte. Abriga grandes nomes do setor, como o estilista mineiro Ronaldo Fraga. E ter o meu brechó neste espaço cultural, pra mim é maravilhoso. Sou completamente apaixonada!”, pontua.

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