O ano da justiça

O ano da justiça

 

Google/Reprodução

Por Bruna Valentim

Nos últimos meses o produtor de Hollywood Harvey Weinstein foi acusado de assédio sexual por atrizes como Angelina Jolie, Ashley Judd o que surpreendeu e ganhou coro com acusações de personalidades como Courtney Love e Lupita Nyongo. O som de suas vozes ao falarem sobre suas experiências com o diretor deu coragem para outras vítimas se abrirem o assunto, o que ficou conhecido como o “efeito Weinsten”. A atriz mexicana Selma Hayek, de 51 anos foi a estrela mais recente a vir a público, de acordo com o jornal The New York Times, a atriz se referiu ao produtor como “Meu monstro” e deu detalhes de um episódio “As táticas de persuasão dele iam de falar coisas doces a fazer promessas, até uma vez que, em um ataque de raiva, ele disse as palavras mais assustadoras: ‘Vou te matar, não ache que eu não sou capaz” desabafou Selma. O produtor nega as acusações que vão de assédio a estupro, mas foi afastado de sua produtora e está prestes a ter seu nome retirado da Academia do Oscar.

A aluna Priscila Mendes acha que os casos de Hollywood não são casos isolados e que isso acontece em todos os lugares e em todos os meios “Eu achei muito legal, muito bonito ver essa união, dá forças para outras mulheres que não tem tanta influência como Angelina Jolie falarem. Eu gostei muito também de mulheres produtoras, diretores retirarem esses atores, essas pessoas de suas produções. Isso é presente no Brasil também, conheço vários casos, acontece de ter mulheres assediando homens, acontece de ter homens assediando homens, mas a gente sabe que isso acontece mais com homens assediando mulheres e homens poderosos que intimidam porque as pessoas têm medo de perder suas carreiras, quem está no cinema a maioria não é pelo dinheiro porque é muito difícil ganhar muito dinheiro com isso, é pelo amor e isso as intimida, então acho esse movimento muito importante” declara a estudante.

Kevin Spacey ganhou o Oscar duas vezes, protagonizou o clássico dos anos 90, Beleza Americana, e atualmente é a estrela principal de House of Cards, série original Netflix. Spacey foi visto como um bom homem, discreto na sua vida pessoal e excelente em seus papéis, o ator seguia uma trajetória linear e exemplar já alguns anos até que em outubro ele foi acusado pelo ex ator mirim Anthony Raupp, que alegou investidas sexuais de Spacey sobre ele quando o mesmo tinha apenas 14 anos e Spacey 27. Ele se desculpou, mas afirmou não se lembrar do episódio, em posicionamento público acabou se assumindo homossexual, o que foi considerado um desserviço para a comunidade já que pareceu apenas uma tentativa de mascarar a polêmica.

A estagiária de cinema Stefânia Grochowski acredita que as penas devem ser justas, mas acredita na reintegração social dessas pessoas “Acho que cada caso deve ser estudado de forma única. Vejo que essas pessoas erraram, mas o caso do Kevin Spacey eu sinceramente acredito que o que aconteceu não foi pelo ato dele em si, foi pela repercussão do caso. Eu acho que a postura da Netflix, por exemplo, em nada se deve ao talento ator, acho que os produtores deviam ter colocado Kevin para conversar com um especialista e vê a raiz de seu problema e tentar achar uma solução. Excluir esses profissionais para sempre não acho que seja uma atitude justa, acho que as pessoas podem mudar e melhorar.”

Ed Westick é conhecido majoritariamente por dar vida a Chuck Bass, o personagem mais popular da série teen americana Gossip Girl. O ator namorou colegas de elenco e costuma ser simpático, apesar de reservado nas suas entrevistas. Não nega ao falar do papel que o consagrou como astro mundial. Westick estava planejando ficar noivo da modelo Jessica Serfaty quando foi surpreendido pelas acusações de estupro pela atriz Kristina Cohen. O ator simplesmente publicou uma frase negando conhecer a mulher e afirmou que nunca tentou forçar ninguém a nada, o que foi consequentemente questionado ao surgirem mais dois casos de assédio semelhantes vindos de jovens atrizes. Westick foi afastado da série que protagoniza White Gold, da emissora inglesa BBC e retirado do elenco de Ordeal by innocence da mesma emissora.

Outro caso surpreendente é o do criador da série One Tree Hill, um hit absoluto entre os jovens, no início dos anos 2000 foi acusado em uma carta aberta assinada por atrizes e pessoas envolvidas no programa. Em seguida foi a vez das mulheres da equipe de The Royals, sua atual produção exibida no Brasil pelo canal fechado E!, se pronunciarem fazendo coro às denúncias das mulheres de One Tree Hill. Alexandra Park a protagonista de The Royals, onde interpreta a Princesa Eleanor postou uma nota em seu twitter sobre a situação “Tenho uma responsabilidade por ter trabalhado com ele em The Royals. Estou devastada de admitir a mim mesma, aos meus colegas e à essa indústria, que eu também fui exposta a esses comportamentos repreensíveis. Estou orgulhosa e grata hoje, que podemos tomar um rumo diferente. O que nos encoraja a denunciar o inaceitável, liderança dolorosa; fé que essa liderança será removida e substituída. Fé que não seremos penalizados pelo comportamento de uma pessoa.”, disse a atriz. Mark foi afastado da produção da série e não se pronunciou a respeito das acusações.

Com artistas tão influentes denunciando crimes como assédio e estupro, a hashtag  #MeToo ganhou força nas redes sociais e a capa da revista TIME, com cinco mulheres que representam a força dessa luta, simbolizam a campanha: a atriz Ashley Judd, primeira a denunciar Weinstein, a cantora Taylor Swift, a lavradora Isabel Pascual (pseudônimo), a lobista Adama Iwu e a ex-engenheira do Uber Susan Fowler. Elas são conhecidas como as voices breakers, as vozes que quebraram o silêncio e simbolizam um movimento de extrema importância na luta feminista.

A estudante de jornalismo Lara Rodrigues acredita que o caso do Kevin Spacey é um exemplo a ser seguido “Acho utópico acreditar que é capaz retirar um abusador da sociedade, porque sempre vão existir pessoas que os apoiam. Mas acho que o abusador, seja quem for, deve ser humilhado e rechaçado quantas vezes necessário, porque se simplesmente deixarmos a pessoa de lado depois de um tempo tudo é esquecido e ele volta como se nada tivesse acontecido. O Kevin ter sua série cancelada e o modo como a sociedade no geral lidou com a situação é realmente o que deve acontecer. Mas é claro que acredito que o fato das vítimas de Spacey serem homens influenciou nas consequências de seus atos”.

Os casos acima são um exemplo claro que a união faz a força e que as mulheres vão seguir lutando contra a cultura do estupro que assombra a sociedade até o fim. O ano de 2017 parece ser o início de uma nova era para Hollywood e mostra que as pessoas não estão mais dispostas a se calarem e pelo visto os machistas não passarão, ganharão prêmios ou qualquer coisa além de uma pena justa por suas condutas.

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